Benedita admite enfrentar Garotinho
Benedita admite enfrentar Garotinho
Pressionada em debate com Milton Temer, vice-governadora diz ser oposição e promete deixar a marca do PT no Rio
No último debate entre os pré-candidatos petistas ao governo do Estado do Rio, eputado federal Milton Temer e Benedita da Silva, ontem, na Universidade Cândido Mendes, a vice-governadora admitiu pela primeira vez - e sob forte pressão de cerca de 500 militantes - concorrer, mesmo contra o atual governador Anthony Garotinho. A prévia que escolherá o candidato do PT será no domingo e 15 mil filiados podem votar.
Indagado sobre o assunto, Benedita evitou responder. Um coro da torcida de Temer logo ganhou força: ''Responde, responde!'' Só então, constrangida, admitiu disputar com Garotinho, caso ele desista de tentar o Palácio do Planalto, possibilidade que vinha descartando com veemência.
Pouco depois, um correligionário de Temer começou a provocar Benedita imitando com as mãos uma boca, em referência à ala internamente conhecida como ''o grupo da boquinha'' - que decidiu ficar no governo mesmo após o partido encerrar a união com Garotinho. Gilberto Palmares, que coordenava o debate, pediu que o militante se retirasse, mas logo toda a torcida de Temer passou a fazer o gesto, gerando confusão na platéia, com insultos e troca de empurrões.
Durante as discussões, Benedita evitou atacar Garotinho, mas prometeu dar a ''marca do PT'' ao assumir o cargo, em abril. Respondendo a Temer, que a associou ao governador e a programas descritos como ''populistas'', Benedita se defendeu: sua própria candidatura é uma demonstração de lado em que atua: ''Não preciso dizer que sou oposição, porque a minha candidatura já é um ato de oposição'', afirmou.
Temer tem dito que considera um erro o PT assumir o governo por apenas oito meses, ''sem tempo para impor a sua marca e tendo que desativar as bombas de efeito retardado deixadas por Garotinho''.
Benedita discorda. ''Vou radicalizar no que for factível'', disse, diante de cerca dos militantes do partido, que levaram faixas, adesivos e panfletos dos pré-candidatos ao debate no auditório da Universidade Cândido Mendes. Diante da confiança da rival, Temer fez um alerta: ''Vamos assumir as migalhas do governo. Cuidado para não prometer demais e depois não chamar o PT para impedir reivindicações''.
Impacto na Previdência
BRASÍLIA - O aumento da expectativa de vida do brasileiro irá diminuir o valor do benefício dos contribuintes do INSS que pedirem a aposentadoria a partir de janeiro de 2002. A expectativa de vida está no denominador da fórmula utilizada para calcular o valor do benefício, portanto, quanto maior for a média de vida do brasileiro, menor será o benefício a que o contribuinte terá direito ao se aposentar.
No entanto, de acordo com o diretor do Departamento Geral da Previdência Social, Geraldo Arruda, essa redução será insignificante, já que o cálculo é feito com base nos dados de 1999. Em 1999, a expectativa era de 68,4, em 2000, esse número aumentou para 68,6 anos. ''A redução dos valores que o contribuinte irá receber será muito pequena, já que a idade média aumentou pouco'', disse, sem, no entanto apresentar o cálculo.
Geraldo Arruda informou ainda que o Ministério da Previdência só passou a incorporar e expectativa de vida do brasileiro no cálculo dos benefícios a partir de dezembro de 1999. Por esse motivo a variação verificada na década que foi de 2,6 anos não pode ser levada em consideração nessa conta.
Uma opção para quem não quer ter seu benefício reduzido, segundo Arruda, é adiar a aposentadoria. ''O tempo de contribuição está no numerador, portanto, o contribuinte pode compensar a redução pelo aumento do tempo de trabalho'', afirmou. Atualmente, para ter direito à aposentadoria por tempo de contribuição, o trabalhador deve contribuir por 35 anos ao INSS.
Promotores estudam proteção para Gloria
BRASÍLIA - Mexicana em todas as cenas até agora, a novela Gloria Trevi pode virar filme policial com ingredientes americanos. Integrantes do Ministério Público Federal reuniram-se ontem para estudar a inclusão do nome da cantora mexicana no programa de proteção à testemunha. Com uma condição: ela tem de revelar o nome do policial federal que a estuprou.
Não foi a única surpresa no dia da cantora desde que teve o pedido de exílio negado na semana passada. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Néri da Silveira, determinou que seja prestada assistência hospitalar e ambulatorial a Gloria enquanto estiver na penitenciária da Papuda. Em caso de deslocamentos, ela não deve ser algemada, acrescentou o ministro.
A Polícia Federal convidou a Comissão de Direitos Humanos da Câmara para acompanhar o inquérito que investiga a gravidez da atriz. O representante da comissão será nomeado hoje. Vai integrar o grupo do qual fazem parte um dirigente da OAB do Distrito Federal e um promotor do Ministério Público Federal. O depoimento de Gloria no inquérito está marcado para quinta-feira.
Contraditório - Uma série de documentos médicos foram reunidos pelos policiais para provar que, ao contrário do que a cantora afirma, ela engravidou porque quis. Os mesmos papéis constavam da sindicância aberta pela PF para apurar o caso e concluiu que ela teria feito auto-inseminação - versão recusada pela própria direção do órgão.
Um deles, é a carta assinada pelo presidente da Junta Médica da PF, Hildiberto Souza, em 1° de fevereiro deste ano, afirma que, em três ocasiões antes de ficar grávida, Gloria recebeu receita para ingerir Clomid, medicamento recomendado por mulheres que desejam ter filhos. O citrato de clomifeno, encontrado no Clomid, ''é uma substância utilizada para induzir ovulação em mulheres que não ovulam e, conseqüentemente, não conseguem engravidar'', diz o médico na carta.
Argumentação - A embaixadora mexicana no Brasil, Cecília Soto, irritada com a entrevista da atriz ao Jornal do Brasil - na qual a acusa de perseguição por ter se recusado a participar da campanha dela à presidência do México - decidiu contra-atacar. Afirmou que a cantora nunca pediu ajuda oficial do governo mexicano nos quase dois anos de prisão no Brasil.
''Ela esconde a verdade dos funcionários consulares durante as visitas à cadeia'', afirma a embaixadora. ''Glória disse ao nosso cônsul que não estava grávida quando já estava.'' . Cecília nega ter pedido ajuda à cantora para sua candidatura. ''Conheci Glória uma semana depois do fim da campanha de 1994.''
Cópias de RG causam polêmica
BRASÍLIA - A Associação Nacional dos Notários (Anoreg), entidade que representa os tabeliães, vai entrar com ação na Justiça contra a decisão da Polícia Federal de proibir o embarque de passageiros nos aeroportos com cópias autenticadas de documentos de identidade. ''O objetivo é impedir o ingresso de pessoas armadas'', afirmou o presidente da Anoreg, Rogério Barcellar. '' Código Civil assegura legalidade às cópias autenticadas.''
A decisão da PF foi sacramentada em 19 de novembro por meio do despacho 071/2001 depois de incidentes no aeroporto de Foz do Iguaçu. Passageiros foram impedidos de embarcar por não apresentar o original da identidade. O documento passou a ser exigido pela PF depois dos atentados terroristas nos Estados Unidos. A decisão contraria decreto de 1983 que exige a apresentação do original ou cópia autenticada em cartório.
''Não se pode alegar que as cópias autenticadas não são confiáveis e podem ser falsificadas, porque já houve também falsificação de passaportes, cuja responsabilidade pelo controle é da PF'', citou Barcellar.
O chefe do Departamento de Polícia Marítima Aérea e de Fronteira da PF, Tito Caetano, assume a responsabilidade pelo despacho. ''É questão de bom senso'', afirmou. ''Sabemos o quan to é fácil fazer um carimbo e autenticar a cópia de um documento.''
Empurra-empurra - Apesar do delegado assumir a responsabilidade, a PF atribui a exigência do documento original ao Departamento de Aviação Civil (DAC), órgão da Aeronáutica. Alega que a norma foi estabelecida pela Portaria n° 676/GC-5, de 13 de novembro de 2000.
A portaria existe. O artigo 61 estabelece que, entre os deveres dos passageiros. está a apresentação, para embarque, de ''documento legal de identificação...'' Segundo o DAC, compete à PF dizer qual documento é necessário. A assessoria do órgão assegura que nunca exigiu carteira de identidade original. Recomendou apenas que a identificação fosse realizada duas vezes antes do embarque.
Maluf sofre outra derrota na Justiça
SÃO PAULO - Em despacho de quatro páginas, escrito à mão, o desembargador Roberto Soares Lima, do Tribunal de Justiça de São Paulo, negou ao ex-prefeito Paulo Maluf o pedido de suspensão da decisão da juíza Silvana Meireles Andranda, da 4ª Vara da Fazenda Pública que, há 15 dias, determinou a expedição de cartas rogatórias à Suíça e à Ilha de Jersey solicitando o bloqueio e seqüestro de bens e valores em nome dele e de parentes. A decisão impõe mais uma derrota a Maluf que, publicamente, nega que tenha dinheiro em ''qualquer outro lugar do planeta'' fora do Brasil, mas nos bastidores da justiça usa todo o arsenal jurídico que dispõe, para tentar escapar da devassa financeira e fiscal montada pelo Ministério Público paulista.
Os advogados do ex-prefeito alegaram, no recurso, que não há provas da existência de dinheiro em paraíso fiscal ou de que, no exercício do mandato de prefeito, ele tenha praticado improbidade administrativa.
Também afirmam que a decisão da juíza estaria causando prejuízos a Maluf. Soares Lima explica, no despacho, que para a decretação do seqüestro bastam apenas ''fundados indícios de responsabilidade'' e sustenta que, pela lei aplicada no caso. ''é dispensável a produção de provas concludentes do possível enriquecimento ilícito ou danos causados ao patrimônio público''. Ele lembra também que os argumentos dos promotores estão fundamentados em articulações firmadas entre autoridades brasileiras e estrangeiras (Suíça e Jersey) sobre a existência de aplicações e contas favorecendo Maluf e seus familiares.
A ação por improbidade, argumenta Soares Lima, está prevista na Constituição.
Ele ressalta que, ao contrário do que alegam os advogados, a medida cautelar usada pelo Ministério Público e concedida pela justiça não tem nada de ilegal ou abusiva e determina que as investigações prossigam, incluindo as duas empresas - Red Ruby Ltda e Blue Diamond Ltda - que teriam feito as movimentações financeiras. Pelos cálculos dos promotores, citado no texto em que pediram o seqüestro, o volume de dinheiro que teria sido transferido do Citibank de Genebra para uma agência do mesmo banco em Jersey, estaria entre US$ 200 milhões e US$ 300 milhões. Um documento das autoridades da Suiça, encaminhado ao Conselho de Administração Financeira (Coaf), do Ministério da Fazenda, aponta que a primeira conta havia sido aberta em 1985 em Genebra e, em 1997, transferida para Jersey - paraíso fiscal do Reino Unido, no Canal da Mancha.
ACM perde poder na Justiça da Bahia
BRASÍLIA - O desembargador Carlos Alberto Dutra Cintra foi eleito presidente do Tribunal de Justiça da Bahia. A eleição teve forte componente político. Cintra bateu por 18 votos a dez o desembargador Amadiz Barreto, candidato do ex- senador Antonio Carlos Magalhães.
Amigo pessoal de Amadiz Barrreto, presidente do Tribunal Regional Eleitoral baianao, ACM trabalhou intensamente pela candidatura do juiz. Telefonou e chegou a visitar em casa parte dos 29 desembargadores que participaram da eleição. Há duas semans, o ex-senador havia experimentado outro fracasso na Justiça. O juixz aposentratdo Mário Albiani , ligado ao grupo carlista, perdeu a eoeição na Assoc dos Magistrados da Bahia (AMAB),
Sem um nome próprio na direção do TJ, Antonio Carlos perde a influência em um dos braços do três poderes do Estado. Continua a ter maioria na Assembléia Legislativa e o apoio aberto do governador Cesar Borges (PFL).
A oposição fez festa em Salvador para o novo presidente do Tribunal. Está de olho nas eleições do ano que vem. ''A nova perspectiva é de que na eleição as ações sejam julgadas independentemente de serem da direita ou da esquerda'', disse o líder do PT na Câmara dos Deputados, Walter Pinheiro (PT-BA), adversário de ACM no Estado.
Com o TRE controlado por Amadiz Barreto, os oposicionistas já contam em apresentar recursos ap Tribunal de Justiça. Os recursos e ações eleitorais acabam desaguando no tribunal.
O novo presidente comemoraou a vitórioa com um discurso independente ''Minha meta é um Poder Judiciário mais transparente, aberto e autônomo. Até então não see vinha cumpriundo a Constituição'', criticou.
Ministério faz lobby contra Garotinho
Especialistas da Saúde querem que Alerj derrube hoje veto de governador à distribuição gratuita de seringas
BRASÍLIA - Uma decisão da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) mobiliza o Ministério da Saúde. Amanhã os deputados podem derrubar o veto do governador Anthony Garotinho (PSB) ao projeto que obriga o governo do Estado a distribuir seringas descartáveis a usuários de drogas.
O projeto da deputada petista Cida Barbosa assegura ao Estado uma das estratégias da política de prevenção de Aids do governo federal: o programa de redução de danos, que inclui a distribuição de seringas. O líder do PSB, deputado federal Alexandre Cardoso, e a deputada Luiza Erundina (PSB-SP) foram procurados em Brasília por funcionários do ministério, que tentaram sensibilizá-los a favor da proposta. ''Politicamente, acho o projeto perfeito'', diz o líder do PSB. ''Mas tenho dúvidas sobre a constitucionalidade''.
A idéia já foi aprovada pela Alerj e recebeu parecer favorável do secretário estadual de saúde, Gilson Cantarino. Mesmo assim, o governador barrou a proposta, passando ao Legislativo a decisão sobre o tema.
Garotinho enfrenta a pressão da bancada evangélica e um entrave legal. Se o Estado emprega recursos para financiar a utilização de algo ilegal, pode sofrer processos. Porém, se a decisão for do Legislativo, o governo estará apenas ''cumprindo ordens''.
Eficácia - A distribuição de seringas já ocorre no Rio desde 1996. Estudo do Núcleo de Estudos e Pesquisa
em Atenção ao Uso de Drogas (Nepad), da Uerj, mostra que o resultado da troca de seringas usadas por novas é positivo. No início do programa, 25% dos usuários atendidos pelo Nepad tinham o HIV. Quatro anos depois, o índice era de 8%.
A prática, no entanto, não está regulamentada. Os artigos 12 e 16 da lei federal 6.368, para uso e tráfico de drogas, deixam margem para diferentes interpretações sobre a legalidade do trabalho dos redutores de dano. Para ser ampliado, o projeto do ministério depende da regulamentação em leis estaduais. Até agora, São Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina regulamentaram a distribuição de seringas. O resultado da votação na Alerj é considerado importante para fortalecer essa política. Santos brigou na Justiça em 1989 para instituir o programa, pela primeira vez no país.
Casos - Pelos números da Coordenação Nacional de DST e Aids, 25% dos casos da doença estão relacionados ao uso de drogas injetáveis, principalmente cocaína, crack e anabolizantes. No país, 98 projetos de redução de danos beneficiam 35 mil usuários de drogas injetáveis. Ou seja, 4,5% dos quase 800 mil usuários, afirma Denise Gandolfi, assessora técnica da coordenação.
O projeto fluminense inclui campanhas educativas, distribuição de preservativos e encaminhamento a serviços de saúde.
< BR>Artigos
Comunicação e mistificação
Edson Barbosa
Há um frenesi envolvendo o marketing político neste momento pré-eleitoral. Eu até prefiro falar em comunicação política - menos por anglofobia, e mais por simplicidade. Fica parecendo, em certos momentos, que o comunicador, consultor, jornalista, publicitário, seja lá como se prefira chamá-lo, é que é o político. E o político, também muitas vezes, compromete o desempenho do colaborador, porque teima em assumir a sua função.
A inversão de papéis prejudica o trabalho e dá vazão a performances egóicas exageradas, servindo à mídia um prato cheio de projeções. E deturpações. Políticos não são sabonetes, a nação não é um mercado e profissionais de comunicação, penso, não devem ser estrelas de difusão exacerbada. Não sei como se sentem os meus colegas, mas acho detestável ser chamado de ''marqueteiro''. Há alguns anos, disse ao então governador de Brasília, o professor Cristóvão Buarque, que achava ''marqueteiro'' tão pejorativo quanto ''politiqueiro''.
Os políticos precisam de comunicação adequada com a sociedade. Profissionais de comunicação são facilitadores desse objetivo. O marketing - nenhum preconceito contra a palavra inglesa, que adquiriu singularidade marcante, trade mark lingüística de si própria, ao definir ambiente e práticas da comunicação, sobretudo com objetivos comerciais -, com os seus diversos instrumentos, está à disposição dos objetivos do planejamento, segmentações etc. E ponto final.
No entanto, alguns protagonistas do chamado ''marketing político'' promovem uma agitação autolaudatória avassaladora que a imprensa adora. Melhor: uma parte da imprensa adora. E incensa. Outra parte detesta: e desmoraliza, ironizando os que ocupam espaços indevidos e levando de roldão os que prestam o seu serviço corretamente.
Profissionais de comunicação, com larga folha de bons serviços prestados à comunicação institucional e à comunicação política no Brasil - Mauro Salles é uma síntese do que mais gosto em termos de qualidade e estilo - não podem ser lançados no mesmo balaio de gatos, ''oportunistas'', ''arrivistas'' ''etc'' que parte da imprensa desqualifica seguidamente sob a alcunha de ''marqueteiros''.
Há sempre bons, médios de vários matizes, e maus, em todas as profissões. Jornalistas não são uma exceção. Sérios, honestos, qualificados... e também ''marrons'', todos existem. E nem por isso a imprensa como um todo deve ser vista como um poder diabólico.
Às vésperas de eleições tão significativas para o futuro do país, o fundamental é que os políticos utilizem a comunicação de modo eficiente para conduzir bem as suas propostas. Que saibam utilizar os consultores de marketing político e profissionais de comunicação com a mesma propriedade com que devem utilizar colaboradores especializados em todas as áreas, sem permitir que estes ou aqueles lhes roubem o papel que lhes cabe na responsabilidade de conduzir o processo. Quanto mais conteúdo - e às vezes isso é o que mais falta - e menos artificialidade, melhor.
Ao ''Cão de Pavlov'' a eternidade literária. Aos mistificadores da imagem, estejam de qualquer lado do balcão, a execração eleitoral.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER
Garotinho faz ''test-drive''
Mesmo o leitor de fora do Rio, que acompanha com atenção os lances preliminares da corrida sucessória, é capaz de nessa altura estar se perguntado afinal por que cargas dágua o governador Anthony Garotinho resolveu oficializar sua candidatura à presidência antes mesmo de obter consenso dentro de seu partido, o PSB.
E pior, lançou como sua vice a deputada e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, que, à falta de consulta prévia e de vontade de aceitar a missão, passou o dia de ontem constrangidísssima, dando nó nas palavras para recusar, sem ferir, os brios do governador.
Ele, por sua vez, respondeu que, se ela não quiser, também tudo certo. Da mesma forma saiu lançando Almir Pazzianotto candidato do partido ao governo de São Paulo que, no dia seguinte, viu-se na obrigação de desmentir.
Fora tudo isso, o lançamento oficial deu-se com uma antecedência que nem candidatos mais antigos e firmes, como Ciro Gomes e Luiz Inácio da Silva, ousaram. Sem contar o fato de que o governador do Rio vem se dizendo candidato há tanto tempo - mais exatamente desde que estava em campanha para governador - que faz a gente desconfiar de que haja algo de errado aí.
O senador Roberto Saturnino Braga, no PSB desde que abandonou o PDT de Leonel Brizola, considera que está tudo erradíssimo. Tanto que assegura que sairá do partido no mesmo dia em que a convenção escolher - se escolher - Garotinho como candidato. ''Ele está sendo infantil, faz um bom governo no Rio, tinha uma imagem simpática, mas está perdendo terreno justamente por causa de algumas precipitações que a mim me parecem infantis'', analisa Saturnino.
E por que, então o senador, que já se declara eleitor de Lula e defensor da união da oposição no primeiro turno, já não sai de uma vez?
Porque do alto dos seus 70 anos de idade está seriamente desconfiando de que o governador não está falando sério e que pode recuar para uma posição de concorrente à reeleição ou ao Senado.
Esta certeza ele firma com base num carta que lhe mandou o próprio Garotinho faz três meses. Dizia o seguinte: que só seria candidato à presidência se fossem cumpridas três pré-condições: um índice de 15% nas pesquisas até o fim do ano, a decisão da vice-governadora Benedita da Silva de não assumir o governo e concorrer ao Senado, e a adesão de algum outro partido que lhe desse mais algum tempo de televisão no horário gratuito.
Nada disso está se configurando como realidade. E, ainda assim, o governador lança a candidatura enfrentando importantes dissidências internas. Por quê?
Porque é um obstinado e certamente quer fazer desse lançamento agora um test-drive para saber se pode ou não enfrentar a disputa, de modo a que saia dela pelo menos com um bom cacife para tentar de verdade em 2006. Cria esse fato, depois participa de todos os programas e inserções gratuitas a que o PSB tem direito e espera as pesquisas. Quem sabe não chega a 15% e algum partido, por causa disso, não se interesse em fazer aliança?
Resta a questão Benedita, cuja preferência era concorrer ao Senado, mas foi enquadrada pelo PT que quer o governo. Nesse aspecto, Garotinho vem fazendo um jogo duro, avisando que não deixará ninguém da equipe nem folga de dinheiro nos cofres para Bené tocar o governo. Diz abertamente que ''qualquer erro dela será fatal para o PT''. Como quem quisesse que o PT fizesse a mesma conta e recuasse.
Em tese, Anthony Garotinho tem tempo para tudo isso. Mas, o problema é que, na prática, os resultados que pretende não são produtos de vontade unilateral. Empenho não lhe falta, mas é preciso que sobre disposição aos russos. É com eles, já há muito sabemos, que tudo precisa estar perfeitamente combinado.
Perda de tempo
O presidente do PT, deputado José Dirceu, escreve para esclarecer que o PT votou ''não'' à homologação da Constituição de 1988, mas assinou, sim, a nova Carta. ''Foi um erro nosso não esclarecer essa questão na semana do debate com a base governista sobre a CLT.''
Aliás, a respeito do assunto, Dirceu revela posição mais racional que as do deputado Paulo Paim, que achou por bem arremessar o ''livrinho'' ao espaço, e do presidente do STF, Marco Aurélio de Mello, que considerou aquele um gesto de preservação constitucional.
Dirceu é, evidentemente, contra as mudanças que serão votadas hoje. Mas considera a discussão, nesse momento e dessa maneira, ''pura perda de tempo'' dado que, na opinião dele, ''é chute ou má-fé'' dos governistas alegar o crescimento da economia e o aumento de empregos.
O deputado, no entanto, acha ''óbvio'' que as leis trabalhistas devem mudar, desde que sejam também modificadas uma série de condições que criam salvaguardas aos trabalhadores.
Editorial
Olho por Olho
Entre os atentados terroristas do fim de semana contra Israel e a resposta de ontem nos territórios da Autoridade Palestina, o secretário de Estado americano Colin Powell disse que para os palestinos este é o ''momento da verdade'' para acabar com o terrorismo. Trata-se na verdade de igual ''momento da verdade'' para os israelenses porque os mortos e os feridos se acumulam de ambos os lados. Gandhi dizia que o único efeito da prática do ''olho por olho'' é que todos ficarão cegos...
Uma das mensagens simbólicas do ataque ao QG da Autoridade Palestina em Gaza é a ''eliminação'' da liderança de Arafat, enquanto a direita israelense, indo mais adiante do que o próprio premier Sharon, prega abertamente a reocupação dos territórios. Visivelmente Arafat perde poder à medida que os ressentimentos contra ele se intensificam em casa. Milhares de manifestantes foram às ruas homenagear militante do Hamas morto, apesar de a manifestação ser expressamente proibida.
Seguramente a intifada escapou de todo ao controle de Arafat, enquanto os grupos terroristas atacam indiscriminadamente o inimigo que, no entanto, reage sempre com força desproporcional, como vem acontecendo há meio século. Desde que estalou a segunda intifada, os palestinos não atingiram um só objetivo. Quando Arafat recusou em Camp David, em 2000, antes da eleição que conduziu Sharon ao poder, a incrível proposta de Barak e Clinton que contemplava a entrega aos palestinos de 95% da Cisjordânia e a instalação de duas capitais em Jerusalém, tudo ficou estagnado.
A ascensão da direita significou o endurecimento da posição israelense. Nada da retirada dos 200 mil colonos dos assentamentos. Nada da divisão de Jerusalém. Cada tentativa de chegar a algum entendimento era recheada por atentados terroristas, assassínios, com a intifada levando às ruas a tensão e os sacrifícios humanos.
A deterioração da liderança de Arafat, acossado por inimigos no exterior e sobretudo pelos grupos extremistas que contestam sua maneira de fazer política, adiciona óleo na fervura do Oriente Médio. Parece que nem os palestinos, nem os israelenses e nem os países árabes prestaram atenção à nova posição americana favorável à existência de um futuro Estado palestino. Como observou um jornal de Beirute, An Nahar, seria erro não considerar esta nova atitude como a primeira vitória dos árabes, mesmo se o objetivo final ainda está longe.
Há um ciclo vicioso que emperra qualquer negociação. Para abafar o terrorismo palestino Arafat exige de antemão concessões que os israelense só se mostram dispostos a fazer a posteriori. A perda de substância da liderança de Arafat acirra confrontos que aumentam o número de mortes e diminuem as chances de paz. Há muitos problemas contidos no conflito israelense-palestino, e de tal gravidade, que os observadores se dividem quanto à estratégia a ser adotada: ou resolvê-los todos de uma vez, ou desenrolá-los por etapas, com paciência: fronteiras definitivas, assentamentos, Jerusalém, retorno dos refugiados, indenizações, água. Como de hábito no Oriente Médio, em clima permanente de suspeição, cada um destes problemas pode desencadear discussões intermináveis...
Entre Arafat e Sharon, provavelmente o líder palestino enfrenta o pior momento. Sharon não significa qualquer novidade: cumpre o que prometeu na eleição. Já Arafat teme a solidão, entre correligionários em época de muda militante e a opinião pública nos países vizinhos. Uma pesquisa em Israel mostrou que 37% dos israelenses desejam a derrubada de Arafat (por mais temerária que a proposta seja) e apenas 32% se manifestam em favor da negociação com ele.
Enquanto isto, prevalece a linguagem da intifada, do terrorismo e dos tanques, como se um não pudesse viver sem o ódio alheio. Prova disto é o cessar-fogo acertado entre Israel e a Autoridade Palestina em setembro que em nenhum momento foi cumprido pelos dois lados...
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12/04/2001
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