Garotinho é o 2º no DF









Garotinho é o 2º no DF
Se a eleição presidencial fosse decidida pelos eleitores do Distrito Federal, o segundo turno seria disputado pelo candidato do PT Luiz Inácio Lula da Silva e pelo ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PSB). Com 97,5% de urnas apuradas, Lula mantinha 49,1% dos votos e Garotinho, 18,2%. O tucano José Serra, que disputará a Presidência com Lula, ficou em terceiro lugar no DF, com 16,8%.

O candidato petista teve mais votos no DF do que na média nacional. Lula é forte entre os funcionários públicos. Nas eleições de 1994, teve 44,76% dos votos no DF, contra 38,69% de Fernando Henrique. Em 1998, dividiu a preferência do brasiliense com o candidato do PPS, Ciro Gomes, que obteve 27,49% dos votos e ficou em terceiro lugar.

Na época, Lula também teve menos de 30% dos votos e perdeu para Fernando Henrique no DF. A votação do presidente reeleito, no entanto, foi menor aqui do que na média nacional — ele venceu no primeiro turno com 53,06% dos votos, contra 40,45% no DF.

Esta é a primeira vez que o presidenciável petista vai para um segundo turno largando na frente. O ‘‘efeito Lula’’ levou junto o candidato do partido ao governo do DF, Geraldo Magela, que vai disputar o segundo turno com Joaquim Roriz, contrariando as pesquisas iniciais.

Apoio evangélico
Garotinho conquistou o segundo lugar no DF graças ao apoio dos evangélicos (segundo o IBGE, 18,69% da população local) e ao fraco desempenho do candidato do governo, José Serra. Ele também ultrapassou Serra no Espírito Santo, Maranhão, Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima. No Rio de Janeiro, ficou em primeiro lugar, vencendo Lula.

Em Brasília, Garotinho não foi apoiado pelo candidato do seu partido ao GDF, Rodrigo Rollemberg. Quem pediu votos para ele foi Benedito Domingos, que disputava o governo pelo PPB e também é evangélico. Mais votado do que Rollemberg, Benedito ficou em terceiro lugar.

Ciro Gomes ficou em quarto lugar no DF, com 15,3% dos votos válidos. Em pesquisa da Vox Populi no final de julho, ele era apontado como vencedor na capital federal, com 44% das intenções de voto, e Lula estava em segundo, com 27%. Mas, no final, a votação de Ciro ficou 12 pontos percentuais abaixo da que ele obteve em 1998, quando ainda era pouco conhecido no cenário nacional.


A campanha que não se viu nas ruas do DF
Promessas de apoio político e financeiro, panfletos anônimos com acusações e calúnias fizeram parte da estratégia montada por adversários do vice-governador Benedito Domingos para retirá-lo da disputa pelo Palácio do Buriti

Escolhido o inimigo a bater pelos estrategistas de campanha do governador Joaquim Roriz, Benedito Domingos (PPB) sentiu a pata pesada dos peemedebistas durante toda a disputa eleitoral. Ofertas de dinheiro, suspeitas de grampos telefônicos, campanhas de difamação e pressões contra colaboradores e familiares minaram sua candidatura ao Buriti.

Em julho, Benedito foi procurado por integrantes do grupo político que apóia Roriz à reeleição. Na época, propuseram ao vice-governador que ele se lançasse a deputado federal e desistisse da disputa pelo Buriti. Em troca, pagariam pelos gastos que até ali Benedito tivera (cerca de R$ 700 mil) e financiariam sua campanha a deputado federal e de mais três candidatos do PPB à Câmara Legislativa.

Benedito rejeitou a oferta. ‘‘Eu honro cada um dos meus votos e jamais abandonaria a disputa’’, explicou. Mas ao insistir em sua candidatura e, assim, impedir a vitória de Roriz no primeiro turno, Benedito mergulhou num inferno eleitoral. Foram muitos os golpes.

De lá para cá, o vice-governador foi forçado a usar telefones pré-pagos — trocados todos os dias — para evitar grampos. Policiais militares que fazem a segurança do candidato do PPB obtiveram informações com colegas da P-2 (a polícia secreta) que aliados do governador estariam fazendo escutas nos aparelhos de uso particular de Benedito.

As suspeitas de escuta telefônica e ambiental tornaram-se mais fortes quando, poucas horas depois de concluir o projeto da bolsa-universitária (uma de suas propostas) dentro de sua casa e com um pequeno grupo de colaboradores, assessores de Roriz anunciaram a criação do mesmo programa.

Além dos supostos grampos, a sabotagem da agenda de Benedito ajudou a torpedear a candidatura do vice-governador. Assessores de Roriz sempre conseguiam a programação de campanha que Benedito enviava com antecedência para órgãos de imprensa.

De posse da agenda, contra-atacavam. Certa vez, a Rodoviária do Plano Piloto foi tomada por um bandeiraço de cabos-eleitorais de Roriz pouco antes de Benedito chegar ao local para um comício. ‘‘Havia passado ali minutos antes e não havia ninguém dos outros partidos’’, lembra Benedito.

O poderio econômico da coligação de Roriz, somado a informações privilegiadas obtidas por investigadores ligados ao grupo do governador, também contribuiu para diminuir as chances de Benedito.

O staff de campanha do vice-governador, por exemplo, fechou o aluguel de um imóvel próximo à Rodoviária para servir de comitê central de Benedito no Plano Piloto. No dia da assinatura do contrato, o dono do imóvel disse que recebera uma oferta maior da coligação que apoiava Roriz e se recusou a fechar negócio com Benedito.

Num caso curioso, rorizistas pagaram o dobro pelo trio-elétrico que o vice-governador contratara no início do ano. ‘‘Quando fomos pegar o caminhão, o dono disse que tinha recebido uma proposta mais vantajosa’’, conta Benedito. O vice-governador teve que negociar em Salvador (BA) um outro carro de som com as mesmas dimensões.

Nas últimas duas semanas até o empresário Luiz Estevão (que coligou-se a Benedito para atacar no Horário Eleitoral o senador Paulo Octávio) o abandonou. Estevão não atende mais telefonemas e não retorna as ligações feitas pelo vice. Benedito estimara gastar na campanha R$ 2,5 milhões e o empresário participaria desse esforço de arrecadação. Gastou um terço disso e, mesmo assim, ficou com dívidas.


PT conquista redutos de Roriz
O governador Joaquim Roriz venceu em 11 das 17 zonas eleitorais, mas perdeu eleitores para Magela em Taguatinga e Ceilândia, regiões importantes e decisivas nas últimas eleições. A disputa também ficou equilibrada no Gama e em Brazlândia

O candidato do PT, Geraldo Magela, obteve votação acima da expectativa em alguns dos maiores colégios eleitorais do Distrito Federal e em cidades consideradas redutos do governador Joaquim Roriz (PMDB). O candidato à reeleição venceu em 11 das 17 zonas eleitorais, mas o petista equilibrou a disputa com o bom desempenho em Taguatinga e Ceilândia, decisivas nas últimas duas campanhas, e no Gama e Brazlândia.

Magela e Roriz dividiram a liderança nas duas zonas eleitorais de Taguatinga, mas o petista levou a melhor na soma geral dos votos da cidade. O governador venceu na 3ªzona eleitoral (Taguatinga Norte) e o candidato do PT ganhou na 15ªzona eleitoral (Taguatinga Sul, Taguatinga Centro e Águas Claras). Roriz venceu nas três zonas eleitorais de Ceilândia, no Gama e em Brazlândia. Mas a previsão entre petistas e peemedebistas era de que a vantagem de Roriz fosse maior (leia quadro).

O percentual de votos nulos foi de 3,58%, menor do que o primeiro turno de 1998 (5,09%). Naquele ano, analistas atribuíram a vantagem de Cristovam Buarque sobre Joaquim Roriz no primeiro turno à dificuldade de uma parte do eleitorado do peemedebista em votar em urna eletrônica. O índice de abstenção de 15,78%, porém, superou os 15,49% registrados no primeiro turno de 1998. Os maiores índices de abstenção ocorreram em redutos rorizistas como nas cidades do Paranoá, São Sebastião, Santa Maria, Samambaia e Recanto das Em as.


Legislativo de cara nova
Com 97,05% dos votos apurados até o fechamento desta edição, a disputa pela 24ª vaga de distrital estava indefinida

Dos 24 candidatos que devem ser eleitos deputados distritais este ano, apenas nove passaram pela atual legislatura — como titulares ou suplentes. Os outros 15 prováveis parlamentares ingressam em um Legislativo que, apesar de trazer novos personagens, deve manter a mesma proporção entre as atuais bancadas de situação e oposição.

Números parciais do Tribunal Regional Eleitoral (97,05% dos votos apurados até as 20h13 de ontem) mostravam que PMDB e PSDB devem ser os partidos mais prejudicados nas urnas. Em vez dos seis deputados que terminam esta legislatura, apenas quatro peemedebistas devem assumir em 1º de janeiro. São eles: Eurides Brito, José Edmar, Gim Argello e Leonardo Prudente. Os veteranos Nijed Zakhour e Odilon Aires ficariam de fora.

No ninho tucano, a debandada deve ser geral. Anilcéia Machado não teria votos para conquistar a reeleição. José Rajão tentou voar em direção à Câmara Federal, mas não teve fôlego. PMDB e PSDB foram prejudicados pela verticalização imposta pela Justiça Eleitoral. Ela impediu que os partidos se aliassem a siglas como PSD e PTB — conhecidos puxadores de voto.

O PT deve assegurar o mesmo número de parlamentares da atual legislatura. Paulo Tadeu e Chico Floresta serão reeleitos e Arlete Sampaio, Érica Kokay e Chico Vigilante substituem os candidatos a federal Maria José Maninha e Wasny de Roure. Lúcia Carvalho não deve garantir novo mandato.

O PSD está prestes a perder uma cadeira da Casa, mas chama atenção pela votação expressiva em pequenos candidatos. Mais de 110 mil votos distribuídos entre quase 50 candidatos garantiram coeficiente eleitoral suficiente para levar Rôney Nemer e Pedro Passos ao Legislativo. José Tatico tentou a Câmara dos Deputados, enquanto Carlos Xavier e Wilson Lima ficariam de fora.

Com 97,05% dos votos apurados, deputado João de Deus estava a um voto da reeleição. Ele tinha 7.167 votos, contra os 7.168 do colega de PPB João Carlos Medeiros.

O PL deve ser o grande vitorioso das eleições. Sem representante na legislatura atual, o partido impulsionado pela votação expressiva da novata Eliana Pedrosa deve garantir mais três cadeiras: Fábio Barcellos, Ilton Mendes e Arnaldo Bernardino.

A confirmação dos eleitos só seria feita pelo TRE na madrugada de hoje, após a conclusão das apurações. Como a eleição é proporcional, não assumem, necessariamente, os candidatos mais votados.


Lula só perde em 3 estados
Desempenho no primeiro turno do petista à Presidência da República mostra a força do partido em todo o país

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) superou os adversários no primeiro turno da corrida presidencial em 23 estados e no Distrito Federal. No Ceará, o ex-governador Ciro Gomes (PPS) ficou na frente. No Rio, o ex-governador Anthony Garotinho (PSB) se deu melhor. A José Serra (PSDB) restou apenas a vitória em Alagoas.

O melhor desempenho do petista foi em Santa Catarina, onde obteve 56,6% dos votos válidos. Teve bom desempenho também na Bahia (55,3%), em Minas Gerais (53%) e no Paraná (50,1%). Já o candidato tucano obteve melhor resultado no Tocantins (34%), Rio Grande do Sul (32,4%), Alagoas, Paraíba e Mato Grosso (pouco abaixo dos 30%).

Além do Rio, Garotinho venceu José Serra no DF e em cinco estados: Espírito Santo, Maranhão, Amazonas, Rondônia e Roraima. Além do Ceará, o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, derrotou Serra no Amapá, em Roraima e no Maranhão.

A votação alcançada por Lula na eleição supera a de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 1998, quando o tucano foi reeleito presidente no 1º turno. Naquele ano, Fernando Henrique obteve 35.936.916 votos, contra 21.475.330 votos de Lula.

No pleito atual, a votação de Lula no 1º turno chega perto dos 40 milhões de votos. Com 99,5% das seções totalizadas, ele tinha 39.220.969 votos, cerca de 9% a mais do que a votação de Fernando Henrique. Em 1998, Ciro conseguiu 7.426.232 votos, bem abaixo dos 10.117.065 votos na totalização parcial do resultado desta eleição.

O eleitor compareceu mais e anulou menos. Caiu também o número de votos em branco. Enquanto o percentual de abstenção em 1998 foi de 21,5%, agora é de 17,7%. Os votos brancos caíram de 8%, em 1998, para 3%. E os nulos, de 10,7% para 7,4%.


Alvo do PT é o voto de oposição
Lula correrá agora atrás do eleitorado que rejeitou no primeiro turno o candidato do governo. Eles representam 76% do total. O PPS de Ciro Gomes já declarou apoio. Garotinho, porém, impõe delicadas pré-condições

Os candidatos que se apresentaram como de oposição ao atual governo somaram nestas eleições 76% dos votos. Eis aí a clientela que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, pretende conquistar. Boa parte dela, 46%, ele já obteve nesse primeiro turno. ‘‘Temos agora que convencer todos esses outros eleitores que somos agora a opção de oposição. Vamos fazer com que todos esses brasileiros estejam juntos no segundo turno’’, disse Lula, na entrevista coletiva que deu ontem pela manhã.

De acordo com as pesquisas eleitorais feitas no primeiro turno, é muito difícil que Lula consiga cumprir de fato a tarefa de reunir todos os eleitores dos candidatos do PPS, Ciro Gomes, e do PSB, Anthony Garotinho, em torno dele agora. As simulações de segundo turno indicavam uma transferência de pouco mais da metade dos votos dos eleitores dos outros dois candidatos de oposição para ele. Já é, porém, mais do que suficiente, em conseqüência da vantagem obtida no primeiro turno sobre Serra.

Na esfera política, os petistas começaram a trabalhar já na noite de domingo. Hoje, o PPS fará reunião pela manhã em um hotel de Fortaleza. De acordo com o senador Roberto Freire (PPS-PE), é provável que o partido indique adesão a Lula. Freire mesmo já declarou seu apoio a Lula.

Serra poderia, no PPS, conquistar a adesão do candidato derrotado do partido no Rio Grande do Sul, Antonio Britto. Ele já declarou apoio ao candidato do PMDB no estado, Germano Rigotto, que disputará o segundo turno com Tarso Genro, do PT. Freire tentará demover Britto. Na reunião de hoje, ele argumentará que é preciso lembrar do comportamento do candidato tucano no primeiro turno. Foi ele, sustenta o senador, o responsável pelos ataques sofridos por Ciro Gomes. Foi graças a Serra que Ciro despencou no conceito do eleitorado. Com isso, demoliu-se não apenas o projeto pessoal de Ciro Gomes, mas os planos políticos do próprio PPS. E Britto tem de levar em conta que isso deve ter pesado também no fato de ter caído da condição de favorito nas pesquisas para o terceiro lugar que obteve na eleição gaúcha.

Garotinho
No PSB, a situação parece bem menos confortável. O candidato derrotado, Anthony Garotinho, que, em um determinado momento da campanha no primeiro turno, chegou a declarar que votaria em Lula caso não passasse para o segundo turno, agora recuou e faz exigências. A cúpula do PT não tem dúvidas sobre o recado. Garotinho, com os 15% de votos que obteve, percebeu que pode se apresentar ao eleitor daqui por diante como uma alternativa de esquerda no caso de fracasso de um eventual governo petista. ‘‘Ele quer se diferenciar. Por isso, vai cobrar caro por seu apoio’’, protesta um integrante da cúpula da campanha de Lula.

Garotinho deu ontem entrevista condicionando o apoio a Lula a uma revisão dos apoios que ele teve no bloco conservador como, por exemplo, o senador José Sarney (PMDB-AP) e o senador eleitor Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). ‘‘O PT se direitizou. Nessa hora, fica muito difícil definir algum apoio’’, disse Garotinho.

O candidato do PSB deixou, no entanto, uma brecha que o PT aproveitará para pressioná-lo. Ele disse que respeitará a posição que for tomada pelo partido. Os petistas, assim, saíram atrás dos tradicionais aliados que têm no Partido Socialista Brasileiro. O governador eleito de Alagoas, Ronaldo Lessa, declarou apoio a Lula. ‘‘Por uma questão de princípio e ideologia, eu voto em Lula. E espero que essa posição seja seguida por outros líderes do meu partido’’, disse Lessa, num claro recado para Garotinho. O mesmo fez o governador do Amapá, João Capiberibe, eleito senador. E a deputada Luiza Erundina, reeleita por São Paulo.

A pressão sobre Garotinho também poderá se dar por outro grupo, que da mesma forma exerce influência sobre ele: o evangélico. O PT garimpa o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus, que no primeiro turno dividiu-se entre Lula e Garotinho. O bispo Marcelo Crivela, eleito senador pelo Rio, condicionou o apoio à promessa de Lula de aumentar verbas do Orçamento para seu estado, em caso de eleição. Mas outro de seus representantes, o bispo Rodrigues, reeleito deputado federal pelo Rio, subirá agora no palanque de Lula. No primeiro turno, apesar de ser deputado do PL, Rodrigues ficou com Garotinho.

No contato com o eleitor, o PT, pelo menos no início, manterá a tática ‘‘Lulinha paz e amor’’ do primeiro turno. Se essa tática foi capaz de levar Lula a quase obter uma vitória no primeiro turno e o PT a um desempenho histórico nas demais eleições, não há, entende o publicitário Duda Mendonça, razão para mudanças. Dois programas do segundo turno já estão prontos. Ontem, Duda passou a tarde reunido com a direção do PT definindo a linha do segundo turno.

Como o tempo é bem maior — 20 minutos —, o programa deverá ser claramente dividido em dois blocos. Um trabalhará mais no campo da emoção, como nos últimos programas do primeiro turno. Belas imagens, videoclips, jingles. O outro explorará o lado racional, na linha dos quadros que, no primeiro turno, apresentavam propostas e programas de governo.


Horário eleitoral começa na segunda
Os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) anunciaram oficialmente ontem à noite que a eleição presidencial terá segundo turno e autorizaram o início da propaganda no horário eleitoral gratuito na quinta-feira. Apesar da autorização, os dois candidatos — Luiz Inácio Lula da Silva (PT-PL) e José Serra (PSDB-PMDB) — decidiram começar a veicular os seus programas no rádio e na televisão apenas na segunda-feira.

Definido em um acordo entre os advogados dos candidatos, o adiamento permitirá que as equipes técnicas tenham mais tempo para produzir os programas. Coube ao vice-presidente do TSE, ministro Sepúlveda Pertence, anunciar, por volta das 19h30, o resultado provisório da eleição. Naquele horário, os votos de 99,76% das seções estavam totalizados.

Lula estava com 46,44% dos votos válidos, e Serra, com 23,2%. Após fazer alguns cálculos, Pertence concluiu que a necessidade de realização de um segundo turno entre Lula e Serra estava matematicamente garantida. Se os 341.326 votos que ainda precisavam ser apurados fossem somados aos do petista ou aos do candidato do PSB e terceiro colocado na disputa, Anthony Garotinho, o quadro não mudaria, ou seja, Lula continuaria sem a maioria absoluta dos votos válidos, e Serra se manteria em segundo lugar.

Mesmo com o acordo entre os concorrentes para começar a propaganda na segunda-feira, o horário eleitoral de candidatos a governos estaduais poderá começar antes no rádio e na televisão. O TSE autorizou os tribunais regionais eleitorais (TREs) a proclamarem provisoriamente os resultados, no caso de realização de segundo turno, e a fixarem o prazo de 48 horas para o início da propaganda.

De acordo com a lei eleitoral, cada um dos candidatos à Presidência da República e aos governos estaduais terá dois programas diários de 10 minutos de duração. Além disso, eles poderão usar todos os dias 7 minutos e 30 segundos com inserções, que são as propagandas de até 1 minuto de duração.

Sem mencionar as filas enfrentadas pelos eleitores no último domingo, Jobim disse que a votação tinha sido muito bem sucedida. Por volta das 19h30 de ontem, a apuração havia terminado em 13 estados. Ele lamentou a morte de quatro pessoas em um acidente de avião na Amazônia. Essas pessoas transportavam urnas que seriam instaladas em aldeias indígenas. Os corpos, carbonizados, foram encontrados ontem por soldados do Exército.

Em entrevista, Sepúlveda Pertence, que esperou duas horas e 20 minutos em uma fila para votar, em Brasília, observou que no segundo turno os eleitores terão que digitar até sete toques, no máximo, no teclado da urna eletrônica. No primeiro turno, foram 25 toques — ou 26, no caso do voto impresso. A redução deverá abreviar o tempo de permanência dos eleitores na cabine de votação.


O desafio de Serra
Luiz Inácio Lula da Silva foi o candidato mais votado no primeiro turno, com 39 milhões de votos em números redondos. José Serra obteve 19 milhões. Ciro Gomes e Garotinho, juntos, somaram 25 milhões.

Votos brancos e nulos alcançaram a cifra dos 9,7 milhões, metade do volume registrado na eleição presidencial de 1998. Algo como 18% dos eleitores aptos a votar preferiram se abster. Em 1998, 19% se abstiveram.

Se os índices de abstenção, votos nulos e brancos registrados no primeiro turno se repetirem no segundo, o que é razoável que aconteça, a briga de Lula e de Serra será pelo destino do espólio de Ciro e Garotinho.

Para ser eleito presidente da República, Lula precisa conservar os votos que teve no primeiro turno e conquistar só três milhões dos 25 milhões do cobiçado espólio. É possível? É mais do que possível.

O que parece quase impossível é Serra reter os votos ganhos no primeiro turno e conquistar no mínimo 21 milhões dos 25 milhões para vencer Lula. E os quatro milhões de votos restantes do espólio virarem brancos e nulos. Ou evaporarem.

Ciro apoiará Lula. Garotinho acabará apoiando. Depois de se exibir como o candidato mais antigoverno, mais anti-FHC e mais anti-Serra, Garotinho não tem condições políticas sequer para se manter neutro.

De resto, parte dos votos de Garotinho no Rio migrará espontaneamente para Lula. Porque à exceção dessa, ganha por Garotinho, todas as eleições presidenciais no Rio desde 1989 foram ganhas por Lula.

Por mais que insista em dizer que não promoverá uma campanha de demolição da imagem de Lula, Serra só terá esse caminho se quiser vencer no próximo dia 27. E já a partir do primeiro programa de propaganda no rádio e na televisão.

Lulinha paz e amor deu certo e saiu do primeiro turno com quase o dobro do tamanho de Serra. Continuará em cartaz, pois.


Artigos

Lições das urnas
Denise Rothenburg

O resultado das eleições apresenta uma série de ensinamentos aos políticos. A primeira delas é aprender a não desprezar adversários, nem mesmo aqueles que se apresentam como aventureiros. Vejam só Anthony Garotinho (PSB), que ninguém cogitava ter fôlego para chegar sequer a 10% dos votos, terminou com 17%. E o gaúcho Germano Rigotto, favorito para o segundo turno em seu estado? Esses exemplos são emblemáticos. Garotinho andou o país praticamente sozinho. Nem seu partido acreditava muito na campanha dele. Quem não se lembra do vexame da primeira visita de Garotinho a Pernambuco, no início da campanha? Na terra de Miguel Arraes, um ícone do partido, o primeiro reuniu menos de 100 gatos pingados.

Agora, Garotinho pode ser um grande eleitor no Rio de Janeiro, terra onde obteve 42% dos votos. A mulher dele, Rosinha, foi eleita governadora no primeiro turno. E ele será cortejado até mesmo pela coligação de José Serra. Se não for possível dar apoio explícito, os tucanos esperam que Garotinho, pelo menos, não bote mais azeitonas no empadão de Lula. Para isso, ontem mesmo, o senador eleito Sérgio Cabral (PMDB-RJ) já se desdobrava em elogios ao casal Garotinho. Portanto, que ninguém se surpreenda se o candidato do PSB optar pela neutralidade neste segundo turno, aproveitando o mês de outubro para descansar, enquanto PT e PSDB travam uma luta de vida ou morte.

Aliás, essa história de declarar as coisas assim, no laço, é outra lição a ser analisada pelos políticos. Que o diga o governador Joaquim Roriz. Declarou com todas as letras que estava eleito no primeiro turno. O resultado, no entanto, foi bem diferente, dando ao PMDB do Distrito Federal um outro ensinamento: um governante deve afastar aqueles que são pegos em operações complicadas, exigir apuração, trabalhar para que ela aconteça e deixar que se publique tudo às claras. Aí entram as fitas gravadas pelos aliados de Roriz e tudo o mais.

O PT, detentor de uma expressiva votação e supreendentes resultados por todo o país, também tem o que aprender com a eleição. Essa história de já ganhou, agora é fácil, já levou muitos políticos a derrotas. Que o diga Roberto Magalhães (PFL) para a prefeitura do Recife em 2000. Ou Íris Rezende, na disputa pelo governo de Goiás.

Serra não está morto e se prepara para pôr seu bloco na rua nos próximos 19 dias. É hora de todo mundo ficar de salto bem baixinho, ou melhor, de tênis, bem confortável, na rua pedindo voto. Brizola que o diga. Crente que estava eleito, não fez campanha. Ficou em casa. E os votos, ó.


Editorial

NO ESTILO (QUASE) DO CRONISTA SOCIAL

‘‘O menor e a lei’’
Rachel de Queiroz fulmina, em belo artigo, a legislação civil que habilita o menor de 16 anos de idade a votar para presidente da República e o torna irresponsável perante a lei, ‘‘esse disparate legal. Um latagão (ou latagoa) de 16, 17 anos, em pleno vigor físico, capaz de exercer todas as atividades sociais e anti-sociais do cidadão, capaz de uma vida sexual plena, inclusive gerar filhos, podendo já ser atirador exímio, assaltante, seqüestrador... esse adulto indiscutível é ainda irresponsável perante a lei, por ser menor, ou de menor, como diz o povo’’. Os presidenciáveis não a leram. Lula discorda. Prefere a educação. A vice de Serra, a bela Rita, foi a relatora do código do menor. Ao ser flagrado, ele grita logo: ‘‘Sou de menor!’’ e cita o artigo do código que o protege. Os ingleses e os americanos — esses bárbaros — os prendem e responsabilizam penalmente, enquanto nós, os civilizados, no máximo os internamos na Febem, para aperfeiçoarem-se no crime.

‘‘Política externa e o improviso’’
Lula, desamparado do Duda, improvisou: ‘‘O Brasil não é uma republiqueta uma Argentina’’. Causou indignação em Buenos Aires. O presidente Duhalde, ex-embaixador no Brasil, nos conhece. Deixou por menos. O candidato, ouvido no Jornal Nacional, queixou-se. Teria sido mal-interpretado. Gente do PT criticou o repórter. No texto faltara uma vírgula salvadora: ‘‘Uma republiqueta, a Argentina’’. O que faltou não foi a vírgula, mas a conjunção nem: O Brasil não é uma republiqueta, nem a Argentina. Já em relação a Bush, a vírgula não falta: ‘‘Quando Bush fala dez palavras, nove são guerra’’. Em ambos os casos, o que faltou foi polidez em matéria de relações exteriores.

‘‘A buchada’’
Ciro Gomes não deixou por menos. Não come buchada de bode, comum no Nordeste como prato típico, nem a troco de voto. Pode ter magoado gente simples nordestina, mas foi sincero e finamente irônico: ‘‘Eu tenho horror àquilo e, pode acreditar, o Fernando Henrique só comeu porque é um prato francês, chamado tripes à la mode du Caen’’. Em vez do bucho do sertanejo, a tripa do francês, para a mesma iguaria ... Se, inteligente como é, tivesse usado da ironia para combater o adversário que é o indigitado algoz, certamente não se teria dado mal. Mas preferiu a dura linguagem pertinente à gente sincera que não está preocupada com fidalguias. Despencou nas pesquisas, nas quais não acredita. Como se lhe fosse pouco, recebeu a estocada do punhal de Brutus empunhado pelo nebuloso filósofo Mangabeira Unger a recomendar sua renúncia em favor de Lula. Ao lado dele, outro conspirador: o engenheiro Brizola, frustrados ambos no papel de eminência parda junto a Richelieu...

‘‘O abraço dos afogados’’
O senador Serra e Ciro Gomes travaram uma batalha suicida, favorecendo Lula. Ao primeiro coube a iniciativa. Era preciso chegar ao 2º turno, e a ameaça concreta no começo da campanha era Ciro. Todas as suas inconveniências verbais, a reação intempestiva em face das provocações, tudo foi explorado cruelmente. Até quando Ciro pretendeu ser galante com a meiga e bela companheira deu-se mal. As feministas não lhe perdoaram o gracejo amoroso. Mas Serra não se beneficiou muito. Estacou na barreira dos 19% antes das eleições. A manobra levou-o, porém, a disputar com Lula o segundo turno, mas com grande desvantagem para ele, a começar pelas alianças que favorecerão Lula, dada a forte animosidade que Serra gerou com os Sarney e com Ciro Gomes.

‘‘O apoio de Jesse Jackson e o antiamericanismo’’
O pastor afro-norte-americano veio ao Brasil para ajudar a governadora Benedita da Silva, candidata à reeleição, e Lula. Elogiou o PT e os afro-brasileiros. Considerado grande orador, acompanhou Benedita no corpo-a-corpo no centro do Rio e concedeu entrevista, elogiando Lula e Benedita por serem ‘‘ativistas e cristãos que aplicam a sua fé’’. O antiamericanismo descobre uma vertente aceitável. Do contrário, a intromissão de um americano, que tivesse a audácia de vir recomendar outros candidatos, provocaria uma tempestade de protestos em nome da soberania nacional ofendida. Como ensina o provérbio: ‘‘Não é o sol que faz a sombra’’... Depende.


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10/08/2002


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