Bornhausen e Brizola: aliados contra Garotinho
Bornhausen e Brizola: aliados contra Garotinho
Quatro dias depois da divulgação dos números que indicam a aproximação do governador Anthony Garotinho, pré-candidato do PSB, da pefelista Roseana Sarney, segunda colocada nas pesquisas, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), se reuniu com um dos maiores inimigos de Garotinho, o presidente do PDT, Leonel Brizola. Embora o senador negue a preocupação com o crescimento de Garotinho, os pefelistas acham que uma eventual candidatura de Brizola à Presidência ajudaria Roseana.
Como ainda é popular no Rio e na Baixada Fluminense, o ex-governador pedetista, acreditam pefelistas, tiraria votos de Garotinho. Acompanhado do prefeito Cesar Maia (PFL), Bornhausen ficou com Brizola por mais de duas horas. Além de discutir eventuais alianças nos estados, conversaram sobre a possibilidade de apoio num possível segundo turno. Para Brizola, a hipótese não deve ser descartada se o adversário de Roseana for o governador do Rio.
Pelos discursos ao final do encontro, a aliança só é viável contra o inimigo comum.
— Não há hipótese de eu votar em Garotinho. Ele não presta — afirmou Brizola, criticando as pesquisas feitas por entidades empresariais e dizendo que o crescimento de Garotinho é artificial.
Bornhausen, depois de destacar a importância do diálogo e das alianças no segundo turno, disse que a prioridade do PFL é a manutenção da base governista:
— A manutenção da base é uma meta prioritária para o PFL. Colocamos uma candidata dentro para que ela seja reconhecida, mas volto a dizer que a eleição não se resolve em um turno.
Brizola almoça com Ciro e elogia programa do PPS
Depois de agradecer os elogios feitos pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) na data de seu aniversário de 80 anos, Brizola acabou criticando a situação econômica do país e o programa neoliberal do governo Fernando Henrique, apoiado pelo PFL há sete anos. O pedetista disse que o melhor programa entre os apresentados é o do ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PPS, com quem almoçou ontem. Se não houver entendimento, diz Brizola, o PDT pretende lançar o ex-governador Alceu Collares.
PFL ameaça romper aliança em Pernambuco
BRASÍLIA. O PFL está disposto a lançar candidatos para disputar o governo dos estados onde o partido tem alianças antigas com o PMDB e PSDB. A medida seria uma reação à investida do comando da campanha do pré-candidato do PSDB, José Serra, em direção ao governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, para que ele seja candidato a vice-presidente na chapa encabeçada pelo ministro da Saúde.
Depois de anunciar a possibilidade de lançar Romeu Tuma ao governo de São Paulo, o PFL diz que pode disputar o governo de Pernambuco, rompendo a aliança histórica com o PMDB de Jarbas. Para os pefelistas, com o convite de Serra ao governador pernambucano, é difícil manter a aliança entre os três partidos.
— Não é nenhuma retaliação. É forçoso que seja assim. Se seguirmos caminhos paralelos no plano federal, isso terá grande influência nas alianças regionais. Não tem remédio. É muito difícil fazer aliança local com pessoas que estão contra a gente no plano nacional, principalmente nos grandes centros — avaliou o ministro da Previdência, Roberto Brant, um dos coordenadores da campanha presidencial da governadora do Maranhão, Roseana Sarney.
Maciel pode disputar governo de Pernambuco
Os nomes mais cotados para disputar o governo de Pernambuco são o do vice-presidente Marco Maciel, o do vice-governador, José Mendonça Filho e o do ministro das Minas e Energia, José Jorge.
Caso desista de disputar a reeleição, Jarbas pensa em lançar o nome de seu secretário de Desenvolvimento Urbano, Sérgio Guerra. Não está descartada ainda a hipótese de um apoio ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann.
— A aliança que existe hoje em Pernambuco é em torno de Jarbas. Se ele não for candidato à reeleição, o PFL tem nomes mais fortes para indicar — disse o ministro José Jorge, que na noite de terça-feira ofereceu em sua casa um jantar para o presidente Fernando Henrique e a primeira-dama Ruth Cardoso.
O PFL já encomendou ao cientista político Antônio Lavareda pesquisas para avaliar as chances do ministro da Previdência, Roberto Brant e do ministro dos Transportes, Carlos Melles em Minas Gerais; do deputado Moroni Torgan no Ceará; e do secretário do Meio Ambiente, Eduardo Paes, no Rio de Janeiro.
No Piauí, o PFL avalia que também tem chances com o governador Hugo Napoleão. No Paraná, onde o PFL administra o estado, o partido está ciente das dificuldades em função dos escândalos envolvendo o prefeito de Curitiba, Cássio Taniguchi.
Ontem, o presidente nacional do PFL, Jorge Bornhausen, esteve no Rio para uma conversa com o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola.
Roseana almoça hoje com senador do PMDB
A própria Roseana Sarney está disposta a intensificar as conversas com aliados para não ficar atrás do PSDB. Hoje ela recebe em São Luís para almoço o senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Na sua passagem por Alagoas, nesta terça-feira, José Serra e integrantes da cúpula tucana investiram pesado numa aproximação com Renan.
Amanhã, Roseana viajará para São Paulo onde participará da São Paulo Fashion Week, mas na agenda está reservando um tempo para uma conversa com o presidente do PMDB, Michel Temer. Na disputa pelo PMDB, Roseana vai tentar atrair o partido acenando com a possibilidade de Temer ser vice na sua chapa.
Serra pode convidar Nizan para fazer sua campanha
BRASÍLIA. O comando da campanha do ministro da Saúde, José Serra (PSDB), à Presidência deve decidir nos próximos dias se fará um convite ao publicitário Nizan Guanaes, até hoje responsável pela campanha da pefelista Roseana Sarney, para que ele faça os programas de TV do tucano.
— O programa do PSDB foi antecipado de maio para março. Serra poderá se decidir nos próximos dias — disse um assessor do ministro.
No partido, incluído o presidente Fernando Henrique Cardoso, há uma torcida por Nizan. Serra, segundo assessores, deverá procurar o publicitário a partir de amanhã. Até hoje, havia um constrangimento: Nizan se comprometera com Roseana a entregar o programa do PFL que será exibido esta noite.
— A partir de sábado, tenho contrato de exclusividade com o Rei Momo — brinca Nizan.
O presidente do PSDB, José Aníbal, admitiu ontem que Nizan é uma opção em análise. Porém, segundo ele, Serra é quem dará a palavra final. O ministro poderá optar também por Nelson Biondi, atual responsável pelas campanhas do Ministério da Saúde. Mas, no PSDB, Nizan é que tem fama de vitorioso.
Enquanto não escolhe seu publicitário, o PSDB tenta, pelo menos, encontrar um imóvel para instalar seu comitê central em Brasília. A tarefa cabe ao secretário-geral do partido, deputado Márcio Fortes. Ele procura um imóvel com área de cerca de dois mil metros quadrados.
Jarbas: base corre risco de não ir para o 2 turno
RECIFE. O governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), cotado para vice na chapa do candidato do PSDB, ministro José Serra, disse ontem que os partidos da base governista correm o risco de não chegarem ao segundo turno caso não consigam uma solução de consenso para a primeira etapa das eleições presidenciais. Ele reconheceu que, se a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), subir nas pesquisas de intenção de voto, a união do PFL com o PSDB vai ficar ainda mais distante.
— A composição aí ficaria muito difícil — disse.
Jarbas tenta atrair apoio do PMDB e do PPB a Serra
Na avaliação de Jarbas, o PFL acha-se no direito de ter candidato própr io, já que Roseana é favorita nas pesquisas. O PSDB, por sua vez, não deve abrir mão da chance de disputar a sucessão porque é o partido do presidente.
O peemedebista não só apóia Serra como trabalha abertamente para atrair o PMDB e o PPB para a candidatura do tucano. Mas afirmou que, em nome da manutenção da unidade, poderia até votar na governadora, caso ela fosse a candidata da aliança:
— Não tenho preconceito e não teria nenhuma dificuldade de votar em Roseana — disse o governador.
Jarbas afirmou que aguarda um telefonema da governadora, com quem pretende conversar sobre os destinos da base governista. Ele acha que, se ela não desistir de postular a indicação, o PSDB fica numa situação delicada:
— O PSDB pode até não ter candidato a presidente. Mas a hipótese é estapafúrdia, pois é inadmissível que o partido do presidente da República não tenha candidato próprio.
O governador ainda não decidiu se vai disputar o Senado, a vice-presidência na chapa de Serra ou se tenta a reeleição. Disse que discorda da emenda constitucional que permite que governadores, prefeitos e presidente disputem a reeleição sem necessidade de desincompatibilização:
— Não deixa de ser uma coisa extravagante. Mas são as regras do jogo e ainda não sei se vou me desincompatibilizar. Ainda não decidi se fico ou se saio.
Grupo de Itamar quer anular acordo com PSDB
BRASÍLIA. Os aliados do governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), vão contestar na Justiça a troca de datas do PMDB com o PSDB no horário eleitoral gratuito na TV, negociada pela cúpula do partido em benefício do pré-candidato tucano, o ministro José Serra. Paes de Andrade, ex-presidente do partido, disse que entrará com ação na Justiça Eleitoral. O PMDB cedeu inserções a que teria direito em março, ficando com as do PSDB, programadas para maio.
O grupo de Itamar divulgou documento exigindo a convocação de convenção extraordinária do PMDB para 3 de março, com o objetivo de assegurar a realização da prévia que escolherá o candidato do partido à Presidência, e oficializará sua regulamentação aprovada na executiva nacional.
O presidente do PMDB, Michel Temer, disse que a proposta de realizar uma convenção extraordinária é inócua e que a reunião dos itamaristas não passa de um ato político sem grandes repercussões dentro do PMDB. Segundo Temer, como as regras para as prévias foram decididas pela direção nacional do PMDB e publicadas no Diário Oficial, não há porque se imaginar que a consulta não se realizará.
Participaram da reunião Paes de Andrade, o presidente do PMDB mineiro, Saraiva Felipe, o vice-presidente do PMDB paulista, Airton Sandoval, o representante do PMDB goiano, deputado Euler Moraes, e os enviados de Itamar: Alexandre Dupeyrat, Djalma Moraes e Marcelo Siqueira.
Os pré-candidatos Pedro Simon e Raul Jungmann, após se reunirem em Rainha do Mar (RS), ontem, decidiram apoiar a realização da convenção.
— Com a convenção, vamos salvar as prévias e a imagem do partido, que ficou mal com a defesa do apoio a Serra e a troca dos horários na TV com o PSDB — disse Simon.
Jungmann reafirmou que é candidato e apresentou uma nova versão para a declaração que dera — de que se retiraria caso o governador Jarbas Vasconcelos (PE) fosse o vice de Serra. Explicou que só sairia se Jarbas fosse candidato a presidente da República.
Polícia sem pistas sobre assassinos de promotor
BELO HORIZONTE. Cinco dias depois do assassinato do promotor Francisco José Lins do Rego, a força-tarefa formada pelas polícias Civil, Militar e Federal de Minas Gerais já deteve 350 pessoas. A maior parte já foi solta. Os investigadores admitem que ainda não têm pistas dos assassinos. Ontem foram presos três homens que se parecem com a descrição feita por uma testemunha, que ajudou a fazer o retrato falado de um dos homens que atiraram no promotor. Pouco depois, a polícia descobriu que eles não tinham qualquer envolvimento com o caso.
O procurador-geral de Justiça, Nedens Ulysses Freire, disse que a força-tarefa adotou o silêncio como tática para não atrapalhar as investigações. Todas as informações que chegam a eles estão sendo apuradas.
— Qualquer informação divulgada pode pôr em risco todo o trabalho que está sendo desenvolvido. Está havendo uma integração total das pessoas envolvidas neste caso e a expectativa é grande para apurar, prender, processar e condenar os assassinos de Francisco Lins, inclusive os mandantes — disse.
O Tribunal de Justiça de Minas Gerais confirmou que expediu mandados de prisão temporária e mandados de busca e apreensão a pedido dos delegados que participam das investigações. O tribunal informou que o prazo nos casos de prisão temporária é de 30 dias, prorrogáveis por mais 30 se houver necessidade e justificativa.
Deputado que presidiu CPI foi ameaçado
A movimentação das polícias na Região Metropolitana de Belo Horizonte não inibiu, no entanto, que novas ameaças fossem feitas. Desta vez contra o deputado Marcelo Gonçalves (PDT), que presidiu a CPI do Narcotráfico da Assembléia Legislativa. A ameaça foi feita por meio de uma carta montada com recortes de jornal e que foi encontrada por funcionários do parlamentar, em seu gabinete na Assembléia Legislativa. Gonçalves, que usa colete à prova de balas e anda acompanhado de pelo menos dois seguranças, encaminhou a carta a um perito, que procurou impressões digitais. O resultado dessa investigação será enviado ao Ministério Público.
Artigos
Em defesa do Favela-Bairro
Sérgio Magalhães
Foi preciso passar quase um ano para que a prefeitura reconhecesse o abandono do programa Favela-Bairro. Esse abandono se dá em duas vertentes: na falta de manutenção dos novos bairros e no atraso nas obras do segundo contrato com o BID.
Colocando o debate, o GLOBO opina que o programa precisa de continuidade na conservação dos investimentos realizados. Tem toda razão. Esse é o sentimento dos moradores das áreas beneficiadas pelo Favela-Bairro, que estão vendo deteriorarem-se os espaços, os equipamentos e — importantíssimo — a consciência de pertencimento à cidade, talvez o maior valor do programa.
Sem a presença da prefeitura, as expansões das moradias podem prejudicar vizinhos e áreas comuns. Sem conservação, os equipamentos acabam, toda a comunidade perde. Sem fiscalização, a ex-favela pode expandir-se além dos limites definidos, onde não há urbanização, onde não é conveniente. Sem controle dos limites, o bairro vizinho perde.
A ex-gerente do Favela-Bairro, agora assessora qualificada do prefeito, instada pelo jornal, reconhece que é necessário recuperar a credibilidade do programa; que para isso a prefeitura deve voltar a fazer a operação, a manutenção e a ocupação dos espaços construídos. Espero que esta seja a linha política que a municipalidade venha a retomar, antes que seja necessário refazer todas as obras, pois recente artigo do secretário de Urbanismo, publicado em jornal paulista, atribuía ao próprio programa a dificuldade de manutenção e conservação.
O Favela-Bairro não é só obra: a abertura de ruas, a construção dos equipamentos públicos, das áreas de esportes e de lazer, as infra-estruturas, as contenções, a eliminação das áreas de risco são obras insubstituíveis. Essa noção de urbanismo, que envolve um plano reitor, o respeito às preexistências, a participação comunitária, a ação coordenada, as obras visando a integração urbanística à cidade, este é o conceito vital. Discordo que deva ser reestruturado: deve ser continuado, preservado.
O programa é também política social. Desde o início assim foi tratado, embora no primeiro contrato o BID só tenha admitido fi nanciar as obras. Mas os investimentos feitos na promoção social, nas creches, na capacitação profissional, nos cursos de informática, na promoção do esporte, na educação, na saúde foram tão bem avaliados que já no segundo contrato vieram a compor a pauta financiável pelo banco.
Infelizmente, assim como as obras, também esses projetos foram interrompidos. Concordam o secretário de Urbanismo e a assessora do prefeito quando reivindicam, pelos jornais, ações de política social no Favela-Bairro; erram, porém, ao atribuir essa falta ao conceito do programa.
O Favela-Bairro foi inovador no âmbito das políticas públicas de combate à pobreza porque, pela primeira vez, tratou integradamente esses aspectos urbanísticos e sociais. Esta é a grande matriz do seu sucesso, do apoio recebido nacional e internacionalmente.
Outro aspecto reconhecido agora pela prefeitura no debate promovido pelo GLOBO é o atraso das obras. O segundo contrato com o BID foi assinado pelo então prefeito Conde, em março de 2000, no valor equivalente hoje a 750 milhões de reais, e já deveria estar alcançando a metade do seu cronograma de quatro anos.
De fato, as obras foram descontinuadas e os projetos foram alterados. Ano passado, a secretária de Habitação atribuiu o atraso à necessidade de refazer projetos “faraônicos”; agora, a prefeitura diz que a prioridade é outra, é a regularização fundiária, por isso o atraso. Em ambos os casos, é inaceitável.
Tem razão ainda o GLOBO quando afirma que o Favela-Bairro não é a grande solução para o problema habitacional das grandes metrópoles. É verdade, não há “uma” grande solução. Para muitas favelas consolidadas, onde as famílias já investiram por gerações, o Favela-Bairro é indispensável. Para favelas em áreas de risco, é preciso outro encaminhamento, como utilizamos com o programa Morar Sem Risco, pelo qual a cidade reassentou, de 1994 a 2000, mais de sessenta mil habitantes. Também é indispensável que haja crédito, abundante, democratizado, para que cada família possa decidir onde e como morar, mesmo que muitas precisem de subsídios.
Em oito anos de implantação da política habitacional da cidade, o Rio investiu muito. Melhorou muito as condições de vida de centenas de milhares de cariocas. Melhorou a própria cidade, seus aspectos ambientais, de infra-estrutura, de emprego e renda gerados pelos programas. O Rio construiu um exemplo importante para o país.
Nesses mesmos oito anos, o Brasil não conseguiu estruturar uma política de desenvolvimento urbano nem uma política habitacional, apesar de ser um país com 140 milhões de pessoas vivendo nas cidades. Não é razoável desestruturar a melhor experiência brasileira de enfrentamento das desigualdades urbanas. Penso que não é cívico desconstruir o Favela-Bairro.
Colunistas
PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel
Brizola candidato
O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen, propôs ontem ao ex-governador Leonel Brizola aquilo que, no fundo, ele está louco para fazer: ser candidato a presidente da República. Por uma razão muito prática: garantir a sobrevivência do PDT, já que entra em vigor nesta eleição a cláusula de barreira para os partidos, exigindo-lhes um mínimo de 5% dos votos nacionais.
Não estava também Bornhausen em busca do apoio de Brizola para sua candidata Roseana Sarney, embora tenha saído dizendo, para quem se dispuser a acreditar, que o PDT pode apoiar o PFL num segundo turno. Ele sabe que isso é tão impossível quanto o apoio do PFL a Lula. Mas o crescimento de Garotinho, que chegou a ganhar de Roseana na Região Sudeste em duas pesquisas recentes, incomoda o PFL. A eventual candidatura de Brizola, segundo a astúcia pefelista, seria uma barreira contra Garotinho em seu maior reduto, o Rio. Ademais, no primeiro turno, Brizola assumiria com gosto a tarefa de espancar a cria que virou desafeto nos programas de televisão, poupando a doce Roseana deste trabalho pesado contra quem está ameaçando seu segundo lugar.
Mas estamos na fase dos ensaios e até que o quadro de candidatos esteja estabelecido, o encontro de ontem ficará também na galeria das boas fotos. Vale, porém, compreender o sentido da exigência que estará em vigor este ano, aqui explicada pelo deputado João Almeida (PSDB-BA), que foi o relator da atual lei partidária. Perderá o direito ao horário gratuito de propaganda partidária (este que está fazendo a festa irregular dos candidatos na TV) e ainda à cota do fundo partidário o partido que não alcançar 5% dos votos. O dinheiro do fundo (em 2001 foram R$ 86,9 milhões, rateados segundo o tamanho das bancadas) não é bastante para financiar uma campanha, mas financia a estrutura dos partidos, suas fundações e publicações, por exemplo. PSDB e PFL receberam R$ 17 milhões cada, o PT ficou com R$ 13 milhões e o PDT com R$ 5,5 milhões.
Além disso, diz Almeida, mesmo elegendo bancadas, partidos que não cumprirem a exigência perderão regalias funcionais no Congresso, tais como ter líder próprio, com tudo que isso significa em matéria de visibilidade política e infraestrutura. As punições, somadas à redução constante de votos que o PDT vem sofrendo, justificariam a inclinação de Brizola. Se obtiver 5% dos votos, garante o desempenho do PDT, ainda que num papel melancólico ao fim da trajetória fulgurante, distanciando-se ainda mais do jovem Brizola retratado no recém-lançado livro de Paulo Markun e Duda Hamilton, “Que as armas não falem”, sobre os dias dramáticos que sucederam à renúncia de Jânio e antecederam o acordo para garantir a posse de João Goulart.Ciro e Patrícia
O deputado Aloizio Mercadante não telefonou a Ciro Gomes, anteontem, propondo uma composição com o PT em função das quedas do candidato do PPS nas pesquisas. Especulou-se até que lhe oferecera a vaga de vice de Lula. A primeira mulher de Mercadante morreu de câncer de mama, doença que Patrícia, muito altivamente, revelou anteontem estar enfrentando. Mercadante ligou para externar solidariedade e falar de sua experiência:
— Eu jamais proporia uma agenda política neste momento delicado para um casal que tem minha estima e respeito. Em dezembro, estive no congresso do PPS e estranhei a inexplicada ausência de Ciro. Soube agora que ele optara por ficar com ela no pós-operatório. Uma prova de grandeza pessoal e sentimento que valorizo muito. Ele guardou silêncio até que ela mesma decidisse revelar o drama. Merecem apoio e respeito, até porque o emocional tem seu peso na doença. De política, falaremos em hora mais propícia.
Ciro e Patrícia, vencidas as dificuldades para viabilizar o relacionamento, sempre o protegeram com a discrição. Em novembro, ele aceitou finalmente o convite para vir com ela a Brasília jantar com alguns jornalistas. Desmarcou depois, alegando a timidez política dela. Já era a doença. Muita força, Patrícia.
A força dos fatos
O ministro Roberto Brant, do PFL, é sinceramente cético quanto à pregação da candidatura única governista. Por contingência do PSDB e temperamento do ministro José Serra, deles não se deve esperar desistência do jogo. E, a menos que os índices de Roseana virem pó, o PFL não poderá abdicar de sua candidatura. O PSDB aposta em um crescimento efetivo de Serra a partir do horário eleitoral, em agosto. Será tarde; em junho o PFL tem que fechar sua aposta.
— Agora temos é que compreender serenamente a situação do outro. Nas brigas, temos que evitar o golpe baixo para que possa haver reconciliação lá adiante.DEPOIS do encontro com José Serra, o líder peemedebista Renan Calheiros estará hoje com Roseana Sarney. Repete Ulysses Guimarães: “A saliva é o combustível da política”.
O RECESSO está sendo de fraldas e amamentação para a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). No dia 12 nasceu Thomas, filho de seu c asamento com o líder sindical Severino Almeida.
COMEÇA hoje em Porto Alegre o II Fórum Social Mundial, que este ano promete mais propostas do que protestos contra os males da globalização e do neoliberalismo. A estrela ímpar com certeza será o lingüista Noam Chomsky, ácido doméstico contra o poder americano.
Editorial
AMPLA ALIANÇA
OII Fórum Social, instalado hoje em Porto Alegre, coincide com o Fórum Econômico Mundial, aberto em Nova York, pela primeira vez realizado fora de Davos, na Suíça. Querem alguns organizadores do encontro de Porto Alegre estabelecer uma oposição clara a Davos/Nova York, embora organizações não governamentais estejam convidadas a sentar-se no Fórum Mundial, lado a lado com representantes de governos, empresários e economistas. Essa tentativa de estabelecer uma comparação maniqueísta com Davos não tira a importância do simpósio de Porto Alegre — nem do de Nova York.
Espera-se que este segundo Fórum no Brasil seja menos pirotécnico e coreográfico que o primeiro, e elabore propostas concretas para corrigir distorções existentes no processo de globalização. E que vá além da mera contestação ao inexorável movimento de interdependência entre sociedades e economias.
São conhecidas, contudo, as dificuldades do Fórum porto-alegrense em atingir tal objetivo. Um arco de alianças tão amplo que vai desde um líder do ativismo reacionário e protecionista da pequena e tradicional agricultura francesa (Jose Bove) a conhecidos símbolos da “nova esquerda” americana, forjados nas lutas contra a Guerra do Vietnã, como o lingüista Noam Chomsky, haverá mesmo de ter dificuldades em encontrar sugestões comuns.
Se for deixado de lado o espírito de Seattle e Gênova, onde manifestações violentas tumultuaram reuniões da Organização Mundial de Comércio (OMC) e do G-8 (clube dos oito países mais ricos), tanto o fórum de Porto Alegre como o de Nova York podem ajudar a amadurecer idéias para tornar o mundo menos desigual.
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01/31/2002
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