Britto estréia no PPS com críticas a FH



Britto estréia no PPS com críticas a FH O ex-governador disse que o modelo econômico adotado no país está esgotado e atacou a cúpula do PMDB O ato que oficializou a saída do ex-governador Antônio Britto do PMDB e a filiação no PPS, ontem pela manhã, foi marcado por elogios aos militantes do antigo partido e por um discurso de oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso. Com a adesão de Britto e de mais seis deputados, a candidatura de Ciro Gomes à Presidência da República ganhou impulso no Rio Grande do Sul. Em seu discurso de quatro páginas, o ex-governador gaúcho manteve seus ataques à cúpula nacional do PMDB. Chamou de “clube da esperteza” o grupo que hoje comanda o partido (entre eles os senadores Jader Barbalho e Renan Calheiros, o deputado baiano Geddel Vieira Lima e o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha). O ex-governador não respondeu aos ataques do senador Pedro Simon, que o acusou de traidor por ter deixado a sigla: – O Simon foi infeliz. Ele deve estar muito magoado. Tenho o dever de compreender que ele está desgostoso com tudo isso. Quem está aí é um clone, não é o Simon. Britto assumiu o mesmo discurso de oposição ao governo federal adotado por Ciro Gomes, classificando de “esgotado” o atual modelo econômico: – Estamos num brutal impasse econômico. As medidas adotadas nos últimos anos tratam de combater a inflação e estabilizar a moeda. Um conjunto de atitudes que não puderam resolver duas graves questões: geração de poupança interna e a questão de relação entre as economias brasileira e internacional. Embora seja o nome mais forte do PPS para concorrer ao governo do Estado na eleição do próximo ano, Britto desconversou mais uma vez ao ser questionado sobre uma eventual candidatura. – Prefiro ser padre a ser noivo nesse altar. Minha única candidatura é a presidente do setor jovem do PPS – brincou. Britto, os deputados Nelson Proença, Berfran Rosado, Cézar Busatto, Iara Wortmann, Mário Bernd e Paulo Odone e a vereadora da Capital Clênia Maranhão devem assinar ficha no novo partido na próxima terça-feira. O ato contará com a participação dos dois principais expoentes do PPS: Ciro Gomes e o senador Roberto Freire (PE). Além dos militantes do PMDB gaúcho, o discurso de Britto mencionou de forma elogiosa o senador José Fogaça, o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, e o prefeito de Joinville, Luiz Henrique da Silveira. Cinco peemedebistas que já morreram foram reverenciados: o ex-governador Synval Guazzelli, o ex-presidente do PMDB no Estado André Forster, o ex-presidente da República Tancredo Neves e os ex-deputados Ulysses Guimarães e Teotônio Vilela. Com o ingresso dos dissidentes do PMDB, o PPS gaúcho terá o seu primeiro representante na Câmara e uma bancada de seis deputados na Assembléia Legislativa, a quinta maior depois das do PT, PPB, PTB e PDT. Atualmente a sigla conta apenas com o deputado estadual Bernardo de Souza. O PMDB baixará de 10 para cinco parlamentares. Ficaram no partido os deputados estaduais Alexandre Postal, Elmar Schneider, Jair Foscarini, João Osório e José Ivo Sartori e os federais Germano Rigotto, Mendes Ribeiro, Cezar Schirmer, Darcísio Perondi, Osvaldo Biolchi e Osmar Terra. Simon lamenta dissidência – Senti a perda de um filho. Essa era a equipe do coração. Foi com essa frase que o senador Pedro Simon (PMDB-RS) deu o desfecho para a novela da debandada do ex-governador Antônio Britto e de outros dissidentes do PMDB para o PPS. Ainda magoado com a troca, Simon confessou ontem, durante um intervalo da sessão do Senado, que o mais duro é ver Britto saindo do PMDB para fazer campanha para o candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes. O senador disse que tentou até a última hora convencer os descontentes a ficarem no partido. Foi o caso do deputado estadual Cézar Buzatto, para quem telefonou às 22h de terça-feira. Apesar de abalado com a dissidência, Simon promete não desistir da candidatura à Presidência da República. Na próxima, retoma a campanha, visitando São Paulo e Minas Gerais. No entanto, reforça uma idéia já anunciada. Se perder as prévias do partido à Presidência – Simon acredita que tem mais de 50% de chances de ganhar – e se Britto se candidatar ao governo do Estado, ele também está disposto a disputar a vaga do Piratini. Schirmer ataca dissidentes do PMDB Direção estadual se manifesta depois da saída do grupo Desde que se instaurou a crise no PMDB gaúcho, ontem foi a primeira vez que o presidente do partido, Cézar Schirmer, respondeu publicamente aos ataques de seu desafeto, o ex-governador Antônio Britto. Acompanhado de alguns dos deputados que ficaram na sigla – Mendes Ribeiro Filho, Alexandre Postal, João Osório e José Ivo Sartori – e de filiados históricos, como o ex-deputado Luis Roberto Ponte, Schirmer atribuiu a saída de Britto “ao personalismo exacerbado, à vaidade, à arrogância e ao temperamento difícil”: – Nós, do PMDB, o conhecemos muito bem. Ele próprio provocou sua derrota em 1998 pela absoluta incapacidade de conviver com a opinião alheia. Schirmer afirmou que a desfiliação do grupo de seguidores de Britto “inaugura uma prática nordestina na política gaúcha”: – A ética não pode ficar só no discurso. Tem de dar exemplo. Esses deputados deveriam devolver o mandato, pois pertence ao PMDB. Schirmer questionou se o senador Roberto Freire, presidente nacional do PPS, virou “neoliberal” ou se Britto virou “neocomunista”. Era uma referência ao fato de o PPS, partido de raízes socialistas, ter aceito Britto, que privatizou estatais durante seu governo. PDT descarta apoio a eventual candidatura de Britto pelo PPS Política de privatizações do ex-governador impediria aliança O PDT vai transformar em posição oficial as recentes declarações de Leonel Brizola descartando uma aliança com o PPS caso o ex-governador Antônio Britto decida se candidatar a governador ou a senador na eleição de 2002. O vice-presidente regional do PDT, Pedro Ruas, disse que uma eventual candidatura do ex-governador gaúcho – que ontem trocou o PMDB pelo PPS – poderá, inclusive, comprometer o apoio do seu partido ao candidato à Presidência da República Ciro Gomes. O PDT também já decidiu que terá candidato próprio à sucessão de Olívio Dutra. Os nomes que hoje estão em evidência para concorrer ao Piratini são os do vereador da Capital José Fortunati e o do deputado Vieira da Cunha. Se for concretizada a aliança com o PTB do deputado estadual Sérgio Zambiasi e o PPS de Ciro Gomes, os trabalhistas aceitam ceder uma das duas vagas ao Senado e a de vice-governador. – No Estado é certo que não haverá aliança se Britto for candidato a uma das vagas da chapa majoritária. A insistência do PPS poderia até levar a um comprometimento em nível nacional – disse Ruas. Na hipótese de retirar o apoio a Ciro, o PDT terá candidato próprio à sucessão de Fernando Henrique Cardoso. O dirigente trabalhista afirmou que não há discriminação ao cidadão Antônio Britto, mas sim ao ex-governador. Na opinião de Ruas, símbolos perenes para o PDT, como as empresas estatais, deixaram de existir durante o governo Britto (1994-1998) com a extinção da Caixa Econômica Estadual e as privatizações da CEEE e da CRT:. – Essas três empresas, que surgiram no governo Brizola para alavancar a economia gaúcha, acabaram no governo anterior. Na avaliação de Ruas, durante o governo de Britto houve um “projeto piloto do programa neoliberal do Brasil”. Olívio pede apoio da bancada para emendas ao Orçamento 2002 Os pleitos apresentados totalizam R$ 297,9 milhões O governo do Estado apresentou ontem à bancada gaúcha no Congresso sugestões de emendas ao Orçamento da União de 2002. São 12 pleitos que totalizam R$ 297,9 milhões. As emendas se concentram em três eixos: inclusão social, desenvolvimento sustentável e infra-estrutura. Dentro desses títulos, pedidos especiais para segurança, saúde, transporte e agropecuária. Do Orçamento de 2001, apenas 7,4% dos recursos para investimentos foram executados até agora. O programa sugerido aos parlamentares tem como primeiro item um pedido para a construção, reforma e aparelhamento de estabelecimentos penais. Entre outros temas, pede ainda recursos para erradicação da febre aftosa e para obras de irrigação na metade sul do Estado. Uma das emendas também prevê a ampliação da pista do Aeroporto Internacional Salgado Filho, visando também ao transporte de cargas. Apesar de serem sugestões, o governador Olívio Dutra saiu da reunião com os parlamentares na expectativa de que as emendas sejam aprovadas. – Temos de articular todos os setores da sociedade para um esforço de aumento de verbas para o Orçamento de 2002 e que seja executado também o planejamento de 2001 – reforçou o governador. Olívio aproveitou para ressaltar que, dos R$ 503 milhões reservados para o Estado no Orçamento de 2001, R$ 108 milhões foram empenhados e apenas R$ 37 milhões, pagos. Uma demora na liberação que, segundo ele, atinge projetos como o programa gaúcho do leite e de laboratórios farmacêuticos. Neste dia dedicado ao Orçamento, o governador ainda teve reunião com o relator da Comissão Geral do Orçamento e Finanças, Sampaio Dória (PSDB-SP). O relator explicou que o problema de execução do Orçamento é geral, e que, nacionalmente, não ultrapassou 50% do previsto. Dória adiantou que, em função do tamanho da bancada, é possível que neste ano em vez de apresentar 15 emendas, os deputados possam encaminhar 17. O coordenador da bancada gaúcha, deputado Airton Dipp (PDT-RS) já trabalha com essa possibilidade. Ele comentou que as emendas do governo do Estado, mais as propostas que já chegaram aos parlamentares provenientes de prefeituras e entidades – 30 no total – serão analisadas em uma reunião na próxima terça-feira. Conforme Dipp, o projeto encaminhado pelo governo federal prevê R$ 346 milhões de recursos para investimentos em 2002 no Estado. A intenção da bancada é conseguir aprovar mais R$ 300 milhões sobre este total. O governador se reuniu ainda com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Marco Aurélio de Mello. Perguntado se a audiência seria para tratar sobre a questão dos precatórios, Olívio respondeu que se tratava apenas de uma visita de cortesia. Jader admite possibilidade de renúncia Decisão vale enquanto não for aberto processo por quebra de decoro Ao sofrer ontem mais uma dura derrota na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), antecipando o que deve acontecer hoje no Conselho de Ética, o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) pode renunciar ao mandato a qualquer momento. Alguns senadores, com quem Jader conversou ontem, apostam que isso pode ocorrer antes da votação do relatório que propõe a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar, hoje. Jader alegou que não pode se defender para o Brasil, como fizeram os ex-senadores Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e José Roberto Arruda (sem partido-DF). O parecer de Osmar Dias (PDT-PR), rejeitando o direito de ampla defesa nesta fase, foi aprovado por 18 votos contra apenas uma abstenção. Mesmo assim, o presidente do Conselho, Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), garantiu-lhe o direito de falar na sessão de hoje informalmente. Na CCJ, Jader não votou. Na saída, chamou o processo de palhaçada e, pela primeira vez, admitiu a possibilidade de não enfrentar o processo de cassação até o fim. – Estou meditando sobre isso (renúncia) sim – disse Jader. Em seu pronunciamento, o senador pretende contestar ponto a ponto o relatório de Romeu Tuma (PFL-SP) e Jefferson Peres (PDT-AM). Assembléia investiga demissões na Emater Comissões se reúnem para ouvir funcionários afastados desde 2000 A demissão de 65 servidores da Associação Rio-grandense de Empreendimentos de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) deverá ser examinada hoje por três comissões da Assembléia Legislativa – de Agricultura, de Serviços Públicos e de Fiscalização e Controle. O encontro ocorre a partir das 10h na Sala Maurício Cardoso. As destituições também envolvem funcionários da Associação Sulina de Crédito e Assistência Rural (Ascar). O presidente da Associação dos Servidores da Ascar-Emater (Asae), Aldo Alberto Fossá, esclareceu que as duas empresas são privadas, mas prestam serviços de utilidade pública (a classificação de produtos de origem vegetal, por exemplo) e recebem recursos dos cofres estaduais. O comando da Ascar e da Emater está a cargo do engenheiro agrônomo Lino de David, nomeado pelo Executivo gaúcho. As instituições contam ainda com os serviços de funcionários públicos cedidos. O número de pessoas afastadas foi informado por Fossá. As demissões ocorreram a partir do início de 2000. No início de setembro, 15 servidores foram dispensados. O presidente da Asae suspeita que outros 50 profissionais serão exonerados em breve. – Não sabemos qual o critério adotado para as demissões – reclama Fossá, lembrando do compromisso de campanha do governador Olívio Dutra de não demitir nenhum servidor. O engenheiro agrônomo Gesner Nunes Oyarzabal, 68 anos, 23 dos quais na Emater, não sabe por que perdeu o emprego. Oyarzabal disse que sua função estava ligada à implantação da cultura da mamona no Estado. Segundo o engenheiro, a atividade era desenvolvida principalmente para os pequenos agricultores, setor considerado prioritário pelo o governo. O deputado Frederico Antunes (PPB) acredita que as demissões estejam relacionadas à desativação de departamentos das empresas. Questionada por Zero Hora, a direção da Emater enviou uma nota informando que os “desligamentos são ações comuns dentro do processo de gestão de qualquer empresa, que tem responsabilidade e autonomia para fazer a gestão de seus recursos humanos”. A presidência da entidade e o governo do Estado não esclareceram detalhes da relação entre a Emater, a Ascar e a administração pública, como o volume de recursos transferidos para as instituições. Gaúcho se torna membro efetivo do TSE A solenidade ocorrerá hoje em Brasília Toma posse hoje, como membro efetivo do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o ministro Luiz Carlos Madeira, 63 anos. Indicado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, Madeira assume a vaga ocupada pelo ministro Costa Porto, que já concluiu seu mandado de quatro anos no TSE. Natural de Uruguaiana, Madeira é bacharel em Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e iniciou as atividades de advogado em 1964, em Porto Alegre. Em 1991, passou a atuar em Brasília como consultor jurídico do Diretório Nacional do PMDB. Professor de Direito, foi secretário estadual da Justiça e da Segurança do Rio Grande do Sul e assessor jurídico da Câmara dos Deputados. A solenidade será às 18h30min, no Salão de Sessões do TSE. Artigos Terrorismo, fanatismo e radicalismo TARSO GENRO O presidente Bush não representa os valores políticos e a ética iluminista do Ocidente. Tanto pela forma como pelo conteúdo das respostas que pretende dar aos cruéis atos terroristas contra o povo americano. Quando Timoty McVeigh – um patrício fanático de Bush – explodiu um edifício em Oklahoma, ação da mesma crueldade daquela que é imputada a Bin Laden, jamais alguém pensou em ataques indiscriminados contra culpados “em geral”. Nem contra fundamentalistas republicanos “em abstrato” ou psicopatas assassinos em geral. A polícia e a Justiça americana buscaram os culpados concretos, os que praticaram os atos de barbárie. Hitler quis legitimar a chacina de um povo, imputando a toda uma comunidade racial e cultural características negativas de indivíduos que podem ser originárias de qualquer etnia, raça ou religião. Bush, ao dizer que atacará os países que dão “abrigo” aos terroristas, está dizendo, na verdade, que poderá matar inocentes. Sejam eles crianças, velhos, adultos de ambos os sexos, que morem nestes países e eventualmente nem sabem quem é ou mesmo nem concordem com Bin Laden. O presidente Bush está usando os mesmos fundamentos e a mesma ética do terrorismo para supostamente combater o terrorismo Trata-se também de uma inculpação nacional abstrata, que é conformada através da descrição de um tipo: religioso, muçulmano, que se veste diferente, tem costumes e um modo estranho ao nosso – um inimigo objetivo – um certo tipo que se adapta a uma descrição. Esta, aliás, é pontilhada pela mídia americana e nos é impingida como relato de um assassino, para que aceitemos o assassinato coletivo como uma “cruel e lamentável necessidade”. Uma das grandes conquistas do humanismo moderno é a responsabilidade concreta do indivíduo ou do grupo associado perante o Estado, no caso fixada através de normas de natureza penal, que descrevem delitos, responsabilidades e penas. O terrorismo é um delito contra a Humanidade, porque a sua característica mais íntima e essencial é precisamente inculpar em abstrato: matar em geral para obter um fim político ou militar. Não focar o inimigo como determina a “ética de guerra” – se é possível que a guerra tenha ética – e como apontam as normas e tratados de Direito Internacional. Pois o presidente Bush está usando os mesmos fundamentos e a mesma ética do terrorismo para supostamente combater o terrorismo, o que não fez dentro do seu território no caso McVeigh. Por quê? Porque na verdade nesta caça ao terror, fora do seu país, persegue outros fins além do terror: persegue os interesses econômicos e geopolíticos americanos naquela região da Ásia, em benefício do império e supostamente do povo americano. Para isso quer usar o terrorismo de Estado, com o apoio dos seus acovardados aliados globais. Nenhum de nós está obrigado a apoiar por nenhuma razão, política ou moral, o fanatismo nacionalista de Bush. Assim como não aceitamos os atos terroristas de Nova York e Washington, seja como revide ao império, seja como forma de luta para mudá-lo. Radicalizar a tolerância, a fraternidade e o Direito, contra todas as formas de terrorismo e fanatismo, esse é o caminho do humanismo. Falso dilema IBSEN PINHEIRO O ataque às torres gêmeas de Nova York recriou uma discussão cansada, nem por isso inválida, sobre o terrorismo, causa e efeitos. A esta altura já nem tanto o terrorismo, mas um novo debate, surdo e insistente, assume o centro da arena, marcado por indiretas e insinuações, espécie de conflito de segunda geração entre forças contrárias com dificuldades semânticas semelhantes para expressar aparentemente o mesmo sentimento, mas às vezes significando coisas opostas. É o que se vê na condenação envergonhada do terrorismo, como se o fato de fazê-lo viesse a significar um endosso da política norte-americana. É a condenação adversativa. Somos contra o terrorismo, mas... seguindo-se tanta ênfase nas ressalvas o que sobra é uma insidiosa noção de cumplicidade com o terrorismo pela benevolência da sua crítica, ou pela justificação de seus terríveis meios por seus supostos fins. Quase como quem diz que os americanos pediram para levar (alguns, menos sofisticados, até dizem). Não percebem, mas seguem a mesma linha dos que, nos estupros, acham o que condenar na conduta da vítima, como se o crime fosse menos hediondo conforme contra quem seja cometido. Também há, do outro lado, quem está associando o terrorismo a todas as formas de luta política, no caso antiamericana, e faz a mesma simplificação de Bush – quem não está conosco está contra nós – como se fosse impossível posicionar-se contra o terrorismo sem oferecer um prévio e irrestrito aval a tudo o que vier a fazer a máquina de guerra americana, já ensejando, entre nós, o surgimento de manifestações macartistas em prol de um engajamento automático que já sabemos aonde leva. Leva para trás. O terrorismo não tem nem merece nenhuma justificativa. Não se pode fundar uma suposta nova ordem baseada na morte Entre esses dois extremos, a virtude não está no meio, porque este é o pantanoso caminho da condenação adversativa. A virtude está necessariamente na clareza. Quem se opõe às práticas da política norte-americana, especialmente depois do estabelecimento do Centro Único, que o faça com precisão e transparência, mais ainda quando possa fazê-lo através de atos. Quando o ministro da Saúde ameaça quebrar a patente dos grandes laboratórios, faz mais antiimperialismo do que entusiasmadas palavras de ordem com cheiro a anos 50. E no centro do poder imperial certamente bate mais forte que a quebra das torres, porque bate onde o alto capital é mais sensível, o bolso. Mas não misturemos. O terrorismo não tem nem merece nenhuma justificativa. Não se pode fundar uma suposta nova ordem baseada na morte. Nem sequer se cogita da morte heróica como risco de uma causa justa, mas ela própria erigida em funérea causa de si mesma, que outra definição não merecem pessoas intoxicadas de fanatismo que friamente planejam a própria destruição e com isso se acham no direito de destruir os demais. Sem falar dos que ficam atrás das bombas, mandando e financiando, muitas vezes encarapitados em estruturas sociais ainda mais injustas do que as que supostamente combatem. Ninguém precisa envergonhar-se de condenar o terrorismo, como se fazê-lo valesse por profissão de fé reacionária. Talvez a mais sólida condenação do terrorismo como prática política venha do maior revolucionário moderno, Vladimir Lenin, que o denunciou por produzir, ao fim de contas, o fortalecimento do seu alvo. Ele sabia do que falava: teve um irmão mais velho enforcado como terrorista. A confirmação da lição leninista é o que se vê exatamente agora, quando a política americana pretende usar a solidariedade internacional não apenas para lutar contra o terrorismo, mas para fortalecer-se em todos os campos e expandir seus meios de domínio. Tendo como aliado justamente o terror, o Império agradece. Colunistas ANA AMÉLIA LEMOS PSDB e a dissidência Foi na véspera do anúncio formal da saída do ex-governador Antônio Britto do PMDB que a cúpula nacional do PSDB se deu conta de que poderia engordar seus quadros no Rio Grande do Sul, contando com a filiação dos peemedebistas dissidentes. O ministro da Saúde, José Serra, cada vez mais assumindo a posição de candidato governista à sucessão presidencial, pediu a um emissário que fizesse um apelo ao ex-governador gaúcho para que, em vez da opção PPS, a transferência fosse para o PSDB. Tarde demais. Foi exatamente isso que Antônio Britto respondeu ao mensageiro do ministro da Saúde. Depois de agradecer o gesto, lembrou que a decisão já havia sido tomada. Faltava apenas o anúncio formal, que ocorreu ontem. Somente nesta semana os líderes nacionais do PSDB perceberam que tiveram prejuízo ao ignorar o que estava acontecendo no PMDB do Rio Grande do Sul. Perderam uma boa oportunidade de aumentar a representação tucana no Estado e ainda, pela omissão, acabaram contribuindo para fortalecer a candidatura do adversário Ciro Gomes, no colégio eleitoral gaúcho. Na terça-feira, José Serra interrompeu várias vezes reuniões no Ministério da Saúde para tentar evitar o prejuízo com a debandada no PMDB gaúcho. Depois de receber a notícia de que em relação a Antônio Britto e seu grupo não haveria qualquer chance de reversão do quadro, o ministro tratou de entrar na briga para, pelo menos, conquistar apoio do senador José Fogaça, que está pensando seriamente em sair do PMDB. Na terça feira à tarde, o ministro da Saúde declarou, ao mesmo emissário que levara a mensagem a Britto: “Não podemos perder o senador José Fogaça”. José Serra ficara sabendo que o senador, que naquela tarde seria convidado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso para o Ministério da Integração Nacional, se decidir deixar o PMDB, não pretende se filiar ao PPS. A fidelidade de José Fogaça ao governo sempre chamou a atenção de Fernando Henrique, que tentou fazê-lo líder no Congresso mas não conseguiu por causa da oposição da cúpula peemedebista. O senador já disse que, por questão de coerência, não poderá se bandear para um partido de oposição. Por isso, o cerco do PSDB na direção de José Fogaça aumentou muito nas últimas horas. JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10 PPS ganha força no Estado Faltando pouco mais de um ano para a eleição, no dia em que Olívio Dutra completou mil dias no governo, surge um novo quadro partidário no Estado. Com o ingresso dos dissidentes do PMDB, o PPS de Bernardo de Souza, Roberto Freire e Ciro Gomes surge como uma nova força no Estado, ao lado de PT, PPB, PTB, PDT e PMDB, acima de PSB, PSDB, PFL, PC do B e PL. O novo PPS de Britto é a quinta força da Assembléia, com um deputado a mais do que o PMDB, e se credencia para disputar o Palácio Piratini. PT discute novo comando estadual A emergente Ação Democrática esteve reunida ontem, no almoço, com representantes do Amplo que buscam o apoio da corrente que mais cresce no PT a Paulo Ferreira, que disputa com David Stival o segundo turno para a presidência estadual do PT. Além de Ferreira, esteve presente o coordenador do Amplo, Estilac Xavier, o deputado Ivar Pavan e o secretário Marco Maia, pela AD. Há uma inclinação pelo apoio a Stival. Stival – Por sua vez, o Movimento Esquerda Socialista, corrente da deputada Luciana Genro, vai na contramão do pai. Com autonomia política, a facção anuncia apoio a David Stival, da Articulação de Esquerda, favorito no segundo turno. PT continua contando votos Passados 10 dias da realização das convenções, o PT continua contando votos, sem ter o resultado oficial que confirmará a permanência de José Dirceu na presidência do partido. Nova estrela – O ex-prefeito Raul Pont, colocado em segundo lugar, é a nova estrela nacional dos segmentos mais à esquerda do partido. Universal com Lula O Partido Liberal, que é controlado pela Igreja Universal, está dividido entre o evangélico Anthony Garotinho e Lula. Pragmático, deve optar pelo PT, que tem mais chance de chegar ao poder. Oposição desnorteada em plenário Com o racha na bancada do PMDB, a oposição parece perdida em plenário. Foi claro o domínio dos líderes do PT, Ivar Pavan e Ervino Bohn Gass, nas votações da sessão de terça-feira. Com a saída dos dois líderes do PMDB (Paulo Odone e Mário Bernd), o PMDB deve indicar José Sartori e João Osório para representar o partido e a bancada em plenário. Guerra aos pinguços O deputado Manoel Maria (PTB) tinha boas razões para festejar em plenário ontem quando viu finalmente aprovado seu novo projeto que proíbe a venda de bebidas alcoólicas junto às rodovias estaduais. Uma luta que o deputado evangélico trava desde seu primeiro mandato com o propósito de reduzir os acidentes nas estradas. Procuradores e a ética Dentro da proposta de realizar eventos que qualifiquem a advocacia pública e fortaleçam a ética, a Associação dos Procuradores do Estado (Apergs) promove o 10º Encontro Estadual dos Procuradores do Estado. Será realizado amanhã e sábado no Hotel Laje de Pedra, em Canela. Um Estado dividido Não tem meio-termo. Ou se é contra ou a favor. As duas frentes que marcaram a última eleição continuam dividindo o Estado, pelas respostas a uma enquete realizada ontem durante o programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, sob a batuta de Lauro Quadros, sobre a imagem da administração de Olívio Dutra na data em que completava mil dias no governo. Houve um recorde de participação, com 16.737 telefonemas, só superado pelo programa Pré-Jornada Dominical, em que Antônio Carlos Macedo perguntava sobre o melhor time do momento, se o Grêmio ou o Internacional, com 19 mil ligações. A participação no Polêmica nunca passa de 3 mil ouvintes, sem possibilidade de repetir ligação pelo mesmo número. O conceito péssimo ficou 18 pontos acima do ótimo. Bom e ruim ficaram equilibrados e regular ficou em 0,7%, sendo elevado a 1% pelo critério de cálculo. Os índices: Ótimo, 33%; bom, 8%; regular, 1%; ruim, 7%; e péssimo, 51% Orientação acadêmica A questão de número 33 formulada pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFRGS, em pesquisa com delegados e conselheiros do Orçamento Participativo: “A Assembléia Legislativa pode e deve ser extinta e substituída por Conselhos Populares?”. A resposta indicará o índice de golpistas no OP. Mirante • O grande perdedor do racha no PMDB é o senador Simon, mais pela reação destemperada que teve do que pelo tamanho do grupo dissidente. • Discurso de Britto, ontem, cunhou uma expressão para definir a cúpula nacional do PMDB: o clube da esperteza. • Frente Popular na Câmara da Capital pediu mais uma CPI para o Montepio dos Funcionários Municipais por empréstimos externos e alienação de imóveis em leilões. A bancada do PT comparecerá ao leilão. • No exercício da prefeitura, o vice Edison Borba conquisou o vereador Serginho Almiada em Cachoeirinha. ROSANE DE OLIVEIRA Excesso de variáveis Vêm aí seis meses de ebulição. O ingresso do ex-governador Antônio Britto, do deputado federal Nelson Proença e da metade da bancada estadual do PMDB no PPS acrescenta novos ingredientes ao quadro sucessório, mas as definições ficarão mesmo para o início do outono. São tantas as variáveis em jogo que a primavera e o verão devem ser estações de longas conversas, exaustivas negociações, avanços e recuos. Britto voltou a afirmar que não será candidato ao Palácio Piratini, mas não convenceu. Mesmo dizendo que prefere “ser padre a ser noivo”, deixou entre os companheiros e entre os adversários a impressão de que é candidatíssimo – ao governo do Estado ou ao Senado –, principalmente se aparecer à frente dos demais nomes da oposição nas próximas pesquisas. A eleição estadual está vinculada à presidencial e as alianças no Rio Grande do Sul ficarão subordinadas aos palanques nacionais. Hoje o ex-governador Leonel Brizola está mais próximo de Ciro Gomes, mas tudo pode mudar em janeiro, se Itamar Franco vencer a prévia do PMDB, ou a qualquer momento, se o PDT resolver lançar candidato próprio. Por enquanto, quem não tem palanque no Rio Grande do Sul é o candidato do PSDB. Há poucos meses, o ministro da Saúde, José Serra, tinha convicção de que o PMDB gaúcho estaria com o candidato do presidente Fernando Henrique Cardoso – ele, no caso, embora diga que é cedo para falar em nomes. Os tucanos não levavam a sério a conversa do PMDB sobre candidatura própria e vislumbravam a repetição de 1994 e 1998, quando Britto dividiu o palanque com FH. Desta vez, porém, o PSDB não tem candidato natural. Sua melhor opção, José Serra, tem nas pesquisas metade das intenções de voto da governadora Roseana Sarney, do PFL, que divide o segundo lugar com Ciro Gomes. No Rio Grande do Sul, o PFL é o parceiro preferencial do PPB para uma aliança que, por questões nacionais, pode incluir o PSDB. Não é impossível que os tucanos acabem se aliando ao que restou do PMDB para facilitar a ampliação de suas bancadas na Câmara e na Assembléia. Quem irá representar o PMDB na disputa do governo do Estado depois das defecções é outra incógnita. Mesmo que não saia, o senador José Fogaça é carta fora do baralho da sucessão estadual. Com os amigos do outro lado, no máximo Fogaça aceitaria disputar a reeleição. Para o Piratini restam três opções – Pedro Simon, se não concorrer ao Planalto, Germano Rigotto e Cezar Schirmer. Editorial A exportação de impostos O primeiro grande desafio que se oferece à recém instituída Comissão Executiva de Comércio Exterior terá de ser imperativamente desmontar a parafernália fiscal que castiga quem pretende gerar divisas para o país. Enquanto o contribuinte em geral é onerado com mais de 50 gravames diversos, os que se dedicam a um esforço crucial para a nação, o de ampliar as vendas externas para aumentar a renda interna e gerar superávits indispensáveis ao fechamento de nossas contas públicas, são punidos com nada menos do que 112 tributos, encargos e taxas federais, estaduais e municipais. Segundo lembra o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), Benedicto Fonseca Moreira, que apóia as diretrizes anunciadas pelo ministro de Desenvolvimento, alguns desses ônus remontam à época do Império. Uma operação de desembaraço portuário está hoje sujeita ao pagamento de até nove diferentes taxas, cobradas por serviços prestados por vários ministérios. A burocracia chega assim ao próprio cais de acostamento. Mas nem todas essas exigências têm origem oficial. As federações das indústrias, por exemplo, cobram, pela emissão do certificado de origem, valores que vão de R$ 15 a R$ 80, dependendo do Estado. Em muitos casos a burocracia chega ao próprio cais de acostamento Como se não bastasse, estão em gestação nos laboratórios da tecnocracia federal ou nas Casas do Congresso cinco novos tributos: o imposto sobre grandes fortunas, o fundo de serviço postal, o Fundo Nacional de Transporte, o fundo especial para as calamidades públicas e as taxas da Agência Nacional de Transporte. A isso se acrescem os gargalos dos modais brasileiros, que reclamam investimentos em modernização de estruturas e redução de custos de pessoal, especialmente nos portos. Nada mais eloqüente a esse respeito do que o caso do maior terminal marítimo nacional: em Santos, os gastos com transporte e despesas batem em US$ 100 por tonelada de carga embarcada. Manifestou o ministro Sérgio Amaral sua expectativa de que o país alcance um superávit comercial de US$ 5 bilhões já em 2002 com os oito programas prioritários para expansão das vendas externas. Trata-se de um grande salto quantitativo depois de seis anos de déficits gigantescos. Alcançar tal objetivo requererá do governo, e em particular da câmara de gestão, no entanto, toda uma visão estratégica para a criação de uma corrente exportadora. Isso implica, além da desoneração fiscal e do combate à burocracia, crédito acessível, logística e redução de custos, conferir primazia a três outros setores. São eles a ampliação dos embarques de bens tecnologicamente sofisticados e, portanto, de alto valor agregado; a descentralização das vendas pela mobilização da média e pequena empresa; e uma política arrojada de promoção comercial externa. Pois se adiarmos essas medidas, como há tanto adiamos a reforma tributária, continuaremos a exportar impostos e a amargar perdas nas trocas internacionais. Escalada de preconceitos Um médico de origem saudita é preso em Nova York. Um brasileiro de ascendência árabe luta para provar que está encarcerado injustamente e que não tem qualquer ligação com os autores dos atentados do dia 11. Crianças hindus são discriminadas por usarem turbantes que as assemelham aos povos do Oriente Médio. Estudante é agredido na rua por falar uma língua estrangeira. Passageiros recusam-se a embarcar em avião no qual teriam egípcios como companheiros de vôo. Organismos de inteligência ou da aeronáutica requisitam dados sobre os pilotos, treinados recentemente, que tenham nome ou origem árabe. A língua, o aspecto físico, a ascendência étnica ou a nacionalidade são tidos como elementos suficientes para suspeitas e desconfianças. Trata-se de uma lamentável escalada mundial de medo e de preconceito. Apesar de compreensível num momento de temor generalizado e embora os órgãos de segurança tenham que fazer o que é de sua competência e obrigação, esse clima de caça aos árabes é absolutamente injustificável. O terrorismo não tem um DNA definido, não tem uma cara específica e não pode ser a marca de uma nação ou de um grupo étnico. O mundo conheceu, nas décadas de 60 e 70 do século 20 e ainda registra neste começo de século 21, exemplos de terroristas de outra cor de pele, de idiomas anglo-saxões ou latinos, de cultura européia e de religião cristã. Seria uma injustiça acusar os alemães em geral pela ação dos terroristas da Baden-Meinhof, acusar os italianos pela ação irresponsável das Brigadas Vermelhas que assassinaram o primeiro-ministro Aldo Moro, ou os irlandeses pelas bombas semeadas pelo Exército Republicano Irlandês (IRA), os espanhóis pelos atentados dos bascos do ETA, os japoneses por serem nipônicos os que puseram gás sarin no metrô de Tóquio, ou finalmente acusar os norte-americanos em geral pela insanidade do autor do atentado contra o prédio federal de Oklahoma. Não se pode admitir que para preservar a liberdade se comece por eliminá-la A identidade do terror deve ser buscada na irresponsabilidade de sua ação, na crueldade de seus métodos e na desumanidade com que escolhe seus alvos. Essas características dos terroristas nada têm a ver com cor da pele, o idioma que falam, a religião que professam e muito menos a roupa que vestem. Da mesma maneira que não se pode admitir que para preservar a liberdade se comece por eliminá-la, ou que para salvar a democracia se estabeleçam ditaduras, não há justificativa para que, em nome da segurança se crie insegurança, em nome do combate ao terrorismo se implantem preconceitos e em nome da justiça se cometam injustiças. Topo da página

09/27/2001


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