Brizola acena com apoio a Lula e deixa Ciro constrangido









Brizola acena com apoio a Lula e deixa Ciro constrangido
Criando mais um constrangimento para Ciro Gomes, o presidente do PDT -que integra a Frente Trabalhista, com o PPS e o PTB -, Leonel Brizola, afirmou neste fim de semana que espera que o PT o procure para discutir o apoio da Frente a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já na reta final do primeiro turno.

No sábado à noite, em Petrópolis (RJ), Brizola disse que gostaria de dar um um "impulsozinho" ao petista. Ontem, no Rio, afirmou que espera que as lideranças do PT o procurem.

"Se o Lula, o [presidente do PT" José Dirceu e o PT vierem explicar que precisam de nós para vencer no primeiro turno, essa reflexão adquire um outro peso de responsabilidade, e vamos ter que pensar não uma vez, mas duas ou três vezes no que fazer", disse ontem.

Brizola falava dando como certa a ausência de Ciro no segundo turno. Para ele, há "uma fraude preparada" por José Serra (PSDB) para que Lula perca. "No segundo turno, eles vão dar uma rasteira no Lula por meio da informatização do processo eleitoral."

O pedetista disse, no entanto, que a decisão de desistir só poderá ser tomada por Ciro e que o presidente do PTB, José Carlos Martinez, pensa da mesma maneira: "Nossos compromissos com a candidatura de Ciro estão de pé. Esperamos fazer essa reflexão juntamente com ele [Ciro". A Frente Trabalhista vai sair unida".
Em Petrópolis, Brizola acompanhou Ciro em um comício. Apesar de dizer que continuava fiel ao candidato, o pedetista afirmou: "O PT está dizendo: "Olha, eu me atiro n'água e atravesso esse rio". É um rio caudaloso. Nós vamos pensar, juntamente com nosso candidato. Não assumiremos nenhuma atitude sem ele. Eu pessoalmente gostaria de dar um impulsozinho a ele [Lula". Gostaria de ver o PT nadar, para ver se ele atravessa o rio".

Brizola e Ciro ficaram em lados opostos no palanque. Ontem, estiveram na feira de São Cristóvão, tradicional ponto de encontro de nordestinos. O pedetista, candidato a senador, não acompanhou Ciro durante toda a caminhada. Disse que se sentia mal por causa do calor e foi embora.

Ciro pediu votos para o candidato a deputado Roberto Jefferson (PTB), um dos principais articuladores de sua campanha, mas não citou Brizola.

O presidenciável não falou com os jornalistas ontem, mas disse, em discurso, que irá até o fim. "Todos os tipos de pressão, de chantagem e boato vão se levantar contra nós. Mas é preciso que lembrem que fui criado no meio dessa raça aqui. No meio da raça da seca, da pressão. Essa é uma raça que não se entrega e entra na luta para vencer ou para morrer."

Roberto Jefferson disse ser contrário à renúncia. "É um absurdo. Se o Ciro não admite a renúncia, ninguém pode falar nisso."


Entre quem tem telefone em casa, Lula atinge 42%
Petista oscila 2 pontos e registra sua maior taxa em série de pesquisas por telefone

O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) oscilou dois pontos para cima -após pesquisa por telefone realizada ontem- e atingiu 42% das intenções de voto, sua maior taxa desde o início do rastreamento eleitoral do Datafolha.

José Serra (PSDB) manteve-se com 21% e desfez o empate técnico em segundo lugar que teve, na rodada anterior, com Anthony Garotinho (PSB), já que Garotinho oscilou de 15% para 14%.

No limite da margem de erro da pesquisa, de três pontos percentuais para mais ou para menos, Serra e Garotinho poderiam ter, antes, 18% cada um. Agora não há mais essa possibilidade.

Em terceiro, empatado com Garotinho, Ciro Gomes (PPS) oscilou de 14% para 13%.

O rastreamento é a série de pesquisas feitas por telefone três vezes por semana nos dias seguintes às exibições de programas dos presidenciáveis no horário eleitoral gratuito. Seus resultados se referem, por isso, a uma parcela específica do eleitorado, com mais renda e escolaridade do que a média nacional: a dos cerca de 54% que têm telefone fixo em casa.

No rastreamento, a forma de cálculo é diferente da pesquisa tradicional. Cada rodada de números se refere à "média móvel" (veja ao lado como isso é calculado) das duas últimas pesquisas.

Assim, os atuais 42% de Lula são uma média da pesquisa feita na sexta-feira com a de ontem.

Ontem, Lula obteve taxa pouco abaixo de 42%, mas, na "média móvel" com a pesquisa anterior, o resultado final ficou em 42%. O objetivo do Datafolha, ao usar o critério de "média móvel", é aumentar o número de entrevistas, baixando a margem de erro.


Genoino, 24%, empata com Maluf, 26%; Alckmin tem 30%
Pepebista cai 3 pontos, e disputa ao governo paulista embola a uma semana do primeiro turno

A menos de uma semana da realização do primeiro turno das eleições para o governo de São Paulo, a vantagem de Paulo Maluf (PPB) para José Genoino (PT) caiu de sete para dois pontos percentuais, e os dois candidatos estão agora em situação de empate técnico em segundo lugar.

Pesquisa Datafolha realizada na última sexta-feira indicou que Geraldo Alckmin (PSDB) tem 30% das intenções de voto, Maluf, 26%, e Genoino, 24%.

Como a margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, Maluf está empatado com Genoino em segundo. Também é certo afirmar que Alckmin e Maluf estão empatados em primeiro, no limite da margem de erro, mas é mais provável estatisticamente que o tucano esteja na frente.

Na pesquisa anterior, feita exatamente uma semana antes, Alckmin obteve 31%, Maluf, 29%, e Genoino, 22%. Ou seja, dos três, apenas Maluf teve oscilação acima da margem de erro de um levantamento para o outro.

De acordo com os números do Datafolha, quando são computados apenas os votos válidos (excluindo brancos e nulos), Alckmin fica com 34%, Maluf, com 30%, e Genoino, com 28%.

O presente levantamento foi realizado em 86 cidades do Estado de São Paulo, incluindo a capital. Foram feitas 1.680 entrevistas.

Quanto aos outros candidatos, o quadro não sofreu mudança fora da margem de erro. Carlos Apolinário (PGT) permanece com 2%, Cabrera (PTB) tem 2%, e Ciro Moura (PTC), 1%. Os demais foram citados, mas não atingiram 1% -à exceção de Pinheiro Pedro (PV), que não foi citado.

O número de eleitores que afirmaram não saber em quem vão votar também permanece o mesmo, na casa dos 7%, e os que disseram que vão votar em branco ou nulo continua sendo de 5%.

Segundo turno
Mais uma vez o Datafolha propôs aos eleitores simulações de segundo turno entre os principais candidatos.
Na situação em que os oponentes eram Alckmin e Maluf, o tucano venceria por 54% a 36%. Na pesquisa anterior, o resultado era 53% a 38%. Contra Genoino, Alckmin venceria por 52% a 37%, números semelhantes ao da pesquisa anterior (52% a 35%).

Quando os eleitores tiveram de escolher entre Maluf e Genoino, o petista ficou na frente: 48% a 40%. O resultado fica fora da margem de erro, o que não acontecia na pesquisa feita uma semana antes, quando foi registrado 46% a 42%.

Na pesquisa espontânea, em que o eleitor tem que escolher o candidato sem que o pesquisador ofereça opções de nomes, Paulo Maluf e José Genoino empatam tecnicamente, obtendo 16% o primeiro e 15% o segundo. Nesse caso, Alckmin está à frente de ambos, com 23%. No levantamento feito no dia 20, Alckmin e Maluf estavam empatados (21% e 20%, respectivamente), e Genoino ficava em terceiro (com 13%).


Prefeituras do PT contratam empresas de petistas em SP
Das 39 administrações do partido no Estado, em 17 há o vínculo

Pelo menos 44% das prefeituras administradas pelo PT no Estado de São Paulo contrataram empresas de pessoas ligadas ao partido. Em todos os casos, pelo menos um dos donos trabalhou na administração pública e depois abriu sua empresa privada.

O PT administra hoje 39 cidades em São Paulo. Dessas, a Folha localizou contratos com empresas ligadas a petistas em 17 casos. Também há negócios em pelo menos mais seis cidades que foram administradas pelo PT ou estão localizadas em outros Estados, além do Distrito Federal.

Os serviços variam de propaganda e consultoria a coleta de lixo. Há locais em que o Ministério Público ou CPIs investigam suposto favorecimento. Em outros, o TCE (Tribunal de Contas do Estado de São Paulo) apontou irregularidades na contratação.

A maioria das empresas argumenta que não trabalha apenas para administrações petistas. As prefeituras afirmam que as contratações obedeceram todos os trâmites legais e que não houve beneficiamento. Além disso, dizem que os trabalhos foram contratados em vista do menor preço.

Consultoria
A maior especialidade das empresas é no ramo de consultoria. A Peruzza & Caporucci, cujos sócios são Marco Antônio Peruzza e Moacir Caporucci, ajuda as prefeituras de Bebedouro e de Pitangueiras a se enquadrarem na Lei de Responsabilidade Fiscal.

Peruzza foi secretário de Governo de Jaboticabal até o início deste mês, quando se desligou para trabalhar na campanha de candidatos a deputado do partido na região. Caporucci é militante do PT de Guariba.

Na área de publicidade, a PG Comunicação, que tem como diretor Eduardo Godoy, ex-coordenador de Comunicação do governo do Mato Grosso do Sul no início do mandato do governador José Orcírio Miranda dos Santos, o Zeca do PT, trabalha para as prefeituras petistas de São Paulo, Guarulhos, Campinas e Mauá, e já prestou serviços para Catanduva e Ribeirão Pires.

A empresa pertence a Patrícia Bérgamo, mulher de Eduardo Godoy. Ele trabalhou nas campanhas de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 1998 e de Marta Suplicy ao governo do Estado de São Paulo, no mesmo ano.

Criada em 1996, com um capital social de R$ 50 mil, a PG aumentou em 14 vezes esse valor e hoje possui um capital de R$ 700 mil.

Em 2001, a PG integrou um consórcio com a Makplan e a Agnelo Pacheco e ganhou um contrato na Prefeitura de São Paulo no valor de R$ 20 milhões, por um ano. O TCE considerou irregular o contrato firmado entre a PG e a Prefeitura de Mauá.

Outra que atua na área de publicidade é a Impacto Consultoria e Marketing. A empresa foi fundada em novembro de 2000 por Sebastião de Deus Moreira e Luiz Gonzaga Bussola.

Moreira foi secretário de Governo de Matão na gestão de Adauto Scardoelli (1997-2000) e Bussola foi superintendente da Caema (Companhia de Água e Esgoto de Matão) no mesmo período.

A Impacto trabalhou para as administrações municipais petistas de Araraquara, Pitangueiras, Dobrada e Rincão.

Limpeza urbana
O serviço de limpeza urbana também tem empresas de petistas no mercado.

A Engelix tem como principal sócio Nelson Frateschi, ex-administrador regional da Lapa durante a gestão de Luiza Erundina (1989-92) e irmão do presidente do diretório estadual do PT, Paulo Frateschi.

A Engelix foi fundada em 1993, logo depois que Nelson saiu da prefeitura. Desde então, já prestou serviços para o Distrito Federal, na época do ex-governador Cristovam Buarque, e para as prefeituras de Franca, Catanduva, Franco da Rocha, Angra dos Reis (RJ), Belém (PA) e Itabuna (BA).

A Engelix atua principalmente na parte técnica, enquanto a Construrban, de Ubiratan Sebastião de Carvalho, ex-administrador regional de Santo Amaro também na gestão Erundina, trabalha na coleta.

A Construrban já trabalhou para São Paulo, Franca e Betim (MG). Uma CPI instalada na Câmara Municipal de Franca, no ano passado, questionou um suposto favorecimento da empresa.

Palocci
Ex-secretário de Governo de Ribeirão Preto durante a primeira gestão de Antônio Palocci (1993-96), Rogério Buratti criou a Assessorarte em 1994, logo depois que deixou a prefeitura.

Ele era considerado o homem forte da administração Palocci e foi exonerado pelo prefeito em outubro daquele ano, depois de suspeitas de distribuição prévia de obras públicas da cidade.

A Assessorarte trabalha principalmente na preparação de concursos públicos. Pelo menos sete prefeituras do PT já contrataram seus serviços: Franca, Araraquara, Batatais, São Simão, Rincão, Sales Oliveira e Matão (na administração anterior).

O outro sócio da Assessorarte é Luiz Prado, ex-superintendente do IPM (Instituto de Previdência dos Municipiários) no primeiro governo de Palocci e ex-secretário de Administração de Jaboticabal na gestão do petista José Giácomo Baccarin, que concorre a suplente de senador na chapa de Aloizio Mercadante (PT).

Para a preparação de editais, algumas prefeituras petistas contrataram a Rodvias Engenharia Municipal, de Ricardo Pereira dos Santos, ex-secretário de Obras de Santos durante a administração de Davi Capistrano (1993-96).

A Rodvias trabalhou para as prefeituras de Santo André, Mauá e Belém (PA). O Ministério Público de São Paulo investiga um suposto favorecimento à empresa.

Em Santo André, o ex-secretário de Serviços Municipais, Klinger Luiz de Oliveira Souza, que trabalhou com Ricardo em Santos, contratou a empresa para prestar serviços na cidade. No total, a Prefeitura de Santo André manteve R$ 6,8 milhões em contratos com a Rodvias.

Em 2001, a Prefeitura de Bebedouro contratou a Gushiken e Associados, do ex-deputado federal e ex-coordenador da campanha de Lula, Luiz Gushiken. A empresa, que tem contrato com a prefeitura, faz um trabalho de cálculo atuarial para a criação do Instituto de Previdência Municipal.


Tuma tem 39%; Mercadante e Quércia, 33%
Pefelista tem melhor desempenho entre eleitores de 16 a 24 anos; petista atinge 59% entre os que têm curso superior

O candidato Romeu Tuma (PFL) lidera a disputa ao Senado em São Paulo, com 39% das intenções de voto, revela pesquisa Datafolha realizada no dia 27 passado. A segunda vaga é disputada voto a voto por Aloizio Mercadante (PT) e Oestes Quércia (PMDB), ambos com 33%.

Entre os eleitores, 14% ainda não escolheram em quem votar para a segunda vaga de senador.

Tuma e Mercadante oscilaram um ponto para baixo. Saíram, respectivamente, de 40% para 39% e de 34% para 33%. Quércia manteve os 33% da pesquisa anterior, realizada no dia 20 passado. No mesmo período, José Aníbal (PSDB) teve oscilação positiva de 12% para 14%.

Foram ouvidos pelo Datafolha 1.680 eleitores, em 86 cidades do Estado de São Paulo.

Como a margem de erro dessa pesquisa é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, Tuma pode ter entre 37% e 41% das intenções de voto, enquanto Mercadante e Quércia oscilam entre 31% e 35%.

O desempenho do PPB oscilou negativamente tanto na disputa ao Senado quanto ao governo estadual. O candidato a senador Cunha Bueno (PPB) oscilou dois pontos para baixo. Saiu de 10% para 8%. Já a candidatura do pepebista Paulo Maluf ao governo do Estado oscilou de 29% para 26% no mesmo período.

Jovens
Romeu Tuma lidera a disputa entre eleitores de todas as faixas etárias. Entre os jovens de 16 a 24 anos o pefelista tem seu melhor desempenho: 44% das intenções de voto. Quércia tem 37% e Mercadante, 33%.
Tuma, que tem como mote da campanha a segurança, também lidera entre a população que ganha até cinco salários mínimos- a mesma que vive nos bairros mais periféricos e violentos das grandes cidades paulistas.
O candidato pefelista conta com 38% das intenções de voto dessa população. Quércia (que também tem tem batido na tecla do combate à violência) tem 37%. Mercadante, com um discurso mais voltado para questões econômicas, tem 26%.

No contraponto, o petista lidera entre os eleitores com renda superior a dez salários mínimos e com nível superior. No primeiro grupo, Mercadante tem 49% das intenções de voto. Tuma tem 45% e Quércia, 24%. Entre os que curs aram universidade, o petista tem 59% das intenções de voto, contra 41% de Tuma e 17% de Quércia.

Tucano
Chama a atenção o fato de que apenas 21% dos eleitores que avaliam o governo de Geraldo Alckmin (PSDB) como ótimo e bom declarem voto no tucano José Aníbal. Entre os que melhor avaliam o governador, 45% dizem que votarão em Tuma, que é da mesma coligação, mas de partido diferente.

Dos três candidatos, Mercadante é o único que tem mais votos na região metropolitana do que no interior. Tem 36% das intenções de voto na capital e na Grande São Paulo contra 29% no interior. Tuma tem 38% na região metropolitana contra 40% no interior. Quércia tem 31% na capital e na Grande São Paulo e 35% no resto do Estado.

Atingiram 1% das intenções de voto Dr. Paulo Correa (Prona), José Maria Marin (PSC), Paulo Fortunato (PSDC), Eliseu Gabriel (PDT), Firmino (PCO), Mourad (PSB), Thereza Ruiz (PTN) e Willian Rafael (PTB). Os outros onze candidatos ao Senado por São Paulo foram citados, mas não atingiram esse percentual.


A evangélicos, Lula se compara a Jesus Cristo
Ao lado de Jesse Jackson, petista diz que "mesma elite que tem preconceito contra nós tinha preconceito contra ele (Jesus)"

O candidato do PT à presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, comparou a sua história e a de seu partido à de Jesus Cristo ontem ao discursar para uma platéia evangélica na Primeira Igreja Batista de Santo André, na Grande São Paulo.

A comparação foi feita logo após o candidato declarar que acredita que "a base da igreja evangélica" começou a descobrir semelhanças entre o que lê na Bíblia e o que deseja para a sociedade. "Afinal de contas, quem foi mais revolucionário que Jesus Cristo na história da humanidade? Quem lutou mais por justiça social? Quem lutou mais pela igualdade, pela repartição dos pães que Jesus Cristo?", questionou Lula, diante de uma platéia de cerca de 1.100 pessoas, pouco antes de fazer a comparação.

"E, por isso, a mesma elite que tem preconceito contra nós hoje, tinha preconceito contra ele."

Para Lula, a crucificação de Cristo mudou "um pouco" a história da humanidade. "Com o PT foi a mesma coisa", disse em referência às derrotas que o partido sofreu em campanhas anteriores.

Lula seguiu seu discurso na linha religiosa ao mencionar que, nesta campanha, voltou a ser chamado de "demônio" por supostamente haver riscos de ele fechar igrejas evangélicas caso seja eleito. Ele se referiu a "jornaizinhos" que haviam veiculado tal informação.

Aos evangélicos, disse que, se eleito, usará a experiência das igrejas para desenvolver políticas sociais. Convidado pelo Comitê Evangélico Pró-Lula, o petista desvinculou o partido da Igreja Católica e defendeu que sua legenda como plural.

Otimista, o candidato afirmou que hoje tem tranquilidade para dizer que apenas o PT será capaz de fazer as reformas de que o Brasil precisa. Em discurso, criticou indiretamente pelo menos duas vezes o adversário José Serra (PSDB) ao dizer que já foi vítima de preconceito por não ter diploma. "Um presidente da República tem de ter em conta que ele precisa falar menos línguas e conhecer mais o coração e a mente do povo que ele quer governar."

O discurso do candidato petista foi precedido da fala do reverendo Jesse Jackson, cujo prestígio o PT decidiu usar para atrair o voto evangélico, mais concentrado em Anthony garotinho (PSB). Comparando Lula a Martin Luther King e Nelson Mandela, Jackson chamou-o de "ser humano muito especial" e disse que o candidato havia sido "tocado por Deus". "Assim como Martin Luther King inspirava aquele espírito especial e assim como Nelson Mandela também inspirava aquele espírito especial, Lula inspira esse espírito especial", disse em discurso em inglês, traduzido para a platéia.

O reverendo, da igreja Batista dos EUA, veio ao Brasil a pedido do PT. Ontem, Jackson se recusou a dar uma opinião sobre o governo Fernando Henrique Cardoso.

Showmício e coração
À noite, em showmício realizado na praça Campo de Bagatelle, zona norte de São Paulo, Lula discursou durante cerca de 30 minutos para cerca de 80 mil pessoas, segundo estimativa da PM. Jesse Jackson também o acompanhou no palanque durante o evento.

O candidato se mostrou mais prudente em relação a uma suposta vitória ainda no primeiro turno, ao contrário do que fez durante comício na última quinta-feira, no Rio de Janeiro, quando insinuou que poderia vencer a eleição no próximo domingo. "Estamos muito próximos de ganhar as eleições em nosso país. Até a vitória, se Deus quiser, no dia 6 de outubro ou no dia 27."

Durante o discurso, Lula se mostrou emocionado ao menos duas vezes: ao anunciar que pretende estender para todo o país o projeto da Prefeitura de São Paulo que fornece material escolar e uniforme para alunos da rede pública municipal e ao dizer que não irá governar apenas com a razão. "Quero governar com o coração".
Como é de praxe, o candidato do PT voltou a criticar a Alca (Área Livre de Comércio das Américas) nos moldes em que está planejada hoje. "Que não venham os EUA nos tentar impor a Alca como está, porque nós não a aceitaremos em hipótese alguma. A Alca, tal como está, não é a política de integração que queremos."
O presidente do PT, José Dirceu, declarou durante o showmício que, a partir de hoje, 2 milhões de ativistas do partido realizarão um trabalho de boca-de-urna. "Eles irão de casa em casa até a meia-noite de sábado", disse.
Dirceu foi evasivo ao comentar o fato de Leonel Brizola (PDT) ter afirmado que espera que o PT o procure para discutir o apoio da Frente Trabalhista a Lula há uma semana do primeiro turno. "É evidente que precisamos do apoio de todos os que querem governar o Brasil", disse, tergiversando.


FHC mantém relações nos bastidores com PT
Na reta final da eleição, o presidente Fernando Henrique Cardoso tem trocado telefonemas com o presidente do PT, o deputado federal José Dirceu (SP). Os dois, porém, combinaram negar para não melindrar José Serra, o presidenciável do PSDB.

Caso Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vença a eleição, FHC quer a garantia de que não será perseguido, com reabertura de investigações sobre atos em seus dois governos. Essa garantia, segundo a Folha apurou, ele já obteve.

Além disso, o presidente negocia com o PT a aprovação do foro privilegiado para ex-autoridades, regra que o STF (Supremo Tribunal Federal) derrubou em 1999.

Hoje, FHC responde penalmente perante o STF. Só o procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro, pode dar início a um pedido de processo penal contra o presidente. No campo civil, FHC responde perante a primeira instância da Justiça Federal. Procuradores da República, por exemplo, podem propor ações de improbidade administrativa.

Sem o foro privilegiado, FHC poderá ser processado penal e civilmente em qualquer comarca do país. Ou seja, estaria sujeito à ação de juízes e promotores de primeira instância.

O PT não admitirá publicamente ainda que está negociando o foro privilegiado com FHC. Mas um de seus dirigentes disse à Folha que considera justo o pedido.

Desde quando Ciro Gomes (PPS) virou uma onda e uma ameaça aos olhos de FHC, ele passou a se equilibrar entre Serra e Lula. Ao mesmo tempo em que dá declarações, como a de que não é preciso diploma para ser presidente, num contraponto a uma crítica de Serra a Lula, FHC tenta socorrer o tucano, como hoje, quando participará pela primeira vez de um ato de campanha. O evento será em Minas.

A Folha apurou que FHC chegou a dar a candidatura Serra como inviável quando Ciro disparou nas pesquisas e deixou o tucano num distante terceiro lugar.

O PT também julgou conveniente a aproximação; e Dirceu, autorizado por Lula, negociou o apoio do partido ao novo acordo com o FMI. Foi nesse contexto que FHC dedicou a Lula atenção especial, com um encontro a sós, no dia em que recebeu presidenciáveis no Planalto.

A recuperação de Serra fez FHC recuar. Ele e Dirceu conversaram na terça-feira da semana passada, depois de dois telefonemas trocados na semana anterior, mas combinaram que negariam o contato.


Artigos

Mentiras malditas e estatísticas
Vinicius Torres Freire

SÃO PAULO - Num modesto esforço para o bem da verdade histórica sobre o medonho destino das finanças do país nestas últimas semanas, seria bom dizer aos cidadãos honestos e prestantes que:
1. A política vulgar, para não dizer a desonestidade intelectual deste governo que ora se encerra, tem se pautado pela propaganda da idéia de que a eleição é a causa maior da ameaça de desastre financeiro. Não é verdade. Não toda;

2. Considere o efeito do desastre do racionamento em 2001. Os juros básicos subiram de 15,25% para 19% em cinco meses. Antes que o raio da incompetência elétrica nos caísse sobre a cabeça, previa-se que a economia iria crescer 4,5% em 2001. Cresceu 1,5%. A dívida pública, por causa disso tudo, cresceu de 50% para 55% do PIB. Quanto mais alta a dívida, mais cresce a desconfiança do mercado no país, o que faz o dólar subir, a dívida crescer mais, assim por diante;

3. Considere a política do bumba-meu-boi do governo. Este governo se diz campeão da responsabilidade fiscal e do crescimento sustentando. Mas nos quatro anos anteriores a FHC, o governo equilibrava despesa e receita, sem contar juros. Nos primeiro governo FHC, o gasto e a dívida explodiram a fim de financiar uma bolha de consumo. A prudência só começou em 1999, depois da primeira quebra do país do Real;

4. O primeiro governo FHC ria de quem dizia que era preciso exportar mais para equilibrar as contas externas do país. Em vez disso, davam juros altos para atrair dólares, o que fez mais dívida. Agora, o governo festeja a alta das exportações, que cresceram à custa de desemprego e de um dólar alucinado (e dólar muito alto faz a dívida pública crescer);

5. Este governo deixou ao mercado decidir muitas coisas, tais como o investimento em energia (que não houve, o que se explica também pelas privatizações porcas da era FHC). Agora, o mercado é ignaro, diz Malan.

Toda essa bobajada ajudou a dívida pública a mais do que dobrar nos anos FHC. A incerteza causada pela eleição foi só a cereja no alto do bolo envenenado de uma farra financeira.


Colunistas

PAINEL

Minutos finais
Leonel Brizola (PDT) mandou emissários procurarem Lula com um recado: quer se encontrar com o petista na quinta-feira, no Rio, antes do debate da TV Globo, para anunciar seu apoio ainda no primeiro turno.

Preço do mutirão
O PT orientou todos os diretórios estaduais a dobrar o números de cabos eleitorais para o trabalho de boca-de-urna. Recursos da cúpula nacional do partido serão repassados aos Estados para pagar a mão-de-obra extra.

Reprise
Serra vai utilizar a última semana de campanha para tentar derrubar Garotinho da mesma maneira que fez com Ciro. Frases polêmicas ditas pelo candidato do PSB serão mostradas no programa de TV do tucano. Toda vez que Garotinho falar de Serra em seu programa, os tucanos pedirão direito de resposta.

Perdas e danos
Serra evitará, na reta final, atacar diretamente Lula na TV. Os ataques serão discretos, apenas nas inserções, pois a avaliação é que o tucano ganha poucos dos votos que saem do petista. A maioria vai para Garotinho.

Pré-transição
Pelo menos dois ministros de FHC receberam petistas na semana passada. As conversas giraram em torno da herança do atual governo, principalmente compromissos que vencem no primeiro trimestre de 2003.

Alvo principal
O PT, no comício realizado sábado em Brasília, explicitou uma estratégia para tentar vencer a eleição no primeiro turno. Lula conclamou os eleitores a "convencer seus amigos indecisos" a votarem nele para que possa ganhar já no domingo.

Staff de campanha
Em queda nas pesquisas, Ciro Gomes se isolou e resumiu sua campanha praticamente à família. O candidato só ouve hoje em dia Patrícia Pillar, os irmãos Lúcio e Cid Gomes e o cunhado Einhart Jacome da Paz, marqueteiro da campanha.

Distância de ocasião
Aliados de primeira hora de Ciro, como ACM, Bornhausen, Mangabeira Unger e Roberto Freire, ficaram de lado. Não são ouvidos pelo presidenciável, mas também não o procuram.

Sinal de prestígio
Ciro Gomes (PPS) exibiu no horário eleitoral na semana passada propostas de geração de emprego. O vice Paulinho, presidente licenciado da Força Sindical, recebera a promessa de que faria parte da propaganda. Mas não foi levado ao ar.

Multiplicação eleitoral
Garotinho teve de aparecer em três palanques no AM por conta de disputas locais. No sábado, além de ir ao comício do candidato do PPS, foi a dois comícios evangélicos: um da Assembléia de Deus e outro da Igreja Restauração. Os pastores, brigados, apóiam o candidato do PPS ao governo, Eduardo Braga.

Poder esvaziado
A cúpula do PMDB acha que a sigla passará a ter três governos estaduais, contra os seis atuais. Jarbas Vasconcelos (PE) e Joaquim Roriz (DF) podem ser eleitos no primeiro turno e Roberto Requião (PR), que é do grupo oposicionista no partido, deverá disputar o segundo turno.

Explicação folclórica
Aliados de Antônio Britto (PPS) avaliam que ele está despencando na disputa pelo governo do RS porque mudou de partido (ele sempre foi do PMDB). O folclore político diz que o eleitorado gaúcho não perdoa quem troca de partido.

Tragédia que rende
Slogan do coronel Ubiratan (PPB-SP), candidato a deputado estadual e acusado de comandar o massacre dos 111 presos do Carandiru em 1992: "Esse já mostrou que defende São Paulo".

TIROTEIO

Do presidente do TST, Francisco Fausto, informado de que FHC pretende editar uma medida provisória para combater o trabalho escravo:
- Já houve uma demora muito grande em se adotar uma solução para o problema. Espero que o anúncio da MP não seja apenas mais um discurso. Tomara que se transforme em ações concretas.

CONTRAPONTO

Comportamento antimusical
Pouco antes da chegada de Lula a um comício no DF, anteontem, Eduardo Suplicy subiu ao palanque, fez um discurso e, em seguida, chamou o candidato a vice-presidente, José Alencar.
O senador pediu que Alencar cantasse um samba de Noel Rosa e Vadico, "Feitio de Oração". Alencar se esquivou:
- É difícil recusar pedido de meu querido Suplicy, mas o problema é que não sei cantar.
- Mas você cantou para mim, para o Lula e para a Marta no avião- insistiu Suplicy.
A platéia ajudou:
- Canta! Canta!
Envergonhado, o candidato a vice enfim arriscou:
- "Batuque é um privilégio, ninguém aprende samba no colégio..."
A platéia aplaudiu. Mas o ex-deputado Chico Vigilante (PT-DF), no palanque, não perdoou:
- Se tivesse que cantar para viver, esse aí morreria de fome!


Editorial

MARGEM ESTREITA

Há um contraste ente as disputas pelo governo estadual nos dois maiores colégios eleitorais do país. Em Minas Gerais, Aécio Neves, de acordo com a pesquisa Datafoha divulgada hoje, dificilmente deixará de conquistar a vitória no primeiro turno e de ascender ao rol das lideranças nacionais mais importantes do PSDB. Em São Paulo, o quadro é diverso. A menos de uma semana do pleito, a indefinição, que já dera o mote dos resultados da pesquisa anterior, tornou-se mais radical.

O governador tucano Geraldo Alckmin, que conseguira ultrapassar o pepebista Paulo Maluf e atingir o primeiro lugar na sondagem da semana passada, parou de subir, oscilou um ponto para baixo e atingiu 30%. Maluf seguiu em queda, perdeu mais três pontos e agora tem 26%. O petista José Genoino oscilou dois pontos para cima e chegou aos 24%.

Como a margem de erro é de dois pontos percentuais para cima ou para baixo, há um empate técnico entre Maluf e Genoino, pela vice-liderança, e um outro, no limite da margem de erro, entre Alckmin e o pepebista, pelo primeiro lugar. Ou seja, os três se encontram num intervalo estatístico tão estreito que, com cinco dias de campanha pela frente, não se pode prognosticar, com um grau razoável de segurança, sobre qual dupla se qualificará para o segundo turno: pode ser Alckmin contra Maluf; pode ser Alckmin contra Genoino; e pode ser, até, Maluf contra Genoino, ainda que essa hipótese, se a eleição fosse hoje, seria a menos provável.

A última pesquisa Datafolha antes do primeiro turno de 1998 apontava uma convergência entre tucanos e petistas. Mas o fenômeno agora se manifesta com uma semana ainda de campanha pela frente e abrange não apenas duas, mas três forças políticas. O malufismo, que em 98 conseguiu vencer o primeiro turno com boa folga sobre o segundo colocado, tem hoje que lidar com uma rejeição mais alta (41%) e com um movimento de queda que se verifica, inclusive, na pesquisa de voto espontâneo.

A convergência é tríplice, e é possível dizer que a definição dessa acirrada disputa pelo Palácio dos Bandeirantes não será por larga margem.


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09/30/2002


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