Lula tem apoio de Ciro e Brizola









Lula tem apoio de Ciro e Brizola
Candidato petista prevê um segundo turno difícil e admite aceitar votos também da direita.
O candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiu ontem assegurar o apoio do PPS, do candidato derrotado Ciro Gomes, e do PDT de Leonel Brizola para o segundo turno.

Ontem, em São Bernardo do Campo, Lula admitiu que, para o segundo turno do processo eleitoral, vai buscar os votos de eleitores não só de esquerda como também os de direita.

Ele prevê um segundo turno difícil, uma "nova batalha". Segundo Lula, não importa se o eleitor vota ou não no PT, se tem afinidade ou não com o programa do partido, ou se vai ou não "com a sua cara". Ele cobrou empenho da militância petista para conquistar o voto onde o partido não saiu bem no primeiro turno.

O presidente do PPS, senador Roberto Freire, e Ciro Gomes declararam ontem apoio "incondicional e irrestrito" à candidatura de Lula. "O partido com que temos maior afinidade é o PT. É com a candidatura de Lula que temos maior convergência", disse Freire, justificando a posição do partido para o segundo turno.

"Estou à disposição de Lula para colaborar da forma como ele julgar necessária. Quem melhor representa uma candidatura de oposição e de renovação é o Lula", afirmou Ciro Gomes.

O PDT vai apoiar a candidatura de Lula sem exigências, segundo o presidente do partido, Leonel Brizola. "Foi decidido que o PDT apoiará plenamente a candidatura Lula com todas as suas bases. Nosso partido assume essa posição sem qualquer exigência, incondicionalmente. Queremos ajudar. Não pedimos rigorosamente nada", afirmou.

Já o PSB do candidato Anthony Garotinho, que ficou em quarto lugar no primeiro turno, adiou para amanhã a reunião que deve decidir e oficializar o apoio do partido à candidatura de Lula. O encontro estava previsto para acontecer anteriormente hoje, em Brasília.

O encontro do ex-governador do Rio com a cúpula do partido também sofreu uma alteração de agenda. Garotinho deveria se encontrar ontem à noite com o presidente nacional do PSB, o ex-governador de Pernambuco Miguel Arraes, e o vice-presidente nacional do partido, Roberto Amaral.

Dependendo do horário em que Arraes chegasse ao Rio, o encontro poderia ser adiado para hoje. Arraes está disposto a apoiar Lula, mas Garotinho exige que o PT deixe de lado alianças feitas no primeiro turno.

PT garante a maior bancada na Câmara
Surpresa: com uma bancada de 91 deputados, o PT será o maior partido da Câmara a partir de fevereiro do ano que vem. Terá, assim, o direito de eleger o seu presidente, porque pela tradição da Casa o cargo pertence ao maior partido.

O crescimento do PT espanto não só os analistas políticos, mas até os mais otimistas militantes. O líder partido na Câmara, João Paulo, por exemplo, acreditava na eleição de cerca de 70 deputados quando faltavam dez dias para a eleição. Na véspera da disputa, ele trocou os cálculos e passou a contar com 75 eleitos. Nunca imaginou passar dos 90.

Mesmo com o extraordinário desempenho nas urnas de seus candidatos, o PT e os partidos de oposição ao atual governo não farão a maioria. Terão, em princípio, 180 cadeiras, somando-se ao PT a frente de oposições PSB-PDT-PPS-PCdoB-PL. Assim, no caso de vitória de Lula, o novo governo terá de fazer composições.

Somados, os partidos de centro-esquerda e o PL, que integra a coligação de Lula, terão cerca de 180 deputados, 77 a menos do necessário para alcançar a metade mais um dos 513 deputados.

PFL cai para segundo
A segunda maior bancada na Câmara, o PFL, terá 82 deputados, vinte menos que hoje. É possível que, se Lula for presidente, pefelistas sejam estimulados a se filiar ao aliado PL, incorporando-se aos partidos que o apóiam.

Mesmo somando-se às esquerdas o PL e aliados do PMDB e PSDB, os petistas ficarão muito distante dos 308 (três quintos) necessários para a aprovação de emenda constitucional.

O crescimento do PT foi uma surpresa. A queda dos maiores partidos também. Todos os cálculos apontavam para uma estabilidade do PFL, que deveria eleger entre 94 e 100 deputados. Ficou com 82, podendo ter mais um ou dois. O PSDB, que hoje tem 95 deputados, deverá ficar com 75 e o PMDB, dos atuais 84, possivelmente cairá para 74.

Num eventual governo de José Serra, o tucano terá posição mais confortável no Congresso do que Lula. PMDB e PSDB, os partidos de sua coligação, deverão eleger juntos cerca de 150 deputados. Somados ao PFL, provável aliado, chegarão a cerca de 240 parlamentares. Com o PTB e o PPB, que farão cerca de 70 deputados, terão por volta de 310.

Para o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira, que se reelegeu com folga, o crescimento das oposições, principalmente do PT, deve ser atribuído à onda vermelha pró-Lula nos dias que antecederam a eleição e aos candidatos que puxaram votos. "Atribuo também essa onda à procura de candidatos novos. Houve uma renovação muito maior do que esperávamos", disse ele.

Serra negocia a volta da Aliança
O candidato José Serra estará hoje em Brasília para tentar ressuscitar a Aliança Democrática que apoiou o presidente Fernando Henrique Cardoso em seu último governo. O tucano já tem encontros marcados com políticos do PMDB, PPB e do PSDB. Além disso, será anunciada ainda a decisão do PFL sobre qual candidato irá apoiar no segundo turno.

O vice-presidente da República, Marco Maciel, que esteve reunido ontem à tarde com Serra afirmou que é possível recuperar a aliança que apoiou FHC.

"Do ponto de vista programático é possível recuperar esta aliança", disse Maciel que defende o apoio do PFL a Serra.

O presidente do PMDB, Michel Temer, que também participou do encontro de ontem com Serra disse acreditar que é possível aumentar a adesão do seu partido à candidatura tucana.

"Quem não aderir também deve adotar uma posição amenizada", disse Temer ao comentar a adesão de alguns setores de seu partido à candidatura de Lula.

O ex-governador do Ceará e senador eleito Tasso Jereissati (PSDB) afirmou ontem que vai apoiar, de forma incondicional, o candidato de seu partido à Presidência da República. Mas ressalvou que sua participação deverá ficar "muito minimizada", porque ele não poderá percorrer o País para participar da campanha de Serra.

"Vou participar dentro das minhas condições e limitações, pois a minha prioridade é a campanha no estado", afirmou. No Ceará, o candidato do PSDB, Lúcio Alcântara, disputará o segundo turno contra José Airton, do PT. Tasso disse que não foi convidado para exercer nenhum cargo ou função na campanha tucana.

Serra disse ontem que o segundo turno não é uma prorrogação de jogo: "O jogo começa agora, na direção do debate e no aprofundamento das propostas", reiterou ele durante pronunciamento de 15 minutos que fez após encontro com o comando de sua campanha e lideranças políticas, entre elas o vice-presidente Marco Maciel e o ex-ministro do Trabalho, Francisco Dornelles.

Uma das principais estratégias de campanha neste segundo turno será o confronto e o debate de propostas com o adversário do PT. "O Brasil está cheio de problemas, temos de olhar para o futuro e ver quem tem competência para executar as propostas. Por isso, o debate no segundo turno é essencial para que a população possa confrontar as experiências dos candidatos", disse Serra.


Serra desafia Lula para debates
Candidatos foram convidados para três programas, mas o petista aceita só um, em pool das emissoras

Aquantidade de debates que serão realizados nas emissoras de televisão, antes do segundo turno, no dia 27, entre Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, e José Serra, do PSDB, está provocando o primeiro atrito no comando das campanhas dos candidatos. Enquanto o petista quer participar de apenas um debate, o tucano desafiou Lula a participar do maior número possível de programas.
"O debate é essencial entre os dois candidatos. É essencial debater educação, saúde, segurança. Para que a população possa comparar as propostas dos dois candidatos. Aguardamos ansiosamente a possibilidade de participar dos debates. Queremos que eles aconteçam não só nas emissoras de TV, mas também nas entidades", disse Serra.

O petista argumenta que o tempo da campanha no segundo turno, de 21 dias, é muito escasso. Ele diz que a agenda política, repleta de viagens por todo o País, não permitirá que três dias sejam reservados para os programas na televisão.

Até agora, três emissoras já manifestaram a intenção de receber os candidatos em seus estúdios para um confronto direto: a Bandeirantes, no dia 16; a Record, no dia 21; e a Rede Globo, no dia 24.

"Vamos nos recusar a participar de três debates. Só aceitaremos participar de um, e estamos articulando um pool de emissoras para a transmissão de um único programa nos três canais', afirmou Gilberto de Carvalho, assessor de Lula.

Na campanha de Serra, o assunto recebe tratamento oposto. O tucano tem dito que está disposto a participar de quantos debates forem propostos, por acreditar que poderia usar os programas para "marcar suas diferenças" com o petista.

"Fiz até uma proposta de trocar o horário eleitoral por debates em pool com as emissoras, mas não houve consenso", disse o publicitário Nélson Biondi, coordenador das ações de marketing da campanha de Serra, levantando a possibilidade de acabar com a propaganda gratuita no segundo turno.

O novo mote da campanha do PSDB para o segundo turno será "Mudança com Segurança", como forma de mostrar a diferença entre seu programa e o do adversário.

Utilizando um jargão do próprio PT, que se diz preparado para ganhar as eleições em 90 minutos de jogo ou em 120 minutos, Serra disse que o segundo turno não é futebol.

"O segundo não é uma prorrogação do jogo. Mostra que a população quer debater melhor as propostas para resolver os problemas brasileiros. O jogo começa novamente", afirmou.

Os petistas, por sua vez, avaliam que Lula, que teve o dobro de votos de Serra no primeiro turno, estará se expondo sem necessidade a possíveis ataques do tucano caso participe de mais de um debate na TV.

Por enquanto ainda não há definição sobre a questão. As negociações entre as emissoras e os candidatos vão continuar pelos próximos dias dias até que alguma das partes concorde em ceder.

PT vai elevar tom das críticas
A campanha presidencial do PT no horário eleitoral gratuito de rádio e TV neste segundo turno deverá elevar o tom das críticas em relação ao governo e tentará mostrar que Luiz Inácio Lula da Silva terá maior articulação política do que José Serra (PSDB) para fazer cinco reformas prioritárias. Pela ordem: tributária, trabalhista, agrária, previdenciária e política.

O presidente Fernando Henrique Cardoso deverá ser poupado pessoalmente, pois até o momento Lula julga "impecável" o comportamento dele na eleição em relação aos adversários. Mas, se FHC entrar de forma dura na campanha de Serra, avalizando ataques duros, deverá haver revide.

Para tentar vender a idéia de que terá maior apoio no Congresso do que Serra, o PT espera que o partido tenha obtido uma bancada federal maior do que as dos tucanos. E o presidente do PT, deputado José Dirceu, com autorização de Lula, tentará articular alianças com outros partidos para tentar chegar a um número próximo de 300 deputados federais, que dariam suporte a um eventual governo.

Na conta, entra a bancada do PT, que deverá ter entre 80 e 90 deputados, mais a do PMDB, que deverá ter mais ou menos mesmo tamanho. Um contingente com 120 ou 140 deputados viria de partidos de oposição, como PDT, PSB e PPS, que se uniriam a dissidentes de legendas que hoje dão sustentação a FHC, como o próprio PSDB e PPB, PFL e PTB. Os dissidentes poderiam se abrigar em siglas aliadas, como o PL, que indicou o vice José Alencar.

Ao se vender com maior capacidade de articulação, Lula tentará se vacinar contra ataques do tucano à sua capacidade de pôr em prática as propostas do PT. O PT acredita que, ao apresentar Lula como negociador, poderá continuar a carimbar Serra como desagregador.

As diretrizes do programa de TV nesse começo de segundo turno foram definidas em reunião da cúpula petista com o publicitário Duda Mendonça.

Horário na TV fica para segunda
A propaganda eleitoral gratuita dos candidatos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) só vai começar a ser veiculada na próxima segunda-feira e não amanhã, como estava previsto no calendário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Um acordo prorrogando o início do programa eleitoral para segunda-feira foi acertado ontem pelos advogados dos dois candidatos.

O ministro Sepúlveda Pertence, do TSE, recebeu um ofício assinado pelos advogados e disse que o tribunal acata o acordo. Ele ressaltou que a propaganda eleitoral gratuita poderá ser retomada pelos candidatos que disputarão o segundo turno 48 horas a partir da meia-noite de segunda-feira, quando o TSE proclamou o resultado parcial das eleições presidenciais, com 99,76% dos votos apurados.

Depois desse prazo, os candidatos podem retomar a propaganda a qualquer tempo. No entanto, Pertence disse que um acordo, como o que foi acertado entre Lula e Serra, dever ser comunicado ao TSE.

Para o horário gratuito, cada um dos candidatos à Presidência terá 20 minutos diários, inclusive aos domingos, para apresentar suas propostas. Esse tempo será dividido em dois programas com 10 minutos cada. No rádio, a propaganda irá ao ar às 7h e às 12h, e, na televisão, às 13h e às 20h30. Além desse tempo, os candidatos terão direito a 7,5 minutos diários para inserção de propaganda no rádio e na TV.

Apesar do acordo fechado pelos presidenciáveis, os candidatos que participarão do o segundo turno da disputa dos governos estaduais deverão retomar seus programas no rádio e na televisão amanhã.


Eleitores deixam fora nomes de peso
A punição veio com as urnas. Os eleitores não pouparam lideranças políticas que estiveram em denúncias de corrupção ou desvio de verbas nestas eleições. Mais informados e conscientes, os eleitores deixaram fora vários políticos de peso no cenário nacional e que vão ter de passar os próximos quatro anos nos bastidores.

Políticos como Eurico Miranda (PPB-RJ), em outros tempos um dos mais votados pelos cariocas, foi um dos castigado pelo progresso democrático e ficou com apenas 0,3%, ou 25.033, dos 8.713.781 votos válidos do Rio de Janeiro. Outros, como o ex-ministro da Justiça e deputado federal Ibrahim Abi-Ackel (PPB-MG) e o irmão de PC Farias, Augusto Farias, que desde 1991 não perdiam as cadeiras na Câmara dos Deputados, não conseguiram votos suficientes para a reeleição.

No Estado de Alagoas, os eleitores desprezaram nomes ligados ao ex-presidente Collor de Mello não conseguiram convencer os eleitores de que mereciam uma nova chance. Arnon de Mello (PRTB), filho do ex-presidente, perdeu a corrida para uma vaga como deputado federal. O primo da esposa de Collor, Vitório Malta (PRTB), concorreu a uma vaga na Assembléia estadual e também perdeu. O ex-líder do governo Collor na Câmara dos Deputados, Cleto Falcão (PT do B), tentou se eleger como deputado estadual e foi humilhado pelos eleitores. Conseguiu apenas dois votos.

O eleitor parece mesmo estar trocando o velho pelo novo. O deputado Rubem Medina (PFL-RJ), o parlamentar mais antigo no Congresso Nacional, que está na Câmara desde 1967, perdeu a eleição no Rio de Janeiro. Apesar de receber 36.907 votos, Medina ficou em 53º lugar e não conseguiu a vaga. Outro famoso fora da po lítica pelos próximos anos é Hugo Napoleão (PFL-PI), que concorreu ao governo do Piauí e perdeu ainda no primeiro turno para o deputado federal Wellington Dias (PT-PI). Hugo tentava a reeleição e todos davam como certa a sua vitória. O pefelista já foi senador por dois mandatos e outras duas vezes foi ministro.

Segundo o cientista político Walder de Goes, a mudança no comportamento do eleitor, sempre taxado como desmemoriado, se deve a uma maior consciência política. "Quem vota hoje está mais político que antes. Está mais informado e com um julgamento melhor. Os candidatos não se elegem mais por serem desta ou aquela religião ou time de futebol", explica. De acordo com ele, esta eleição vai aumentar até mesmo o nível de instrução dos congressistas, em relação aos anteriores. "Pelo desenho que está tomando, teremos parlamentares com maior grau de instrução com certeza", afirma Goes.


Tapetão evita segundo turno no Maranhão
Eliminação de um candidato pela Justiça muda cálculo e aliado de Sarney ganha o cargo desde já

Os eleitores maranhenses não precisarão mais votar em um segundo turno para governador. Estarão garantidos mais quatro anos de controle da família Sarney.

O vencedor do primeiro turno, José Reinaldo (PFL), que conseguiu 48,42% dos votos válidos, deverá ser declarado o novo chefe do Executivo do Maranhão. Isso deverá ocorrer porque o quarto colocado na votação, Ricardo Murad, desistiu de questionar na Justiça a cassação do registro de sua candidatura pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Com isso, os 5,15% recebidos por ele deverão ser transformados em votos nulos, o que fará com que Reinaldo alcance a percentagem necessária dos votos válidos para se eleger no primeiro turno.

Se Murad não tivesse desistido do recurso encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF), seria necessário o segundo turno entre José Reinaldo e Jackson Lago (PDT), que conseguiu 40,33% dos votos válidos.

Em 25 de setembro, o TSE cassou o registro da candidatura de Murad sob o argumento de que ele era inelegível por ser parente de uma governadora reeleita. Se Roseana Sarney tivesse exercido apenas um mandato, o cunhado poderia concorrer ao governo, concluíram os ministros. A tendência no STF era para manter a decisão do TSE.

Foram dados no Maranhão 2.223.936 votos nominais, ou seja, a candidatos. Retirando-se o nome de Murad, esse número cai para 2.109.296. Os percentuais, portanto, passam a ser calculados sobre uma base menor.

O grupo político dos Sarney, a que pertence José Reinaldo, controla o Maranhão desde 1965, quando José Sarney foi eleito governador. Nesse período, o grupo só ficou fora do poder por duas vezes, assim mesmo quando governadores a ele ligados romperam com o ex-presidente.


Collor culpa Planalto pela derrota e fica na política
O ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB) responsalibizou ontem o governo federal pela sua derrota na eleição para governador de Alagoas contra Ronaldo Lessa (PSB). Collor disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso ligou para o presidente da Assembléia Legislativa do Estado, Antônio Albuquerque (PTB), pedindo que apoiasse o socialista. A assessoria de Albuquerque confirmou a informação.

Collor afirmou, porém, que a votação dele – pouco mais de 400 mil votos – confirmou a determinação de continuar na vida pública e que pretende ser candidato a presidente, mas só depois de 2006. "Minha votação representou os votos de boas vindas à política. Esse desejo de, em algum momento, voltar a disputar a Presidência eu tenho desde a renúncia", afirmou Collor, reclamando das comparações que a mídia nacional fez dele com o ex-ministro da Fazenda Ciro Gomes.

"Só pararam quando viram que a candidatura dele começou a crescer", observou. Eleitor de Ciro no primeiro turno, ele disse que ainda não tem candidato para o segundo. Mesmo assim, ironizou os candidatos da Coligação Lula Presidente, Luiz Inácio Lula da Silva (PT-PL-PC do B-PCB-PMN), e da Grande Aliança, José Serra (PSDB-PMDB). "Há duas versões do Lula: a anterior e a do Duda Mendonça. Sinceramente, eu prefiro o Lula antigo ao Lula pasteurizado", afirmou.

Para ele, José Serra não tem intimidade com os eleitores. "O Serra tem uma incompatibilidade natural com o eleitor. Se fosse uma eleição de provas e títulos, seria eleito".

Collor afirmou que ficará, definitivamente, no Brasil, especialmente no Estado, onde pretende liderar uma frente de oposição ao governo Lessa e à prefeita de Maceió, Kátia Born (PSB). Entetanto, ele não tem hoje grandes aliados de Alagoas no Congresso. Os senadores reeleitos são adversários de Collor e, dos noves deputados federais eleitos, apenas três o apoiaram na eleição.


Investidor garante que o Brasil terá de reestruturar sua dívida
O financista e megainvestidor George Soros assegurou ontem que o Brasil dificilmente deixará de passar por uma reestruturação de sua dívida, seja quem for o presidente eleito. De acordo com Soros, o País não aguentará, por muito tempo, continuar pagando juros tão elevados para captar recursos no exterior, e as taxas não devem recuar tão cedo.

"A chance de o Brasil ser obrigado a reorganizar seu débito é superior a 50%", disse o financista em uma palestra na London School of Economics, da Universidade de Londres. "Se um país como o Brasil, que implementou políticas sólidas, não pode se sustentar, então há o risco real de um colapso do sistema financeiro global."

Para Soros, que tem origem húngara, mas é naturalizado norte-americano, a instabilidade brasileira demonstra o fracasso do FMI, "um sistema que deve ser reformado". "Se o sistema não tem como apoiar um país que foi um de seus melhores alunos, isso demonstra que a globalização não funciona", afirmou Soros.

O que pode vir
  • A dívida pública brasileira, interna e externa, está acima de 50% de tudo o que se produz no País.
  • Por isso, toma uma parcela alta demais da receita do governo.
  • Querendo ou não, o próximo presidente talvez tenha de adiar os vencimentos, diz Soros. Isso poderá significar um calote, total ou parcial.

    Dólar cai menos que o esperado
    O dólar comercial fechou em baixa de 0,13%, a R$ 3,73 para a venda, ontem, após abrir com desvalorização de 2,35%, cotado a R$ 3,64. As medidas anunciadas pelo Banco Central para conter a pressão no mercado de câmbio, nas semanas que antecedem o segundo turno das eleições, ajudaram a moeda norte-americana a manter a baixa, mas o resultado ficou aquém do que o mercado esperava. O BC aumentou a exigência de capital dos bancos para operarem no câmbio, mas muitas instituições financeiras já vinham adotando esta exigência.

    Prévia do IGP-M é a maior desde 2000
    Os efeitos da escalada do dólar sobre a inflação apareceram mais uma vez no Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M). A primeira prévia de outubro, divulgada ontem pela Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto (Andima), foi a maior desde agosto de 2000. O indicador, calculado pela Fundação Getúlio Vargas com base nos dez últimos dias de setembro, registrou alta de 1,57%. Na primeira prévia de setembro, quando foi retratada a inflação do final de agosto, o índice avançou 1,13%.

    Crescem as vendas do Dia da Criança
    As vendas do comércio no fim de semana, o último antes do Dia da Criança, registraram uma ligeira melhora em relação ao mesmo período do ano passado. O crescimento foi de 2,2%, de acordo com levantamento da Serasa, com base nas consultas de cheques. Enquanto as transações à vista ou com pré-datados subiram 1,9%, as transações a prazo cresceram 44,1%. As expectativas do comércio são positivas em razão principalmente da liberação dos recursos da correção do FGTS.

    Indústrias têm resultado positivo
    As vendas reais da indústria no País cres ceram 1,36% em agosto ante julho, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O índice dessazonalizado cresceu 2,06%. É o terceiro mês consecutivo de aumento do indicador, segundo a entidade. Na comparação com agosto do ano passado, o crescimento foi de 2,04%. De acordo com a CNI, isso reflete "a base de comparação deprimida no ano passado com o racionamento de energia". De janeiro a agosto, a taxa é negativa. Recuou 0,83%.


    Artigos

    Os fios grisalhos de FHC
    Lauro aires

    Os americanos, com seu pragmatismo atroz, costumam repetir que "não há nada mais patético do que um ex-presidente". É uma referência um tanto cruel, mas sabe-se que o ocaso é uma etapa não muito agradável às pessoas. Fecham os olhos e tampam os ouvidos, pois sentir compaixão, de fato, dói.

    Pois a tal frase me veio à cabeça ao ver o presidente Fernando Henrique Cardoso escanteado na campanha de José Serra. Diz FHC que se sente orgulhoso de ter conduzido o processo eleitoral com lisura, mas duvido que uma ponta de rancor não lhe tenha corrido o peito cada vez que via seu candidato tentando se descolar de sua imagem.

    O irônico é que passaram ao 2º turno exatamente os mais parecidos com FHC. Talvez o povo esteja atrás de um Fernando Henrique mais jovem e com tesão para retomar o processo de transformação que iniciou, mas foi desviado do percurso pela opção fácil do câmbio sobrevalorizado (fato aliás criticado por Lula e Serra) e pela crise de identidade no capitalismo global. É provável que os brasileiros queiram retomar o Fernando Henrique que a comodidade do poder e as picuinhas políticas lhes roubaram. Aquele que sentou-se na cadeira presidencial antes de ser seduzido pelo canto da reeleição.

    Eu, pelo menos, gostaria de pinçar o velho-novo FHC de oito anos atrás. Por isso, acredito que Lula e Serra tenham sido a melhor escolha dos eleitores para disputar o 2º turno. São Fernando Henriques depois de uma guaribada, retificados. Seus projetos mudam pouca coisa do que governo atual vem fazendo: investir no crescimento das exportações, valorizar educação, melhorar a saúde e manter a estabilidade econômica. Até porque não há espaço para crescimento acelerado, pois novo presidente estará amarrado pelo orçamento desnutrido, pela crise internacional e pela necessidade de financiamento externo. Herdará, porém, uma sociedade menos corrupta, melhor educada e com avanços significativos na área da saúde.

    O desafio agora é avançar em reformas dentro do Congresso Nacional. Conseguir apoio e ter coragem de mexer na estrutura tributária, no sistema previdenciário e na estrutura política. Pode ser com a capacidade de negociação do ex-sindicalista Lula ou com a energia administrativa do economista Serra. Só acho uma pena que o destino e os eleitores os tenham colocado em lados opostos. Uma aliança entre PT e PSDB talvez seja a configuração que os brasileiros estejam buscando, embora ainda não a tenham verbalizado. A facilidade com que abraçaram e jogaram fora a campanha e as propostas de Ciro Gomes é um sintoma disso. Querem a mudança, com segurança, mas a composição que buscam, agora, está em litígio, e sobrevive apenas em um retrato de Fernando Henrique com os cabelos menos grisalhos.


    Colunistas

    CLÁUDIO HUMBERTO

    Lula tentará evitar o debate
    Lula é o único petista ilustre que reconhece seu mau desempenho no último debate, na TV Globo, e acha que isso foi decisivo para não vencer no primeiro turno. Por isso, ele sonha com um pretexto para não haver novo debate: acha que Serra só tem a ganhar, e ele a perder. A própria Globo pode ter oferecido esse pretexto: ele não gostou de ter sido atraído para a entrevista ao vivo, no Jornal Nacional, segunda-feira, e constrangido a aceitar, no ar, o debate do dia 24. Lula planeja insistir num "pool" de emissoras, só para criar impasse e, quem sabe, inviabilizar o confronto.

    Bier no Bird
    O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Amaury Bier, já sabe para onde vai, ao deixar o governo: será nomeado diretor representante do Brasil no Banco Mundial, em Washington. O outro brasileiro, Murilo Portugal, que acumulava a função, será confirmado como representante no FMI.

    Roqueiro no Senado
    Toma posse esta semana o suplente do senador Gerson Camata (PMDB-ES), que, reeleito, ficará flanando até a posse no novo mandato, em fevereiro. Seu suplente, Luiz Osvaldo Pastore, é uma figuraça: milionário, ele é amigo pessoal de Mick Jagger e dos Rolling Stones, cujas turnês internacionais costuma acompanhar como convidado de honra.

    ACM para quê?
    Tem gente no PT achando que Antônio Palocci, coordenador do programa de governo de Lula, perdeu o juízo. Na Bahia, o candidato a governador de ACM, Paulo Souto, teve 53% dos votos; Lula, 57%. Apesar disso, Palocci afirmou que para Lula o apoio de ACM é "importante", no segundo turno.

    Festa para Artur
    Eleito senador no Amazonas, o tucano Arthur Virgílio Neto foi homenageado com uma festa-surpresa, ontem, ao desembarcar em Brasília. Neto é muito querido na capital, onde tem inúmeros amigos, e fez falta ao governo FhC, ao deixar a liderança do governo no Congresso para fazer sua campanha.

    Correção
    Não é exato dizer que o PFL está dividido no segundo turno. Está Serrado.

    Caça a Playboy
    Um comando tucano tenta localizar exemplar de uma edição da revista Playboy do início dos anos 80, com uma entrevista do então presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo, Luiz Inácio da Silva. Nela, Lula faz confissões sobre sua adolescência em Pernambuco que, exploradas, poderiam produzir estragos na candidatura.

    Ministeriável
    Afastado há oito anos da Câmara, o petista Sigmaringa Seixas (DF), eleito deputado, pode não exercer o mandato: amigo e espécie de braço direito de Lula, ele é pule de dez para o ministério do provável governo do PT.

    A vida é bela...
    ...para o presidente do Incra, Sebastião Azevedo. Esqueceu dona Ética na recente viagem à Itália com os R$ 99 mil liberados pela autarquia, revel num antigo processo trabalhista que moveu quando era procurador. Processos de outros funcionários se arrastam há anos. O inquérito que não anda no TCU certamente contém os mesmos documentos em poder da coluna.

    O ilustre quem
    Ignorado pelos institutos de pesquisa, o pastor Manoel Ferreira (PPB), líder da Assembléia de Deus, ficou em terceiro, só perdendo no Senado para Sérgio Cabral (PMDB) e Marcelo Crivela (PL). Deixou Brizola e Arthur da Távola na poeira, gastando R$ 300 mil na campanha. Sente-se prejudicado.

    Grita incoerente
    O candidato ao governo do Maranhão José Reinaldo criticou asperamente o Ministério Público pela apreensão de malotes de dinheiro, na véspera da eleição, e Sarney Filho chamou os procuradores de "moleques". Mas foi o MP que impugnou a candidatura de Ricardo Murad, que, confirmada no Supremo Tribunal Federal, garantirá a vitória de Reinaldo no primeiro turno.

    Calma, pessoal
    Só faltam 18 dias de quedas na bolsa e altas do dólar para o segundo turno.

    Samba sem escola
    A comunidade israelense em São Paulo reage ao apoio de US$ 700 mil de empresários – como a família Feffer, do setor papeleiro – à Mangueira, em troca de enredo sobre a história do povo judaico. Enquanto isso, atolado em dívidas, fechará as portas no fim do ano o tradicional Colégio Renascença, do Bom Retiro, bairro paulistano que alojou os primeiros imigrantes judeus.

    Nossos comerciais!
    Piada na Internet: o patrocinador oficial do TSE na eleição foi a Fila, multinacional fabricante de artigos esportivos.

    Eles são opostos
    Atento telespectador notou na TV a diferença entre o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministro Nelson Jobim, e o seu vice, Sepúlveda Pertence. É que o "líder do governo" no STF usa o relógio na mão direita, enquanto Pertence, conhecido por suas atitudes progressistas, prefere a esquerda.

    Casa de ferreiro...
    O governador Zeca do PT (MS) vai passar boa parte do segundo turno defendendo exatamente aqueles cujo trabalho é cuidar da imagem dos clientes: seus próprios marqueteiros. É que eles são personagens de um escândalo na área de limpeza urbana, na Prefeitura de São Paulo.

    Poder sem pudor

    Entidades do pau oco
    O procurador Marcelo Pastana viveu experiência inusitada, ao mobilizar a Polícia Federal na apreensão de dinheiro para compra de votos em Macapá (AP), na véspera da última eleição. O santuário da grana era um terreiro que funcionava numa casa vistosa. Os pais-de-santo tentaram impedir a busca, alegando proibição das "entidades", enquanto lá dentro queimavam as cédulas. Mas Pastana ainda apreendeu sacos de dinheiro no telhado.

    Todos em cana, uma "entidade" exigiu cachaça, mas o procurador negou, lembrando a "lei seca" – era véspera da eleição. Um homem "incorporando" mulher xingou Pastana – que, na dúvida sobre a quem autuar por desacato, preferiu ignorar a agressão. E cair na gargalhada, certamente.


    Editorial

    A DERROTA DO ELEITOR

    O Tribunal Regional Eleitoral ainda não deu à sociedade uma resposta satisfatória para justificar o caos verificado na votação do último dia 6. Se milhares de cidadãos foram privados de seu direito constitucional de votar, não se pode considerar o último pleito um "sucesso", como se ouve nas entrevistas de todos os escalões. É inadmissível ainda que um promotor da Justiça Eleitoral diga a uma emissora de rádio que os problemas devem se repetir na votação do segundo turno.

    Estamos diante, se assim for, de uma farsa anunciada. O número de abstenções está ligeiramente abaixo do índice nacional, mas basta abrir os dados para se verificar que os mais prejudicados foram exatamente os eleitores mais pobres. A conclusão é óbvia: dividiu-se o voto por categoria, sepultando-se o preceito de que todo cidadão é igual perante a lei.

    Não se trata de saber quais os candidatos foram os mais prejudicados. Isso é irrelevante diante da verdadeira questão: o eleitor foi o verdadeiro derrotado. Foi levado a desistir de um ato que deveria orgulhá-lo, que torna a Nação maior, que dá sentido à vida em sociedade. O eleitor foi desrespeitado no que ele tem de mais valioso e que marca a sua efetiva participação no processo de construção do País, o voto.


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    10/09/2002


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