Ciro dá ‘apoio irrestrito’ a Lula










Ciro dá ‘apoio irrestrito’ a Lula
Ao lado do presidente nacional do PPS, senador Roberto Freire (PPS-PE), o candidato derrotado da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, anunciou ontem apoio “irrestrito e entusiástico” ao petista Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial. Ciro convocou os militantes do PPS a trabalhar “desde ontem” por Lula. Ciro, que teve cerca de dez milhões de votos, disse estar à disposição para participar da campanha como o PT achar melhor, inclusive participando dos programas da propaganda eleitoral gratuita, que estarão de novo no ar a partir de segunda-feira.

Freire afirmou que a adesão do PPS não foi condicionada a nenhuma exigência prévia ou garantia de cargos num futuro governo. A decisão foi formalizada numa reunião da comissão executiva do PPS, num hotel em Fortaleza.

— Estamos discutindo o destino de uma grande nação em agonia. Nós do PPS reunidos aqui estamos tomando a decisão de apontar aos nossos militantes no Brasil inteiro um apoio irrestrito e entusiástico à candidatura Luiz Inácio Lula da Silva, a despeito de nossas divergências no primeiro turno — declarou Ciro, para quem o petista é o mais indicado para promover mudanças que julga necessárias ao país.

O presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, partido que integrava a Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), que dava sustentação à candidatura de Ciro, também declarou apoio incondicional do partido à candidatura de Lula.

O presidente nacional do PT, deputado José Dirceu (SP), anunciou ontem que convidou o PPS e o PDT para comporem a coordenação da campanha de Lula. O mesmo deverá ser proposta hoje ao presidente do PSB, Miguel Arraes, com quem Dirceu ser reunirá em Brasília para assegurar a adesão dos socialistas à candidatura de Lula. A idéia do PT é transformar esse apoio eleitoral numa aliança política para garantir a governabilidade de um possível governo de Lula.

— Houve um convite da nossa parte para que o PPS e o PDT participem da coordenação da campanha e também de todas as decisões da campanha. O nosso desejo é formar com eles uma aliança política, mais do que uma aliança eleitoral. Até porque fazemos parte de um bloco na Câmara e no Senado, governamos estados e cidades juntos — explicou Dirceu.

Freire já participará a partir de hoje das reuniões da Frente Lula Presidente. O PDT deverá nomear um representante também: pode ser o deputado Carlos Lupi (RJ) ou o secretário-geral do partido, Manoel Dias, já que Brizola deve viajar nos próximos dias para descansar.

Para o PT, o apoio de Ciro e Garotinho podem ser decisivos para a vitória de Lula no segundo turno.

— Com o apoio do Ciro Gomes e do Garotinho nós vamos reconstituir a frente que obteve nessas eleições 76% dos votos, são praticamente 65 milhões de votos. Além disso, as oposições elegeram 195 deputados. Isso cria uma base com condições de dar governabilidade ao governo de Lula — ressaltou Dirceu.

Segundo ele, o PT não se dará ao luxo de dispensar apoios nesse segundo turno da eleição. Mas ele fez questão de destacar que apoio não pode ser confundido com aliança.

— Não temos alianças com Antonio Carlos Magalhães, nem com José Sarney. Apoio é muito diferente de aliança. Em segundo turno, não se recusa apoio. Nenhum partido político faz isso, a não ser que haja um impedimento extraordinário. Nós apoiamos Mário Covas duas vezes e fomos para a oposição — observou Dirceu, acrescentando:

— Quem apoiou Lula no primeiro turno foi Sarney, um apoio que recebemos com muita honra. É um apoio político desinteressado. Ele não fez qualquer tipo de pedido ao PT.

O mesmo valerá para um possível apoio do ex-governador Paulo Maluf, do PPB. Dirceu, aliás, disse que deverá procurar alguns setores do PPB que apoiaram o candidato do PT no primeiro turno, como o do governador Max Mauro. Os petistas também estariam abertos para conversar com o PTB.

Lula afirmou que vai buscar os votos de todos.

— Gostando ou não do PT, gostando ou não do meu programa, se tiver obrigação cívica de, no dia 27, ir a uma urna para digitar um número, eu quero que digite o 13 — afirmou.

Diante das adesões, o PT já começou a pensar em como vai administrar alguns impasses nos estados em que o partido ou seus novos aliados estarão disputando o segundo turno. Dirceu adiantou que os aliados de primeira hora terão preferência, ao ser perguntado sobre qual candidato Lula apoiaria no Paraná, se o pedetista Álvaro Dias ou o peemedebista Roberto Requião.

— Não deixaremos nenhum apoiador do Lula no primeiro turno sem apoio no segundo turno, até por uma questão de lealdade. Seria uma coisa inominável deixar setores do PMDB e do PPB que apoiaram o Lula no primeiro turno.

Também os dirigentes do PPS frisaram que o apoio a Lula na eleição presidencial não significa adesão nas eleições para governador. Nota divulgada pela direção afirma que os diretórios estaduais estão liberados para optar pelo candidato que se encaixar nos interesses do partido. Ciro, por exemplo, fará campanha para Lula, mas no Ceará trabalhará pela eleição do tucano Lúcio Alcântara, que disputa o governo com o petista José Aírton Cirilo.

Segundo Freire, serão respeitadas decisões individuais de filiados que prefiram não se manifestar na eleição presidencial. O caso mais evidente é o do Rio Grande do Sul, onde o candidato derrotado Antônio Britto tem no PT o maior adversário ideológico. Britto deve apoiar o candidato do PMDB, Germano Rigotto, contra o petista Tarso Genro.

Durante o primeiro turno, Ciro chegou a comparar a eleição de Lula a um salto no escuro, uma aventura. Freire também fez críticas severas ao então adversário de Ciro. Agora, ambos acreditam que essa é uma fase que deve ser superada pela necessidade de o partido fazer uma opção no segundo turno. Freire, que condenava o estilo "paz e amor" do petista, disse que não pretende pedir mudanças de comportamento do candidato, apesar da nova parceria.

— Não sou marqueteiro. Nosso apoio é eleitoral. Respeito a autonomia e não estamos lá para mudar coisa alguma, salvo se alguém me perguntar se ele deve continuar ou não com essa postura — disse Freire.

Segundo Ciro, as divergências não foram superadas, mas não é hora de expô-las.

— Se não tivesse divergências com Lula, teria votado nele. Agora não é hora de ressaltar divergências. É hora de demonstrar as evidentes aproximações e convergências — afirmou Ciro.


Serra assedia Garotinho, que não se decidiu
Um dia depois de dizer que teria dificuldades para votar no petista Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-governador Anthony Garotinho recebeu uma visita de um enviado do candidato tucano José Serra. Aliado de Rosinha Matheus (PSB) na campanha ao governo do Rio, o deputado federal Francisco Dornelles (PPB-RJ) aproveitou a visita à casa da família Garotinho, ontem de manhã, para mandar um recado: Serra gostaria de ter o apoio do casal no segundo turno.

Dornelles foi dar parabéns à governadora eleita com o apoio do PPB fluminense, presidido por ele. Depois do encontro, o deputado foi para São Paulo, onde se reuniu com o candidato tucano. Formalmente, Dornelles ouviu do casal o compromisso de acompanhar a decisão do PSB, que será tomada numa reunião amanhã em Brasília. A tendência do partido é apoiar Lula.

A seus aliados, entretanto, Garotinho tem dito que pode defender que o PSB não apóie o PT no segundo turno. A possibilidade de um acordo tácito com os tucanos também não está descartada. Responsável pela coordenação política da campanha à Presidência de Garotinho, o prefeito licenciado de São Vicente, Márcio França, afirma que há chance de Garotinho ficar neutro e a dmite que essa posição já beneficiaria Serra.

Coordenador diz que Lula precisa convencer Garotinho
Para ele, os votos do PSB — cerca de 17,9% — só terão chances de migrar para Lula se o ex-governador subir no palanque petista. Os evangélicos, por exemplo, diz França, seguem Garotinho, mas não o PSB.

Segundo França, o primeiro passo para convencer Garotinho seria a vinda de Lula ao Rio.

— Garotinho decide a eleição. Se ele ficar neutro, o Lula perde. Precisamos ter uma participação expressiva.

Queremos que as nossas políticas façam parte do programa do PT. O não apoio ao Lula beneficia o Serra.

Garotinho agora tem a vantagem de estar com a eleição na mão — disse França.

A possibilidade de Garotinho não apoiar o PT pode dividir o PSB. O governador reeleito de Alagoas, Ronaldo Lessa, acha que o partido vai apoiar Lula. Ele nega qualquer possibilidade de apoio à Serra:

— O Garotinho (ao dizer que dificilmente votaria no Lula) deu uma declaração que eu, se fosse o Serra, também procuraria. Mas respondo pelo PSB: Garotinho pode até não querer subir no palanque do Lula, mas o PSB não vai subir no palanque do Serra. Pela nossa tradição, é muito difícil isso ocorrer. Na pior das hipóteses, vamos decidir não tomar posição. Apesar da minha relação em Alagoas ter sido boa (com Serra e com os tucanos), a coisa é diferente.

Vice-presidente do PSB, Lessa, que defende o apoio a Lula, acha que o partido não deveria nem pedir para participar de um governo petista.

— Pode-se colocar que não quer ser coadjuvante e essas coisas, mas acho muito deselegante (pedir cargos).

No Amapá, onde o ex-governador João Capiberibe se elegeu para o Senado, o PT terá de tentar curar as feridas do primeiro turno para obter o apoio do PSB. Na tentativa de reeleger o senador Gilvam Borges (PMDB-AP), PT e os aliados do ex-presidente José Sarney, senador também pelo Amapá, se uniram nos ataques ao ex-governador.

— Há uma forte tendência em apoiar o Lula, mas estou esperando fechar as cicatrizes. Não decidirei no calor da emoção. Acho que a decisão final favorecerá o Lula, mas depende de como a negociação política evoluir e qual vai ser a configuração do próximo governo — afirmou Capiberibe.

Ele quer uma explicação:

— É importante que o diretório nacional do PT dê uma explicação sobre o porquê dessa aliança tão feroz contra mim aqui, porque a negociação foi com o Sarney, que está cheio de outdoors dizendo que Sarney é Lula.


PT quer só um debate na TV e PSDB quer vários
SÃO PAULO e RIO. Diferentemente da estratégia tucana de explorar ao máximo a imagem de José Serra nos debates na TV, o PT procurará diminuir a exposição de Luiz Inácio Lula da Silva. Enquanto a cúpula do PSDB tenta agendar o maior número possível de participações do tucano nos debates, a direção petista argumenta que não há tempo hábil para o candidato fazer corpo-a-corpo nos estados e, ao mesmo tempo, preparar-se para os debates. O presidente do PT, deputado José Dirceu (SP), disse ontem estar propondo que aconteça um único debate neste segundo turno e que ele seja transmitido em pool por todas as emissoras de TV.

Orientada pela equipe de marketing, a cúpula tucana quer reforçar o confronto na TV entre Serra e Lula. No primeiro encontro de cúpula, ontem, em São Paulo, decidiu-se que a estratégia no segundo turno será chamar Lula para os debates. Se depender do PSDB e do PMDB, o confronto se estenderá ainda a encontros promovidos por entidades de classe e no horário eleitoral.

Numa sala reservada do Hotel Renaissance, Serra reuniu-se ontem com representantes da cúpula dos quatro partidos que podem fechar um arco de alianças em torno de sua candidatura. Além dos presidentes do PSDB, José Aníbal, e do PMDB, Michel Temer, estiveram presentes o vice-presidente da República, Marco Maciel, do PFL, e o ex-ministro do Trabalho Francisco Dornelles, do PPB. No encontro, Serra reforçou a idéia de que dará prioridade aos debates na TV.

— Vamos insistir no debate, e se o Lula não aparecer, participamos mesmo assim — disse.

A equipe de marketing acha que Serra mostrou-se mais preparado que Lula no último debate, na TV Globo.

Os publicitários pretendem pôr Serra na TV provocando o petista para que aceite o convite das emissoras. Já estão marcados os debates na Bandeirantes (dia 16), na Record (21) e na TV Globo (dia 24).

Os 12 programas que começam a ser preparados neste fim de semana pela equipe do publicitário Nizan Guanaes reservarão tempo para o tucano chamar Lula para o confronto. Serra começa a gravá-los no sábado.

Dirceu garantiu que Lula está disposto a participar de debates, mas antes de aceitar qualquer convite pretende discutir a forma e o dia mais adequados. Segundo Dirceu, em razão do pouco tempo de campanha, o PT sugere que as emissoras de TV façam um pool para viabilizar a realização de um debate. Essa fórmula estaria sendo contestada por algumas emissoras, o que poderia inviabilizar qualquer debate.

— Vamos participar dos debates, mas vamos discutir quantos, a forma e o dia. Os debates têm de ser adequados aos interesses dos meios de comunicação, da sociedade, mas também dos partidos — ressaltou Dirceu, confirmando que Lula já teria recebido seis convites para debates.

Lula: programas para gravar e estados para visitar
O próprio Lula reclama que o tempo é escasso. Ao discursar ontem à noite para uma platéia de 38 prefeitos petistas e para os deputados eleitos pelo partido em São Paulo, Lula criticou Serra e lembrou que o presidente Fernando Henrique não foi a debates:

— Eu tenho muitas coisas para fazer nesses 20 dias. Tenho programas para gravar e estados para visitar. Mas parece que nosso adversário não tem outra coisa para fazer além de ir a debates, coisa que não fez em oito anos. Sabe Deus o que eu implorei em 94 por um debatezinho.

Para Dirceu, ninguém debateu mais seu programa de governo no primeiro turno do que Lula. Ele rebateu críticas dos tucanos de que Lula estaria fugindo do embate com Serra:

— Temos autoridade para falar disso (debates). O presidente Fernando Henrique não tem porque não participou de debates em 94 e 98. Lula participou de todos os debates.

Dirceu disse que a prioridade neste momento é consolidar alianças no segundo turno:

—Tenho coisa mais importante para fazer, negociar os apoios ao Lula. O Serra não tem nenhum apoio para receber. Se a estratégia principal dele é fazer debate, a nossa é receber os apoios neste momento.

Dirceu respondeu a declarações de Serra e de Fernando Henrique, que cobraram de Lula mais detalhes de seu programa para garantir as condições externas da economia do país.

— Isso é coisa de sociólogo tucano que vem com essa conversa fiada — disse Dirceu.

A direção de jornalismo da Record vai se reunir com assessores de Serra e Lula amanhã para bater o martelo sobre a data e o formato do programa. Na Bandeirantes, a data correta será confirmada em reunião com assessores esta semana.

A TV Globo foi a primeira a oferecer a realização de debates no segundo turno aos candidatos. Os principais assessores dos quatro candidatos se comprometeram, ainda no primeiro turno, a participar dos debates no segundo. A TV Globo já acertara com os assessores o novo formato do debate, e todos demonstraram entusiasmo com a fórmula: um debate em formato de arena, com eleitores de todo o país selecionados pelo Ibope exclusivamente entre indecisos. A TV Globo já tem reuniões agendadas com os assessores dos candidatos para acertar os detalhes do debate, marcado para o dia 24. A TV Globo não aceitará participar do pool.


Presidente do Ibope: ‘Acertamos em 24 estados’
O Ibope saiu ontem em defesa dos resultados de s uas pesquisas eleitorais. O presidente do instituto, Carlos Augusto Montenegro, disse que acertou nas sondagens sobre as disputas para governador em 24 estados, na grande maioria dos senadores eleitos e na composição do Congresso.

— Nós acertamos todas as tendências. Tivemos problemas em apenas três estados, Paraíba, Pará e Mato Grosso do Sul. O Ibope fez mais de um milhão de entrevistas, face a face ou por telefone, durante a campanha. Nós nos arriscamos mais, por termos sido o único instituto a fazer pesquisas em todos os estados.

De 400 prognósticos, acertamos 395 — afirmou Montenegro, que ressaltou os números para os candidatos à
Presidência, eleição na qual o Ibope acertou todos os números.

No Sul, instituto acerta em todos os estados
Na Região Sul o Ibope acertou o resultado das eleições para governador.

— No Rio Grande do Sul, apontamos que (Antônio) Britto largou na frente, que foi ultrapassado por Tarso (Genro) e a subida final de (Germano) Rigotto. Em Santa Catarina, indicamos a queda de (Esperidião) Amin e a ocorrência de um segundo turno com Luiz Henrique. No Paraná, desde sempre demos a disputa entre Álvaro Dias e Roberto Requião e apontamos a subida do Paulo Arns na corrida ao Senado — disse Montenegro.

Na Sudeste do país, o Ibope afirma que acertou em todos os estados.

— No Espírito Santo, nós acertamos tudo, governo e Senado. Em Minas, demos o Aécio disparado muito antes da eleição. Em São Paulo fomos o primeiro instituto a colocar (José) Genoino na frente de (Paulo) Maluf. O próprio Maluf falou de uma ventania petista nos últimos dias. E, na pesquisa de boca-de-urna, já mostramos a grande vantagem de Genoino sobre Maluf. No Rio de Janeiro, as duas últimas semanas foram muito complicadas, com prisão do Elias Maluco, arrastão. E mesmo assim acertamos — disse Montenegro.

Nas regiões Norte e Centro-Oeste, os únicos erros do instituto foram no Pará e no Mato Grosso do Sul, onde o Ibope não apontou a chegada de Maria do Carmo, do PT, no segundo turno paraense contra Jatene e a realização de um segundo turno entre Zeca do PT e Marisa Serrano. No resto, acertou. No Distrito Federal, onde outros institutos chegaram a colocar Joaquim Roriz com 60%, o Ibope deu 50% no sábado e 44% na boca-de-urna. Em Brasília houve uma série de problemas nas eleições de 1998.

— Até brinquei dizendo que tinha aprendido a fazer pesquisa em Brasília. Mas lá os últimos dias foram nervosíssimos.

No Nordeste o instituto errou na Paraíba, onde apontou que Cássio Cunha Lima, do PSDB, venceria no primeiro turno, o que não ocorreu. Ele disputará o segundo turno com Roberto Paulino, do PMDB.

Montenegro, porém, ressalta o trabalho do instituto em Piauí e Maranhão:

— Há um mês indicamos a virada de Wellington Dias (PT) sobre Hugo Napoleão (PFL), antes de todo mundo. No Maranhão, os três últimos dias foram difíceis. Houve duas renúncias e a impugnação de outra candidatura. Apontamos vitória de José Reinaldo (PFL) no primeiro turno. Os jornais, com as urnas já abertas, ainda tinham dúvidas sobre isso e nós já tínhamos apontado.

Números corretos para cinco dos seis candidatos
Na eleição para a Presidência, Montenegro ressaltou que o instituto acertou os números exatos de José Serra, do PSDB, Anthony Garotinho, do PSB, Ciro Gomes, da Frente Trabalhista, e de José Maria, do PSTU. Lula teve 46,4% dos votos. O Ibope apontara 50% na pesquisa divulgada no sábado e 49% na boca-de-urna.

Sobre as críticas aos institutos de pesquisa em geral, Montenegro reclamou:

— Acabei pagando por erros que não foram meus. Vivemos da nossa credibilidade. Queremos acertar e acertamos. Recebi telefonemas de parabéns de todo o Brasil e inclusive de outros institutos.


Indústria mais forte, só em 2004
A indústria brasileira só deve retomar um crescimento mais acelerado a partir de 2004. Na melhor das hipóteses, dizem os economistas, haverá uma recuperação só no segundo semestre do ano que vem. Os analistas explicam que a capacidade ociosa da indústria é grande e que setores-chave, como o de bens de consumo duráveis, dependem de uma melhora nas condições de crédito, com a redução nas taxas de juros da economia. Há alguns sinais de pequena recuperação, como a diminuição dos estoques na indústria e uma percepção, entre os empresários, de que a demanda será maior. Entretanto, no comércio, as encomendas para o fim do ano ficarão no mesmo patamar de 2001.

O IBGE divulgou ontem que a produção industrial, pelo terceiro mês consecutivo, ficou praticamente estagnada em agosto. Frente a julho, houve alta de apenas 0,3%, enquanto na comparação com agosto do ano passado a melhora foi de modesto 0,9%. No acumulado de 12 meses, a retração foi de 0,8%.

— Com a demanda interna ruim e um clima desfavorável no mercado financeiro, é positivo o fato de a indústria ainda sustentar um patamar médio de produção — disse Silvio Sales, chefe do Departamento de Indústria do IBGE.

Comércio espera recuperação de vendas
O economista Paulo Levy, coordenador do Grupo de Acompanhamento Conjuntural do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), também acredita que só o fato de a produção industrial não ter recuado em agosto já é positivo. Defendendo que a retomada do crescimento seja gradual, ele lembra:

— A ameaça de inflação será uma restrição. O governo não poderá reduzir os juros rapidamente porque há risco de repasses maiores da alta do dólar para os preços.

Os juros altos são o principal gargalo do setor de bens de consumo duráveis — que, normalmente, funciona como alavanca da indústria. Com juros básicos de 18% ao ano, a produção desse setor caiu 1,2% em relação a julho.

— Para a economia crescer, é preciso que os setores mais afetados se recuperem logo, sobretudo o de bens de consumo duráveis, que acabam puxando bens intermediários e bens de capital — diz Luciana de Sá, da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan). — Por isso, uma expansão mais acelerada só deve ocorrer mesmo em 2004.

Um dado positivo foi a redução dos estoques, constatada na última sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizada em setembro.

Os economistas apostam que os setores que darão combustível à indústria serão os mesmos que têm apresentado bom desempenho nos últimos meses: agroindústria, celulose, siderurgia, todos beneficiados com a desvalorização do real. E também a indústria de extração de petróleo e gás, que não tem relação com o nível de atividade econômica e vem recebendo grandes investimentos desde a abertura do mercado. Sem depender da demanda interna, a metalurgia, frente a agosto de 2001, cresceu 5,3%, e os produtos alimentares, 3,6%, em cima de tratores agrícolas, chapas de aço inoxidável e suco de laranja.

O economista Flávio Castello Branco, coordenador da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), acredita que um crescimento mais vigoroso da indústria só vai se verificar quando os bens de capital — que indicam o investimento feito pelos empresários para aumentar a capacidade de produção — voltarem a crescer. Esse setor vem em queda desde maio e, só em agosto, caiu 10% contra o ano passado.

O Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) tem uma perspectiva mais otimista, com previsões de crescimento de até 5% para a indústria em 2003 e de 4% para o PIB geral do país. Na avaliação do Iedi, a retomada da atividade industrial seria puxada pelo esforço das empresas em substituir produtos e componentes hoje importados, que encareceram devido à escalada do dólar. A previsão do instituto é de uma recuperação nas vendas de bens duráveis, como eletroeletrônicos e automóveis novos, depois de quase dois anos de consumo reprimido.

No comércio, o que se vê é a possibilidade de o Natal até surpreender, contrariando os prognósticos de vários economistas. O Ponto Frio, que tem 350 lojas do país, já comprou mais do que no ano passado.

— A estagnação acaba afetando toda a cadeia. Mas contamos com a recuperação porque este ano não há racionamento e esperamos uma venda maior dos produtos de verão — afirmou Marize Araújo, diretora de vendas da rede.

O superintendente da Leader Magazine, Carlos Alberto Machado, espera um Natal, pelo menos, igual ao de 2001.

— Já fizemos as encomendas e os fabricantes vêm produzindo os estoques para nos atender. Com as eleições presidenciais decididas, o consumidor deve se animar e isto deve ativar um pouco a economia.


Brasil não sobrevive com juros de 25%’
LONDRES. O milionário investidor George Soros disse ontem que qualquer um que tivesse que pagar juros em dólar de 25%, como o Brasil está pagando, estaria insolvente:

— São superiores a 50% as chances de o país ter que reestruturar sua dívida — afirmou Soros ao fim de uma palestra na London School of Economics. — O país adotou as políticas corretas e promete continuar com elas, mas não pode sobreviver pagando juros de 25%.

Para Soros, a possível eleição de Lula, não significa necessariamente que haverá moratória. E criticou o mercado:

— A democracia é boa desde que o eleito siga as linhas do mercado financeiro. Isso é inaceitável. Não é democracia.

O Quantum Endowment Fund, com US$ 7 bilhões, maior fundo do húngaro-americano, teve rendimentos anuais de mais de 30% por mais de 30 anos. O megainvestidor vem criticando o Fundo Monetário Internacional e propondo que o FMI e bancos centrais de países desenvolvidos dêem socorro aos países emergentes como emprestadores de última instância, com juros mais baixos.

Para Soros, se o país tiver que reestruturar sua dívida (leia-se adiar pagamentos de forma negociada), será pior para o resto do mundo do que para o próprio país:

— O Brasil tem superávit primário, tem superávit comercial e provavelmente seria capaz de crescer razoavelmente bem depois de uma reestruturação. No entanto, o resto da América Latina ficaria fora do mercado financeiro internacional. A situação prejudicaria os bancos com operações na região.

“Melhor não pagar do que ir para o ralo devagarinho”
Segundo o investidor, só por milagre o mercado reduziria os juros pagos pelo Brasil de 25% para 10% ao ano.

— Se eles (brasileiros) conseguirem tomar emprestado a 10%, eles podem pagar. Se não, provavelmente estarão melhor se não pagarem do que indo para o ralo devagarinho.

Antes da entrevista, durante palestra para mais de 400 alunos da universidade, Soros previu que, se não conseguir reduzir as taxas para 10%, o Brasil seria forçado a adotar controles de capital.

Soros disse que a crise brasileira expõe as falhas do sistema, que favorece os países desenvolvidos, que tomam empréstimos em sua própria moeda e podem adotar políticas antidesaceleração da economia, como é o caso dos EUA atualmente. Já os países que dependem do FMI são obrigados a equilibrar seus orçamentos e garantir o pagamento de suas dívidas.


BC tem nova estratégia para conter o dólar
BRASÍLIA e RIO. Para tentar reduzir a pressão de compra sobre o dólar na semana que vem, o Banco Central (BC) conseguiu, ontem, renovar antecipadamente 16,4% da dívida cambial de US$ 3,6 bilhões que vence no próximo dia 17 — o equivalente a US$ 592 milhões.

A iniciativa é parte de uma nova estratégia, desencadeada na segunda-feira, quando o BC restringiu o poder de fogo dos bancos para especular com a moeda americana, obrigando que, para cada cem reais aplicados em títulos ou contratos em dólar, a instituição invista R$ 75 (e não mais R$ 50) de recursos próprios.

Mas a iniciativa de ontem surtiu pouco efeito imediato: a moeda americana, que chegou a cair 2,41%, encerrou praticamente estável, com ligeira queda de 0,27%, a R$ 3,73 — na máxima do dia.

A grande concentração de vencimentos da dívida na próxima semana é motivo para a especulação. Como o mercado conta com a possibilidade de que o BC resgate os títulos, bancos pressionam para elevar a cotação média do dólar da véspera do vencimento (a Ptax), pela qual se calcula o rendimento de papéis e contratos.

— Agora, não importa que se pague caro para renovar, o importante é que a pressão sobre o dólar só vai diminuir quando ingressarem divisas. Como não é o caso, o BC tem que parar de fazer os resgates — avalia o ex-diretor do BC, Carlos Thadeu de Freitas.

A parte da dívida renovada ontem foi trocada por novos contratos de câmbio no mercado futuro (swaps ) que têm prazos de vencimentos entre maio de 2003 e dezembro de 2004. O BC pagou taxas entre 37% e 25% ao ano. O chefe em exercício do Departamento de Operações do Mercado Aberto (Demab) do Banco Central, João Henrique Simão, disse que a idéia é continuar com as rolagens do próximo vencimento.

O mercado está dividido sobre a eficácia da restrição aos investimentos em dólar, imposta na segunda-feira pelo BC. Informações que circularam ontem no mercado indicavam que as instituições financeiras seriam obrigadas a se desfazer de US$ 1 bilhão a US$ 1,5 bilhão em contratos cambiais.

Para João Augusto Salles, analista da consultoria Lopes Filho, instituições como o Bradesco e o Banco do Brasil, consideradas pelo mercado conservadoras na sua exposição cambial, já devem estar dentro das exigências do BC.

— Já outros grandes bancos têm um histórico mais agressivo na exposição cambial. Por isso, devem estar próximos do limite, o que deve ocasionar venda de moeda nos próximos dias. Essas vendas poderão derrubar as cotações do dólar a curto prazo — avalia.

Bancos estrangeiros devem vender mais moeda
Erivelto Rodrigues, presidente da consultoria Austin Asis, especializada no setor bancário, diz que bancos estrangeiros têm boa parte do patrimônio atrelado ao dólar, o que pode dificultar a adequação às regras.

— Ninguém vai aumentar capital para especular num momento como o atual. Por isso, deve haver venda de moeda.

Marcelo Mesquita, estrategista do banco UBS Warburg, não acredita em um recuo nas cotações. Nem mesmo a curto prazo. Para ele, a medida deve reduzir as oscilações da moeda, não sua trajetória, que reflete incertezas internas e externas.

— Só veremos os efeitos nos próximos dias. Hoje (ontem) ninguém se manifestou — contou o sócio da Questus Asset Management, Octávio Vaz.

O baixo volume de negócios continua afetando a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O índice que mede o comportamento das principais ações (Ibovespa) fechou em ligeira queda de 0,18%. A indefinição eleitoral afetou o título da dívida externa brasileira mais negociado (o C-Bond), que caiu 2,59%, para 51,50% do seu valor de face. Com isso, o risco-país subiu 2,04%, para 2.100 pontos centesimais


Artigos

Cobrando dos pobres
Robert Weissman

A era do fundamentalismo de mercado acabou. Marquetização, desregulamentação e privatização, e as oportunidades para manipulações do mercado oferecidas por regulamentos inadequados — todos estes elementos centrais na ascensão e queda da Enron — estão agora em descrédito nos Estados Unidos. E nos países em desenvolvimento, onde seus efeitos foram mais devastadores, tornaram-se objeto de opróbrio generalizado.

Infelizmente, o FMI e o Banco Mundial continuam a cantar o hino do fundamentalismo de mercado.

Marquetização: Assim como a Enron criou novos mercados em “commodities” exóticas como a banda-larga, assim o FMI e o Banco Mundial trabalharam para “marquetizar


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