Brizola admite renúncia de Ciro Gomes









Brizola admite renúncia de Ciro Gomes
Candidato rejeita idéia de desistir da disputa para facilitar vitória do PT no primeiro turno

RIO - O candidato da Frente Trabalhista à Presidência da República, Ciro Gomes, mandou hoje recados de que não admite a hipótese de renúncia. "O programa do PT não dá conta de desativar essa bomba relógio", disse, referindo-se às dificuldades econômicas do País. Pouco antes, o ex-governador do RJ e presidente do PDT, Leonel Brizola, havia dito que a Frente está em "momento de reflexão" sobre uma possível renúncia de Ciro em favor de uma vitória do candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno.

Ciro preferiu não confrontar diretamente as afirmações de Brizola, mas rechaçou a possibilidade de renúncia em discursos na Feira Nordestina de São Cristovão, no Rio, onde fez corpo a corpo ontem. O candidato disse: "Tenho a missão de levar essa campanha até a vitória, no primeiro turno, para debater no segundo turno qual o melhor projeto para mudança do Brasil. Vão levantar contra nós todo tipo de pressão, chantagem e boatos, mas fui criado no meio da seca, de uma raça que entra na luta pra vencer oumorrer".

Brizola, que abraçou Ciro antes do início da caminhada, foi embora antes do candidato da Frente. Antes de sair, Brizola disse em entrevista que espera a iniciativa de integrantes do PT. "Se o Lula, o José Dirceu e o PT vierem explicar que precisam de nós para vencer no primeiro turno, essa reflexão para nós adquire um outro peso de responsabilidade. Vamos pensar não uma vez, mas duas vezes, sobre o que fazer". Ele alertou para o risco de fraude nas eleições caso ocorra um segundo turno. "No segundo turno vão dar uma rasteira no Lula com essa informatização das eleições", disse.

"Temos que encerrar esse período infame do neoliberalismo".

Na noite de sábado, pouco antes de um showmício em Petrópolis, Região Serrana, Brizola havia dito que, apesar de o PDT manter seu apoio a Ciro, ele, pessoalmente, gostaria de dar um "impulsozinho" na candidatura do PT. "Esse sistema implantado pelo Fernando Henrique, do neoliberalismo, está cambaleando, num cai não cai",disse.

"Eu, pessoalmente, gostaria de dar um impulsozinho, gostaria de ver Lula nadar, para ver como o PT nada, se atravessa o rio". O presidente nacional do PDT ressalvou que não tomará nenhuma atitude sozinho. "Nós somos partidos, não somos pessoas. Nós vamos decidir juntos e vamos unidos juntos para onde for".

Ontem, a divisão na Frente ficou evidente com a afirmação do líder da bancada federal do PTB, Roberto Jefferson, de que é "contra, radicalmente contra" uma possível renúncia de Ciro para viabilizar uma vitória de Lula. "A renúncia é pessoal e não existe essa chance. E ninguém pode falar nisso sem que o Ciro autorize, é um absurdo". Jefferson afirmou que ainda não conversou com Brizola sobre o assunto, mas garantiu que Ciro Gomes não admite a hipótese da renúncia.


Dólar pode passar dos R$ 4,00 hoje
O dólar poderá bater um novo recorde hoje. Se o mercado financeiro continuar reagindo como na última semana, a cotação da moeda, que fechou em R$ 3,88 na sexta-feira, poderá passar dos R$ 4. Três fatores estarão influenciando o câmbio hoje: a nova pesquisa de intenção de votos divulgada anteontem pelo Datafolha e os vencimentos, na terça-feira, de US$ 1,25 bilhão em dívida cambial e do mercado futuro de dólar. Esses vencimentos serão liquidados com base na cotação do dólar Ptax (preço médio do dólar, medido diariamente pelo BC) de hoje.

A pesquisa divulgada anteontem pelo Datafolha mostra o que o mercado mais temia: aumentaram as chances de Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, ganhar as eleições no primeiro turno. O tucano José Serra e Anthony Garotinho, do PSB, ficaram na mesma posição, com 19% e 15% das intenções de voto, respectivamente. Já Ciro Gomes, do PPS, voltou a cair. Está com 11% das intenções, contra 13% da semana passada.

O vencimento de dívida pública atrelada ao câmbio na amanhã éoutro fator que tem tudo para pressionar o dólar hoje. O Banco Central já havia avisado que rolaria no máximo 70% do vencimento de US$ 1,25 bilhão. Na sexta, o BC deu início à operação e foram renegociados 21% dos papéis, pagando taxas próximas a 30% ao ano. Na avaliação de analistas, os bancos, principais detentores dos papéis, forçaram a cotação do dólar para cima com a intenção de lucrar mais com a operação.

Hoje, como em todo último dia útil do mês, também deverá haver uma disputa no mercado futuro de câmbio entre os "vendidos" (que se beneficiam com a queda do dólar) e os "comprados" (que apostam na valorização). Cada um tentará adequar a cotação a seu interesse. A previsão é que os vendidos prevaleçam sobre os comprados, ou seja, que a pressão maior seja para o câmbio se valorizar. O estresse do mercado não deverá acabar hoje. Nos próximos dias, outros fatores poderão influenciar negativamente a cotação do dólar em outubro, como a pesquisa de intenção de voto do Ibope amanhã e o vencimento, ao longodo mês, de lotes de dívida pública e privada em dólar.

O mercado está particularmente temeroso em relação à dívida pública cambial que vence no dia 17 de outubro, no valor de US$ 3,62 bilhões. O lote é grande, e o novo presidente da República já poderá estar eleito. Não há consenso entre os analistas sobre como a cotação do dólar reagirá se Lula for eleito já no primeiro turno. Parte acha que o mercado deve se acalmar um pouco, pois os preços tendem a antecipar a vitória. Outros prevêem mais turbulência.


Saque do FGTS já está livre do desconto
SÃO PAULO- Quem investiu parte do FGTS em ações da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) já pode, a partir de hoje, sacar o dinheiro sem perder o desconto de 5% concedido pelo Governo na oferta pública, realizada em 27 março deste ano. Segundo dados do site Fortuna, entre 27 de março e 25 de setembro, os fundos FGTS-CVRD renderam, em média, 63,21%, os fundos CVRD com recursos próprios, 44,06%, e os fundos CVRD de migração, 41,57%. Já os fundos FGTS-Petrobras, no mesmo período, amargaram perda de 27,91% e os Petrobras com recursos próprios, de 28,35%. Quem aplicou os recursos na companhia obteve bons ganhos também devido a atual conjuntura. Quanto mais o dólar sobe, maior tende a ser o lucro da Vale. Isso porque sua receita é quase 100% vinculada ao dólar - a companhia é exportadora. A Petrobras também tem esse perfil.


Colunistas

DIARIO POLÍTICO - César Rocha

Governabilidade e 1º turno
Uma eventual vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no primeiro turno, no próximo domingo, muda completamente as análises sobre o processo de governabilidade numa gestão petista. Lula ganha força para negociar um conjunto de pontos fundamentais.

Primeiro, estaria em situação privilegiada para fechar em torno do Governo a maioria no Congresso Nacional. Privilegiada, é claro, em relação a uma vitória em segundo turno. Neste caso, a necessidade de fazer concessões aos potenciais aliados seria extremamente elevada. Principalmente se a disputa se desse com José Serra (PSDB), que tenderia a atrair parcela maior de lideranças políticas e do poder econômico. Bem, passada essa fase, que, mesmo em condições mais favoráveis, não será nada fácil, viria o segundo ponto. Lula precisaria utilizar com competência a energia da vitória para começar a fechar, imediatamente, o tal novo pacto social que prometeu. Teria, então, que antecipar uma série de negociações e medidas de seu futuro governo.Isso para tranqüilizar a sociedade, os agentes do mercado financeiro nacional e internacional, além da parcela significativa de lideranças empresariais que desconfia de se u projeto de governo. A antecipação de negociações e medidas deve seguir aquela lógica dos primeiros anos do Plano Real: a de que não pode haver surpresas, de que nada será feito sem transparência ou com características de choque. Uma antecipação óbvia, que já vem, inclusive, sendo anunciada como um sinal saudável de maturidade política, é a dos nomes que comporão a equipe econômica. O primeiro teste da capacidade de Lula e do PT para governar será este: o de assumir já e com competência o papel de presidente da República, três meses antes de tomar posse. A gestão petista, numa vitória no domingo, começa na segunda-feira. E não há espaços para improvisações. Já começamos a pagar um preço elevadíssimo pelo forte endividamento do País. Preço que se multiplica com qualquer cota de dúvida ou incerteza. Que se eleva mais ainda por causa da conjuntura internacional - de recessão, de menor circulação de capitais, de pavor por causa de uma guerra do Iraque, cujo impacto na economia brasileira é imprevisível. O Lulinha paz e amor deve estar preparado para dormir em cama de campanha.

O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PC do B) não está nada satisfeito com o nível do debate na briga entre Carlos Wilson (PTB) e Sérgio Guerra (PSDB). "o nível agride a consciência democrática do nosso povo", diz

Avaliação I
O Procurador Geral do Estado, Silvio Pessoa, nega considerar Lula incapaz para exercer a Presidência da República porque não tem diploma. Para ele, o petista merece respeito.

O problema, na opinião dele, é a falta de experiência do candidato.

Avaliação II
Silvio Pessoa diz também que está preocupado com as expectativas que Lula vem criando. Elas dificilmente serão correspondidas, o que tende a criar uma onda de desilusão, principalmente no Congresso. Isso, na opinião do procurador, refletirá sobre a governabilidade.

Frutos
As prisões da Operação Vassourinha e o acidente aéreo de ontem são dois fatos lamentáveis. Mas não restam dúvidas de que devem dar impulso às candidaturas de Paulo Rubem Santiago (PT) a federal e de Raul Henry (PMDB) a estadual.

Nostalgia
O pessoal do movimento Garanta esse Mandato, que apóia a candidatura de Roberto Freire (PPS) a federal, faz festa na quarta-feira, às 19h, na calçada do restaurante Dom Pedro, na rua do Imperador, para encerrar a campanha. O lugar já foi ponto de encontro de intelectuais recifenses - na época em que Freire tinha eleição garantida com votos de opinião.

Malvado
Garotinho (PSB) faz o que pode para combater Serra (PSDB) na luta pelo segundo turno da eleição presidencial. Em Petrolina, na sexta-feira, chamou o adversário de "Serrinha Malvadeza" - que, para o socialista, seria a versão tucana de Antonio Carlos Magalhães (PFL).

Mídia
O debate entre os presidenciáveis na TV Globo, quinta-feira, fecha uma das mais importantes coberturas das eleições nacionais. Segundo levantamento feito pela Agência Estado com especialistas, a sucessão teve cobertura recorde em volume e imparcialidade. Antes da primeira rodada de entrevistas, apenas o jogador Ronaldo havia sentado na bancada do Jornal Nacional.


Editorial

PRECEDENTE PERIGOSO

Denúncias contra as políticas de subsídios dos Estados Unidos e da União Européia foram feitas pelo Brasil à secretaria da Organização Mundial do Comércio (OMC). Contra os americanos, o Brasil alega que o apoio estatal dado pela Casa Branca afeta os produtores de algodão do País na competitividade das exportações brasileiras.

Isso não quer dizer que o País esteja entrando em sérios atritos com a grande potência do Norte. Na realidade, faz-se urgente que sejam defendidos nossos interesses no tocante à questão agrícola no mercado estrangeiro.

No caso da União Européia, o Brasil fez duas denúncias: a primeira se refere aos subsídios aos produtores de açúcar e a outra à preferência que Bruxelas dá para a entrada de açúcar nos países do Caribe, Ásia e Pacífico.

Todas essas denúncias foram confirmadas pela secretaria da OMC a qual, inclusive, informou que o governo da Austrália também tinha dado entrada em uma denúncia também contra os europeus no setor de açúcar.

No lado diplomático, Brasil e Austrália tem aestratégia de unir forças contra políticas européias protecionistas. A União Européia, no entanto, fez um alerta, salientando de forma incisiva que o Brasil sofrerá sérias conseqüências políticas pela iniciativa que tomou. Fontes extra-oficiais confirmam que Bruxelas não deixará barato o questionamento do Brasil, pois trata-se de uma disputa acima de tudo política e não comercial.

Sabe-se que a UE dá preferências e subsídios para o açúcar produzido e exportado pelas ex-colônias da Ásia, Caribe e Pacífico, supostamente com o objetivo de ajudar a desenvolver suas economias e que para os europeus, a decisão do Brasil de levar o caso à OMC terá impacto político negativo tanto entre os países da UE como junto aos países pobres que se beneficiam do sistema.

Os Estados Unidos não pouparam o Brasil, acusando nosso País de também ser protecionista no setor agrícola. As queixas contra a UE e contra os EUA prometem ter solução demorada. O primeiro passo será a realização de consultas entre os países envolvidos. Diplomatas brasileiros alegam que, nessa fase, poderão conseguir informações que faltam para completar a queixa. Somente em um segundo momento, que deverá ocorrer em 2003, é que a OMC entraria em cena para julgar o caso.

Na realidade, a iniciativa brasileira pode ser considerada como um verdadeiro "divisor de águas" na história da OMC. Pela primeira vez, um país questiona os subsídios domésticos dados por um governo aos seus produtores. Isso poderá provocar uma verdadeira "revolução" na OMC e incentivar outros países a questionar as políticas agrícolas das grandes potências, que até hoje estavam intocadas. De uma forma ou de outra, trata-se de um precedente necessário, mas perigoso.


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09/30/2002


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