Câmara testa pacote ético com Medeiros



Câmara testa pacote ético com Medeiros As acusações contra o deputado Luiz Antônio de Medeiros (PL-SP) serão o primeiro teste do Código de Ética parlamentar aprovado pela Câmara na semana passada. Hoje, o deputado Jair Meneguelli (PT-SP) vai pedir ao corregedor da Câmara, Barbosa Neto (PMDB-GO), que produza as provas para depois entrar com representação contra Medeiros na Mesa. "Do meu ponto de vista, as provas apresentadas pela imprensa são mais do que suficientes, mas o Código de Ética dificultou a abertura de processo por falta de decoro. Por isso estou formalizando pedido para que a corregedoria da Casa produza as provas", afirmou Meneguelli, que é ex-presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e rival histórico de Medeiros, fundador da Força Sindical. O código, que será promulgado amanhã, dificulta a abertura de processo por falta de decoro parlamentar porque exige apresentação de provas pelo denunciante contra o deputado no ato do pedido de investigação. Além disso, a Mesa da Casa faz uma triagem das acusações antes de solicitar que o Conselho de Ética investigue denúncias que possam resultar em um pedido de cassação. Medeiros é acusado de desviar dinheiro do Ibes (Instituto de Estudos Sindicais), entidade que presidiu, para conta no Commercial Bank de Nova York. A denúncia foi feita em março de 1995 pelo jornalista Wagner Cinchetto, ex-assessor de Medeiros, em entrevista à Folha. O STF (Supremo Tribunal Federal) determinou a quebra de sigilo bancário do Ibes e de Cinchetto no final de agosto. Segundo informação enviada ao STF no último dia 5, o Banco Central já solicitou as informações ao sistema financeiro. Medeiros vai se reunir hoje com a bancada do partido para apresentar sua defesa. O Conselho de Ética, responsável por analisar as denúncias, será instalado na quinta-feira. O conselho deverá ser presidido pelo PFL, maior bancada da Câmara dos Deputados, e seus 15 integrantes serão indicados pelos partidos seguindo o critério da proporcionalidade dos tamanhos das bancadas na Casa. Assim como no Senado, os integrantes serão eleitos pela comissão para cumprir um mandato de dois anos. Dessa forma, depois de eleitos, não poderão ser substituídos pelos líderes partidários. Deputado e Paulinho se contradizem sobre doação O atual presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva (Paulinho), e o deputado Luiz Antônio de Medeiros se contradizem ao tentar explicar o destino do dinheiro doado por empresas particulares, a partir de 1990, para a criação da Força Sindical. A denúncia de uma arrecadação paralela foi publicada em 1995 pela Folha, como relato do ex-tesoureiro do Ibes (Instituto Brasileiro de Estudos Sindicais) Wagner Cinchetto. Segundo ele, o instituto recebeu de empresas cerca de US$ 2 milhões, que foram desviados para duas contas nos EUA. Na época, Medeiros participou da criação da Força Sindical e foi o primeiro presidente da entidade. Afastou-se do cargo em 1999, quando assumiu como deputado. Cinchetto era seu assessor e, segundo Medeiros, era um homem de sua confiança. Paulinho, por sua vez, foi acusado por Cinchetto de, após assumir a presidência da Força, em 1999, criar um outro esquema de arrecadação paralela de verbas. Desta vez, com verbas do governo federal, o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). O ex-presidente e o atual afirmam que as acusações são falsas e dizem que o Ibes não tem nenhuma ligação com a Força. De forma individual, eles entraram com um processo por calúnia e difamação contra Cinchetto, mas se contradizem na hora de explicar o destino do dinheiro arrecadado. Segundo o deputado, a verba foi doada por empresas para o Ibes que, por sua vez, financiou a criação do sindicato. "Usamos esse dinheiro para a criação da Força. Usei para o trabalho de divulgação, com os primeiros contatos, para viagens internacionais, porque o cargo exigia tudo isso. Mas o dinheiro arrecadado, que nem foi tanto, foi para a Força, para financiar os custos que o cargo exigia. Nada foi gasto pessoal", afirmou o deputado, que estima as doações em menos de US$ 1 milhão. Segundo o atual presidente, o valor arrecadado pertencia ao Ibes e nunca entrou na conta da Força Sindical. "Não sei quanto foi arrecadado ou quem doou. Esse dinheiro foi doado para o Ibes. Nunca entrou nada na conta da Força. Trabalhamos com total transparência e todas as nossas contas são auditadas e fiscalizadas por outras instituições", disse Paulinho, justificando o fato de não ter solicitado uma apuração interna por desvio de dinheiro. O caso está sob investigação no Supremo Tribunal Federal. A denúncia de desvio de dinheiro, com pena de 1 a 4 anos de prisão, já prescreveu. Hoje o Supremo investiga a acusação de remessa de dinheiro para o exterior sem a devida autorização. "Não tenho nenhuma conta no exterior. Não há nada em meu nome ou em nome da minha ex-mulher. Se houver alguma coisa, foi esse meu ex-assessor, que foi meu homem de confiança, que abriu. Ele tentou me chantagear, pediu dinheiro e eu não paguei. Só posso dizer que não fiz nada de errado", disse. Ao ser questionado sobre o destino dado à verba doada pelas empresas, Medeiros afirmou que não pode dar detalhes do caso por instrução de seu advogado. "Hoje eu sou a bola da vez e vou reagir contra essas denúncias mentirosas", afirmou o deputado. Quanto à utilização de verba do FAT, o atual presidente da entidade afirmou que o denunciante desconhece totalmente o funcionamento do repasse de verbas. "O governo federal repassa recursos a várias entidades. Nosso objetivo é a qualificação profissional de trabalhadores. Esse valor é controlado de forma rigorosa pelo Ministério do Trabalho, pela Secretaria Federal de Controle do Ministério da Fazenda e pelo Tribunal de Contas, e nossas contas nunca foram rejeitadas." PMDB usa "risco Itamar" para exigir de FHC cargo perdido Sob a ameaça de que precisa se fortalecer para tentar impedir a vitória do governador de Minas Gerais, Itamar Franco, na prévia do partido que será realizada em janeiro, o PMDB pedirá de volta ao presidente Fernando Henrique Cardoso o comando da Secretaria de Desenvolvimento Urbano. O órgão trocou de mãos com a filiação do ministro Ovídio de Ângelis ao PSDB, no último fim de semana. O assunto será discutido entre FHC e o presidente nacional do PMDB, deputado federal Michel Temer (SP), em encontro previsto para hoje ou amanhã, no Palácio do Planalto. Michel Temer entende que a filiação do ministro Raul Jungmann (Desenvolvimento Agrário) não compensa a perda sofrida. Na conversa de FHC com Temer deve ser definido também o nome do novo ministro da Integração Nacional, cargo vago desde a eleição de Ramez Tebet (PMDB-MS) para a presidência do Senado. O Palácio do Planalto gostaria de nomear um técnico, mas o candidato da sigla é o senador Ney Suassuna (PB). Por atender diretamente a Estados e municípios, onde se concentram os interesses eleitorais dos parlamentares, a Secretaria de Desenvolvimento Urbano é considerada muito mais interessante que o Ministério do Desenvolvimento Agrário, uma fonte de problemas. Em 2002 -ano de eleições gerais-, os investimentos previstos da SDU apenas em saneamento, habitação e urbanismo somam mais de R$ 1 bilhão. A manutenção dessa "mina de votos", como é a chamada no partido, será a primeira exigência da ala governista do PMDB para tentar derrotar a candidatura presidencial de Itamar Franco na prévia partidária prevista para 20 de janeiro. Ovídio de Ângelis trocou de partido por ter se desentendido com seus padrinhos políticos em Goiás, os senadores Iris Rezende e Maguito Vilela. Os dois, que apoiaram Itamar, queriam que ele deixasse o governo à época da convenção do PMDB, em 9 de setembro passado. O secretário preferiu ficar, acertando-se diretamente com FHC. O governador de Brasília, Joaquim Roriz, ainda tentou filiá-lo ao PMDB do Distrito Federal, mas Ovídio recusou. Preferiu acompanhar o amigo Henrique Meirelles, presidente do BankBoston, que também acertou sua ida para o PSDB com FHC. Meirelles, que antes procurara o PMDB, condicionando sua filiação à garantia de que seria candidato a presidente da República, deve concorrer ao governo ou a uma cadeira de senador por Goiás. Será mais uma cunha em território presumivelmente favorável ao governador mineiro. Jungmann acertou sua filiação ao PMDB com o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, que deve ser o candidato da direção nacional da sigla contra Itamar na prévia marcada para janeiro. Pedro Simon (RS) cada vez mais é empurrado para a disputa pelo governo gaúcho. No governo, a candidatura de Itamar na prévia do PMDB é vista como mais forte do que na convenção de setembro. A idéia do candidato próprio em 2002 tem ampla maioria na sigla. Os governistas do partido acham que ele deve ser derrotado já, mas contam com o apoio do Palácio do Planalto para executar a tarefa. Mas há setores do Planalto, do PSDB, do PFL e do próprio PMDB que julgam ser melhor deixar Itamar sair candidato. Ele dividiria votos com Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSDB), ampliando as possibilidades de o governo levar seu candidato para o segundo turno da eleição presidencial. Partido exclui governador de programa na TV O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, confirmou ontem a sua permanência no PMDB, mas as suas idas e vindas e a difícil relação que mantém com a cúpula do partido fizeram com que ele ficasse de fora do programa nacional de TV da legenda, com duração de 20 minutos, que irá ao ar na próxima quinta-feira. O programa foi finalizado ontem, em São Paulo. Na semana passada, Itamar recusou o texto levado a ele pelo marqueteiro Edson Barbosa. Disse que queriam transformá-lo em "menino de recados" da prévia que a sigla realizará em janeiro para escolher o candidato do partido à Presidência da República. Como Itamar não gravou a sua participação, ao contrário dos outros cinco governadores do partido (PE, PB, RN, DF e PI) e do senador Pedro Simon (RS), que também disputará a prévia, ele ficará fora desse programa e das dez inserções de 30 segundos que irão ao ar no mesmo dia. O deputado federal Hélio Costa (PMDB-MG), amigo de Itamar, após falar ontem por telefone com o presidente nacional da sigla, deputado federal Michel Temer (SP), e se reunir com o governador de Minas, disse que "infelizmente não há mais tempo" para a participação de Itamar. Ele teria tempo de 1min25s. Os itamaristas agora vão tentar incluir algumas falas de Itamar nas inserções diárias que vão acontecer nos dias 13, 16 e 18 de outubro. Serão os últimos programas de TV do PMDB neste ano. Itamar não admite o fato de não poder criticar abertamente FHC, seu maior desafeto político. A Agência Folha apurou que Temer, na sua fala, não negará que o partido está atrelado ao governo, tendo participado dos programas de privatização e das reformas de base. Lula seria "aventura", diz Garotinho O pré-candidato à Presidência Anthony Garotinho (PSB) disse ontem, a uma platéia de cerca de 200 empresários, que eleger Luiz Inácio Lula da Silva, presidenciável petista, seria uma "aventura". A raiz disso, segundo ele, estaria na suposta falta de experiência administrativa de Lula, que nunca exerceu um cargo majoritário. Sem citar o nome do petista, Garotinho condenou o "radicalismo" e o "sectarismo" dele. "O candidato de oposição ao governo federal tem de ser um candidato propositivo. E esta candidatura não pode ser uma aventura. Não podemos entregar o governo àqueles que nunca administraram absolutamente nada", disse o governador do Rio. "Oposição sem ódio" Garotinho, que proferiu palestra à Associação dos Dirigentes de Vendas e Marketing do Brasil, disse que é preciso haver oposição "sem ódio e ressentimento". "Candidatura sectária levaria à paralisia do país. O destino do Brasil não pode ser de conflitos, brigas incessantes, radicalismos." Com pequena base partidária e apoiado principalmente em uma estrutura de comunicação, Garotinho é ele próprio acusado de ser "aventureiro" por adversários, sendo inclusive comparado ao ex-presidente Fernando Collor. Demonstrando que o rótulo o incomoda, o governador, por iniciativa própria, procurou desfazer a relação. "Não é porque um jovem falhou que todos os jovens vão errar", disse. Garotinho voltou a evidenciar o eixo de seu discurso, o de que faz oposição ao "modelo" e não somente ao "governo", como seriam os casos de Itamar Franco (PMDB) e Ciro Gomes (PPS). O deputado José Genoino (PT) disse que não iria polemizar com Garotinho. "Não vamos entrar no jogo dele e ajudá-lo a se promover. Nossos reais adversários são os governistas", disse. Em Lisboa, Lula reuniu-se com o primeiro-ministro português, Antônio Guterres, que o convidou para a próxima reunião da Internacional Socialista, na República Dominicana. Pobreza é trunfo do país na Alca, diz tucano A filiação do presidente mundial do BankBoston, Henrique Meirelles, ao PSDB, no último sábado, fez do executivo um candidato potencial à Presidência da República. Análises políticas elaboradas no fim de semana trazem-no como uma alternativa a tentativa frustrada do presidente Fernando Henrique Cardoso de filiar o ministro da Fazenda, Pedro Malan, ao tucanato e fazê-lo seu sucessor. Meirelles, 56, reafirma que o convite do presidente limitou-se à disputa de uma vaga de senador por Goiás, seu Estado natal. Mas admite que caso lhe seja feita a proposta de candidatura presidencial vai considerá-la. "Vou analisar essa possibilidade com a mesma serenidade com que avaliei a filiação ao PSDB", diz. Meirelles defende a entrada do Brasil na Alca (Associação de Livre Comércio das Américas) depois de uma longa e "dura" discussão. "No Brasil fala-se dos Estados Unidos e dos americanos como um bloco monolítico, onde não há possibilidade de barganha", diz. Um dos trunfos do Brasil na negociação para adesão a Alca, segundo Meirelles, é a pobreza. "Além da emoção que causa, a pobreza permite produzir bens com mão-de-obra mais barata", afirma. "Mas essa discussão tem de ser firme, competente e com os agentes corretos", diz. A militância partidária vai alterar a agenda do executivo. De cada três semanas, uma ele pretende passar no Brasil, entre São Paulo e Goiás. "Cogito até mesmo criar condições para gerir o banco a partir do Brasil", diz, numa das salas de reunião da sede brasileira do BankBoston, com equipamento para videoconferência. Está descartada, entretanto, a transferência da sede do banco americano para a capital paulista. "Mas posso delegar funções", afirma. Executivo forjado em 27 anos de BankBoston, Meirelles diz que ainda não decidiu se deixa a presidência do banco em 2002. Pelo regulamento, poderia permanecer em Nova York até 2010, quando seria aposentado compulsoriamente, aos 65 anos. "Mas resolvi gastar 30% do meu tempo com a atividade política". Até a semana passada, esse tempo era dedicado à atividades voluntárias. Entre elas, a presidência da Fundação VivaCentro, que luta pela revitalização do Centro de São Paulo -o BankBoston, cujos escritórios no Brasil Meirelles presidiu entre 1984 e 1996, financia a manutenção do Vale do Anhangabaú. Cenários econômicos O executivo fala como presidenciável por dever de ofício. Meirelles prevê dois cenários para a economia mundial a partir dos ataques terroristas aos Estados Unidos, há um mês. No melhor, os americanos se convencem de que a contra-ofensiva iniciada ontem pelos EUA deixou os terroristas na defensiva, diminuindo os riscos de novos ataques aos EUA, e voltam a consumir. A volta às compras reaqueceria o mercado mundial. Na pior das hipóteses, todos se convencem de que a fase mais crítica da guerra contra o terror se estenderá pelos próximos meses e guardam o cartão de crédito. Confirmado o cenário mais otimista, Meirelles prevê uma recessão mundial pelo menos até meados de 2002. "Neste trimestre, a contração do PIB americano será de 0,5% a 1%, considerando-se a taxa anualizada", afirma. No primeiro trimestre de 2002, a retração poderá chegar a 3%, segundo Meirelles. O crescimento do PIB seria retomado a partir do segundo trimestre do próximo ano. O Brasil será afetado por uma crise de liquidez mais aguda. "Menos pela fuga de capitais e mais pela diminuição do fluxo de entrada", afirma. Diante de previsões pouco otimistas, o candidato governista à sucessão de FHC deveria "vender a idéia de que as coisas estão bem feitas e de que a situação internacional é gravíssima". Mas seria preciso mostrar também que "o Brasil está posicionado para crescer, numa situação melhor do que a dos anos 80", diz Meirelles. Na avaliação do banqueiro, esse discurso levaria o candidato oficial ao segundo turno. O presidente do BankBoston acha difícil que o adversário na segunda fase da disputa não seja o presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva. Uma eventual vitória petista não assusta. "Existe um certo consenso de que o PT está mais informado, aprendendo, com condições de não tentar soluções mágicas para os problemas do Brasil", afirma. Antes de se decidir pelo PSDB, influenciado pelo assédio incisivo de FHC, Meirelles conversou com Lula e os presidenciáveis Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB), governador do Rio de Janeiro. O PMDB acenou-lhe com a possibilidade de disputar as prévias do partido para a escolha do presidenciável do partido. PTB e PFL foram outras possibilidades descartadas. Meirelles passou a última semana no Brasil em longas conversações políticas. Deveria ter voltado a Nova York, onde mora, ontem. Mas o início da guerra alterou sua agenda. Menos por uma questão de segurança e mais por uma razão econômica. "Já que estou aqui, vou ver os reflexos da guerra nos mercados da Argentina e do Chile, antes de voltar para os Estados Unidos", diz. Meirelles recusou a viagem de volta aos EUA no avião do próprio banco. Sente-se seguro num avião de carreira. O executivo tem dedicado parte do seu tempo à própria biografia. O livro, com lançamento previsto para janeiro, ainda não tem nome. Em tom de brincadeira, Meirelles diz que uma das sugestões que recebeu foi "E ele nem falava inglês". Até ser nomeado vice-presidente do BankBoston no Brasil, em 1981, o executivo falava apenas português. Na prática, resolvia os destinos do banco no Brasil. Mas a matriz mantinha um presidente oficial em São Paulo para servir de ponte entre o executivo monoglota e os americanos. Hoje, fala inglês e espanhol. Engenheiro formado pela Universidade de São Paulo, Meirelles, na verdade, está de volta à política. "No começo dos anos 60, antes de trocar Goiânia por São Paulo, fazia discurso de manhã a noite", diz. Na época, presidia a União Goiana de Estudantes Secundaristas. TSE responde hoje à consulta do PSDB sobre reeleição de Alckmin O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deve responder hoje à noite à consulta feita pelo PSDB sobre a possibilidade de os vice-governadores reeleitos em 1998 concorrerem ao cargo do titular. A decisão interessa principalmente ao governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que pretende candidatar-se ao mesmo cargo em 2002. No meio político, a expectativa é que o tribunal avalize a candidatura de Alckmin. Mas os sete ministros do TSE estão divididos, o que impede um prognóstico. Mesmo que a resposta do TSE favoreça Alckmin, a incerteza jurídica sobre a validade de sua candidatura poderá estender-se até às vésperas da eleições. Uma decisão definitiva sobre o caso só poderá ser tomada pelo Supremo Tribunal Federal, após registro da candidatura. Alckmin foi eleito duas vezes seguidas vice-governador na chapa encabeçada por Mário Covas. Alguns advogados interpretam que, como Alckmin assumiu o governo nos dois mandatos, estaria impedido de disputar reeleição. Outra corrente defende que ele nunca foi eleito governador e estaria liberado para participar do pleito. O relator do processo, ministro Fernando Neves, abraçou a segunda corrente e deu seu voto a favor da candidatura. Alegou que a inelegibilidade dos vices que assumem a vaga do titular não está prevista na Constituição. Há cinco meses, o processo chegou às mãos do presidente do tribunal, Nelson Jobim, que pediu vistas e promete dar seu voto hoje em sessão administrativa. Jobim já julgou caso semelhante em 2000, quando negou a possibilidade de o presidente da Câmara de Tabatinga (AM), Raimundo Nonato Batista de Souza, disputar a prefeitura. Ele havia ocupado o cargo de prefeito interinamente uma vez como o presidente da Câmara. Nesse período, foi eleito para um mandato tampão e se reelegeu para o mesmo cargo. Em seu parecer, Jobim foi incisivo: "Esse período posterior de mandato é considerado como um terceiro período de mandato, por isso não é permitido candidatar-se. Se o titular pode ser candidato ao período subsequente, os demais também poderão. Se o titular não pode, os demais, também, não. Essa fórmula dá consistência à opção constitucional. A reeleição é permitida para um só período subsequente e ponto. Não permite tergiversações". Políticos ligados a Alckmin avaliam que Jobim pode mudar de opinião devido a suas ligações com FHC. Jobim nega qualquer intervenção política em seu voto. Tasso agora admite intenção de disputar a Presidência em 2002 O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), disse que vai começar a trabalhar para viabilizar sua candidatura à Presidência. Foi a primeira vez que Tasso admitiu sua intenção de concorrer ao Palácio do Planalto em 2002. O primeiro passo será conversar com lideranças do PSDB que já teriam manifestado intenção de apoiá-lo. Entre essas lideranças estão os ministros Paulo Renato Souza (Educação) e Pimenta da Veiga (Comunicações) e o presidente nacional do PSDB, deputado federal José Aníbal (SP). Tasso vinha adotando uma atitude mais cautelosa até a reunião do partido, na última sexta-feira, em Goiânia (GO). Até então, ele afirmava que não poderia ser candidato dele mesmo e que precisaria que um grupo o lançasse. Após a reunião do partido, sua postura mudou. No encontro de Goiânia, que reuniu os principais dirigentes do PSDB, o ministro José Serra (Saúde) comportou-se como candidato à sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso em 2002, ao discursar para os líderes do partido. No encontro, Tasso conversou bastante com Marcello Alencar (ex-governador do Rio), Marconi Perillo (governador de Goiás) e Almir Gabriel (governador do Pará). Dos seis governadores tucanos, Tasso afirma contar com o apoio de cinco deles: a exceção é o paulista Geraldo Alckmin. O governador aposta na aproximação com lideranças tucanas de todo o país para garantir sua candidatura. Isso porque ficou definido na reunião do partido que Aníbal deverá fazer uma consulta a líderes regionais sobre o nome preferido para a sucessão presidencial. Seria realizada uma prévia apenas em caso de impasse. Nessa corrida por apoio, Tasso começa a viajar e a intensificar sua participação em eventos públicos, principalmente no Ceará. Hoje e amanhã, ele inaugurará uma série de obras na região sul do Estado. Na quinta-feira, participa de inaugurações no município de Caucaia, região metropolitana de Fortaleza. Ontem, Tasso participou do Encontro Estadual do Projeto São José, de incentivo à agricultura, com 2.700 agricultores. O governador fez duras críticas a seu novo adversário político estadual, o presidente da Assembléia, Welington Landim (PSB). Landim saiu do PSDB e agora lidera os partidos de esquerda para aprovar a CPI do Banco do Estado do Ceará, que pretende investigar empréstimos irregulares realizados pelo banco a políticos e empresários no governo Tasso. Artigos Um pouco mais de rancor CLÓVIS ROSSI SÃO PAULO - Tende a ser inútil a ofensiva retórica do presidente George Walker Bush e de seus aliados para convencer o mundo de que a guerra iniciada domingo não é contra os muçulmanos, mas contra "criminosos bárbaros que profanam uma grande religião ao cometerem crimes em seu nome", como disse Bush. Deve até ser verdade, mas a percepção generalizada será diferente. Basta comparar as reações dos aliados ocidentais dos Estados Unidos com o comportamento dos países árabes e muçulmanos. Os primeiros aprovaram os ataques sem restrições, até com aplausos. Nos segundos, ou houve frontal condenação (já esperada nos casos de Irã e Iraque, em confronto aberto com Washington, mas algo menos previsível no caso da Malásia), ou houve silêncio, como, em especial, no caso da Arábia Saudita. Os governantes devem intuir que seus súditos não têm a menor predisposição para aplaudir os ataques norte-americanos, mesmo aqueles que tampouco gostam de Osama bin Laden ou do Taleban. Nas ruas, os protestos até agora estiveram dentro do previsível, mas em Gaza, o território sob administração palestina, já surgiram os primeiros mortos da nova desordem mundial, aliás, parentes diretos dos mortos da velha desordem mundial: como sempre, os palestinos. Desta vez, no entanto, foram mortos pelos próprios policiais palestinos, no que é talvez premonitório: para apoiar os Estados Unidos indefinidamente, muitos governos dos países árabes terão de reprimir sua própria população, para a qual o ataque ao Afeganistão é, de novo, um ataque do Ocidente contra o islamismo. Pode ser uma percepção equivocada, mas quem pode discutir com percepções de massa? Resultado previsível: foram dados mais alguns motivos para alimentar o rancor surdo das massas muçulmanas. Não é difícil adivinhar em que resulta rancor acumulado. Colunistas PAINEL Fora do barco Presidente do PSDB, José Aníbal dá como certo que o PMDB terá candidato próprio à Presidência. Em encontro com empresários, o deputado disse que a aliança governista vai girar em torno do PSDB, do PFL e do PPB. Mas não descartou a hipótese de o PTB abandonar Ciro. Esquecer o passado José Aníbal disse a empresários que o candidato tucano será escolhido entre José Serra e Tasso sem a realização de prévias. Para ele, o ministro precisa aproximar-se de Pedro Malan para viabilizar seu nome, o que será difícil devido às "notórias divergências entre os dois". Código de ética Francisco Pereira da Silva, que foi demitido por ACM da chefia de segurança do Senado por suspeita de assédio sexual, pode voltar ao cargo. Senadores do PFL organizam um abaixo-assinado pedindo sua nomeação para diretor de segurança. Trilha sonora Após o PT ter usado música de Caetano Veloso em sua propaganda na TV, os marqueteiros de Michel Temer querem usar a música "Novo Tempo", de Ivan Lins e Vitor Martins, no horário do PMDB. Amigo de Quércia, rival de Temer, Martins pediu um valor considerado alto. Laços de família Renata Covas diz que não há nenhum mal-estar entre a família de Covas e Alckmin. "Não temos queixas. O governador tem o direito de fazer as mudanças que achar necessárias na gestão. Assim como apoiar quem quiser na eleição presidencial", diz a filha de Mário Covas. Volta ao ninho Fundadores do PSDB, José Richa e Euclides Scalco voltaram ao partido. O primeiro deve ser candidato ao governo do PR. Exército de Brancaleone José Ignácio (PGT-ES) dividiu os 12 deputados estaduais que ainda o apóiam entre o PPB e os nanicos PGT e PRTB. Sem o apoio do PSDB, do PMDB e do PFL, o governador quer utilizar essa tropa de choque para barrar o processo de impeachment. Saída digital Com a greve do INSS, os pedidos de benefícios pela Internet cresceram de 1.500 ao mês, em média, para 8.000 em setembro. Começar de novo Ciro Gomes pretende procurar Leonel Brizola hoje no Rio para tentar desfazer o mal-estar criado pela filiação de Antonio Britto ao PPS. O presidenciável acha que ainda é possível ter o apoio do PDT na eleição. Frente fria Ontem, o filósofo Mangabeira Unger esteve no apartamento de Brizola para preparar o encontro. O pedetista reafirmou ao guru de Ciro que o ex-governador do Rio Grande do Sul é um empecilho para a aliança. Caso sério Comentário de um brizolista sobre Itamar Franco (MG) passar a semana passada inteira alimentando o boato (falso) de que poderia trocar o PMDB pelo PDT: "Só Freud explica". Provocação baiana Waldeck Ornélas (PFL) discursou ontem no Senado reclamando de que dez estradas da Bahia estão intransitáveis. Encerrou o pronunciamento provocando Eliseu Padilha (Transportes) ao lembrar personagem de Jô Soares: "Ministro, ajude o Brasil. Vá para casa, Padilha!". Dupla de ataque O grupo de Marta tem defendido que o PT lance dois candidatos ao Senado. José Eduardo, presidente da Câmara de SP, seria o segundo nome da chapa. O primeiro é Aloizio Mercadante, que, no entanto, defende que a outra vaga seja destinada a alguém da coligação. TIROTEIO De Sebastião Farias, um dos principais assessores de Mário Covas, sobre tucanos argumentarem que as circunstâncias políticas mudaram e que não há como garantir que Covas manteria hoje a posição de apoiar a candidatura Tasso Jereissati: - Não é crime nenhum apoiar José Serra. Mas não dá para dizer que Mário Covas tinha alguma dúvida em relação à candidatura Tasso Jereissati. Dizer isso é covardia. CONTRAPONTO Mau-olhado No último dia 3, a Câmara dos Deputados homenageou os 115 anos de nascimento de Ernesto Simões Filho, fundador do jornal "A Tarde", de Salvador (BA). Na sessão, Geddel Vieira Lima (PMDB-BA) lembrou a dedicação de Simões Filho à política baiana e contou que o jornalista costumava discursar da escadaria do jornal. Certa vez, um inimigo passou pelo local e gritou: - Que morra Simões Filho! O jornalista respondeu: - Que morra Simões Filho, mas que viva a Bahia! Geddel encerrou seu discurso parafraseando Simões Filho para homenagear seu herdeiro no comando do jornal: - Que morra Silvio Simões, mas que viva o jornal "A Tarde"! Simões não gostou muito. No dia seguinte, publicou um recado a Geddel em seu jornal: - Continuo vivo e na vanguarda do combate à corrupção na Bahia. Editorial BOMBAS E GEOPOLÍTICA O ataque ao Afeganistão, que deve se prolongar por toda a semana, converte-se no grande fator de instabilidade política na Ásia Central desde que o Exército Vermelho deixou o território afegão, em 1989. Uma série de relações de afinidade e distanciamento, envolvendo grupos étnicos e doutrinas religiosas, será profundamente afetada. Os EUA estão atentos a esse desdobramento. Mas vão ter de mudar seu padrão histórico de intervenção para não impulsionar novamente a roda viva de ditadores, grupos terroristas e crimes contra os direitos humanos na região. Basta uma olhadela nos países e grupos com que Washington se uniu para notar o potencial explosivo da aliança. O presidente do Paquistão, Pervez Musharraf, ascendeu através de um golpe de Estado. Tenta equilibrar-se entre a pressão norte-americana e um expressivo movimento popular que apóia seu governo e é simpático ao Taleban. Esse tenso equilíbrio pode ter sofrido duro golpe com os expurgos promovidos por Musharraf contra vozes dissidentes internas à própria coalizão que o sustenta. A Aliança do Norte, milícia anti-Taleban com a qual os EUA parecem contar para a tomada do governo de Cabul, tem notórias ligações com o tráfico de drogas. Sua passagem anterior pelo governo afegão foi marcada por episódios sangrentos de violações de direitos humanos. Além disso, nessa coalizão não está representado o principal grupo étnico afegão, o pashtu, o que é uma senha quase certa para perseguições no futuro. Problemas análogos também se podem antever na aproximação entre Washington e a ex-república soviética do Uzbequistão. Seu presidente, Islam Karimov, proscreveu toda e qualquer oposição islâmica a seu governo. Mantém centenas de pessoas presas por motivos políticos. Mas os temores de que a aliança liderada por Washington dê vazão a uma escalada talvez incontrolável de violência na Ásia vale também para nações mais proeminentes, como Rússia e China. O risco é Moscou e Pequim se sentirem ainda mais à vontade para massacrar dissidências separatistas em seus territórios. Washington e aliados se arriscam muito, portanto, a cometer o mesmo erro do passado -dar armas, dinheiro e poder a ditadores que, além de perpetrarem desmandos sobre sua população civil, no futuro voltarão a causar problemas. Para que a ação desta feita não adicione mais lenha à fogueira asiática, é preciso que a confecção de um arranjo político mais estável para a região seja encarada como prioridade máxima. Topo da página

10/09/2001


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