Dirceu quer ampliar palanque do PT



Dirceu quer ampliar palanque do PT Presidente nacional do partido diz que esquerda de Pernambuco deve sair dividida em 2002 Qualquer partido que faça oposição ao Governo federal é um potencial candidato a se coligar com o PT nas eleições do próximo ano. A legenda petista está decidida a formar palanques diversos que variarão de acordo com a situação de cada Estado. Esta "bandeira" foi defendida ontem no Recife pelo presidente licenciado do partido, José Dirceu. Candidato à reeleição, ele veio à cidade participar de um debate com os concorrentes à direção nacional da sigla. O debate, que faz parte de uma série que vem sendo promovida em nove capitais, reúne propostas dos seis candidatos para o partido e para as eleições de 2002. Segundo José Dirceu, o PT não deve pensar que poderá governar sem alianças. "Em alguns Estados, como Mato Grosso do Sul, por exemplo, estaremos em mais de um palanque em nível estadual, mas sabendo que os dois candidatos a governador que apoiaremos estarão fechados com Lula", frisou. Dirceu disse que esta situação deve se repetir em Pernambuco. "Foi assim, na eleição de João Paulo no ano passado", lembrou. Rebatendo posicionamentos de "adversários" na corrida pela presidência nacional da legenda, Dirceu ressaltou que o PT está crescendo, mas sem esquecer as bases. "O PT não é um movimento social como muitos avaliam. Nós somos uma instituição política organizada e reconhecida. O partido tem identidade e a sociedade o distingue bem". Ele acredita que as denúncias feitas pelo deputado estadual Nélson Pereira (expulso do partido) contra o secretário de saúde do Recife Humberto Costa não devem ter peso na disputa para o governo estadual. O secretário é o potencial candidato do PT ao Palácio do Campo das Princesas. "Humberto é uma pessoa acima de qualquer suspeita", observou. Dirceu disse ainda que no plano nacional o partido defende a renegociação da dívida externa, mas não abre mão de uma política que ajuste a economia. "Queremos a redução dos juros, aumento de crédito, principalmente para agricultura familiar, sem que haja inflação e desvalorização da moeda", disse. MP insiste em abrir contas da Assembléia O Ministério Público de Pernambuco (MPPE) insiste na quebra de sigilo bancário das contas das subvenções sociais da Assembléia Legislativa. Ontem, a Central de Recursos do MPPE encaminhou ao Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE) um agravo regimental solicitando a revisão da decisão que impediu o acesso às informações bancárias. A decisão partiu do desembargador da 5ªCâmara Cível do Tribunal, Márcio Xavier, que concedeu liminar favorável a uma ação movida pela Assembléia. Ele invalidou a determinação do juiz Djalma Andrelino, da 4ªVara da Fazenda Estadual, que autorizou a quebra de sigilo. O recurso jurídico do Ministério Público será encaminhado à própria 5ªCâmara Cível. Ao desembargador Márcio Xavier caberá dois caminhos: se retratar (concordando com o juiz) ou deixar a decisão para os demais integrantes da Câmara. Caso fique com a primeira opção, a Assembléia poderá recorrer. Do mesmo modo, se a Câmara mantiver a suspensão da quebra de sigilo o MP pode entrar com novo recurso. sigilo - A quebra de sigilo das contas das subvenções da AL foi solicitada pelas Promotorias de Fundações e de Patrimônio Público porque o Legislativo não atendeu ao pedido de informação feito Ministério. As promotorias queriam dados referentes ao repasse de recursos feitos por deputados para cinco escolas privadas da Região Metropolitana do Recife a título de bolsa de estudo. O Bandepe, banco onde ocorriam as operações, chegou a ser notificado para liberar os cheques. A AL informou que não forneceu as informações porque as promotorias agiram errado ao levar as investigações a público. Segundo o 1º secretário da Casa, deputado João Negromonte (PMDB), os trabalhos deveriam ser sigilosos e mais aprofundados. Por sua vez, o desembargador Márcio Xavier explicou, no seu despacho, que o juiz de 1º grau "não está investido de competência" para pedir a quebra de sigilo neste caso específico. "A competência originária é da Corte Especial". Jantar reaproxima Maciel e Mendonça Deputado que defendeu saída do vice-presidente da disputa ao Senado promove encontro em Belo Jardim O vice-presidente Marco Maciel dá, hoje, uma demonstração da sua experiência política. Depois do terremoto pelo qual passou o PFL, ele visita o deputado José Mendonça, na cidade de Belo Jardim. A agenda do vice-presidente informa que Maciel irá participar do Jardim Cultural - Festival de Arte e Cultura do Agreste. O que a pauta não diz é a importância do encontro para a política. Menos de um mês após José Mendonça sugerir que Maciel abandone sua candidatura ao Senado e dispute uma vaga na Câmara Federal, o encontro pode significar o início de uma rediscussão sobre a arrumação da chapa majoritária em 2002. A proposta de Mendonça deverá voltar à tona. José Mendonça oferece um jantar aos artistas, a alguns organizadores do evento e a convidados da família. Maciel será a estrela maior do evento reservado. Além dele, deverão estar presentes os 16 prefeitos ligados ao grupo e ainda deputados estaduais. Augusto Coutinho, líder do PFL na Assembléia; Tereza Duere, líder do Governo; Augustinho Rufino (PFL); o presidente do Legislativo, Romário Dias; e o presidente do PFL estadual, André de Paula, confirmaram presença. O deputado licenciado Sérgio Guerra, secretário do Governo Jarbas, era uma presença dada como certa. No entanto, a assessoria de Guerra garante que ele está em São Paulo e só retornará na terça-feira. Guerra e o ninho tucano são, atualmente, os principais adversários do PFL no Estado. Um papel que lhe foi dado, de fato, após a migração do ex-prefeito Roberto Magalhães e do deputado federal José Múcio para o tucanato. Marco Maciel chegará à fazenda de Mendonça às 20h. De lá, seguirá para o pátio de eventos para assistir parte da programação. De acordo com a estimativa dos produtores da festa, cerca de 60 mil pessoas por dia passarão pelo pátio. Marco Maciel deverá acompanhar o show de Elba Ramalho e parte da apresentação de Alcimar Monteiro. De acordo com parlamentares do próprio PFL, este será o momento ideal para uma demonstração de união entre os dois caciques da legenda. Ao mesmo tempo, apesar deuma agenda tumultuada, eles podem abrir o espaço para um telefonema durante a semana, quando voltarão a falar dos prós e contras da candidatura de Maciel à Câmara. Mendonça defende a indicação do deputado federal Joaquim Francisco para o Senado e considera a possibilidade de concorrer a uma vaga na Assembléia Legislativa, juntamente com Gustavo Krause. Até agora, Maciel evitou falar sobre o assunto. Abuso de autoridade pode levar Barbalho à cassação Secretário-geral do Senado deve ser testemunha-chave do episódio BRASÍLIA - O secretário-geral do Senado, Raimundo Carreiro, se transformou em testemunha-chave no processo que pode levar à cassação do presidente licenciado da casa, Jader Barbalho (PMDB-PA). O motivo da falta de decoro seria abuso parlamentar. Mas, como Carreiro reagiu, ao ser indiretamente acusado por Jader de ter retido o pedido de informação ao Banco Central sobre o Caso Banpará, ele pode igualmente ser acusado da prática de perjúrio. O senador foi categórico no depoimento que prestou, na quarta-feira, à comissão de investigação do Conselho de Ética, ao negar que tenha retido o pedido. Ele alegou, entre outras coisas que o ato de despachá-lo "é uma tarefa da secretaria-geral da Mesa". "Não tive absolutamente nenhum interesse em evitar a publicidade do assunto", assegurou. Quando o senador Jefferson Peres (PDT-AM) perguntou se não seria seu dever encaminhar o pedido, ele respondeu: "Tanto é do meu dever que requeri". Peres insiste: "mas (o requerimento) ficou em suas mãos?", Jader afirmou que não. "Oque eu posso dizer é que, deliberadamente, não tive interesse em evitar" (o envio do pedido). Os fatos revelados pelo secretário-geral aos senadores da comissão são outros. Carreiro contou a eles que recebeu ordens de Jader para segurar o pedido porque queria anexá-lo a outras informações. Só no dia 22 de junho, após decisão dos líderes de endossar o pedido ao Banco Central, é que Jader o autorizou a encaminhá-lo à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Os tais anexos que Jader havia anunciado, não passavam de cópia do relatório do Banco Central de 1992, que acredita inocentá-lo e de outros papéis que igualmente negam seu envolvimento no desvio de recursos do Banpará. Esse material está no seu site na Internet. DESCONBERTA - A comissão de investigação descobriu que na relação da CCJ sobre o andamento das matérias o pedido ao Banco Central aparece como tendo se extraviado durante os 119 dias em que ficou desaparecido. Para o senador Jefferson Peres, os fatos mostram que Jader Barbalho agiu em proveito próprio, ao impedir o andamento das investigações sobre a sua conduta. Além de responsabilizar a secretaria-geral pela retenção do pedido, Jader se defendeu dizendo que ele próprio tomou a iniciativa de requerer os documentos ao Banco Central. Ele alegava que iria mostrar os relatórios a seus colegas senadores e ao Ministério Público, mas isso nunca ocorreu. As informações só chegaram ao Senado no último dia 8, após o pedido ter sido aprovado por todos os líderes. Filho de Maluf tem contatos em Genebra SÃO PAULO - O Ministério Público Estadual identificou ligações telefônicas da família Maluf para o escritório de advocacia Schellenberg Wittmer, localizado em Genebra, na Suíça. Os contatos foram realizados no ano passado, na mesma época em que o Citibank na Ilha de Jersey - paraíso fiscal do Canal da Mancha - bloqueou administrativamente, em caráter provisório, ativos em nome do ex-prefeito Paulo Maluf e de seus familiares. Schellenberg Wittmer, influente escritório dedicado ao direito comercial, tributário e financeiro, está tentando desbloquear as aplicações. Segundo o MP, as ligações para Genebra foram realizadas pelo empresário Flávio Maluf, presidente da Eucatex, filho mais velho do ex-prefeito. Flávio também teria feito contatos com o Citibank de Genebra, onde Maluf abriu uma conta em julho de 1985. O presidente da Eucatex, segundo o MP, tem procuração da família para administrar bens e negócios dos Maluf. A assessoria do ex-prefeito informou que "não vê nada de incomum" no fato de Flávio gerir os negócios da família. Ontem, a assessoria confirmou que ele autorizou a contratação do mesmo escritório suíço, desta vez para "apurar todos os fatos", referindo-se à divulgação de documento do Governo suíço com revelações sobre a conta de Genebra. O documento foi enviado pelo Bundesant Für Polizeiwsen - a polícia de inteligência financeira da Suíça - ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras do Ministério da Fazenda, indicando que em 9 de janeiro de 1997, Maluf transferiu os recursos para o Citibank de Jersey. O ex-prefeito nega possuir ativos no paraíso fiscal. Seus assessores desafiam o Ministério Público a apontar quais as ligações que Flávio Maluf realizou para Genebra. O advogado do ex-prefeito Paulo Maluf (PPB), o criminalista José Roberto Leal, protocolou ontem no Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo uma representação contra os promotores Marcelo Mendroni e Sílvio Marques, que investigam supostos depósitos do pepebista no paraíso fiscal da Ilhas Jersey. O advogado acusa os promotores de abuso de autoridade e de violação do sigilo bancário e telefônico de Maluf. Artigos O José de Canudos Frederico Pernambucano de Mello Da Ladeira da Barra para o Mundo, a notícia chegou num instante: morreu José Calazans Brandão da Silva. Desaparecia, na sua Salvador de eleição, o homem que humanizara o Belo Monte de Canudos, palco da guerra terrível de 1897, não através de artifício de ficcionista, mas pelo rechaço das gomas narrativas que tinham empertigado tudo quanto dissesse respeito ao local e à ação destrutiva que sofrera, por conta do épico monumental de Euclides da Cunha. Do seu Os Sertões, de 1902, em vias de celebrar centenário. Ouvimos um dia, de Gilberto Freyre, no privilégio de conversa a dois, não ter sido fácil ser menino nos idos de 1909 e nos anos seguintes. Menino do litoral, então, era um tormento. O sertanejismo de Euclides fazia do litorâneo como que poço de desqualificações vis-à-vis do olimpismo do caboclo da caatinga. Uma das razões colaterais de Casa-grande & Senzala fora assim a derrubada desse malsinamento injusto, com a recuperação para a vidado amarelinho da praia e do engenho de açúcar. A tanto chegou o euclidianismo entre nós. Nascido em Sergipe, Calazans migra para o centro maior, desejoso de oportunidades mais largas de estudo e trabalho. Nos cinqüenta anos da Guerra de Canudos, em 1947, deixa-se enfeitiçar pelas reportagens que Odorico Tavares publicava na revista O Cruzeiro, uma vasta crônica ilustrada com fotos de Pierre Verger, no seu conjunto. Nota que ali havia vida social, cotidiano, simplicidade e não apenas o cenário rubro de lances épicos. Um pouco do que Richard Burton já vira em 1867. E se interessa por aquilo. Pelo povo do arraial, de ontem e de hoje, procurando através deste chegar aos viventes da guerra. E de antes da guerra. E do vazio da diáspora do tempo seguinte a esta. Num encontro que sempre tomou por germinal, chega a Gilberto Freyre, impactando-se com a consideração feita por este em Sobrados & mucambos de que boa parte da população do Belo Monte formara-se à base da gente do Treze de Maio. Dos ex-escravos ludibriados por uma liberdade sem terra e, assim, sem possibilidade econômica qualquer. O arraial fora o dreno das decepções. O vale das lágrimas de antes da guerra. De 1893 e anos seguintes. Tudo aquilo o siderou. Até o modo como Gilberto dizia as coisas com simplicidade, sem prejuízo do que houvesse de complexo nos temas tratados. Um antídoto a Euclides no fundo e na forma. Calazans desenvolveu a intuição gilbertiana e fez da comprovação abundante desse ponto uma das teses mestras de sua obra, a se engalanar, no geral, com a forte substância de vida colhida dos depoimentos de sobreviventes, com os quais conversava sem relógio, pachorrento, descansado, baiano, fotografando a alma singela de um Manuel Ciríaco, de um Honório Vilanova, de uma Francisca Macambira ou de um Pedrão da Várzea da Ema, guerreiro celebrado em Canudos, este último, mas que não dá caldo quando alistado na volante baiana para perseguir Lampião nos Anos 30. Pudera. A guerra do Conselheiro era estática. As persigas e brigadas de Lampião, correria em cima das alpercatas. Cuidando da história oral, ouvidos e olhos abertos aos contos, cantos, mitos, lendas, rezas, sem prejuízo do uso cauteloso de documentos públicos e de manuscritos privados até então desprezados como fonte, Calazans foi levantando um mundo sertanejo bem mais próximo do real que o legado por Euclides, a quem não hostilizava, permitindo-se apenas ser um não-euclidiano. Aliás, esse tema do não-euclidianismo, de que se vem ocupando o crítico Roberto Ventura, não é, no que respeita a Canudos, realidade exclusivamente pós-Euclides, como parece pensar o jovem professor da Universidade de São Paulo. Quem ler o livro raro de Dantas Barreto intitulado Última expedição a Canudos, de 1898, escrito com a autoridade de quem, como tenente-coronel, esteve na etapa crucial da guerra do primeiro ao último dia, encontrará a visão de um sertão sofrido mas sadio, e de um Conselheiro serviçal de sua gente, descrito como "homem superior", não como o "psicótico de Tanzi e Riva" que Euclides foi buscar no seucientificismo prêt-a-porter. Dantas era um sertanejo de Bom Conselho de Papacaça, Pernambuco, sabendo, da meninice, a importância do obreirismo místico para as comunidades ao léu. O exemplo do padre-mestre Ibiapina ainda estava quente no sertão, com as 22 casas de caridade que disseminara até a morte em 1883. Curioso é que, lançado o seu livro em 1902, Euclides tenha feito de Dantas o autor mais citado no que tange aos fatos, sem que nada da interpretação positiva do pernambucano se insinuasse às teorizações que desenvolveu sobre a terra e o homem. Furiosas teorizações de que restam escombros. Calazans também não teve maior atenção por Dantas, malgrado ter sido um seu irmão de não-euclidianismo, que na versão tardia aberta pelo sergipano nutre-se dos caminhos plurais de tema e método que caraterizam o gilbertianismo, com o interesse pela mulher, pelo menino, pelo cotidiano, pelo imaginário, pelo íntimo, pela tecnologia, pelo que se pode extrair de simbólico até mesmo do banal. Ou sobretudo do banal. Renato Carneiro Campos teimava que cada homem possui, no fundo da alma, um só tema. Adeja por várias questões, mostra-se erudito, mas está chumbado à fatalidade do seu tema. O de Calazans era Canudos. Não a guerra, que evitava: o palco com as personagens despidas das cartucheiras. E conseguiu chegar lá. Deve ter morrido feliz, enrabichado ao ideal que começa a despachar com a tese de livre docência, de 1950, denominada, ao virar livro, O ciclo folclórico do Bom Jesus Conselheiro, até a Cartografia de Canudos, de 1997, passando pelos irrecusáveis No tempo de Antônio Conselheiro, de 1959, Canudos na literatura de cordel, de 1984, e Quase biografias de jagunços, de 1986. É preciso que se diga do mestre que se foi nesse 28 de maio de 2001, aos 85 anos, como chefe da moderna escola de estudos canudianos, de que fazem parte um Marco Villa, um Roberto Ventura, um Renato Ferraz, um Berthold Zilly, um Robert Levine, em Helmut Feldmann, um Eduardo Dihatay, um Oleone Fontes, uma Walnice Galvão e tantos outros, que estava sempre pronto a animar estudos sobre o tema, a indicar fontes com elegância rara no meio acadêmico, e a caçar noviços para uma investigação que sabia não se esgotar com sua obra. Será lembrado como homem que deu voz e gesto ao jagunço, alma ao Conselheiro e interesse a um sertão não apenas heróico senão prosaico e bom. Colunistas DIÁRIO POLÍTICO Políticos ao mar Só não vê quem não quer, mas está em curso um crescente processo de rearrumação da base aliada do Governo federal. O PMDB, que poderia ter-se tornado um empecilho caso em seu território houvesse prosperado o anseio presidencial de Itamar Franco, foi subjugado pelo Palácio do Planalto. O golpe de misericórdia foi dado na última quinta-feira, quando o partido decidiu que só em janeiro irá tratar de candidatura a presidente da República - a expectativa era que o nome peemedebista para a disputa já surgisse na convenção nacional do partido, em 9 de setembro. Pelo menos três efeitos afloram desse adiamento: primeiro, praticamente coloca Itamar fora do partido (única possibilidade de viabilizar-se como candidato à sucessão de FHC); segundo, torna desnecessária, por enquanto, a saída dos três peemedebistas que compõem o ministério; e, terceiro, estabelece uma distância de pelo menos quatro meses até a definição da candidatura própria do partido - a qual, a essa altura, é lícito duvidar que venha mesmo a acontecer. Rearrumando-se a base aliada, cresce o poder de atração do PSDB, partido do presidente da República e de onde deve sair o presidenciável apoiado pela aliança. Daí a migração (em escala nacional) de parlamentares rumo ao PSDB, mesmo estando o presidente FHC - por enquanto - sob índices desfavoráveis de avaliação. O que temos, então, do lado governista, é a ocorrência de um conhecido fenômeno da geografia e da política: a água está correndo para o mar. Do senador Carlos Wílson (PTB), defendendo a finalização de obras de irrigação e abastecimento, que estão inacabadas devido a irregularidades: "Até quando a irresponsabilidade de empresários, acobertada por agentes do Governo, vai permitir que alguns tirem vantagem com o sofrimento de muitos?" "Faz um 21" Projeto do deputado Bispo Rodrigues (PL-RJ) quer proibir - no período de 6 de julho a 30 de novembro de 2002 (época eleitoral) - a publicidade de companhias telefônicas cujos números coincidam com os dos partidos. O "23", por exemplo, alvo de uma maciça campanha publicitária da Intelig, é o mesmo número do PPS, partido do presidenciável Ciro Gomes. Duzentão, no mínimo Para o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira, o valor proposto pelo Governo federal para o salário mínimo (R$ 189) é "muito pouco". Defende que ele seja pelo menos de R$ 200. Previdência municipal A previdência municipal é hoje uma imensa dor de cabeça para muitos prefeitos. Terça-feira, na sede da Associação Municipalista de Pernambuco (av. Recife, 6205, Jardim São Paulo), o tema será discutido em encontro que deve reunir os prefeitos pernambucanos. A seca, claro, também fará parte dos debates. Com antecedência O deputado estadual Israel Guerra (responsável pela filiação, anteontem, de 149 pastores ao PSDB) e o comandante tucano Sérgio Guerra já têm agenda para 15 de novembro próximo. Participarão de um casamento coletivo de cinco mil casais evangélicos, no Geraldão. Baforadas na Câmara Projeto do vereador Liberato Costa Júnior (PMDB), proibindo o uso de cigarro e similares em recintos coletivos e ambientes fechados que comportem três ou mais pessoas, será votado até a próxima quarta-feira. Sensível ao assunto, Liberato poderia insistir com os demais vereadores para que evitem fumar em plenário. Há cartazes no local sobre isso, mas muitos tratam a proibição com longas baforadas. De Brasília para Pesqueira A Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados pode realizar audiência em Pesqueira, para tratar dos assassinatos de líderes da nação Xukuru. Pedido neste sentido foi encaminhado à Comissão pelo deputado Eduardo Campos (PSB). Não gostou Depois de criticar suposta aproximação do PPS com o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB), e ter tido sua reação classificada pelo senador Roberto Freire (PPS) como fruto de "euforia da juventude", o presidente da legenda, Eduardo Carvalho, responde: "É esta euforia que permite que as pessoas tenham certeza sobre o que digo, penso e falo. Espero poder contar sempre com ela para continuar votando em Roberto Freire". O deputado Gonzaga Patriota, do PSB, está defendendo a inclusão de pequenos e médios agricultores na Medida Provisória 2.196, que "transfere para a União dívidas de grandes agricultores". Do jeito que está a Medida, entende Patriota, "dá-se uma anistia aos grandes produtores em detrimento dos pequenos e médios agricultores". Editorial Refugiados do Tampa Um cargueiro de bandeira norueguesa, o Tampa, com 438 fugitivos do regime tirânico do Afeganistão está parado no Oceano Índico a 360 km da Indonésia. A carga humana em precárias condições de saúde amontoa-se como gado entre contêineres estocados no convés. Foi recolhida de um ferry boat que naufragava próximo à ilha de Java, na Indonésia, quando rumava para a Austrália. O barco vinha de território indonésio, rota de fuga de perseguidos afegãos para o arquipélago australiano. Todavia, nem a Indonésia, nem a Austrália, tampouco a Noruega, país cuja bandeira tremula no Tampa, aceitaram recolher os párias em seus territórios. O episódio resume o drama dos refugiados em todo o Mundo. São 21,1 milhões de pessoas que se espalham pela Europa, Ásia, África, América Latina, Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos e outras regiões. São parte dos 160 milhões de migrantes que hoje vivem fora de seus países, conforme dados da Organização das Nações Unidas (ONU). Entre os refugiados, a expressiva maioria vegeta nas condições humanas mais abjetas. O mesmo acontece com as etnias despojadas de território e pátria, como os curdos confinados no Sul e Norte do Iraque. As grandes rebeliões internas e as guerras localizadas que eclodiram a partir da última década do século passado conduziram para além fronteiras multidões de famintos, de dissidentes políticos e de sobreviventes da violência. Os conflitos étnicos que ainda hoje marcam a desintegração da Iugoslávia, primeiro em Kosovo e na Bósnia e, agora, na Macedônia, já expulsaram da região mais de um milhão de habitantes. Hoje, as maiores correntes de refugiados procedem do Afeganistão. A milícia talibã de confissão islâmica que governa 95% do país instalou ali um dos mais truculentos regimes do Mundo. As mulheres não podem trabalhar, estudar ou exibir qualquer parte do corpo. Acesso à Internet, música ocidental e televisão foram banidos. Explica-se por que nos últimos doze anos 2,6 milhões de afegãos deixaram o país, entre os quais os 438 refugiados recolhidos ao convés do Tampa. Mas o quadro alarmante de violação dos direitos humanos fundamentais não parece comover as nações ricas, pelo menos na mesma proporção da tragédia. O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados reclama com razão da escassez de fundos para enfrentar o problema. Além disso, os países em desenvolvimento são os que acolhem o maior número de migrantes tangidos pela violência ou perseguição política. As políticas migratórias cada vez mais severas de algumas nações ignoram com desprezo solene a necessidade de resolver situações limites, como a dos afegãos sitiados pelas águas do Índico. Próximas à região da tragédia, a Indonésia e a Austrália recusam abrigá-los. A Noruega chega a desconhecer que o Tampa é território norueguês pela lei internacional. Mas nem o fato indiscutível a anima a praticar o gesto humanitário da concessão de asilo. Topo da página

09/01/2001


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