Ciro anuncia apoio 'irrestrito' a Lula










Ciro anuncia apoio 'irrestrito' a Lula
O presidente do PPS, senador Roberto Freire, assinala que seu partido não pediu nada em troca ao Partido dos Trabalhadores

BRASÍLIA - O candidato derrotado da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, anunciou ontem apoio ''irrestrito e entusiástico'' a Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Leva o PPS com ele, que depois de uma reunião em Fortaleza deixou de lado as críticas feitas a Lula no primeiro turno. Antes do encontro com a Executiva do PPS, Ciro esteve com o ex-governador do Ceará e senador eleito Tasso Jereissati (PSDB), mas este anunciou apoio ao candidato do governo, José Serra.

- Estou à disposição. Meu apoio é irrestrito a Lula. E o PT vai me dizer que o quer de mim na campanha - disse Ciro, que pode tanto subir no palanque de Lula como participar do programa eleitoral na TV.

O presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), fez questão de ressaltar que o partido não pediu nada em troca do apoio a Lula. Ciro, que foi procurado na noite de domingo por Lula, explicou a razão pela qual vai apoiar o candidato do PT.

- Tenho divergências com Lula, por isso apresentei minha candidatura, mas agora não é hora de falar delas, mas sim de apontar as evidentes aproximações e semelhanças - afirmou.

Apesar de Ciro, a Frente Trabalhista não deve ir unida para a campanha do PT. O PTB se reúne amanhã na casa do presidente José Carlos Martinez (PR), em Brasília, para definir a posição que o partido deve adotar. A tendência, segundo o líder na Câmara, deputado Roberto Jefferson (RJ), é liberar a bancada para apoiar quem for mais conveniente.

- Minha posição é a de não prender ninguém. Já nos machucamos demais para entrar em briga de cachorro grande.

O PFL é outro partido que precisa decidir que lugar vai ocupar no segundo turno. O partido deve aderir à campanha de Serra hoje, na reunião de Executiva a ser realizada em Brasília. O vice-presidente da República Marco Maciel (PE) esteve ontem com Serra em São Paulo e garantiu que fará um esforço para que o PFL apóie o PSDB.

Estariam liberados da obrigação o senador eleito Antonio Carlos Magalhães (BA) e o PFL do Maranhão, que já anunciaram apoio a Lula. ACM pediu ao presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC), que liberasse o PFL.

- Vamos ter cautela, mas o partido deve recomendar o apoio a Serra - afirmou Bornhausen.

A decisão do PFL será divulgada pouco antes do encontro de tucanos em Brasília.


Serra joga tudo nos debates
Candidato do PSDB diz que segundo turno não é prorrogação, mas outra partida

SÃO PAULO - O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, deixou claro ontem sua estratégia de campanha para o segundo turno da eleição: chamar o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, para o maior número possível de debates.

Depois de uma reunião com representantes do PMDB, do PFL e do PPB, em São Paulo, Serra defendeu ''um maior aprofundamento'' das idéias dos dois.

- O debate agora é essencial para que a população possa comparar os candidatos, para que conhecimentos e experiências sejam confrontados - declarou.

Com a afirmação, o tucano estava respondendo à possibilidade de Lula participar apenas de um debate, conforme tem defendido dirigentes do PT.

- Há três debates marcados até agora na TV e queremos que todos aconteçam - disse, referindo-se aos encontros que as redes Globo, Bandeirantes e Record pretendem organizar, mas para os quais ainda não houve acordo entre os candidatos.

Sem responder perguntas dos jornalistas, Serra seguiu falando.

- Queremos que os debates aconteçam, não só nas emissoras de TV, mas também nas entidades. Isso é importante para o país - insistiu.

Em clara alusão a uma outra declaração de Lula, que disse estar preparado para enfrentar 120 minutos de jogo (o tempo normal mais a prorrogação), Serra afirmou.

- O segundo turno das eleições não é prorrogação do jogo. A partir de agora é um novo jogo. A população deixou claro que quer discutir melhor as propostas e é isso o que defendemos neste momento.

Antes de se pronunciar, Serra participou de uma reunião com a presença do vice-presidente Marco Maciel, do presidente nacional do PMDB, Michel Temer, do presidente nacional do PSDB, José Aníbal, do deputado federal Francisco Dornelles e da candidata à Vice-Presidência em sua chapa, Rita Camata.

- Discutimos a estratégia para a campanha. Os dirigentes que se reuniram comigo estarão engajados no objetivo principal de agora, que é levar nossas propostas para todos os brasileiros.

Maciel disse que tentará convencer outros líderes do PFL para que oficializem o apoio à candidatura de Serra. Maciel confirmou que seu partido terá uma reunião amanhã, às 9h, em Brasília, para deliberar sobre uma possível aliança com o candidato governista no segundo turno.

- Pessoalmente, já optei pelo Serra. Amanhã, na reunião da Executiva do PFL, defenderei minha posição. E me empenharei nisso - enfatizou.

Aníbal fez questão de anunciar que os quatro (ele, Dornelles, Temer e Maciel) formam a nova coordenação da campanha do candidato governista.

- Ontem éramos dois, hoje somos quatro. Amanhã quantos serão? - brincou.

Ele anunciou que Serra tem encontros marcados para amanhã (quarta-feira) em Brasília, com representantes do PMDB e do PPB.


PT pode ter a maior bancada
Partido deve passar de 58 para 93 deputados e ainda eleger dez para o Senado

BRASÍLIA - Até a noite de ontem, a Justiça Eleitoral continuava apurando os votos de São Paulo, Sergipe e do Distrito Federal, mas as projeções mostravam um crescimento expressivo dos partidos de oposição na Câmara dos Deputados, especialmente o PT. O principal motor desse desempenho foi a campanha do PT, embalada pela votação de Luiz Inácio Lula da Silva. Ou, como reconhece um tradicional adversário dos petistas, o líder do PFL na Câmara, deputado Inocêncio Oliveira (PFL-PE):
- Houve uma onda vermelha que inundou o país.

Na crista dessa onda, o PT pode pular da quarta bancada (hoje tem 58 representantes) e se tornar o maior partido na Câmara, com 93 deputados federais. O crescimento de 60% na bancada deve deixar o PT maior que o PFL (que deve cair de 98 para 84 deputados), que o PMDB, que deve perder dez (de 87 para 77) e que o PSDB, que passará da atual bancada de 94 deputados para 79.

A votação do PT surpreendeu os analistas, que calculavam uma renovação de, no máximo 35% da Câmara e, especialmente, que nenhum partido ganharia ou perderia mais de 20 cadeiras.

- Nem o PT contava com isso - afirma o analista político Antônio Augusto de Queiroz, diretor do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap).

O PT também terá a terceira maior bancada do Senado, ultrapassando o PSDB. Os tucanos elegeram oito senadores, mas sua participação caiu de 14 para 11 cadeiras. No caminho inverso, o PT passou de oito para 14 senadores. Dez deles foram eleitos no domingo, inclusive o mais votado em todo o país, Aloizio Mercadante (SP), que obteve mais de dez milhões de votos.

PMDB e PFL terão, cada um, 19 senadores, enquanto o PDT fará cinco, o PTB, três, o PSB, três, o PPB, um, o PPS, um e o PSD, um. Há, ainda, um senador sem partido e a possibilidade de o PL cair de três para dois, caso José Alencar (MG), vice de Lula, seja eleito no dia 27. Nesse caso, o PMDB se tornaria o maior partido, pois tem o suplente de Alencar, Aelton Freitas.

Mesmo com o crescimento do PT, a representação política no país continuará em sua maior parte conservadora, com os dois maiores partidos, PFL e PMDB, firmes em suas posições na divisão das bancadas, ainda que tenham perdido cadeiras. Tanto é que, mesmo com a união dos partidos de esquerda e o PL no Senado, a soma chega a 26 senadores, menos de um terço do total.

Essa divisão entre os partidos mais conservadores e os de oposição não é, no entanto, inflexível - o PMDB não possui uma bancada tão coesa quanto o PFL, por exemplo. A verdadeira força dos blocos será medida no início do próximo ano, com as eleições para as mesas da Câmara e do Senado. Tradicionalmente, os partidos donos das maiores bancadas indicam os presidentes de cada casa. A composição do novo Congresso trará de volta os três senadores que renunciaram para não perder o mandato - Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), José Roberto Arruda (PFL-DF) e Jader Barbalho (PMDB-PA).

Os três voltam com algo em comum: foram campeões de votos em seus redutos. ACM foi o senador mais votado na Bahia. Barbalho e Arruda preferiram voltar pela porta da Câmara dos Deputados, mas ambos foram os mais votados entre os concorrentes do Pará e do Distrito Federal. Serão colegas de outro campeão das eleições. Enéas Carneiro, do Prona, foi o deputado mais votado de São Paulo, com 1,5 milhão de votos.


Lula e Serra caçam apoios
Enéas foi procurado por representantes dos dois candidatos, mas estava num curso de medicina

BRASÍLIA - O deputado eleito mais votado do Brasil, Enéas Carneiro, do Prona, com 1,5 milhão de votos, está sendo disputado quase a tapas pelos candidatos ao segundo turno das eleições presidenciais, José Serra, do PSDB e Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Os coordenadores das campanhas dos dois candidatos telefonaram ontem para os comitês do Prona no Rio e em São Paulo, mas Enéas, que é cardiologista, passou o dia num curso de eletrocardiograma. No comitê de Serra, os coordenadores Michel Temer e José Anibal afirmaram que Enéas tem que ser reconhecido como um líder influente.

Enéas é só uma parte da temporada de caça a novos aliados na disputa do segundo turno. Serra e Lula puseram seus principais coordenadores de campanha no encalço dos governadores e parlamentares eleitos. Nos 12 Estados em que a eleição fechou em primeiro turno, Serra tem o apoio dos governadores de maior peso político, como Aécio Neves (PSDB), em Minas, Jarbas Vasconcelos (PMDB) em Pernambuco, e Marcelo Miranda (PFL), em Tocantins. A dúvida é Paulo Souto, do PFL, eleito governador da Bahia, que segue orientação de Antonio Carlos Magalhães.

No Amazonas, Eduardo Braga, do PPS, ligado a Amazonino Mendes, do PFL, poderá apoiar Serra. Bairo Maggi, do PPS, insiste em apoiar Lula, do PT, para derrotar Marisa Serrano, do PSDB. Mas como seu apoio sequer foi examinado pelo PT no primeiro turno, ele está sendo assediado por Serra.

Nos Estados de Santa Catarina e Paraná, a tendência dos candidatos que disputam o segundo turno é apoiar Lula. Luís Henrique da Silveira (PMDB) anunciou ontem estar disposto a apoiar o petista. Ele disputará contra o governador Esperidião Amin, do PPB. Luiz Henrique depende da resposta do PT a uma proposta de de entendimento. Amin manteve o apoio a Serra.

No Paraná os dois candidatos ao governo do Estado poderão apoiar Lula. O senador Roberto Requião, do PMDB, já esteve com o PT no primeiro turno. Álvaro Dias, do PDT, não gosta de Serra.

Na Paraíba, o presidente estadual do PT, Adalberto Fulgêncio, defendeu a manutenção do apoio de Roberto Paulino, do PMDB, a Lula. Mas com a condição de que o PT paraibano apóie Paulino no segundo turno. Cássio Cunha Lima, do PSDB, mantém o apoio a Serra.

Em alguns estados, o PT terá que apagar as feridas do primeiro turno. No Amapá, o ex-governador e senador eleito João Capiberibe, do PSB, quer apoiar Lula, mas espera uma explicação da direção nacional do PT para os ataques feitos contra ele pela candidata do PT, Dalva Figueiredo.


Garotinho recebe Dornelles
Deputado do PPB afirma que visita foi apenas de cortesia

O ex-governador do Rio e candidato do PSB derrotado na disputa da Presidência, Anthony Garotinho, recebeu ontem em casa o deputado federal reeleito Francisco Dornelles, um dos articuladores da campanha de José Serra (PSDB) no segundo turno. Na véspera Garotinho tinha criticado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por aceitar apoios de segmentos conservadores e ''querer chegar ao poder a qualquer custo''.

Garotinho deu a entender que seu apoio a Lula no segundo turno dependeria de seu afastamento de políticos como o ex-presidente José Sarney, que apóia o petista. Dornelles foi ministro da Fazenda de Sarney e ministro da Indústria e Comércio e do Trabalho de Fernando Henrique Cardoso.

O deputado negou que tivesse ido à casa de Garotinho a pedido de Serra negociar a neutralidade do ex-governador no segundo turno. Disse que a visita foi de cortesia para felicitar Garotinho e a mulher, a governadora eleita do Rio, Rosinha, pelo bom desempenho nas eleições.

- Vim também pôr nossas bancadas estadual e federal à disposição da governadora - disse Dornelles.
O prefeito Cesar Maia disse ontem que Garotinho está numa situação desconfortável:
- Ele tem dois eleitorados: um mais popular e outro evangélico. Este último é basicamente conservador. Por isso o constrangimento do Garotinho - disse Cesar.


Maranhão não deve ter 2º turno
Cunhado de Roseana Sarney desiste de recurso e dá vitória para José Reinaldo Tavares, do PFL

BRASÍLIA - O candidato do PFL ao governo do Maranhão, José Reinaldo Tavares (ex-vice de Roseana Sarney), deverá ser declarado eleito no primeiro turno. O candidato do PSB, Ricardo Murad - cujo registro já fora impugnado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) -, desistiu ontem de seu recurso extraordinário ao Supremo Tribunal Federal (STF). Assim, os 114.640 votos obtidos por Murad no primeiro turno (5,15% do total) serão considerados inválidos, e os 1.076.621 recebidos por José Reinaldo passam a representar mais de 50% da votação válida.

Mesmo que Ricardo Murad insistisse no seu recurso, dificilmente o segundo colocado no pleito para o governo estadual, Jackson Lago (PDT), disputaria o segundo turno. É que três dos onze ministros do TSE são do STF, e já haviam votado pela cassação da candidatura do cunhado de Roseana Sarney, no recurso ordinário ao TSE. A tendência da maioria de seus colegas do STF era a de acompanhar o entendimento de que, apesar de inimigo político declarado de seu irmão, Jorge Murad, e da família Sarney, Ricardo era inelegível por ser parente de ex-governador já no segundo mandato - no caso, a ex-governadora Roseana Sarney, que se desincompatibilizou seis meses antes das eleições, para conquistar uma vaga no Senado.
José Reinaldo obteve no primeiro turno 48,42% dos votos, contra 40,33% de Jackson Lago.


Collor garante voltar à Presidência
Abandono da vida pública foi descartado

MACEIÓ - Derrotado na disputa ao governo de Alagoas, o ex-presidente Fernando Collor de Mello (PRTB) disse ontem que vai permanecer na vida pública, colocando um fim nas especulações sobre o seu afastamento da vida política nacional. E garantiu que vai voltar a ocupar o cargo de onde foi deposto, em 1992.

- Esta foi a minha primeira derrota política. Quero dizer que vou ser o presidente da República - afirmou Collor, em entrevista coletiva.

O ex-presidente repudiou as comparações com Paulo Maluf, Orestes Quércia e Leonel Brizola, que não foram eleitos e podem encerrar suas carreiras políticas.

- Minha rejeição é menor do que a do Lula. Vou continuar a minha vida política. Não me coloco nessa relação (Maluf, Quércia e Brizola), pois não tenho hábito de perder eleições.

Vencido pelo governador Ronaldo Lessa (PSB), reeleito com 52, 9% dos votos, contra os 40,2% obtidos por ele, Collor disse que irá concorrer à prefeitura de Alagoas, em 2004. Até lá, prometeu fazer oposição ao governador Ronaldo Lessa.

- A partir da próxima semana, começo a conversar com as pessoas ligadas ao meu grupo político.

O ex-presidente disse que a decisão de continuar a sua vida pública em Alagoas foi tomada pelo enorme carinho que sentiu dos eleitores, além dos 420 mil votos recebidos.

- Em todas as cidades que passei fui muito bem recebido e muito bem tratado pelo povo.


A carreata da vitória
Rosinha Garotinho percorre a Baixada Fluminense para agradecer aos eleitores

Fogos de artifício, muita poeira, o carro de som à toda altura e um sorriso no rosto a cada cumprimento aos eleitores, pelas ruas e avenidas da Baixada Fluminense. A carreata da vitória de Rosinha Garotinho, governadora eleita do Estado do Rio de Janeiro, começou na tarde de ontem sem hora para acabar. Até às 21h, Rosinha ainda percorria os bairros de Belfort Roxo, depois de seguir por quilômetros adentro de Nova Iguaçu.
A reação de seus eleitores chamava atenção. Choro, aplausos, acenos, beijos mandados e retribuídos ao vento pela nova governadora. Até a cavalo seguiram a carreta. Dois adolescentes galopavam suas montarias para se manter ao lado da candidata vitoriosa nas eleições do último domingo. Somente desistiram de acompanhá-la depois de um aceno exclusivo para eles.

Pouco antes de embarcar na boléia do caminhão que a transportaria pela antiga rodovia Rio-São Paulo, em um modelo branco e azul bebê, Rosinha anunciou que hoje, no Rio, iria se reunir com o presidente do PSB, o ex-governador Miguel Arraes. O motivo do encontro é a definição de seu apoio para o segundo turno das eleições.

- Vou apoiar quem o partido definir como nosso candidato. Em caso de aliança, não tenho qualquer problema nem com o PDT, legenda à qual pertenci por mais de 16 anos, nem com o PT - adiantou Rosinha, que pretende viajar esta semana, para umas pequenas férias com o marido, o candidato derrotado a presidente da República Anthony Garotinho.

Quanto ao seu secretariado, Rosinha ainda faz suspense. Prefere apenas adiantar que está formando a equipe de transição.

- Prefiro não falar em nomes ainda - concluiu.


Deputado anuncia greve de fome
Mourão não conseguiu se reeleger

BRASÍLIA - O deputado federal pelo PSDB Paulo Mourão anunciou ontem, em plenário, que pretende fazer greve de fome por tempo indeterminado. Ele quer, com isso, chamar a atenção da imprensa para o que classifica como ''crimes eleitorais aberrantes''. Candidato à reeleição, o deputado atribuiu ao governador de Tocantins, Siqueira Campos (PFL), o fato de ter ficado de fora da Câmara na próxima legislatura.

Mourão também acusa o Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins de apoiar Siqueira Campos durante a campanha. Alega ser essa a razão para que todos os direitos de resposta da oposição ao governo terem sido negados. Ele diz ter perdido o apoio de vários prefeitos do Estado porque o filho do governador, senador Eduardo Siqueira Campos, se empenhou em isolá-lo. Presidente do PSDB no Estado, o senador teria ainda impedido que Mourão aparecesse em vários programas eleitorais do partido.

- O que se vê no Tocantins é um clima de verdadeira opressão. Só deixo o plenário quando a Câmara instalar uma comissão para apurar todas as fraudes ocorridas em Tocantins _ diz o deputado.

O senador Siqueira Campos confirma que Mourão foi suspenso e realmente não apareceu em alguns programas eleitorais.

- O estatuto do partido respalda essa decisão _ acrescenta o senador.

Quanto aos prefeitos, ele diz ser natural que tenham escolhido o candidato com mais chances de vitória. Conforme previam as pesquisas de opinião, o pai do senador foi reeleito em primeiro turno. Já Freire Júnior, candidato pelo PMDB que foi apoiado por Mourão, ficou em segundo lugar.


Artigos

Certo por linhas tortas
Milton Temer

São bizarros os caminhos da política. Quem mais deve estar lamentando, hoje, a derrota de Benedita da Silva no primeiro turno decidido em cima do disco de chegada da eleição para o governo do Estado do Rio de Janeiro não é Luiz Inácio Lula da Silva. Ele até deve estar sentido, mas por razões exclusivas de afeto pessoal. Quem está decepcionado, politicamente, é o tucano José Serra. E não é difícil de compreender o porquê.
A vitória de Rosinha Matheus pode ter fechado todas as portas a qualquer manobra que Garotinho, já pensando em seus futuros passos eleitorais, tentasse empreender no sentido de afastar o Partido Socialista Brasileiro da aliança natural que formará com Lula neste segundo turno. E digo aliança por não ter nenhuma dúvida de que aqui a coisa vai a muito mais do que simples apoio.

O sentido de suas primeiras declarações após a divulgação dos resultados deixa isso bem claro. Uma verdadeira pantomina, na preocupação estranha com os apoios declarados a Lula por alguns oligarcas históricos, como se isso representasse algum tipo de compromisso. E como se a própria candidata dele no Rio de Janeiro não tivesse se integrado inteiramente com o PPB, de Maluf e Dornelles, na coligação que formou, e que gerará, certamente, parcerias de administração.

Garotinho, e isso precisa ficar bem claro, não opera por razões ideológicas ou de representação social. Opera por interesse próprio, visando sempre ao passo seguinte em seus projetos políticos e eleitorais. E sua trajetória na campanha de onde sai com imenso cacife político é prova disso.

Gastou grande parte de seus primeiros passos consolidando a candidatura nos terrenos exclusivos da fé. Discursos conservadores e absolutamente despolitizados, sem se preocupar com os imensos incômodos que causava a algumas das mais expressivas lideranças nacionais de seu partido, cimentaram o apoio dos 10% do eleitorado que dele não mais se moveriam, a despeito do que viesse a discursar ou prometer depois. E partiu então para o atalho que a campanha quase exclusivamente propositiva de Lula lhe deixava aberto. Virou o ''flagelo dos banqueiros'', o Messias do novo salário mínimo, ''a única candidatura de esquerda''. Por aí cresceu, e por aí certamente - e com a ajuda do bom desempenho no último debate - impediu o deslocamento final daquele beicinho de pulga que escapou a Lula para lhe garantir a vitória no primeiro turno.

Mas todo movimento individual tem limites impostos pela conjuntura. Embora aos projetos de Garotinho o que menos interesse seja o sucesso de Lula, não há como negar: não só por razões programáticas, mas por identidades políticas e eleitorais, o PSB estará com o PT em oito das disputas de governador que ficaram para o segundo turno. Organicamente, não há como impedir que o eleitorado que sufraga Erundina em São Paulo, Arraes em Pernambuco ou Ademir Andrade no Pará marche naturalmente para o apoio a Luiz Inácio Lula da Silva .

E isso, evidentemente, mostra que, por maior que seja o esforço de Serra e seus aliados, tentando nos convencer de que tudo começa do zero nesta nova etapa eleitoral, o cenário é totalmente distinto. O caminho natural de Garotinho e Ciro Gomes - que aqui não foi anteriormente citado pela forma espontânea como já afirmou seu apoio pessoal ao líder petista - é o palanque de Lula. Isso não ajuda de nenhuma forma a quem precisa mais do que dobrar, em três semanas, os parcos votos conquistados durante todo um ano de campanha.

Serra tem por que estar triste com a derrota de Benedita no Rio. Ela pode ter tornado irreversível a vitória de Lula no dia 27.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Combatentes sem causa
No balanço de vencedores e vencidos, um milhão e meio de eleitores paulistas integram o contingente dos derrotados nesta eleição.

El egeram Enéas e outras cinco nulidades políticas à Câmara dos Deputados, perdendo a valorosa chance de contribuir para a melhoria da representação parlamentar no Brasil.

No domingo, teclaram na urna o Prona, porque o processo eleitoral já não permite, em outras épocas tão comum, o exercício do deboche cívico por meio de tolices escritas nas cédulas.

É possível fazer essa afirmação sem medo de incorrer em injustiças ou julgamento precipitado a respeito da intenção do eleitorado, porque Enéas Carneiro resume-se a uma frase dita com ênfase. O que, convenhamos, é pouco para justificar o voto de um milhão e meio de pessoas.

Ao gesto de elogio ao factóide deu-se o nome de protesto. Francamente, trata-se de uma visão generosa do acontecido.

Protesto contra o quê, se, além do uso da bomba atômica como forma de afirmação da soberania nacional, o senhor Carneiro jamais esboçou uma idéia com começo, meio e fim?

Alguém sabe dizer o que vai pela cabeça da criatura, além de difusas impressões fascistóides a respeito da vida e de suas circunstâncias?

Então, por favor, tratemos de abandonar a tese de que o senhor Carneiro é uma tradução da revolta popular, antes que façamos dele um herói da resistência, como há tantos outros não tão votados, mas da mesma forma filhotes do equívoco.

E para que não se diga que só houve erro e desperdício de energia institucional naqueles votos todos, reconheçamos que um bom objetivo alcançaram: expuseram didática e claramente como a falta de compreensão do que seja cidadania pode ser nefasta.

Enéas Carneiro será dono de seis votos na Câmara, sendo que, quatro deles representam 1.801 pessoas. O mais votado da turma teve 665 eleitores e, o menos, 274.

O que dizer do princípio da representação diante de tal barbaridade?

No primeiro momento a tendência é culpar o sistema proporcional de eleições que dá aos partidos a prerrogativa de distribuir os votos recebidos por seus candidatos por intermédio da conta do coeficiente eleitoral.

Isso permite que gente sem voto acabe tomando o lugar de político com voto. O eleitor mira no que vê e, muitas vezes, acaba acertando no que não quer.

De fato, o sistema proporcional tem esse grave defeito. Mas, como bem lembra o deputado Waldir Pires (PT-BA), outros métodos também os têm.

A distribuição das vagas por listas partidárias pode até fortalecer as legendas, mas favorece as chamadas burocracias de aparelhos.

O voto distrital, saudado como a salvação de todas as lavouras, também não resolve tudo. No meio do século passado, Winston Churchill ganhou a segunda guerra mundial e, ato contínuo, perdeu uma cadeira no Parlamento inglês, por vontade expressa dos eleitores de seu distrito.

Como se vê, a lei não garante tudo. É claro que a eleição de Enéas Carneiro e sua intrépida trupe evidencia as distorções do atual arcabouço legal que rege as relações político-eleitorais.

São incorreções que equacionam um pedaço do problema, mas não explicam tudo.

A questão central reside na incredulidade que boa parte dos cidadãos deposita na sua capacidade de conduzir os destinos do país.

Enquanto houver quem reserve tal indiferença aos próprios direitos e garantias individuais, não haverá a mais pálida possibilidade de a representação parlamentar atender às expectativas de uma sociedade que se diz ansiosa pela despoluição das águas, dos ares e das matas da política nacional.

Boca-de-urna
A última aliança entre o PT e Anthony Garotinho terminou com o primeiro sendo chamado de ''partido da boquinha'' pelo segundo.

Da mesma forma, não são nem nunca foram exatamente edificantes os adjetivos usados pela governadora eleita, Rosinha Garotinho, para se referir à governadora em exercício, Benedita da Silva.

Soma zero
Configuram-se legítimas perdas de tempo as reuniões de partidos para decidir apoio a Lula ou a Serra.
Independentemente das decisões de cúpula, tanto os políticos quanto o eleitorado agirão de acordo com as respectivas vontades.

Com a provável exceção dos fiéis das igrejas evangélicas.


Editorial

QUESTÃO DE RESPEITO

to proporcional com que se elegem os deputados federais e estaduais (e vereadores) volta a ser escândalo: o Partido da Reedificação da Ordem Nacional elegeu, por São Paulo, o recordista estadual de votos, ao lado da deputada estadual mais votada à Assembleia paulista. A repercussão negativa, com gosto de escândalo, põe o Prona na berlinda: seu presidente Enéas Carneiro ('' meu nome é Enéas'') alcançou mais de um milhão e meio de votos e levou a tiracolo mais quatro à Câmara dos Deputados por um critério, no mínimo, esdrúxulo.

Nenhum dos quatro levados a reboque para a bancada federal do Prona teve sequer mil votos. O mais bem dotado ficou na casa dos 600, outro em 400, um com 381 e o mais modesto entrou com 274.

A questão não se esgota na aritmética mas na avaliação política. O parodoxo do mandato proporcional, como funciona no Brasil, está de volta e, desta vez, a oportunidade favorece a solução. É chocante ter um deputado eleito com menos de 300 votos e outro sobrar com mais de 83 mil e tantos votos.

Na primeira eleição depois do Estado Novo (1945), o PTB pelo Estado do Rio elegeu um deputado com 400 votos pelo mesmo critério. Barreto Pinto ficou conhecido como deputado de 400 votos. Passados 57 anos, a oportunidade favorece a mudança do critério que depõe contra o sentido democrático do voto. Não é possivel que um deputado seja eleito com 274 votos e outro, no mesmo pleito, com 83.315, votos seja preterido. A oportunidade é imperdível: o presidente da Câmara, deputado Aécio Neves, e o presidente do Senado, Ramez Tebet, estão identificados com o sentido purificador da instituição parlamentar.

A atual representação, em fim de mandato, dispõe de outubro, novembro e dezembro para abrir com caracter de urgência a reforma constitucional. Os que não voltarão a Brasília podem começar a reforma política pela correção de critérios para o mandato de deputado não ser objeto de chacota e de escárnio. Os eleitores merecem respeito, para que os eleitos sejam respeitados.


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10/09/2002


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