Ciro dá ultimato a cunhado
Ciro dá ultimato a cunhado
Pressionado pela Frente, candidato exige que Einhart aceite trabalho conjunto
BRASÍLIA - O candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, tem um desafio interno para, então, pensar em se recuperar nas pesquisas: dar um destino para o cunhado e marqueteiro, Einhart Jácome da Paz, a quem já deu um ultimato. Seu companheiro desde o início, Einhart transformou-se num problema para a campanha. Na madrugada de terça-feira, num jantar na casa do ex-governador Leonel Brizola (PDT), os líderes da Frente exigiram que ele trouxesse novos nomes para o marketing. Na prática, isso significa um esvaziamento do poder de Einhart.
Ao marqueteiro foi dada a tarefa de escolher outros publicitários para ajudar nos programas de TV. Mas os nomes sugeridos foram rejeitados por Einhart, entre eles, Chico Santa Rita. Na quarta-feira, Ciro, por fim, cobrou do publicitário uma posição de maneira firme.
Ontem, Einhart convidou o jornalista Ricardo Noblat, diretor de redação do Correio Braziliense, para dividir com ele a coordenação do marketing. Entre 1990 e 1992, Noblat trabalhou na Propeg, do publicitário do ex-senador Antônio Carlos Magalhães, Fernando Barros. O jornalista não aceitou.
- Einhart telefonou para me convidar, mas não posso assumir agora - disse Noblat.
Membros da Frente Trabalhista temem que Einhart não resolva a questão e que a decisão de Ciro de intervir no marketing aconteça tarde demais. A principal crítica ao trabalho de Einhart é que ele não estaria pondo em prática decisões do comitê político da campanha.
Um exemplo é a participação da mulher de Ciro, Patrícia Pillar. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), sugeriu que a atriz fosse âncora do programa veiculado na hora do almoço. Einhart não aceitou o conselho e preferiu deixar Patrícia para o fim da campanha.
Ciro terá ainda outra crise a resolver. Ontem, mais uma vez, Antonio Carlos Magalhães e o presidente do PPS, Roberto Freire, trocaram acusações.
- Freire ameaçou Ciro. Disse que se ele procurasse o PFL para fechar aliança seria tirado do partido - afirmou ACM.
- Não fiz nada disso, mas se quiserem me culpar de deixar o PFL de fora, será uma honra - respondeu Freire.
PT quer evitar o 'Já ganhou'
Partido aposta na força de militantes
BRASÍLIA - A direção do PT está tentando abafar o clima de já ganhou que começa a contaminar a campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. A ordem é não deixar que a euforia pelos resultados das pesquisas eleitorais mais recentes, favoráveis ao candidato petista, provoque um relaxamento dos militantes na reta final do primeiro turno da sucessão presidencial.
Lembrando que a tradição do partido é ir a campo com mais empenho nos 10 dias que antecedem as eleições, o próprio Lula tem alertado os dirigentes regionais do PT para o risco de um entusiasmo exagerado.
- Já ganhei três eleições de véspera. Temos que manter o pique, arregaçar as mangas e trabalhar como se faltasse um ponto percentual para chegarmos ao segundo turno - recomendou Lula aos correligionários nos encontros que teve na Bahia, Pernambuco e Paraná esta semana.
O vice-líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro (BA), engrossa o coro:
- Se baixarmos a guarda, depois da euforia vem a calmaria. Se a gente bobear, alguém pode fazer uma boca de urna forte contra nós e levar a eleição.
Dirigentes do PT acreditam que o trabalho militante pode levar Lula a uma vitória no primeiro turno, mas querem evitar que a euforia provoque um efeito contrário, como aconteceu na eleição passada para o governo do Distrito Federal. No segundo turno, as pesquisas apontavam a vitória de Cristovam Buarque (PT), que disputava a reeleição. Mas o ex-governador Joaquim Roriz (PMDB) reagiu na reta final e virou o resultado.
- Estamos conversando com os coordenadores da campanha em todos os Estados e reforçando a recomendação para que ninguém entre no clima de já ganhou. A campanha não acabou. Está começando agora - afirmou o coordenador de mobilização da campanha, Francisco Campos.
Ele encabeçou a preparação de uma grande mobilização hoje - sexta-feira, 13 - em todo o país. Os militantes estão sendo convocados a fazer manifestações de rua - carreatas, caminhadas, bandeiraços - a partir das 13h. A palavra de ordem é No dia 13, pinte o 13.
Serra leva boas novas a militares
Serra anuncia liberação de verba
BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, anunciou o descontingenciamento (liberação), até o fim do ano, dos R$ 4,4 bilhões das Forças Armadas. Depois de se encontrar com o ministro da Defesa, Geraldo Quintão, ele se comprometeu a concluir a construção do submarino nuclear - projeto da Marinha que se arrasta há duas décadas. Serra também anunciou que, se eleito, pretende renovar a frota da Aeronáutica e que vai incentivar a produção de equipamentos militares no país, substituindo importações.
O candidato condenou o uso das Forças Armadas na segurança pública e insistiu no fortalecimento da vigilância nas fronteiras para combater o crime organizado.
- Sou contra substituir a Polícia Militar. Sou a favor de fortalecer as polícias.
Serra passou duas horas reunido com Quintão. E se comprometeu a manter a proposta inicial do ministro, que aumenta em 32% os recursos das Forças Armadas em relação ao ano passado.
Ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso descontingenciou parte da verba. Foram liberados R$ 310 milhões para as Forças Armadas. Do total, R$ 100 milhões serão para o Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam). A pasta da Defesa será contemplada com R$ 4,4 milhões para custeio e investimento. O acréscimo de 32,6% corresponde a R$ 1,09 bilhão a mais que o montante de recursos de 2001. Isso aumentará a participação das despesas do ministério no Orçamento da União de 13,7%, em 2002, para 15,5% em 2003.
Serra anunciou que é a favor do aumento da produção de armas, aviões e equipamentos de inteligência para prestigiar a indústria bélica nacional. E fortalecer uma política de exportação.
- Sou antitabagista. Mas se a indústria do tabaco produzir para exportar, tudo bem. Contará com o meu apoio - revelou.
O candidato disse que procurou se informar com Quintão sobre os projetos de longo e médio prazo para modernizar as Forças Armadas. Ele quer fortalecer o Ministério da Defesa e resolver o problema financeiro que se abate sobre a pasta. Terça-feira, Serra vai estar na Fundação de Altos Estudos e Políticas Estratégicas, no Rio de Janeiro.
O polêmico nome Enéas
Disputa pelo bordão vai parar nos tribunais
O famoso e histriônico bordão ''Meu nome é Enéas'', repetido à exaustão no horário eleitoral gratuito desde 1989, virou caso de Justiça. O dono do slogan, Enéas Carneiro (Prona-SP), obteve êxito na tentativa de impugnar o uso de seu nome pelo concorrente Osvaldo Nantes Soares, no mês passado, em decisão inédita do TRE paulista. Candidato a deputado federal pelo PTB, Soares estava usando, em faixas e outros materiais de propaganda, o apelido de ''Osvaldo Enéas''. O caso chegou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que deverá julgar o caso ainda hoje. O ministro-relator, Sepúlveda Pertence, reconhece o ineditismo da questão, o que torna a questão de difícil análise por parte dos desembargadores. Não há jurisprudência sobre o assunto, em toda a história repúblicana do Brasil.
O apelido de Soares, porém, não é a toa. Ele é a cara - e a barba - do candidato do Prona. O sósia, inclusive, já pertenceu ao mesmo partido do verdadeiro Enéas, de onde foi expulso, após ser eleito para uma cadeira na Câmara Municipal de São Paulo.
Os juízes do TRE entenderam que o candidato do PTB realmente estava ''pegando carona'' no nome de Enéas, e, assim, confundindo o eleitorado. Agora, Osvaldo Enéas Nantes Soares só pode usar, na propaganda eleitoral, o nome completo - sem o apelido ''Enéas''.
No entanto, durante seu espaço na propaganda gratuita na televisão, o candidato pelo PTB não será muito prejudicado na sua evidente intenção de conseguir votos como se fosse o autêntico ''Enéas do Prona''. Ele aparece no vídeo, com a cara e a voz idênticas à de Enéas, se anuncia candidato a deputado federal, mas informa apenas seu número.
FH e candidatos homenageiam JK
Serra, Lula e Garotinho vão a solenidades em Minas e no DF
BRASÍLIA E BELO HORIZONTE - O presidente Fernando Henrique Cardoso participou, ontem, de uma solenidade no Palácio da Alvorada, em homenagem aos 100 anos de nascimento de Juscelino Kubitschek. Em seu discurso, FH disse que todos os políticos e os atuais candidatos devem seguir o exemplo conciliatório de JK. E deu um recado ao futuro presidente:
- Desejo que o presidente eleito, seja ele quem venha a ser, possa reunir, em torno do seu programa de governo, uma sólida base parlamentar para assegurar as metas de crescimento e, sobretudo, manter um clima de concórdia no País.
O presidenciável José Serra (PSDB) também participou da solenidade. Na saída, contou o que conversou com a filha de JK, Maristela Kubitschek:
- Eu disse a ela que se o pai dela fosse vivo, ele seria um tucano, olhando para frente, reformador, um homem bem disposto. Ela concordou comigo.
Os outros candidatos à presidência também prestaram homenagem a JK. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador do Estado de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), juntos com o líder nas pesquisas para a sucessão em Minas, o deputado Aécio Neves (PSDB), participaram de comemorações pelos 100 anos de Juscelino em Diamantina, cidade natal de JK.
Os três visitaram o centro cultural Casa JK, local onde Juscelino passou a infância e a adolescência, receberam uma medalha comemorativa e tiraram fotos com a taça conquistada pela seleção brasileira na Copa. A Confederação Brasileira de Futebol informou que está confeccionando uma camisa da seleção com a inscrição ''JK100'', em homenagem ao presidente, que será entregue de presente para Lula.
O candidato do PSB, Anthony Garotinho, foi o segundo a pisar no solo mineiro, na tarde de ontem, para participar das comemorações do centenário do nascimento de JK. Durante sua visita a Belo Horizonte, ele aproveitou para criticar o presidente Fernando Henrique Cardoso.
Garotinho desembarcou 10 minutos após a chegada do petista Luiz Inácio Lula da Silva, convidado de honra de Itamar Franco. Garotinho lembrou que Juscelino ''foi o único, até hoje, a enfrentar o Fundo Monetário Internacional, para que o Brasil entrasse na nova era da industrialização''.
Contag acusa José Serra de plágio
BRASÍLIA - A Confederação Nacional do Trabalhadores na Agricultura (Contag) acusa o candidato tucano a Presidência da República, José Serra, de plágio. Ontem, no programa de exibido durante o horário eleitoral gratuito, o ex-ministro da saúde apresentou propostas para a agricultura reivindicadas pela Contag há vários anos.
- As propostas já existiam. Eles se apropriaram de nossas idéias para a campanha - afirmou o presidente da confederação, Manoel José dos Santos.
Desde 1995, a Contag, que representa 25 milhões de trabalhadores rurais, organiza anualmente a pauta de reivindicações do movimento ''Grito da Terra Brasil''. As propostas são enviadas ao governo que, após negociar com a confederação, define a política que será adotada com relação aos agricultores familiares, pequenos produtores e assalariados rurais.
Adotado pelo governo em 1996, o Pronaf (Programa Nacional de fortalecimento da Agricultura Familiar) é um exemplo de exigência feita pela Contag que foi colocada em prática. Como isso não acontece sempre, existem muitas reivindicações da confederação que não saíram do papel. São algumas dessas propostas que José Serra apresenta como se fossem dele, para a revolta de seus verdadeiros formuladores.
Artigos
Pela melhor tecnologia
Werner Wanderer
Parlamentar
Como membro titular da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados, acompanho com atenção, desde 1991, os assuntos relacionados com a Defesa. Não poderia deixar de prestar total solidariedade ao comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos de Almeida Baptista, por discordar totalmente das críticas feitas a ele pela condução do Projeto FX para a compra de caças pela Força Aérea Brasileira, para substituir os Mirage, que estão chegando ao final de sua vida útil.
Tenho acompanhado o trabalho da Comissão de Seleção do Projeto FX, presidida por oficial-general e integrada por mais de 50 profissionais, engenheiros e especialistas de alto nível técnico, e sou testemunha do rigor com que desenvolvem seu trabalho. Por isso, li estarrecido e com tristeza as calúnias assacadas contra a comissão e o comandante da Aeronáutica, especialmente nas revistas IstoÉ e Carta Capital.
Há, certamente, interesses que se escondem por trás das elucubrações fantasiosas, que têm um claro objetivo: virar a mesa e adiar a decisão sobre o Projeto FX, que será orientada tecnicamente pelo Ministério da Defesa e pelo Comando da Aeronáutica, como não poderia deixar de ser, mas que, em última instância, cabe ao Conselho de Defesa Nacional, que já deveria ter se reunido para esse fim.
Os argumentos não se sustentam. O governo brasileiro deve escolher a melhor tecnologia, com a maior vida útil, e colocar na balança o preço, o financiamento mais adequado e as melhores contrapartidas comerciais. Nenhum dos competidores pode ser considerado um projeto nacional, com vem sendo dito. Nenhum avião será construído aqui, porque não há escala - afinal, são apenas 12 caças que o Brasil vai comprar. E qualquer que seja o vencedor, ele terá que cumprir uma condição que é exigência contratual: a transferência total de tecnologia. Portanto, a indústria aeronáutica brasileira será beneficiada de qualquer maneira. Que o seja, então, com a melhor tecnologia.
Em minha opinião, a Embraer - empresa que é orgulho para todos nós, brasileiros - cometeu um equívoco estratégico ao aliar-se a um dos competidores, quando poderia - e deveria - simplesmente negociar com a Aeronáutica para ser a beneficiária da transferência de tecnologia, num convênio com o Centro de Tecnologia da Aeronáutica, por exemplo, fosse qual fosse o vencedor. Estou convencido de que a Aeronáutica deve fazer sua indicação sem dar qualquer peso especial ao fato da Embraer estar associada a um dos competidores.
O fato é que, pela envergadura da aquisição que está sendo avaliada, e em face da existência do necessário acordo de confidencialidade entre a instituição e os competidores, indispensável para a lisura do processo, mais ainda pela garantia dos interesses da segurança nacional, não há como haver qualquer dirigismo, sejam quais forem e venham de onde vierem as pressões, até porque, fundamentalmente, a escolha tem que se adequar às necessidades da Força Aérea Brasileira e do país. O objetivo só pode ser obter a melhor tecnologia, e a partir dela ampliar o mercado de exportações brasileiro oferecendo o melhor produto.
Em minha opinião, o Conselho de Defesa Nacional deve tomar sua decisão no prazo mais curto possível, a partir da avaliação técnica feita pela Aeronáutica, sem que seja necessário consultar o presidente que se elegerá em outubro, como chegou a ser aventado. A decisão é deste governo, e deve ser deste governo, porque o que fala mais alto é o interesse do B rasil. Reafirmo o meu total apoio à retidão da conduta do brigadeiro Carlos Baptista, do Estado-Maior da Aeronáutica e da Comissão de Seleção do Projeto FX.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
Carência de crédito às críticas
A respeito da impossibilidade de o poder público lidar com a questão da segurança - seja o governo estadual ou federal, esteja ele sendo ocupado pelo partido que for -, muito pouco se pode dizer além daquilo que os dias seguintes às manifestações impactantes de descontrole já não digam por si.
Agora mesmo, que o chamado poder oficial culpa um punhado de agentes carcerários pela manutenção de uma cidade sob cativeiro nas mãos do narcotráfico, nada que se diga, escreva ou proclame, será tão eloqüente quanto a posição adotada pelas autoridades.
Um traficante domina um presídio de segurança máxima , executa seus adversários, a ação resulta na eliminação do direito de ir e vir dos cidadãos em vários pontos da cidade do Rio de Janeiro, o comércio fecha as portas, repartições públicas encerram mais cedo o expediente, colégios e universidades suspendem as aulas, a bandidagem finca bandeira brasileira a meio pau em sinal de luto pela morte de um dos seus, e tudo isso acontece porque há agentes carcerários corruptos.
Perfeitamente. Punam-se as criaturas e, como o problema realmente circunscreve-se a um ínfimo e muito bem localizado ninho de subornados, estará tudo resolvido. Sendo assim, tecer considerações a respeito quem haverá de?
Passemos, portanto, ao item seguinte da pauta: a exploração político-eleitoral do episódio. Tema muito mais concernente à atualidade, visto que a segurança da sociedade, além de ser assunto para gente que entende e tem total domínio do setor, está devidamente garantida com a exoneração dos carcereiros.
Nos jornais de ontem, com o noticiário sobre a tomada do poder pelo terror, já se registravam as primeiras tentativas de imprimir ao tradicional jogo de empurra de responsabilidades, um caráter eleitoral. O PT, atual ocupante do Palácio Guanabara, exibia franca preocupação com a vida dos reféns de Fernandinho Beira-Mar e seu secretariado no interior do presídio.
Havia receio de que alguma morte pudesse fazer desabar os índices de preferência de voto na governadora e candidata Benedita da Silva. Tanto que a própria, tempos atrás contrária à idéia da formação de uma força-tarefa sob o comando da Polícia Federal, ontem tratou de conseguir o aval do presidente da República à ordem de invasão do presídio.
Quase valeu a tentativa de, no caso de algo sair politicamente errado, dividir a conta com a União e, conseqüentemente, com o PSDB. E só não valeu de todo porque a ordem da governadora não valeu de nada. Uma barreira de agentes carcerários e o secretário de Segurança trataram de desautorizá-la.
Ou seja, uma desmoralização total e inversão completa do que seja o sentido de autoridade. Mas isso também já não se configura novidade.
O fato em exame, dizíamos, é a disputa eleitoral. As reações foram variadas: o antecessor de Benedita, Anthony Garotinho, jactou-se da ordem que vigorava em sua administração, Ciro Gomes culpou o pacto das elites com a criminalidade e José Serra declarou que assim não é possível, bandido deve ser tratado como bandido.
Na análise dos dois últimos destaca-se o esmero no quesito superficialidade. E o primeiro manifesta impressionante desapego pela realidade. É certo que, se o eleitorado alguma fatura cobrar pelo caso, o fará do PT e Benedita. Afinal, como bem diz Luiz Inácio Lula da Silva, trata-se do ônus de ser governo.
Mas não resta dúvida de que há aí também uma agressão aos fatos, muito semelhante à perpetrada pelo ex-governador e atual candidato do PSB a presidente.
Considerando que não existe equívoco possível nessa questão, é má-fé mesmo responsabilizar este ou aquele partido por uma situação que vem sendo construída há anos. No caso do Rio, sob diversas administrações partidárias: do PDT de Leonel Brizola, do PMDB de Moreira Franco - cujo vice, à época, tinha uma filha que assumiu publicamente e sem ser questionada por ninguém, namoro com um traficante preso -, do PSDB de Marcello Alencar e da aliança PT-PDT que elegeu Anthony Garotinho.
Apenas para completar as conexões, a fim de concluir a impossibilidade de exclusão de quem quer que seja, Ciro Gomes tem Brizola como correligionário e o PDT de aliado. José Serra é candidato de Fernando Henrique, cujo governo fracassou solene e retumbantemente no trato da segurança pública.
Não serve a justificativa de que o tema é constitucionalmente da alçada dos Estados, porque há oito anos, quando candidato, FH incluiu a segurança entre suas prioridades. Além disso, por diversas vezes, de lá para cá, propôs ''medidas duras'', todas rigorosamente inócuas.
Portanto, aos candidatos que abordarem o tema, cumpre ponderar que, em nome da decência de propósitos, o façam buscando nos poupar a todos do vil sentimento do menosprezo pelas respectivas carências de crédito.
Editorial
NOSSO 11 DE SETEMBRO
O atual governo do Estado viveu, nesta quarta-feira, seu último dia. Despediu-se por omissão de autoridade. Sucumbiu ao peso da herança fatídica de sucessivos antecessores tão ou mais ineptos no combate à Nação do Crime que traz o Rio sob estado de virtual ocupação.
Os três meses e meio que lhe restam de mandato abrem um hiato sombrio, a ser preenchido sabe Deus como. Cada cidadão terá que defender-se sozinho. Ninguém pode contar com o sistema de segurança que aí está, em larga margem comprometido com a ineficiência endêmica e a corrupção impune.
Todos sabemos que a Polícia Federal não está sendo devidamente mobilizada. Paira incerteza, também, sobre a eficácia do uso dos recursos financeiros provenientes do Ministério da Justiça.
No sinistro episódio de anteontem - o nosso 11 de setembro - enquanto os criminosos assumiam o controle da situação, o Governo Estadual perdia tempo em conversações inúteis.
O Rio está nas mãos do estado paralelo. O Rio está aterrorizado e indignado.
O crime tomou conta da cidade. Mata quem quer e onde quer. Ordena o fechamento do comércio. Determina a suspensão das aulas. Impõe o terror a cada um.
Quem não se dobra à tirania dos bandidos paga com a vida. A timidez e a omissão das autoridades estaduais estende-se a Brasília e alcança o próprio Palácio do Planalto, ocupado, afinal, por um cidadão nascido no Rio.
Timidez e omissão.
Até quando?
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09/13/2002
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