Roseana dá ultimato ao partido









Roseana dá ultimato ao partido
Candidata do PFL ao Planalto avisa que só mantém campanha se liberais romperem com governo Fernando Henrique

BRASÍLIA - A candidata à Presidência e governadora do Maranhão, Roseana Sarney, deu um ultimato ao PFL. Ameaçou sair da disputa eleitoral se o partido não romper com o governo Fernando Henrique Cardoso. ''Estou tão indignada quanto o presidente, quando o acusaram de ter conta nas ilhas Cayman com Sérgio Motta e José Serra'', atacou a candidata, referindo-se ao ''Dossiê Caymann'', conjunto de papéis que surgiram na campanha de 1998 e revelaram-se falsos.

Roseana comandou as conversas com os parlamentares e condicionou a candidatura a uma demonstração de apoio do partido. Recusou o apelo do presidente, anteontem, para que o PFL o acompanhasse até o final do mandato. ''Não posso ser candidata de um partido que desrespeite minha candidatura'', argumentou.

A candidata conseguiu o apoio para a tese de rompimentocom o Planalto de 12 dos 20 titulares da Comissão Executiva Nacional, que se reunirá amanhã para formalizar a decisão. Representantes do Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí, São Paulo e Minas Gerais pediram independência em relação ao governo. ''Não há imposição. Ela só será candidata com apoio integral do partido nesse episódio'', disse o líder do PFL no Senado, José Agripino (RN).

''Nossa decisão será calcada naquilo que os companheiros desejam para o futuro do País'', enfatizou Roseana, depois de almoçar com o Secretário-Geral da Presidência, Artur Virgílio. Ele pediu a liberação do voto do PFL em favor da prorrogação da CPMF. E disse que o presidente deve fazer ''um gesto'' para manter o partido no governo. Esse gesto poderia ser a demissão ou a retratação do ministro da Justiça, Aloysio Nunes Ferreira, que considerou correta a ação da Polícia Federal ao invadir, em São Luís, uma empresa de Roseana e do marido, Jorge Murad.

Roseana recusou o convite para tomar café com o presidente, ontem. Conversaram por telefone. ''A decisão não é minha. É do partido'', disse ela a Fernando Henrique. Hoje, o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) discursa para defender a filha.

''Nenhuma candidata com 25% das preferências ficará isolada'', disse Rodrigo Maia (RJ), pregando o rompimento. As declarações do presidente, definindo do a crise como ''tempestade em copo dágua'', acirraram os ânimos. ''Ele foi infeliz'', reclamou o deputado Marcondes Gadelha (PB). O presidente do PFL mineiro, Clésio Andrade, pediu a saída dos dois ministros de Minas dos cargos: Roberto Brant, da Previdência, e Carlos Melles, do Esporte e Turismo.


Sem vocação para sair do governo
Hoje à tarde, quando subir à tribuna do Senado e anunciar o rompimento com Fernando Henrique Cardoso, o ex-presidente da República José Sarney assumirá uma atitude rara em sua biografia: ser homem da oposição. Como ocorreu, por exemplo, no início da carreira, na década de 50, quando o jovem político maranhense rompeu com o coronelismo dominante no Estado.

Na década de 60, solista da Bossa Nova, ala que se proclamava de centro-esquerda na conservadora UDN (União Democrática Naciona), Sarney foi simpático a Janio Quadros, ao apoiar propostas consideradas reformistas e nacionalistas do controvertido presidente.

Sai Janio, entra Jango e Sarney assina manifesto defendendo as reformas de base, carro-chefe da plataforma política do herdeiro político de Getúlio. Com a derrocada de Jango, em pouco tempo o político maranhense se torna um dos políticos mais atuantes a serviço do regime militar. Com o apoio do presidente Castelo Branco, se elege governador do Maranhão, em 1965.

Foi senador e presidente da Arena - partido que sustentava a ditadura -, e do PDS, que o substituiu, nos tempos de Figueiredo.

Redemocratização, clamor popular pelas eleições diretas. Sarney rompe com antigos aliados e faz chapa com Tancredo Neves, no Colégio Eleitoral. Com a morte de Tancredo, assume a Presidência da República, em 15 de março de 1985. De novo no Senado, manifesta publicamente apoio a Collor, em maio de 1991. Mais tarde, declara-se a favor do impeachment. Nos últimos anos, apesar de freqüentes discordâncias e alguns entreveros, integrou a base de apoio de Fernando Henrique Cardoso. Até explodir a crise desencadeada pela invasão do escritório do genro.


Pedido de quebra de sigilo está pronto
Procuradores querem abrir contas da Lunus. Decisão depende do envio de documentos apreendidos na sede da empresa

PALMAS - Os problemas judiciais da Lunus Serviços e Participações Ltda., empresa da governadora Roseana Sarney e do marido e gerente de Planejamento do Maranhão, Jorge Murad, estão longe de acabar. Os procuradores que investigam as fraudes na extinta Sudam já têm pronto o pedido de quebra de sigilo bancário, fiscal e telefônico da empresa. Um dos juízes envolvidos no caso avalia que há indícios para atender o pedido.
A decisão será tomada tão logo a Justiça do Tocantins receba os documentos apreendidos pela Polícia Federal na sede da Lunus na semana passada. O material ficou retido na sede da PF no Maranhão graças a uma liminar do Tribunal Regional Federal da 2ª Região em Brasília, atendendo a pedido dos advogados da empresa.

Uma das justificativas da quebra de sigilo é a soma de dinheiro encontrada da sede da Lunus. Foram R$ 1,39 milhão. Outro, segundo os procuradores, são papéis que ligam as empresas Nova Holanda e Agrima, das quais Murad foi sócio, com escritório investigado por lavagem de dinheiro no exterior.

A investigação sobre a atuação das empresas de Murad vem de longe. Em 1999, os projetos das empresas Café Serrano, Refrigerantes Xuí, Frango Líder e Paraíso Agropecuária, todos no Tocantins, foram investigados por desvio de recursos da Sudam. Apurou-se que os envolvidos transferiam dinheiro para nomes de laranjas, pessoas pobres que nem sempre sabiam que possuíam conta bancária em seu nome.

Prisão - A Justiça Federal do Tocantins decretou em abril do ano passado a prisão de 23 pessoas, entre elas a contadora Maria Auxiliadora Barra Martins, na época dona da Amazon Consultoria e Projetos.A PF, o Ministério Público e a Justiça Federal passaram a investigar vários escritórios que representavam interesses de grupos ou empresas beneficiados com financiamento irregular da Sudam. Só no Tocantins, há hoje 78 inquéritos na PF, um para cada empresa acusada de desvios.

Ao todo, a PF calcula que foram surrupiados R$ 360 milhões no Estado. A partir do levantamento da clientela destes escritórios, os investigadores chegaram aos nomes da Nova Holanda e Agrima, no Maranhão. Com a quebra de sigilo de pessoas envolvidas, descobriu-se ligações da Agrima e a Nova Holanda com o escritório A.C. Rebouças, do Maranhão. Segundo um juiz que participa das investigações, os contatos vão desde telefonemas entre as empresas até troca de documentos e remessas de pequenos valores em dinheiro.

A Justiça determinou busca e apreensão na A.C. Rebouças, em setembro do ano passado, quando foi encontrada uma lista com 6 empresas off shore nas Ilhas Virgens. As investigações apontam para um esquema semelhante ao encontrado nos quatro projetos do Tocantins, com uso de laranjas.

Ligação - Faltava descobrir quem gerenciara a Agrima e a Nova Holanda antes de 1993, e a origem. A documentação mostra a Lunus saindo da composição da Agrima em 17 de agosto de 1993. Os sócios Lunus Serviços e Participações e Expedito Leite Souza transferiram suas ações para outros 10 sócios - os mesmos que já controlavam a Nova Holanda.

No último dia 22, a Justiça Federal do Tocantins enviou carta rogatória à Justiça do Maranhã o solicitando busca e apreensão na Lunus. Aparecia como sócia nos contratos sociais da Agrima, empresa que criou a Nova Holanda.


Saem as regras das eleições 2003
BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sacramentou ontem à noite a resolução que obriga os partidos políticos a respeitar nos Estados as coligações que fizerem na eleição para Presidente da República. As normas para ''Escolha e Registro de Candidatos'', estabelecem que uma mesma legenda não poderá integrar coligações estaduais diferentes na eleição de governador e de senador.

Outras 11 resoluções tiveram os textos definitivos aprovados pelo TSE. As mais importantes tratam da arrecadação, aplicação dos recursos da campanha e prestação de contas pelos partidos, e da propaganda eleitoral. Todas, na forma de minutas, já eram conhecidas dos políticos.

Oito delas regulam o processo material das eleições: formulários, cédulas, lacres de urnas eletrônicas, recepção de votos e garantias eleitorais, justificativas para os faltosos, voto no exterior, apuração e totalização de votos, divulgação dos resultados.

Há uma novidade: em qualquer tipo de propaganda eleitoral devem constar, obrigatoriamente, os candidatos a vice nas eleições para presidente e governadores, e dos suplentes dos concorrentes ao Senado. O TSE achou importante que os eleitores conheçam, principalmente, os suplentes dos senadores. Até agora, eram ilustres desconhecidos. Pouca gente sabia, por exemplo, quem era o suplente do senador Antonio Carlos Magalhães (PL-BA), que renunciou ao mandato, era o filho Antonio Carlos Júnior.

O número de deputados federais e estaduais a serem eleitos foi mantido. O total de parlamentares federais fica em 513. A maior bancada continua a ser a de São Paulo (70 deputados), seguida de Minas Gerais (53), Rio de Janeiro (46), Bahia (39) e Rio Grande do Sul (31).

Nas assembléias legislativas, São Paulo terá ainda o maior número de deputados estaduais: 94. Minas Gerais terá 77 e o Rio de Janeiro 70.

A resolução relativa ao financiamento das campanhas reitera que a arrecadação de recursos e a realização de gastos por candidatos e comitês só podem ocorrer a partir da solicitação dos registros das candidaturas e após a obtenção dos recibos eleitorais. Também é exigida a abertura de conta bancária específica para o controle da movimentação financeira de campanha.


Preso nega execução de Celso Daniel
Depois de divulgar a foto, a polícia localizou ontem José Edson da Silva, o principal suspeito do assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel. Ele estava detido em Vitória da Conquista, cerca de 600 quilômetros de Salvador. Em depoimento, negou a autoria dos disparos e incriminou um suposto parceiro, identificado apenas como Alex. A polícia não sabe de quem se trata e nem se ele realmente existe.

Edson foi preso no dia 28 de fevereiro após ter roubado um carro no município baiano. Na ocasião, chegou a atirar uma granada contra os policiais que o perseguiram, mas o artefato não explodiu. Com ele foram encontradas uma pistola e uma submetralhadora da Polícia Civil de São Paulo. Usando documentos falsos, permaneceu detido sem que a polícia o ligasse à morte do prefeito. A relação com o crime só foi descoberta depois que a foto foi divulgada pela polícia de São Paulo.

Outro criminoso, que estava com Edson na ocasião do roubo do carro, conseguiu fugir. A Secretaria da Segurança Pública disse que o assaltante seria Elcyd Oliveira Santos, suspeito de integrar a quadrilha que matou o prefeito.

Edson foi entregue à polícia por Itamar Messias Silva dos Santos e Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, comparsas presos na última sexta-feira. Eles disseram que Edson recebeu ordens expressas para libertar o prefeito, mas decidiu matá-lo e, por isso, estaria jurado de morte.

Assim como Itamar e Rodolfo, Edson afirmou que deveria seqüestrar um empresário que passaria na mesma rua onde estava o prefeito. ''A gente só soube que era o prefeito depois'', disse Edson. Com isso, deixou claro que o crime não foi político.

Para a polícia, foi Edson quem levou o prefeito da Favela Pantanal até Juquitiba, na Grande São Paulo, onde foi encontrado morto dias depois. Ele teria sido o autor dos disparos com a pistola 9 milímetros. Edson confirma que levou o prefeito até o local do crime. ''Eu peguei ele na favela e levei até o sítio''. Sobre o assassinato, o principal suspeito nega a autoria dos tiros: ''Eu apenas dirigi o carro. Quem matou foi o Alex'', afirmou. Sobre a arma que foi usada na execução, Edson não sabe explicar o paradeiro. O delegado Róbson Marocci, responsável por transferir Edson de Vitória da Conquista para Salvador acredita que ele possa ser o assassino procurado. ''A impressão que me dá, pela frieza dele, é que ele foi o executor dos disparos'', afirmou.

O rapaz foi transferido na noite de ontem para São Paulo. Ele ficará à disposição dos delegados do Deic (Departamento de Investigações Sobre Crime Organizado) e do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), que conduzem as investigações do caso Celso Daniel.


Polícia mata 12 integrantes do PCC
Tiroteio na estrada de Sorocaba interceptou comboio que poderia libertar presos em penitenciárias da região
As gravações telefônicas obtidas pela polícia com autorização da Justiça davam a entender que o alvo da quadrilha era um avião que chegaria na manhã de ontem ao aeroporto de Sorocaba com R$ 28 milhões a bordo. O dinheiro serviria para financiar o ''Partido'' - termo usado para se referir ao Primeiro Comando da Capital (PCC), facção criminosa que age nas penitenciárias de São Paulo. De posse dessas informações, a Rota e a Polícia Rodoviária posicionaram 25 carros e mais de 50 homens no pedágio da Rodovia Senador José Ermírio de Moraes (SP-79).

O grupo teria feito os primeiros disparos quando percebeu que estava cercado. No meio da estrada, começou o tiroteio. De um lado, 15 criminosos equipados com fuzis M-16 (exclusivos das forças armadas americanas) e AR-15, pistolas automáticas e coletes à prova de bala. Do outro, a polícia apostava na superioridade numérica para compensar a evidente desvantagem no armamento.

Quando os disparos cessaram, a Rota saiu vencedora. Teve apenas um de seus homens ferido sem gravidade e matou 12 bandidos. Quatro morreram antes de chegar à Santa Casa e oito a caminho do Hospital Regional de Sorocaba. Os ocupantes da Paraty que liderava o comboio conseguiram furar o cerco e fugiram.

Crachá - O motorista do ônibus, José Ailton Honorato, estava com o crachá de uma empresa de turismo. Não se sabe se ele tem ligação com o crime ou se foi seqüestrado. Também foram identificados Pedro Inácio Francisco, Luciano Silva Barbosa, Laércio Antônio Luís e Wagner da Silva. Um dos mortos vestia um uniforme semelhante ao dos funcionários do pedágio. Os corpos foram encaminhados para o Instituto Médico Legal.

A tese da polícia sobre o objetivo do comboio começou a mudar quando a ação já tinha terminado. No início da tarde, a administração do Aeroporto de Sorocaba informou que não estava previsto para ontem o pouso de nenhum avião com malote de dinheiro. Desde o ano passado o transporte de valores não é realizado no local.
A partir daí os investigadores começaram a desconfiar que a expressão ''roubo de avião'' era um código. A verdadeira motivação pode ter sido o resgate de presos em penitenciárias da região.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, elogiou a atuação da Rota e disse ter vencido ''mais uma batalha na guerra contra o crime''. Empolgado com a interceptação, afirmou que a polícia vai continuar agindo da mesma forma: ''Se os integrantes da quadrilha tivessem largado as armas, não haveria nenhum ferido.''


Artigos

Um jantar nefasto
Guacira César de Oliveira

O congraçamento entre Lula e o deputado Bispo Wanderval (PL-SP), há dias, serviu para que fossem devorados alguns dos ingredientes mais refinados da democracia: o respeito à diversidade e à autonomia dos seres humanos. Afinal, de um ponto de vista progressista e radical, há que se preservar e ampliar os espaços da democracia e do exercício da cidadania em todas as esferas da vida social, até mesmo no campo da sexualidade.

No afã de alicerçar as bases de uma vitória eleitoral, o evangélico representante do Partido Liberal aproveitou a refeição para, na sobremesa, devorar também o direito das mulheres de decidirem sobre a interrupção de uma gravidez e o direito dos homossexuais de constituir parceria civil. Só esse fato já seria o bastante para que acendêssemos sinais de alerta. O silêncio de Lula, entretanto, agrava a situação. O oportunismo eleitoreiro pode ser o alcoviteiro de um encontro nefasto entre conservadorismos de esquerda e de direita.

Sem dúvida, se naquele jantar os liberais se fartaram, a refeição não alimentou o sonho de um futuro onde todos e todas possam ter futuro. Grande parte das mortes maternas no país é conseqüência direta de abortos inseguros e clandestinos. Não faltam estatísticas oficiais para demonstrar a amplitude dessa tragédia, que atinge em cheio as mulheres pobres; na maioria, negras. Entretanto, o que deve ser colocado em xeque, principalmente num ano eleitoral, são os valores e princípios com os quais se pretende construir agora as nossas possibilidades de um amanhã mais justo.

George W Bush - que está para o fundamentalismo do mercado assim como alguns mulás e bispos estão para os fundamentalismos muçulmano ou cristão (católico, evangélico ou protestante) - teve como um de seus grandes temas de campanha eleitoral, senão o principal, a proibição do aborto.

O grau de respeito aos direitos sexuais e reprodutivos é bom termômetro, em qualquer parte do mundo, para medir a saúde democrática de uma sociedade. O assassinato de mulheres muçulmanas no Irã, na Argélia, no Paquistão, ou no Afeganistão, por motivos absurdos, reais ou imaginários, não deixam dúvidas a esse respeito. No mesmo caldo de autoritarismo, em pleno século 21 - em diferentes regiões da África, Ásia e do Oriente - persiste a prática da mutilação genital feminina.

Os movimentos de mulheres estão organizando grande conferência nacional, em junho de 2002. A rejeição à (des)ordem econômica neoliberal, injusta e insustentável; a descriminalização do aborto e o direito a parceria civil entre pessoas do mesmo sexo são alguns dos princípios que norteiam esse encontro.
Enfim, fica o alerta: a visão e prática conservadoras e autoritárias da sexualidade humana sobre a qual os evangélicos do Partido Liberal querem erguer a aliança com o PT é convergente com o que há de mais retrógrado no cenário político internacional. A construção de um Brasil inclusivo, plural e dinâmico é incompatível com a exclusão e o preconceito.

Trata-se, caríssimo Lula, de também dizer não e denunciar o pequeno e indesejável fundamentalista que insiste em sobreviver dentro de cada um e cada uma de nós.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Desce, devagar, a cortina
O teatro que o PFL pretendeu montar a fim de se valorizar no jogo da sucessão, e que acabou se tornando sucesso de bilheteria, pode vir a se revelar o fracasso da temporada, com o público acompanhando a opinião dos críticos: a de que a fragilidade pessoal da atriz principal e os problemas de biografia do elenco de apoio, mais dia menos dia, fariam descer o pano, encerrando a apresentação.

É questionável que o desmonte da candidatura Roseana Sarney - iniciado não tanto pela investigação aos negócios de seu marido, Jorge Murad, e muito mais pela reação intempestiva e nada explicativa do primeiro momento - venha necessariamente a favorecer a candidatura de José Serra. Uma porque dizia-se que a subida da governadora nas pesquisas mostrava que havia espaço para um candidato governista. Portanto, se o eleitorado fizer a conexão por grupos de identificação política, o episódio será vantajoso para a oposição.

Num outro cenário, digamos que o infortúnio que se abate sobre o PFL desperte uma fúria incontrolável naqueles que agora são por Roseana e seu pai, José Sarney, acusados: os tucanos. Ora, de tudo farão - e não farão pouco - para que a vingança seja cruel, o que significa trabalhar ardorosamente contra a candidatura do PSDB. Que vantagem o Planalto levaria ao engendrar uma armadilha espalha-lama sobre um, na pior das hipóteses, aliado para o segundo turno configura-se um mistério insondável.

Portanto, a histeria conspiratória não faz sentido do ponto de vista político, bem como foge ao senso da lógica de uma mulher que pretende comandar uma nação dizer-se publicamente vítima de perseguição sexista. Se as mulheres aparecem tão bem como gênero mais confiável ao eleitor, convenhamos que não seria de todo inteligente recorrer justamente ao expediente da discriminação para combatê-la.

A menos que Roseana esteja aceitando o conselho dado ontem através dos jornais por Paulo Maluf - experiente nessas searas - e queira se fazer de vítima. Postura que também não soa adequada a quem postula o comando.

Muito melhor que tudo isso teria sido respeitar uma decisão da Justiça e defender-se das acusações, começando por não impedir que os papéis apreendidos na empresa do casal fossem enviados ao Ministério Público de Tocantins, que investiga as fraudes na Sudam. Ficou faltando explicar também, de forma convincente, o que faziam aquele milhão e meio de reais em espécie numa gaveta da empresa.

Alta autoridade monetária priva-se da convicção que neste caso há episódios de evasão fiscal e sonegação de impostos. Se não for uma suspeita leviana dessa autoridade - cujo traço marcante, aliás, é a austeridade -, de novo não é postura que se adapte a quem pretende o cargo de presidente e, por conseqüência, de chefe da Receita Federal.

Bem, mas vamos que o dinheiro estivesse lá por algum outro motivo que não alguma origem suspeita. Ainda assim, é estranho que alguém que pretenda gerir os recursos do país gerencie os seus próprios com tanta leniência, a ponto de dispensar os bônus das aplicações financeiras. Isso para dizer o mínimo.

Enfim, o que não falta são equívocos de condução e avaliação. Sem falar nas discrepâncias das análises. Enquanto o presidente da República diz que o PFL ''faz tempestade com copo dágua'', três ministros do partido se reúnem com ele e saem dizendo que um eventual rompimento do PFL com o governo provocaria uma crise, até econômica, sem precedentes. Bem, de duas, uma: ou o presidente subestima o aliado ou é este quem superestima-se no afã de garantir o pássaro que já tem às mãos.

De mais a mais, em matéria de crise, o Brasil já passou por momentos mais graves que o da demissão de três ministros em último ano de governo.

Esses exageros, incluindo o figurino de Joana DArc que Roseana escolheu para a cerimônia de defesa, não ajudam. E, se não ajudam ao governismo, também não contribuem com os oposicionistas que, ao pôr a mão no fogo nesta investigação policial, assumindo um lado no pressuposto de que assim atacam com eficiência o PSDB, correm o risco de sair, se não incinerados, pelo menos bastante chamuscados.
Entre outros motivos porque estarão, no mínimo, compactuando com a ressurreição do ''você sabe com quem está falando?''

Mal comparando
Quando, anos atrás, foi estourada a fortaleza de Castor de Andrade, o banqueiro do bicho reagiu de imediato: ''Que espécie de polícia é essa que não me avisou da devassa no meu escritório?''

Re forma capenga
Depois da decisão do TSE sobre coligações, os partidos acordaram para o tema da reforma política. A questão é que ainda parecem meio sonolentos, dado que não saem da periferia do problema. Falam em financiamento público de campanhas, em fidelidade partidária, em adoção de listas prévias, mas, de voto livre para cidadão, que é bom, ninguém diz uma palavra.


Editorial

MISSÃO LEGISLATIVA

O presidente da Câmara, Aécio Neves, garantiu ontem que em 30 dias todos os projetos ligados ao Código Penal e ao Código de Processo Penal serão aprovados. Não era sem tempo. O Poder Legislativo, se a promessa for cumprida, está prestes a tirar o atraso de meio século que ia tornando o Brasil país inviável.

A violência foi para as ruas e o Código Penal, de 1941, recolheu-se quase à inutilidade, carcomido pela velhice. O crime se organizou e as leis ficaram em descompasso com a realidade. O clamor público durante todo este tempo não foi ouvido pelas autoridades, enquanto a bandidagem, que não se preocupa com clamor nem com leis nem com coisa alguma, ocupou todos os espaços disponíveis.

Aécio Neves afirmou que em duas semanas começa na Câmara o mutirão para limpar a pauta relativa à segurança. Mas advertiu que, apesar de tudo, não existem propostas milagrosas. Às leis devem corresponder providências de ordem prática no aparelho policial para prender e enviar à Justiça, sem delongas, e com processos bem feitos, os marginais que perturbam a ordem.

Atualmente, com um bom advogado, os criminosos empurram a pena com a barriga. Já com as propostas em vias de aprovação, qualquer juiz sentenciará o acusado em 90 dias. Isto significa progresso notável em meio ao emaranhado de recursos que tornam as leis inócuas e estimulam a impunidade.

A questão da segurança pública é hoje prioridade nacional. É sem dúvida o tema político por excelência da campanha presidencial que se aproxima. Quem não tiver soluções concretas para deter a violência nas cidades não dialogará com os eleitores. A sociedade não agüenta mais a conversa fiada pré-eleitoral, que esmorece tão logo o pleito termina, enquanto as polícias continuam as mesmas, as balas perdidas voam nos ares, os seqüestros se avolumam, o tráfico de drogas explode e o crime organizado se expande nos Estados.

O caso dos seqüestros é emblemático. No novo Código Penal, até mesmo o seqüestro-relâmpago será tipificado. A situação das prisões, sempre abaladas por rebeliões que as estraçalham fisicamente, merecerá enfim olhar atento. Criminosos medianos não podem conviver promiscuamente nas penitenciária com líderes do crime organizado e criminosos irrecuperáveis, sob pena de institucionalizar as verdadeiras escolas do crime em que as prisões se transformaram.

A sociedade dá crédito de confiança ao Poder Legislativo neste momento em que ele aceita a missão de oferecer ao país leis compatíveis com a gravidade da situação. Se a tarefa chegar a bom termo, a bola voltará para o Executivo e o Judiciário, confrontados enfim com seu dever de empreender a tarefa de combater o crime organizado nas cidades.

A insegurança pública é hoje caso político.


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03/06/2002


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