Ciro diz que não aceitaria apoio de Garotinho se ex-governador d









Ciro diz que não aceitaria apoio de Garotinho se ex-governador desistir
Ex-ministro diz que é normal e legítimo Fernando Henrique participar da campanha de Serra

O candidato da Frente Trabalhista (PPS-PTB-PDT), Ciro Gomes, afirmou ontem que não aceitaria o apoio do candidato do PSB, Anthony Garotinho, caso este desista de disputar a Presidência da República. O apoio de Garotinho poderia abrir uma crise com o presidente nacional do PDT, Leonel Brizola, desafeto do ex-governador do Rio e um dos principais aliados de Ciro.

Em campanha ontem no Rio, Ciro defendeu Brizola e disse que nem cogita a possibilidade de receber o apoio de Garotinho, já que o ex-governador continua candidato. Perguntado se aceitaria o apoio no caso de Garotinho desistir, afirmou:

— Não (aceitaria). O governador Leonel Brizola não é inimigo de ninguém. Ele é amigo de quem é leal a ele, como todos nós. Brizola tem razões de sobra aí para ter questões políticas apartando. Afinal de contas, o Brasil inteiro sabe que ele, o governador Brizola, deu oportunidade ao candidato (Garotinho).

Depois de responder ao lado de Brizola, Ciro disse que não quer nem comentar a hipótese de receber o apoio de Garotinho:

— Ele é candidato, se mantém candidato e seria aético se fosse tripudiar sobre aquilo por que já passamos.

Candidato volta a dizer que não assina acordo com FMI
Ciro disse ainda ser legítima a participação do presidente Fernando Henrique na campanha do tucano José Serra:

— O presidente, desde que guarde, como sei que guardará, a majestade do cargo, e que saiba estabelecer a fronteira entre o que é o seu justo e legítimo apoio ao seu candidato e o que é a manipulação do poder político, do Orçamento e do cargo, nada mais legítimo e normal.

Ciro defendeu o ex-governador Tasso Jereissati (PSDB), que vem sendo criticado pelo comando da campanha de Serra por sua proximidade com o candidato da Frente Trabalhista:

— Essas críticas não são justas. Trabalhamos juntos há 20 anos. Temos muitos momentos de sofrimento passados juntos e a nossa relação é de amizade, de lealdade e de compromisso com o Ceará. Mas ele (Tasso) nunca deixou de afirmar o seu compromisso com o partido.

Ao falar sobre o aumento do preço dos combustíveis, Ciro evitou criticar o governo e disse que pouco importa se as medidas contra o aumento têm cunho eleitoral. Ele voltou a dizer que não assinará acordo com o FMI para não se comprometer com políticas que considera equivocadas.


FH pediu a Malan declaração de voto em Serra
Ontem, em entrevista ao “Bom dia Brasil”, da TV Globo, ministro citou com todas as letras o nome de Serra como seu candidato a presidente da República

BRASÍLIA. Não faltaram trocas de telefonemas entre o Palácio do Planalto e o Ministério da Fazenda para que a operação montada na semana passada para aproximar o candidato tucano José Serra e o ministro da Fazenda, Pedro Malan, fosse perfeita. Pouco antes do almoço que reuniria Malan e Serra, o presidente Fernando Henrique, que estava no Equador numa reunião de presidentes da América do Sul, telefonou para Malan.

A expectativa era de que Malan anunciasse seu apoio à candidatura de Serra, pondo um ponto final aos setes anos e meio de divergências entre os dois e reforçando a vinculação do candidato com a equipe que cuida do Real.

Malan sobre Serra: “O mais experiente e preparado”
Diante da demora do ministro, um assessor chegou a lhe mandar um bilhete em que pedia que dissesse o nome de Serra, como estava combinado. O pedido foi em vão.

— Apóio o candidato do presidente Fernando Henrique Cardoso — anunciou o ministro, depois de mais de quatro minutos resistindo a responder a uma jornalista que queria saber em quem ele votaria para presidente.

Em entrevista ontem ao “Bom dia Brasil”, da TV Globo, Malan justificou a atitude de não declarar o nome de Serra na sexta-feira dizendo que, por estar num prédio público, temia ser acusado de estar usando a máquina federal em favor do tucano.

Ontem, na entrevista na TV Globo, Malan disse que, como cidadão, não tem dúvidas de que, entre os candidatos à Presidência, o ex-ministro José Serra é o mais preparado.

— Aquele que parece a mim o mais experiente, o mais preparado para a Presidência é o ex-ministro e senador José Serra, principalmente num momento como este, de contexto internacional extremamente turbulento, com as suas implicações domésticas — disse.

No telefonema para Malan, antes do encontro com Serra, Fernando Henrique quis saber como o mercado financeiro se comportava e perguntou se estava tudo certo para o almoço com o candidato tucano. Segundo assessores, Fernando Henrique foi quem mais estimulou o encontro por considerar que tem ainda dois trunfos para alavancar a candidatura de Serra: a estabilidade do real e os programas sociais de seu governo.

Ficou acertado que Serra elogiaria a conduta do ministro da Fazenda, a despeito das divergências explicitadas desde o primeiro mandato de Fernando Henrique. Já Malan convocaria uma entrevista coletiva para retribuir os elogios do candidato tucano. Serra fez a sua parte. Malan também elogiou Serra na coletiva, embora não tenha citado seu nome.


Serra gravará programa de estréia no Alemão
Candidatos começam a preparar seus programas eleitorais para a TV; o tucano terá 1.125 inserções de 30 segundos contra 625 de Lula, 465 de Ciro e 245 de Garotinho

SÃO PAULO, CAMPINAS, BRASÍLIA E RIO. O primeiro programa do horário eleitoral na TV do candidato tucano à Presidência da República, José Serra, mostrará o Complexo do Alemão, no Rio. Serra disse ontem que escolheu o local, onde o jornalista da TV Globo Tim Lopes foi assassinado, para expor seu programa de segurança. O horário eleitoral começa no dia 20.

— Lá tem que entrar bombeiros, polícia, ambulância. Lá é que foi assassinado o Tim Maia. Perdão, o Tim Lopes — disse Serra, em Campinas, corrigindo a gafe.

As gravações do programa de Serra na favela devem começar em duas semanas. Com a aliança com o PMDB, Serra conseguiu assegurar o maior tempo de exposição no horário eleitoral gratuito. Serão 1.125 inserções de 30 segundos em cada uma das cinco maiores emissoras do país contra 625 de Luiz Inácio Lula da Silva, 465 de Ciro Gomes e 245 de Anthony Garotinho.

Lula começou a gravar seus programas ontem
Os primeiros programas do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, que começaram a ser gravados ontem, devem abordar emprego e violência. Mas a farta cobertura sobre o cotidiano dos candidatos que tomou conta dos noticiários da TV, além dos debates, levou o comando da campanha de Lula a rever as estratégias. Na avaliação do PT, os programas do horário eleitoral perderam a importância.

Por isso, desde o dia 6 passado, os estrategistas do PT têm travado batalhas diárias para tentar equilibrar as atividades de rua e o tempo reservado para gravações. De um lado, candidatos a governador e senador cobram a presença de Lula em seus estados. De outro, a equipe de marketing e mídia tenta reservar espaço na agenda do candidato para as entrevistas e as filmagens.

A agenda do candidato para agosto, decidida ontem, dá uma idéia da divisão: Lula passará a metade do mês gravando ou se preparando para debates e a outra metade viajando e participando de atividades de rua.

Ontem, Lula fez as primeiras gravações, num estúdio na Vila Mariana. A previsão, até anteontem, era de que Lula regravaria uma cena usada no programa do PT que foi ao ar no fim do ano passado, em que aparecia caminhando entre os notáveis que participaram da elaboração de seu programa de governo.

Programa de Ciro mo strará o feijão-com-arroz
O candidato do PPS, Ciro Gomes, deverá começar a gravar seus programas para o horário eleitoral na próxima semana em São Paulo. A idéia do publicitário da campanha de Ciro, Einhart Jacome da Paz, é mostrar o programa de governo do candidato e uma pequena biografia. O “feijão-com- arroz”, como tem dito Einhart. Ele descartou a possibilidade de usar a atriz Patrícia Pillar como âncora.

— Patrícia Pillar vai participar quando for necessário e quando ela quiser — disse.

Einhart afirmou ainda que não vai abusar das imagens externas:

— O que importa é a imagem, e não a moldura.

Garotinho muda de assunto para escapar de perguntas
O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, pretende abordar os problemas sociais do país, com críticas ao modelo econômico do presidente Fernando Henrique. Garotinho, que ontem gravou com candidatos ao governo e ao Senado de Minas Gerais e Mato Grosso, invariavelmente falava sobre seu programa de TV quando perguntado sobre os problemas que vem enfrentando em sua campanha, tais como a desistência da candidata do PSB ao governo da Bahia, Lídice da Mata. Até mesmo quando um repórter perguntou por que ele não respondia às perguntas, ele voltou a falar nos programas.

No horário eleitoral, aparecerão imagens do candidato com a família — a mulher, Rosinha Matheus, candidata ao governo do Estado do Rio pelo PSB, e os nove filhos — e seqüências gravadas nos restaurantes populares construídos na gestão de Garotinho no governo do Estado do Rio.

— Vai ser um programa de conteúdo, sem estética ou beleza — afirmou o ex-governador.


Empresários apóiam Lula e criticam governo
Petista é apontado como o único capaz de promover geração de empregos, redução das desigualdades e fortalecimento do mercado interno e dar apoio às empresas nacionais

SÃO PAULO. Cerca de cem empresários lançaram ontem um manifesto de apoio ao candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, apontado por eles como o único capaz de retomar o desenvolvimento.

O documento é recheado de críticas ao atual modelo econômico, classificado de submisso. Os empresários descreveram o manifesto como um “desabafo de um grupo cansado de ouvir declarações que visam apenas a tumultuar o processo sucessório e impedir que o melhor candidato vença”.

Lula foi representado pelo deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) porque, segundo sua assessoria, estava gravando programas eleitorais.

Grupo já fez manifestos em outras campanhas
A manifestação pró-Lula foi organizada, entre outros, por um dos coordenadores da Associação Brasileira de Empresários pela Cidadania (Cives), José Carlos de Almeida. Assinaram Antoninho Marmo Trevisan (Trevisan Faculdades), Lawrence Pih (presidente do Moinho Pacífico), José Pessoa de Queiroz Bisneto (Grupo José Pessoa, um dos maiores produtores de açúcar e de álcool), Hélio Cerqueira (proprietário da rede Estapar), Paulo Feldman (vice-presidente da Ernst & Young) e Michael Haradom (dono da Fersol, indústria de defensivos agrícolas), entre outros. É o mesmo grupo que já lançou manifestos pró-Lula em outras campanhas.

No texto, eles reclamaram do baixo crescimento do país, dos juros altos, da submissão aos interesses internacionais e da abertura do mercado nacional “de forma predatória”.

O grupo reconheceu o que chamou de “relativo sucesso do controle da inflação”, mas disse que o atual modelo econômico apresenta “índices de crescimento insuficientes, não atende às necessidades sociais e pratica uma política de juros altos que inviabiliza os investimentos produtivos”.

Segundo os empresários, a concorrência desleal leva ao fechamento de empresas, diminui os postos de trabalho e aumenta o desemprego em todos os setores da economia. Eles se dispõem a participar do amplo pacto social proposto por Lula e afirmam que o petista “é a única opção capaz de implementar um programa de governo voltado para o crescimento econômico com geração de empregos, redução das desigualdades, fortalecimento do mercado interno e de apoio às empresas nacionais”. O manifesto critica a desigualdade e afirma que 52 milhões de brasileiros vivem abaixo da linha de pobreza.

Segundo o presidente do Instituto Ethos de Responsabilidade Social, Oded Grajew, trata-se de um apoio, e não de uma iniciativa visando à arrecadação de recursos:

— O grupo tem participação zero de arrecadação financeira. A idéia é dar um apoio público. Isso é muito comum na Europa, nos Estados Unidos. O empresariado tem que sair da surdina, ter coragem de assumir publicamente quem apóia — disse.


Santo André: juiz determina quebra de sigilo
SÃO PAULO. O juiz da 1 Vara Criminal de Santo André, Iasin Issa Ahmed, aceitou ontem a denúncia do Ministério Público do Estado contra os seis acusados de formação de quadrilha e concussão (extorsão cometida por empregado público no exercício de suas funções) no processo que investiga um suposto esquema de propina envolvendo empresas de ônibus e a prefeitura petista.

Entre os réus estão Sérgio Gomes da Silva, conhecido como Sérgio Sombra, amigo e ex-segurança do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, e o vereador e ex-secretário de Serviços Municipais Klinger Luiz de Oliveira Souza (PT). Também são acusados no mesmo processo Ronan Maria Pinto, Humberto Tarcísio de Castro, Irineu Nicolino Martim Bianco e Luiz Marcondes de Freitas Júnior.

Depoimento do irmão do prefeito aqueceu processo
O processo ganhou força com o depoimento do médico João Francisco Daniel, irmão do prefeito assassinado, que denunciou a existência de um caixa dois na prefeitura petista formado com o dinheiro que seria extorquido dos empresários de ônibus. Segundo ele, o dinheiro era destinado a campanhas eleitorais do PT.

Os réus haviam recorrido à Justiça para protestar contra o trabalho do Ministério Público, considerado por eles ilegal. O juiz desclassificou a reclamação. Além de aceitar a denúncia, Ahmed determinou a quebra do sigilo bancário e fiscal de todos os acusados entre 1997 e 2001. O juiz também pediu um levantamento detalhado de imóveis existentes em nome deles.

Dentro de 20 dias, prazo estimado para o recebimento das intimações, para que chegue à Justiça a resposta dos ofícios enviados à Receita Federal e ao Banco Central solicitando a quebra de sigilo dos acusados, o juiz deverá marcar as datas para a fase dos interrogatórios.

Os promotores comemoraram a decisão do juiz.

— Apesar de toda a celeuma que se criou sobre o trabalho do Ministério Público, o juiz entendeu que as provas apresentadas são suficientes para dar início à ação penal — disse José Reinaldo Guimarães Carneiro, um dos promotores que investigam denúncias de corrupção em Santo André desde 2000.

CPI pretende explorar contradições dos depoentes
A Comissão Parlamentar de Inquérito aberta na Câmara de Santo André, que também apura as denúncias de extorsão e corrupção, decide hoje quais serão os próximos passos da investigação. Os vereadores da comissão se reunirão às 10h.

O objetivo, segundo o vereador Antônio Leite, presidente da CPI, é cruzar dados e levantar possíveis contradições entre os depoimentos dos acusados e os empresários que denunciaram o esquema de arrecadação de propina.

— Existe a possibilidade de marcarmos acareações entre os depoentes para esclarecer dúvidas que surgiram durante as investigações — disse o presidente da CPI.

A CPI tem até o dia 20 para concluir os trabalhos. Segundo Leite, os vereadores deverão encerrar as investigações no prazo estipulado, sem necessidade de adiamento.


Dólar bate sexto recorde seguido e fecha a 3,18
RIO e SÃO PAULO. A tensão no mercado brasileiro atingiu seu ponto máximo ontem. As declarações do secretário do Tesouro americano, Paul O’Neill, sobre uma nova ajuda financeira ao Brasil e a frustração dos investidores com a demora na assinatura do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) fizeram o dólar alcançar sua mais alta variação em um só dia desde a desvalorização, em 1999. A moeda americana, que atingira R$ 3 na última sexta-feira, chegou a subir 8,72% — na máxima do dia, bateu R$ 3,278. Fechou a R$ 3,180 (venda), com valorização de 5,47%, no sexto recorde consecutivo de cotação no Plano Real.

Os demais indicadores acompanharam o nervosismo do câmbio. O risco-país, principal indicador da confiança do investidor na capacidade de o país honrar seus compromissos, disparou 8,69% e terminou o dia em 2.164 pontos. O C-Bond, o mais negociado título da dívida externa brasileira, caiu 6,09%. No fechamento, era negociado a 52,42% de seu valor de face.

Os juros no mercado futuro também dispararam. Os contratos mais negociados, com vencimento em janeiro do próximo ano, projetavam taxa de 25,43% ao ano, contra 23,11% na sexta-feira passada. A alta chegou a 10% num único dia.

Bovespa chegou a subir 5%, mas cedeu durante a tarde
A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), durante boa parte do dia, pareceu ignorar a derrocada dos demais mercados e operou em alta. Impulsionada por um intenso movimento de compra de ações de telefônicas e exportadoras, a Bovespa subiu quase 5%. Mas o bom desempenho foi quase integralmente devolvido à tarde e a bolsa paulista acabou o dia em alta de 0,25%.

A notícia de que uma missão brasileira embarca hoje para Washington para apressar o acordo com FMI só foi divulgada após o fechamento do mercado. Portanto, não afetou as operações. Tampouco a venda da ração diária de US$ 50 milhões pelo Banco Central foi suficiente para conter a escalada da moeda.

Alguns analistas atribuem a forte oscilação ao baixo volume de negócios no câmbio. Com o mercado travado, qualquer movimento de compra ou venda resulta em distorções nos preços. Há ainda dúvidas sobre como o BC pretende intervir no câmbio em agosto, uma vez que a atual cota diária vale somente até o fim deste mês.
Só em julho, o BC gastou cerca de US$ 1,2 bilhão, entre intervenções no mercado à vista e oferta de linhas externas.

— Muita gente está correndo para o dólar. Mas também há investidores aproveitando a tensão para especular, testando até onde o BC vai deixar o câmbio chegar antes de intervir — diz Eduardo Athayde Duarte, diretor de Tesouraria do Banco Prosper.

Em agosto, vence US$ 1,8 bi em bônus privados
A escassez de dólar no mercado brasileiro está relacionada, primeiramente, à aversão dos investidores externos a riscos, em reação aos escândalos financeiros nos EUA. Também pesa a desconfiança dos agentes em relação ao projeto econômico do próximo governo. Segundo operadores, diariamente estariam sendo remetidos ao exterior de US$ 60 milhões a US$ 100 milhões pela chamada conta CC-5, de não-residentes.

Além disso, agosto é um mês de alto volume de vencimento de dívida das empresas privadas no mercado externo. Como não há oferta de crédito para o país, companhias e bancos estão sendo obrigadas a comprar dólares no mercado à vista para quitar seus débitos, em vez de renovarem as operações. O economista Alexandre Maia Correia Lima, da GAP Asset Management, estima que os vencimentos no próximo mês ultrapassam US$ 1,8 bilhão.

— As pessoas estão tirando dinheiro do país e isso está gerando falta de liquidez no mercado. Acontece que as empresas que precisam comprar dólares para quitar dívidas acabam aceitando pagar um preço alto pela moeda americana, o que gera uma pressão ainda maior sobre o câmbio — diz Marcelo Afonso, gerente de renda variável do BNL Asset.

Segundo o economista Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do BC, o cenário adverso é reforçado pelo excesso de reais em poder dos bancos pela entrada em vigor do Sistema Brasileiro de Pagamento (SBP). O novo sistema liberou, pelo menos, R$ 23 bilhões para outras operações.


Artigos

Criminalidade precoce
M. Pio Corrêa

São do domínio público os problemas existentes, e recorrentes, em nossos centros de reeducação de menores delinqüentes: rebeliões, depredações, evasões em massa — e alta percentagem de reincidência no crime por parte de “educandos” evadidos ou libertados. Problemas tanto mais graves quanto a criminalidade em nosso país tende a ser precoce: a televisão mostrou recentemente um garoto de 12 anos declarando calmamente, perante as câmeras, haver assassinado quatro homens — “por ordem do chefe”, pois era um “soldado” das milícias do crime. O interessante menino declarou, pela mesma ocasião, aquilo que já é sabido: o crime organizado recruta “soldados” na faixa etária dos 12 aos 14 anos, pela excelente razão de que os crimes cometidos por eles a mando dos chefes do narcotráfico escapam às penas da lei, em virtude de um dispositivo legal, e mesmo constitucional, que fixa imbecilmente em dezoito anos o patamar mínimo para a imputabilidade criminal — quando aos dezesseis anos o jovem já pode votar em eleições presidenciais, dirigir veículos automóveis mas não pode ser julgado criminalmente por estupro, seqüestro ou latrocínio.

A Grã-Bretanha, que é a própria pátria do bom-senso, fixa a idade de dez anos como patamar para a responsabilidade criminal. Ali foram recentemente condenados à prisão perpétua três garotos entre 10 e 12 anos de idade, por haverem seqüestrado e depois assassinado uma criança de 3 anos. Não têm lá como intervir no processo chorosas ONGs defensoras dos direitos dos jovens homicidas, Pastorais do Pivete, ou outras frioleiras.

Sendo raros os casos de crimes ou delitos cometidos antes dos 10 anos de idade, o problema para as autoridades britânicas não é o da reeducação de delinqüentes juvenis, mas de detenção de jovens criminosos para cumprimento de penas.

As mesmas autoridades, porém, têm o cuidado de separar os detentos jovens dos de idade madura, que de outra forma lhes poderiam ministrar, no cárcere, cursos de pós-graduação no crime.

O Serviço das Prisões de Sua Majestade dispõe, portanto, de trinta e três centros de detenção de jovens, para condenados entre 12 e 17 anos de idade, ditos “centros educacionais fechados”, ou Secure Children’s Homes.

Não descuidando do aspecto educacional desses “presídios precoces”, em cada um deles os detentos assistem a cinco horas de aulas diárias, sem prejuízo da segurança contra evasões ou invasões. A entrada de cada uma dessas casas faz-se por duas portas, das quais, como nos bancos, uma pode abrir-se se a outra estiver fechada e trancada. Esse saguão de entrada é, como todas as demais dependências, vigiado por câmeras de televisão de circuito fechado. Os visitantes recebem crachás de identidade. Outro portão de alta segurança dá acesso ao interior do presídio, salas de aula, salas de jogos e de televisão, piscina, área de esportes — e células individuais para algumas centenas de presos. Tudo, evidentemente, monitorado desde um centro de controle.

O muro circundando uma dessas unidades é de seis metros de altura, guarnecido de arame farpado, e também vigiado eletronicamente.

As células não possuem janelas abrindo para o exterior. Todas as vidraças são substituídas por placas de plexiglass de grande resistência.

A missão desses Centros é inculcar nos jovens a noção de responsabilidade individual e social. A boa conduta é reconhecida e encorajada por um sistema de recompensas: por exemplo, participação em atividades comunitárias recreativas ou esportivas, instalação na célula de um aparelho de rádio, mais tarde, em caso d e progresso, um aparelho de televisão, a princípio apenas durante os fins de semana, eventualmente em forma permanente para os melhores elementos. O objetivo final é a reinserção dos jovens na sociedade.

Uma vez liberados, eles continuarão a receber apoio e orientação, apoio social, psicológico e de amizade por parte de orientadores altamente qualificados. Regenerados, conscientes de haverem pago plenamente a sua dívida social, tratados com confiança e bondade, é raro entre eles a reincidência no crime.

Os 33 centros britânicos de detenção para menores abrigam cerca de 3.500 jovens, muitos deles autores de crimes violentos, mas cuja recuperação é considerada possível em um clima de estudos adequados sob um regime cuja severidade, excluindo uma perniciosa promiscuidade, não exclui uma gradativa suavização e a obtenção da confiança mútua entre educadores e educandos.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

FH na campanha
Ainda que o mercado assim acredite ou lhe convenha acreditar, a eleição não está ganha nem perdida por ninguém. Com essa avaliação, o presidente Fernando Henrique, o candidato José Serra e seus estrategistas traçaram domingo a rota da travessia até o dia 20, quando começa o horário eleitoral. Até lá, a insegurança econômica, que ontem foi ao píncaro, será o mote de Serra.

Quatro linhas de ação foram estabelecidas na reunião de domingo no Alvorada, que teve a participação do presidente do PSDB, José Aníbal, e dos deputados e ex-ministros Pimenta da Veiga (PSDB-MG) e Francisco Dornelles (PPB-RJ), e marcam o início efetivo do engajamento do presidente na campanha de Serra.

Partindo do princípio de que a chance de virada será trazida pelo início do horário eleitoral, em que Serra terá o dobro do tempo de Lula e quase o triplo do de Ciro, entendeu-se que o importante é resistir até lá, com uma campanha mais ativa e agressiva.

A primeira tática, naturalmente, é transformar o presidente no grande eleitor de Serra e fazê-lo mais presente na campanha, por meio da mídia e do horário eleitoral. A palanques, não foi nem em 1998, muito menos irá agora.

Uma outra tática o próprio Fernando Henrique começou a executar domingo, ao dizer que as pessoas querem um presidente capaz de levar o país adiante. Nessa linha, Serra retomará o apelo à insegurança econômica que deixou de lado depois que a situação se agravou e ele foi acusado, juntamente com o presidente, de ter dado “um tiro no pé” ao apontar para o risco de argentinização. Agora o presidente vai tentar evitar o sotaque terrorista, mas apresentará Serra como o único que dispõe de experiência e credibilidade internacional para recuperar a confiança dos investidores. Se esse discurso é fértil, não se sabe, pois Ciro tem anunciado o pior e só tem subido.

Enquanto o dia 20 não vem, Serra, o presidente e os aliados devem intensificar também a crítica ao suposto irrealismo das propostas dos adversários, “os milagreiros”, como os batizou Fernando Henrique, prometendo, no Equador, que os apontaria na volta. Ainda não fez isso.

Por fim, levar ao ar uma campanha impecável, valendo-se do maior tempo de Serra e do talento do publicitário Nizan Guanaes.

Há outros problemas, como a dissidência já escancarada de Tasso Jereissati e o corpo mole de alguns aliados nos estados.

— Esses aspectos aparecem agora porque Serra está em terceiro lugar. Se ainda estivesse em segundo, não chamariam a atenção — diz Pimenta.

Já não é Pimenta quem o diz, mas o que mais irrita o PSDB, no comportamento de Tasso, é o fato de ele estar explicitando mágoas e preferências agora, no pior momento de Serra. E no auge da ascensão de Ciro.Quanto mesmo o Brasil perdeu ontem com as declarações do secretário americano, Paul O’Neill? Ainda que venha o pedido de desculpas, o estrago empurrou a vaca para o brejo.Salvando o emprego

Oficialmente o recesso acaba amanhã e o Congresso deveria retomar seus trabalhos quinta-feira. O dia não recomenda esperar que nada ocorra. Aécio Neves, presidente da Câmara, realistamente marcou dois esforços concentrados para agosto, nos dias 6 e 7 e 27 e 28. Com duas pausas na campanha, espera que os deputados aprovem o projeto que põe fim à cumulatividade de impostos, a microrreforma tributária e alguns projetos do pacote de segurança. A pauta da Câmara já estará, porém, trancada por duas medidas provisórias que venceram no recesso, impedindo qualquer outra deliberação até que sejam votadas. Apesar disso, Aécio espera quórum. A assiduidade tem sido um dos critérios mais considerados pelo eleitor no julgamento de seus representantes. Nesta eleição, 83% dos deputados estão disputando novo mandato, mas um quarto deles correria sério risco de não se reeleger. Dos 513 deputados, 21 desistiram do mandato e 67 disputam outros cargos. Mesmo assim, por conta do custo das campanhas, espera-se uma renovação inferior à de 1998, quando, dos 75% que disputaram a reeleição, um terço foi derrotado.Fogo dos dois lados

O PT ainda diz que Ciro Gomes é problema de José Serra, mas começou a dar seus tiros. O site do partido apregoava ontem que os três principais projetos de Ciro como governador do Ceará fracassaram: o Canal do Trabalhador, destinado a levar água do açude de Orós a Fortaleza (de tanto vazamento foi abandonado); o polo têxtil de Baturité, diz o deputado José Pimentel, atraiu uma empresa coreana que fugiu dando calote no estado e nos trabalhadores. E a montadora Gurgel, que abriria uma fábrica no Ceará, faliu.JOSÉ ALENCAR, vice de Lula, espera que os cem empresários que ontem lançaram o manifesto de apoio ao candidato petista sejam 500 dentro de algumas semanas.


Editorial

REJEIÇÃO INÓCUA

Países em desenvolvimento têm, por definição, economias deficientes de capital, caso contrário não estariam enquadrados nessa categoria. A deficiência de poupança interna leva o país em desenvolvimento a precisar de maiores volumes de poupança externa, e isso se traduz em desequilíbrios no balanço de pagamentos. O fluxo positivo de capitais externos para a economia em desenvolvimento é uma aposta no futuro; tanto o credor como o investidor acreditam que os investimentos em curso serão capazes de proporcionar retorno maior ou compatível com opções disponíveis em negócios de outras regiões do planeta.

Se o país em desenvolvimento é surpreendido por condições adversas no mercado financeiro internacional antes que os investimentos já estejam proporcionando o retorno esperado para equilibrar o balanço de pagamentos, a alternativa é o auxílio do Fundo Monetário Internacional. O FMI foi criado e ainda existe exatamente para socorrer países membros da instituição que enfrentem crises temporárias no balanço de pagamentos.

Esse é o caso do Brasil, no momento. Acordos com o Fundo podem ser negociados com rapidez porque o país já vem pondo em prática programas de ajuste que seriam os recomendáveis para esse tipo de situação.

Assim, o FMI não terá dificuldades em renovar o atual acordo se o próximo governo também se comprometer com certas questões fundamentais da política econômica, entre as quais a continuidade de superávits primários nas contas públicas, o esforço para o cumprimento de metas de inflação e o câmbio flutuante.

Dificilmente o sucessor do presidente Fernando Henrique Cardoso poderá executar um programa econômico que se afaste desses pontos básicos, pois correria o risco de agravar a crise, em vez de solucioná-la. Dessa forma, a manutenção de acordos com o FMI não implica qualquer custo adicional para o país — a não ser, para alguns, o desgaste político de se reconhecer que o Fundo exerce função necessária. Rejeições antecipadas ao FMI por parte de ca ndidatos equivalem a uma pessoa que se recusa a ir ao médico mesmo estando doente.


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07/30/2002


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