DECISÃO SOBRE ECONÔMICO CRIA POLÊMICA NO SENADO



Os senadores Jader Barbalho (PA), líder do PMDB, e Pedro Simon (PMDB-RS) cobraram hoje (dia 16) do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) explicações a respeito deum dossiê que ele teria garantido possuir sobre a diretoria do Banco Central."Comomanter aconfiança no sistema financeiro nacional se a diretoria do Banco Central está sob suspeita?", perguntou o líder do PMDB.

Pedro Simon e Roberto Freire (PPS-PE) também criticaram duramente o presidente Fernando Henrique Cardoso pela decisão encontrada para salvar o Banco Econômico."Fatos como esse desmoralizam a política no Brasil, esgarçam a sociedade que deixa de acreditar no padrão ético de seus representantes nos poderes, corróem as entranhas do Estado, tornando-o fraco, inoperante e submisso aos interesses dos grupos privados dominantes", disse Freire.

O líder do governo, senador Élcio Álvares (PFL-ES), leu uma nota do presidente Fernando Henrique Cardoso em queexplica a saída encontrada para o salvamento do banco.Segundo o líder, o presidente assume o compromisso de não injetar sequer um real dos cofres federais no Banco Econômico, deixando toda a responsabilidade sobre o assunto com o governo da Bahia.

Élcio Álvares afirmou que a nota presidencial é clara, não deixando qualquer dúvida sobre a lisura e a correção da decisão do presidente."Era a única saída possível para evitar uma reação em cadeia que abalaria todo o sistema financeiro nacional", disse o líder do governo. Falaram ainda, em defesa do presidente e do senador Antonio Carlos Magalhães os senadores Hugo Napoleão (PFL-PI) e Waldeck Ornellas (PFL-BA).

ACERTO

O senador Antonio Carlos Magalhães disse que o presidente acertou, que ele nunca deu ultimatum algum("até porque o presidente da República, com a sua experiência e vivência, não é homem de receber ultimato") e que nada mais fez do que defender os interesses do povo baiano.O líder do PMDB, Jáder Barbalho, acusou alguns de seus companheiros de "colocar panos quentes" no senador Antonio Carlos Magalhães e não transmitir exatamente o que disse o presidente da República:Fernando Henrique exige que o dossiê sobre a diretoria do Banco Central seja divulgado.

O senador Roberto Freire, único a ler um discurso escrito, disse que o episódio "desmascara os falsos liberais, os liberais de fachada de estatizantes de conteúdo", ao salvar um banco privado que faliu por irresponsabilidade e incompetência administrativa."A privatização, neste contexto, soa como uma espécie de assalto ao Estado", considerou Freire.O senador Pedro Simon frisou que, a partir de agora, quando quiser dialogar com o governo, já sabe a quem procurar:o senador Antonio Carlos Magalhães, e não o presidente Fernando Henrique Cardoso.

CONTRADIÇÃO

Prosseguindo o debate, o senador Eduardo Suplicy (SP), líder do PT, qualificou como "fenômeno extraordinário de contradição do PFL" o desfecho para o problema doBanco Econômico. As idéias privatizantes dos neoliberais, segundo Suplicy, entraram em choque com a estatização do banco baiano.

No entender do senador paulista,o Banco Central dificilmente conseguirá sustentar a posição tomada pelo governo de não colocar mais um centavo sequer na instituição. Suplicy assegurouque, durante o processo de salvação do Econômico, o BC "colocou dinheiro e teráde despender mais recursos para que a operação dê certo".

SOLUÇÃO PRÁTICA

Por sua vez, o senador Waldeck Ornelas (PFL-BA) defendeu a decisão do governo de desapropriar o controle acionário do Banco Econômico, salientando que "era urgente uma solução prática" para a insolvência iminente do banco, desde que esta não fosse o seu fechamento. "O número de empresas que iriamfalir na Bahia é indescritível" ressaltou, lembrando os 160 anos de fundação da casa como exemplo de sua importância para o Nordeste.

Ao criticar a atitude de Fernando Henrique, o senador Pedro Simon lembrou não haver precedente na história do Brasil demudança de opinião tão drástica de um presidente.

- FHC está certo ontem e hoje está errado. Ou será o contrário? O governo tenta reformar o estado e o que acontece? Não entendo mais nada - disse Simon, culpando a assessoria do presidente por irresponsabilidade na condução do processo.

Para o senador José Eduardo Dutra (PT-SE), o governo continua a fazer uso da máxima "privatizar o lucro e socializar o prejuízo". Ele também assegurou que o Tesouro injetou dinheiro para salvar o BancoEconômico. "Foram cerca de R$ 3 bilhões até agora", acrescentou.

Em relação à estatização do banco pelo estado da Bahia, previu que,na prática, a medida "vai dar prejuízo e os responsáveis terão de ser punidos". Dutra sugeriu ainda que seja constituída uma CPI sobre o sistema financeiro do país.

Os senadores José Ignácio Ferreira (PSDB-ES), Marina Silva (PT-AC), Sebastião Rocha (PDT-AP) e Bernardo Cabral (PP-AM) também comentaram a questão do Banco Econômico.José Ignácio defendeu o presidente da República, afirmando que não houve fraqueza por parte de Fernando Henrique, mas, sim, uma decisão técnica, aprovada pelo ministro Pedro Malan.

Já a senadoraMarina Silva, ironizando o desfecho do caso Econômico, afirmou que,no rancking da quebra-de-braço dos 27 estados brasileiros, a Bahia é o nº 1.

Sebastião Rocha afirmou que "não é só São Paulo, mas também a Bahiacomanda o país. Isso é o reflexo da democracia, e o senadorAntonio Carlos Magalhãesquebrou a tese de que o Brasil era comandado só por São Paulo."

Por sua vez,o senador BernardoCabral criticou a centralização dos debates, na tarde de hoje, em torno do caso Econômico. "A bancada do Amazonas - e a do Norte, acredito -vai tratar somente do que vier daregião". Último orador da sessão,Cabral foi apoiado, em apartes, pelos senadores Lauro Campos (PT-DF), Pedro Simon (PMDB-RS), Lúcio Alcântara (PSDB-CE), Ney Suassuna (PMDB-PB) e José Fogaça (PMDB-RS).

16/08/1995

Agência Senado


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