Dissidentes do PMDB articulam frente anti-PT



Dissidentes do PMDB articulam frente anti-PT Grupo do ex-governador Antônio Britto conversa com Leonel Brizola e avalia conveniência de trocar de legenda Um passo decisivo para a composição de uma frente anti-PT nas eleições de 2002 no Rio Grande do Sul será dado hoje à tarde. O deputado estadual Paulo Odone representará os dissidentes do PMDB ligados ao ex-governador Antônio Britto em encontro marcado com o líder do PDT, Leonel Brizola, no Rio. O grupo de descontentes do PMDB espera obter uma posição de Brizola em relação à proposta de formação de uma aliança de partidos de centro-esquerda nas eleições para presidente da República e governo do Estado no próximo ano. A união entre PDT e PTB não é problema no Rio Grande do Sul. Tanto Brizola quanto Zambiasi já vêm articulando uma aliança há mais tempo. O fato novo é o interesse do grupo de Britto em fazer parte dessa união. Os dissidentes do PMDB, que se opõem à ala liderada pelo ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, não descartam a possibilidade de migrar para o PPS do candidato à Presidência da República Ciro Gomes. A legenda de Ciro, porém, não tem representatividade no Estado, o que pode comprometer a reeleição de muitos deputados. A mudança de partido seria uma última alternativa. O grupo acredita que é possível fazer parte da aliança mesmo dentro do PMDB. A formação de uma frente tem a simpatia, por exemplo, de Cezar Schirmer, presidente estadual da sigla e desafeto de Britto, e do senador Pedro Simon. Brizola é considerado peça-chave nessa composição. Sem o PDT, qualquer aliança de centro-esquerda ficaria enfraquecida nacionalmente e aqui no Estado. Os nomes que comporiam a chapa majoritária da frente (candidaturas a governador e a vice e duas vagas para o Senado) não estão em discussão no momento. Até porque o PDT de Brizola tem restrições ao PMDB gaúcho. Os pedetistas passaram as campanhas eleitorais de 1994 e 1998 combatendo a política de privatizações do governo Britto. O PDT concordaria em compor com esse grupo, mas dificilmente respaldaria uma candidatura de Britto a governador ou ao Senado. O PDT também não aceitaria apoiar uma candidatura de Pedro Simon à Presidência da República. Brizola e o senador gaúcho estão rompidos há anos. Se PDT, PMDB, PTB e PPS conseguirem formar uma coligação de centro-esquerda no Estado, os nomes mais cotados para compor uma chapa majoritária para a eleição ao governo são os de Britto, Zambiasi, do senador José Fogaça (PMDB) e do vereador de Porto Alegre José Fortunati – que na semana passada deixou o PT e deve anunciar nos próximos dias seu ingresso no PDT Senado escolhe sucessor de Jader Sarney impõe condições para assumir O sucessor do senador Jader Barbalho (PMDB-PA), que renunciou à presidência do Senado, será eleito hoje à tarde pelo plenário. Antes, às 11h, a bancada do PMDB indicará seu candidato. As articulações para convencer o senador José Sarney (AP) a aceitar o cargo se estenderam pela noite de ontem. Sarney impôs condições, a começar pela garantia de que nenhuma bancada vetasse seu nome. Quando o líder do PT, José Eduardo Dutra (SE), se comprometeu a não vetar o nome do ex-presidente, Sarney passou a exigir a retirada da candidatura do mineiro José de Alencar, que junto com o gaúcho José Fogaça disputa a indicação do PMDB. Até ontem à noite, nem Alencar nem Fogaça admitiam se retirar da disputa. Sarney é uma opção dos senadores ligados a Jader, que tentam evitar a eleição de Fogaça. A idéia inicial era lançar o senador alagoano Renan Calheiros, mas diante da constatação de que Calheiros perderia no plenário se Fogaça ou José de Alencar se lançassem como candidatos avulsos, o grupo voltou-se para Sarney. O ex-presidente estaria enfrentando oposição da família, principalmente da filha, Roseana, que teme ser envolvida na onda de denuncismo que assola o Senado. Jader renunciou ontem à presidência do Senado e transformou seu discurso numa peça de defesa na batalha política que enfrenta para manter seu mandato. Ao contrário do esperado, Jader não atacou parte da aliança governista, especialmente o PFL. No discurso de 35 minutos, Jader caracterizou sua renúncia como um ato para preservar a instituição, atribuiu a saída a perseguições políticas que também atingiriam ao PMDB e pontuou o início de tudo: um momento de “desinteligência política” que o levou a enfrentar o ex-senador Antonio Carlos Magalhães. É a primeira vez que um presidente do Senado renuncia. Do enfrentamento entre “o caboclo paraense que ousou chegar ao cargo mais alto do Legislativo” – definição de Jader sobre si mesmo – e o “político mais influente da República” – ACM – teria resultado uma “guerra suja”, com uma enxurrada de denúncias que levaram ao desgaste da instituição e, conseqüentemente, a sua renúncia. – E é em respeito à instituição que presido por livre escolha dos meus companheiros senadores, que em mim reconheceram qualidades para o cargo, tanto que me honro de estar exercendo, e em retribuição à confiança que em mim depositaram que me afasto, hoje, da presidência do Senado Federal. A esta renuncio para preservá-lo e servi-lo – disse Jader no discurso. Jader assumiu a presidência no dia 14 de fevereiro deste ano. Ele chegou a pedir uma licença de 60 dias. Reassumiu na quinta-feira, anunciando que iria deixar o posto esta semana. Num recado claro ao Conselho de Ética, que na quinta-feira deverá aprovar a abertura de processo por quebra de decoro contra Jader, o senador falou várias vezes na importância de zelar pelo princípio democrático e constitucional do amplo direito de defesa. Jader disse que não há provas para acusá-lo por quebra de decoro por suposto envolvimento no caso Banpará. Apuração no PT cria embaraço Resultados de eleição interna sofrem atraso imprevisto pela sigla A eleição para os diretórios nacional e estaduais do PT criou embaraços para a sigla. Passados mais de dois dias do fim da votação, não há resultado conhecido. Ontem, o comando nacional desistiu de utilizar o sistema de informática que contabilizaria os dados de todo o país. Em Porto Alegre, o diretório estadual não havia conseguido, até as 21h, disponibilizar parciais. A assessoria de imprensa do PT nacional anunciou que a apuração será manual. O partido calcula que 200 mil pessoas tenham comparecido às urnas, fechadas às 17h de domingo. Os diretórios estaduais deverão enviar para São Paulo os resultados. Há possibilidade de que a contagem dos votos se estenda pelos próximos dias, e previsões otimistas contam com os resultados na segunda-feira. Ontem, o PT gaúcho prorrogou várias vezes o prazo de anúncio de parciais, como tem ocorrido desde domingo. A votação foi frustrada por esse motivo em cidades como Belo Horizonte (MG) e Santos (SP), entre outras em que há forte presença da legenda, por não ter atingido o quórum de 15% dos filiados aptos a votar. Zonais da capital paulista e de Porto Alegre também não conseguiram o comparecimento mínimo. Em São Paulo, os problemas são atribuídos ao sistema de transferência de dados ao site do partido na Internet. Ontem, o ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont reconheceu a vitória do deputado federal José Dirceu deverá vencer a disputa nacional. Pont era o mais forte adversário de Dirceu na eleição. Festa para Zambiasi reúne multidão Mais de 1,5 mil pessoas parabenizaram deputado por aniversário Mais de 1,5 mil pessoas participaram ontem à noite da festa de aniversário do presidente da Assembléia Legislativa, Sérgio Zambiasi (PTB), no Clube Farrapos, em Porto Alegre. Zambiasi, que fez 52 anos no dia 9, passou duas horas recebendo políticos e admiradores de diferentes partidos. Por volta das 10h, chegou o convidado mais esperado, o candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, a quem Zambiasi prometeu apoiar em 2002. No salão, faixas saudavam a presença do ex-ministro da Fazenda com frases do tipo “Ciro Gomes, uma luz na escuridão”. Uma delegação de Capivari do Sul entrou no salão às 21h30min e exibiu uma faixa com a inscrição “PTB de Capivari do Sul parabeniza nosso futuro governador”. Três deputados do PMDB que estão negociando seu ingresso no PPS cumprimentaram Zambiasi no início da festa, mas saíram antes da chegada de Ciro Gomes: Paulo Odone, Berfran Rosado e Cézar Busatto. O vereador José Fortunati, que deixou o PT na semana passada, chegou pouco antes das 22h, acompanhado da mulher, Regina. Animado por um conjunto de música gauchesca, o jantar tinha no cardápio massa, frango e salada de maionese. No espírito da Semana Farroupilha, o prefeito de Canoas, Marcos Ronchetti (PSDB), foi à festa usando bombacha, bota e lenço vermelho no pescoço. Rainha e princesas da Oktoberfest de Maratá desfilaram pelo salão em trajes típicos. A prefeita de Cidreira, Custódia Sessim, eleita pelo mesmo PTB de Zambiasi, foi uma das primeiras a chegar. Uergs terá cursos em 29 municípios etapa inicial, a universidade estadual oferecerá 1.720 vagas em cursos com sedes em 18 cidades gaúchas Vinte e nove municípios terão cursos da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) dentro de dois anos. Na etapa inicial, a instituição oferecerá 1.720 vagas em 10 cursos de graduação e pós-graduação, distribuídos em seis áreas acadêmicas, selecionadas conforme as características de cada localidade. O estatuto provisório da nova universidade foi aprovado ontem por um decreto do governador Olívio Dutra, durante a cerimônia de posse da primeira reitoria da instituição. Todas as 22 regiões dos Conselhos Regionais de Desenvolvimento (Coredes) e do Orçamento Participativo terão unidades de ensino da Uergs até março de 2003. Em 18 municípios, as aulas vão começar já no primeiro semestre do próximo ano. A estrutura da instituição será ampliada para mais três cidades em agosto e para outras oito em março de 2003. Conforme o reitor da Uergs, José Clóvis de Azevedo, a escolha dos municípios e a distribuição dos cursos por região seguiram critérios econômicos e sociais. Regiões mais pobres ou com economia voltada a um setor específico foram consideradas prioritárias. Os cursos da Uergs, segundo Azevedo, não são oferecidos por outras universidades brasileiras, pois foram elaborados de acordo com as características regionais do Estado. As seis áreas acadêmicas na fase inicial da Uergs serão agricultura, educação, gestão ambiental, gestão pública, sistemas produtivos industriais e saúde pública. Nas regiões Sul e Litoral, ainda não está definido em que municípios haverá unidades de ensino. As aulas só devem começar em 2003 nessas áreas. O ingresso dos estudantes ocorrerá por vestibular. O primeiro exame será prestado em janeiro ou fevereiro. Metade das vagas disponíveis será reservada para estudantes de baixa renda, e 10%, para portadores de deficiência física. As vagas para professores e funcionários serão preenchidas com contratos emergenciais. De acordo com o reitor, serão contratados cerca de 90 professores e cem funcionários. A reitoria pretende abrir concurso público para o preenchimento dessas vagas em 2002 ou 2003. Professores de instituições que firmaram convênios com a Uergs vão ministrar as aulas. O orçamento da universidade estadual neste ano é de R$ 16 milhões. Para 2002 estão previstos R$ 29,4 milhoes, valor que possivelmente será ampliado nos anos seguintes, de acordo com os planos da reitoria. Em quatro anos, calcula-se que o número de vagas na Uergs chegue a 7 mil. A secretária da Educação, Lucia Camini, afirmou que a universidade não será afetada por mudanças no governo. Segundo ela, a Uergs será independente, apesar de receber recursos do orçamento estadual. Embora os cursos tenham um perfil regional, a sede da reitoria ficará em Porto Alegre. Divergências nas relações Brasília-Washington Americanos acusam PF de benevolência Os atentados terroristas de 11 de setembro trouxeram à tona uma antiga rixa entre os serviços de inteligência dos EUA e do Brasil: a estratégia da espionagem das comunidades árabes nas fronteiras, em especial a da paranaense Foz do Iguaçu com Ciudad del Este, no Paraguai, e a da gaúcha Chuí, separada por apenas uma rua da Chuy uruguaia. Os EUA acusam os brasileiros de serem benevolentes com os árabes, não levando a sério relatórios sobre a suposta presença de extremistas, principalmente de “terroristas adormecidos”. O termo é usado para descrever terroristas que já se “aposentaram”, mas que têm qualificação técnica, física e vinculações políticas para voltar à ativa. É de autoria de um agente da CIA (o serviço de inteligência dos EUA) a expressão “dormitório” para descrever Foz e Chuí. A época em que houve o maior número de “adormecidos” na região foi durante a consolidação do processo de paz no Oriente Médio, no final dos anos 90. Centenas de extremistas vieram em busca de trabalho nas lojas de parentes e amigos. Nesse período ocorreu uma tensa reunião entre agentes do núcleo de inteligência da Polícia Federal (PF), da CIA e do Mossad (a inteligência de Israel). Entre as muitas acusações contra os brasileiros, uma era quanto à benevolência com os supostos extremistas radicados na região, responsáveis, segundo as acusações, por transformar Foz e Chuí em fábricas de documentação falsa e geração de renda. Os dinheiro era enviado para as zonas de conflito. A pressão foi enorme. Mas o governo brasileiro manteve a sua posição: “Não existe terrorismo no território”. Uma outra conseqüência dessa política: o núcleo de inteligência da PF não tem uma estrutura adequada para investigar suspeitos. Um mesmo agente se envolve com duas e até três investigações diferentes ao mesmo tempo. Portanto, explica um delegado da PF, não se pode exigir precisão nos resultados de uma investigação feita a “toque de caixa”. Diante desta realidade, a CIA e o Mossad se aliam aos serviços de inteligência dos países vizinhos, como Paraguai e Uruguai. Conforme um policial federal de Brasília, os serviços de informações desses países, no entanto, ainda têm em seus quadros gente que foi ligada às ditaduras militares. O que resulta desse união são relatórios de qualidade duvidosa. Um caso recente foi o relatório sobre o prefeito do Chuí, Mohamad Kassen Jomaa, que o liga ao terrorista Osama bin Laden. Há erros de interpretação que comprometem todo o trababalho – por exemplo, a vinculação de Jomaa ao Hamas e ao Hezbollah ao mesmo tempo. São dois grupos com inimigos comuns, Israel e EUA, mas que diferem pelas áreas onde atuam e pelos vínculos religiosos. Dificilmente uma pessoa atuaria nas duas organizações. A situação agora é diferente. Os EUA têm munição de sobra para pressionar o Brasil a espionar os árabes da fronteira. Mas a resistência brasileira ainda não cedeu. Ontem mesmo, o presidente Fernando Henrique Cardoso disse que, no Brasil, não existe terrroristas. FH expressa apoio a Bush O presidente Fernando Henrique Cardoso conversou ontem por telefone com o colega americano George W. Bush e disse estar convencido de que os Estados Unidos entendem que o combate, neste momento, deve se dar contra terroristas e não contra povos ou religiões. – Essa é uma guerra especial, não contra um povo, uma religião, e sequer, pelo menos até agora, contra um Estado – disse FH, após assinar, na embaixada americana, o livro de condolências em memória às vítimas dos atentados terroristas em Nova York e Washington. Para FH, a decisão do presidente Bush de visitar na segunda-feira um centro islâmico em Washington é um marco histórico. – Eu disse isso a ele e essa distinção está sendo feita com clareza pelos EUA – comentou. Segundo FH esta é “uma luta de tipo novo” que alcança pessoas espalhadas pelo mundo, unidas pelo “ódio e pela irracionalidade” e que usa fundamentos de uma fé para trair os ideais desta fé. Ele ponderou que as religiões – citando o Islã, as cristãs, a judaica e as afro-brasileiras – pregam a paz. – Há uma deturpação no sentimento religioso: seria um equívoco imaginar que os seguidores de quaisquer dessas religiões ou povos nos quais elas prevaleçam, como os povos árabes – no caso dos muçulmanos – possam ser responsabilizados coletivamente pelo desatino de alguns – declarou o presidente. O telefonema ocorreu às 8h50min. Bush retornou ligação feita por FH no trágico dia 11 de setembro, logo após os atentados terroristas em Nova York e Washington. Segundo o Palácio do Planalto, os dois presidentes não conversaram sobre a possibilidade de ajuda militar brasileira no revide aos atentados. PFL gaúcho apóia Jomaa e cúpula nacional se distancia Acusado de ligação com terroristas, o prefeito de Chuí se defendeu perante comissão da Assembléia Legislativa O PFL gaúcho assumiu a defesa do prefeito de Chuí, Mohammad Jomaa, acusado de envolvimento com organizações terroristas em relatório incluído em inquérito da Polícia Federal (PF). A cúpula nacional do partido, porém, prefere manter distância do caso. O prefeito ganhou notoriedade internacional a partir da divulgação de um relatório da PF sobre seus supostos laços com o terrorista saudita Osama bin Laden, suspeito número 1 dos atentados nos Estados Unidos. Ontem, ciceroneado pelo presidente estadual do partido, deputado Germano Bonow, o acusado foi à Comissão e Justiça da Assembléia Legislativa para rebater as denúncias. Num depoimento breve, mas contundente, o prefeito disse que as acusações prejudicam não apenas sua vida, mas a imagem do Estado e do país: – Minha ex-mulher, que vive no Líbano, diz que jornais da Arábia Saudita afirmam que estou preso no Brasil, e jornais libaneses já informaram que estou preso no Líbano. Bonow tem sido uma espécie de guarda-costas político do prefeito. Os dois estavam reunidos no gabinete do deputado, na Assembléia, na manhã do dia 11, quando as torres gêmeas do World Trade Center e o Pentágono foram atingidos por aviões seqüestrados. No dia seguinte, Bonow reuniu-se com o superintendente regional da Polícia Federal (PF), Rubem Fockink, do qual obteve a garantia de que não havia acusações oficiais de terrorismo contra Jomaa. Conforme a PF, o prefeito é investigado apenas por suspeita de ter mentido sobre sua nacionalidade. Ele garante que nasceu no Brasil, de pais libaneses, mas foi denunciado pela ex-mulher por ter supostamente nascido no Líbano. O prefeito deve retornar hoje a Chuí, onde tem recebido proteção da Brigada Militar. Até a noite de segunda-feira, ele pretendia viajar a Brasília a fim de pedir apoio do Congresso Nacional. A iniciativa esbarrou na direção nacional do PFL, que decidiu agir com cautela diante do tema. O presidente nacional do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), e o líder do partido na Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira (PE), desaconselharam expressamente uma visita do prefeito ao Congresso. Para os caciques pefelistas, a presença do prefeito em Brasília poderia “colocar mais lenha na fogueira”. Bonow concordou com a decisão de Jomaa de voltar hoje a Chuí, apesar da campanha de que o prefeito se diz vítima. O deputado não acredita, porém, que a segurança do correligionário seja completa. – Se nós, na Capital, vivemos numa situação de insegurança, o que dizer de uma pessoa acusada de ligações com Bin Laden? – pergunta. Embora tenha se solidarizado com Jomaa, a direção estadual do PFL ainda não tem clareza sobre seu futuro político. Oficialmente, o partido se opõe a sua renúncia ao mandato para disputar vaga na Assembléia Legislativa ou na Câmara dos Deputados. Na cúpula da sigla, duas hipóteses são examinadas: a de que o prefeito de Chuí se torne um líder da população de origem árabe no Estado – fato que poderia lhe abrir as portas para vôos políticos mais altos – e a de que as acusações de ligação com o terrorismo, ainda que não comprovadas, fiquem coladas a sua imagem pública e inviabilizem sua carreira. Artigos O maniqueísmo que cega DANIEL SPERB RUBIN Nos dias que se seguiram ao medonho atentado contra as torres gêmeas do World Trade Center em Nova York, foi possível distinguir com clareza dois grupos de opinião que se formaram sobre os estarrecedores acontecimentos. O primeiro grupo afirmava que os atentados eram injustificáveis e julgava que era secundário, diante de tamanha barbárie, buscar as explicações para a conduta dos terroristas. O segundo grupo também considerava os atentados injustificáveis (ou pelo menos assim o dizia), mas achava que havia explicações para os atos terroristas. As explicações, na visão deste segundo grupo, seriam de duas ordens: a primeira, um pouco mais objetiva, seria de que os Estados Unidos, com sua política de apoio a Israel nos conflitos do Oriente Médio, seriam os grandes responsáveis pelo imenso sofrimento do povo palestino; a segunda, um pouco mais vaga e genérica, seria a de que os Estados Unidos, com sua política econômica neoliberal, oprimem os povos das nações do Terceiro Mundo, promovendo uma concentração de riqueza nas mãos de alguns poucos grupos econômicos sem precedentes na História, levando à fome e ao desespero milhões de pessoas mundo afora. Analisemos a primeira explicação. Ao que consta, o legítimo representante do povo palestino é o senhor Yasser Arafat, presidente da OLP e da autoridade palestina, que já há muitos anos vem negociando e dialogando com Israel, sob os auspícios dos Estados Unidos, na busca de uma solução pacífica para os gravíssimos problemas que afligem seu povo. Diga-se que esta negociação vem sofrendo graves retrocessos porque fundamentalistas islâmicos de tudo fazem para impedir o seu avanço, recorrendo ao terror, sem hesitação. O povo palestino, pois, por seu legítimo representante, quer a paz, a solução negociada. Assim, cai por terra a primeira explicação, pois o senhor Osama bin Laden (admitindo-se que tenha sido ele o mentor dos atos terroristas em Nova York, pois ainda não há prova definitiva neste sentido) não representa o povo palestino e muito menos seus atos terroristas estão em conformidade com a vontade atual daquele povo, que, conforme visto, quer a paz. O senhor Bin Laden não agiu movido por qualquer indignação contra a opressão Analisemos, agora, a segunda explicação. Comecemos com uma pergunta. Quem oprime mais o povo afegão? Os Estados Unidos ou o governo fundamentalista talibã? Qualquer resposta honesta só pode ser no sentido de que o povo afegão é muito mais oprimido pelos talibãs do que pelos Estados Unidos. Para quem não sabe, o Ministério da Promoção da Virtude e para a Supressão dos Vícios, do governo talibã, é o responsável por atrocidades tais como a condenação à morte dos homossexuais, a eliminação de qualquer oposição, a proibição de televisão, vídeos e de acesso à internet. Além disso, reduziu a mulher a um objeto, sem direitos nem dignidade, proibindo-as de trabalhar e de ler, e obrigando-as a cobrir todo o corpo, inclusive o rosto, com o burca, manto que vai da cabeça aos pés, e que lhes dá a aparência de verdadeiros fantasmas vagando sem destino pelas ruas das cidades afegãs. Pois o senhor Bin Laden aprova, apóia (e é apoiado) e gosta muito deste governo que submete milhões de pessoas a esta inacreditável opressão em pleno século 21. Quanto à concentração de riqueza nas mãos de uns poucos, vale lembrar que a própria fortuna de Bin Laden é fruto de uma extraordinária concentração de riqueza em seu país de origem, a Arábia Saudita, onde pululam reis e príncipes milionários, sentados em cima dos petrodólares que o mundo ocidental lhes envia sem parar. Cai por terra, assim, a segunda explicação, pois evidenciado está que se os terroristas tivessem agido contra a opressão dos Estados Unidos aos povos do Terceiro Mundo, teriam que fazer o mesmo contra diversos governos fundamentalistas islâmicos que oprimem terrivelmente seus povos. O mal dos que buscam as explicações para os atentados em análises simplistas e superficiais está no maniqueísmo com que vêem o mundo, dividindo-o entre ricos e pobres, opressores e oprimidos, direita e esquerda. A lente distorcida do maniqueísmo os impede de enxergar as evidências, por mais claras que sejam. Para sua frustração, o senhor Bin Laden não agiu movido por qualquer indignação contra a opressão ou a concentração de riquezas. Agiu movido por seu fundamentalismo religioso, que considera os Estados Unidos e seu american way of life o grande satã, que deve ser destruído em nome de Alá. Mas isto a lente distorcida do maniqueísmo não lhes permitirá enxergar. Tempos paranóicos CÂNDIDO NORBERTO Confesso: de uns tempos para cá, em momentos e circunstâncias diversas, tenho padecido de boas (em verdade, péssimas) sensações de medo. Medo de quê? De uma porção de coisas. Inclusive, é claro, de transeuntes com os quais me defronto em ruas de escasso movimento e precária iluminação. Com freqüência, sou invadido pelo temor de vir a ser assaltado. Ainda em recente noite... Não, não vou contar o que me sucedeu. Afinal, tudo não passou de mera desconfiança minha. O homem que interrompeu meu caminho e me pediu as horas não desejava de mim mais do que isto. E quando eu, desconfiado e mentindo, lhe disse que estava sem relógio, desculpou-se gentilmente por haver interrompido meu caminho, desejou-me boa-noite e foi adiante. Bem, agora que já me desmenti e terminei contando o que me ocorreu na tal noite, cuido de me fazer mais claro e reitero minha confissão inicial: com exagerada assiduidade venho sendo assaltado por desagradáveis e mesmo infundados temores. Assaltos que, para vergonha minha, se agravaram e aumentaram exageradamente de intensidade desde terça-feira passada, aquela que, segundo o senhor George W. Bush, marcou o início da primeira grande guerra do século 21. Desde então venho fugindo de programas de televisão que repetem as imagens da tragédia, a qual nem preciso lembrar qual tenha sido. E é com sacrifício que supro minha necessidade diária de ler os jornais, de sintonizar rádio e televisão. Como se não bastasse esse, digamos, desconforto, passei a mudar de canal logo que é anunciado um desses incontáveis filmes de violência – desses que geralmente já começam com um tiroteio. Rever o Independence Day ou assemelhados, nem pensar. Filme de guerras – das verdadeiras e das inventadas por Hollywood, nem amarrado. Com exagerada assiduidade venho sendo assaltado por desagradáveis temores Pois é, ando deste deplorável jeito: medroso, assustado, frouxo – para não dizer mais. Acho que estou precisando, e com urgência-urgentíssima de um psicanalista, ou de alguém ou algo que me liberte desta atmosfera de insegurança que me envolve a tal ponto que, a meu próprio juízo, já ando quase me sentindo como um fugitivo embrenhado nas montanhas do Afeganistão, das quais querem me retirar vivo ou morto... Tempos de paranóias, estes, não é mesmo? Colunistas ANA AMÉLIA LEMOS O touro brasileiro O cenário internacional foi perturbado com os ataques terroristas nos Estados Unidos na semana passada. Nem isso tirou a serenidade e o otimismo do vice-presidente Marco Maciel, que faz projeções positivas sobre o desempenho da economia brasileira no último trimestre. Está convencido, por exemplo, de que o crescimento econômico fechará o ano com 2,5%. Admite dificuldades decorrentes das ações terroristas. “Mas isso não será só para o nosso país e sim para toda a economia mundial”, argumenta, enumerando os elementos que fazem do Brasil um mercado atrativo para o capital externo. Atento ao cenário internacional, o vice-presidente acompanha com enorme atenção as eleições argentinas marcadas para outubro. Está na torcida para que Fernando de la Rúa consiga a maioria necessária para implementar o ajuste fiscal. Minimiza as divergências no Mercosul e está convencido de que o bloco sairá fortalecido, apesar das atuais dificuldades. Em relação à crise energética, Marco Maciel ilumina o semblante para dizer que as chuvas que caíram em setembro no país melhoram as condições das barragens nos sistemas Chesf (Nordeste) e Furnas (Sudeste), podendo evitar um indesejável apagão em outubro ou novembro. Quando enfatiza seu otimismo na capacidade de recuperação da economia brasileira, compara o país a um touro cuja força e energia são freqüentemente contidas. Quando se liberta dessas amarras, mostra o poder que tem para crescer, apesar das limitações, sejam elas de origem interna ou externa. Marco Maciel tem sempre à mão expressões para definir situações. Quando há crise política costuma dizer: “Tudo pode acontecer, inclusive nada”. Quando algum repórter quer saber qual é o melhor nome, na aliança governista, para a sucessão, diz: “O depois não pode vir antes do antes”. Hoje o vice-presidente estará em Porto Alegre para a solenidade que marca os 30 anos de atividades do Hospital de Clínicas. Quando foi ministro da Educação, conseguiu com seu então colega da Previdência Social, Valdir Pires, uma solução definitiva para o “status” jurídico da instituição, que era, à época, comandada pelo ex-ministro e atual prefeito de Barra do Ribeiro, Carlos César Albuquerque. O vice-presidente é convidado especial do atual presidente do Clínicas, Sérgio Pinto Machado. JOSÉ BARRIONUEVO Dois fatores condicionam evasão no PMDB Além do resultado da eleição, hoje, para a presidência do Senado, o futuro dos dissidentes do PMDB depende de um outro fator: a conversa do deputado Paulo Odone com Brizola. O encontro no Rio de Janeiro hoje à tarde determinará as possibilidades futuras para a formação de um frentão reunindo dissidentes do PMDB mais PDT, PTB e PPS, em torno de um projeto para governar o Estado. O líder maior dos pedetistas tem restrições ao PMDB. Se Fogaça for eleito presidente do Senado, hoje, os dissidentes interpretarão o resultado como uma vitória do grupo ético e sustarão o processo de saída do PMDB. Rigotto decide permanecer no partido Britto e Proença passaram o dia de ontem conversando com o grupo, a partir de um café da manhã com Germano Rigotto, que decidiu não acampanhar eventual saída do partido. No sábado, em Caxias do Sul, Rigotto havia acertado com Pedro Simon, seu padrinho político, que permanece no PMDB. Entende que sua saída comprometeria a candidatura do senador a presidente da República. Simon e Rigotto são naturais de Caxias e começaram na vida pública como vereadores do mais importante município do Interior. Rigotto apoiou Odone contra Schirmer na prévia que escolheu o novo presidente estadual do PMDB. Zachia faz apelo aos vereadores O deputado Mendes Ribeiro atua na linha de frente contra o projeto de Britto, Proença e de meia dúzia de deputados estaduais. Diante da possibilidade de perder dois vereadores na Câmara da Capital, Mendes foi ao encontro do presidente da Casa, Fernando Zachia, terceiro integrante da bancada, redigindo em conjunto uma carta a todos os vereadores do PMDB para que não saiam do partido. Como presidente da Associação dos Vereadores do PMDB, Zachia sustentou seu apelo com a candidatura de Simon à presidência da República. Pasqualini inspira PTB de Zambiasi Na posse como presidente da Assembléia, o deputado Sérgio Zambiasi (PTB) pautou seu discurso na doutrina social de Alberto Pasqualini, ideólogo do trabalhismo, com destaque para a solidaridade, que pretende ser a linha mestra de seu mandato. Zambiasi fez questão de participar de um seminário sobre Pasqualini em Ivorá, onde nasceu o ex-senador do velho PTB há exatos cem anos. Museu em Ivorá – Ao lado do presidente da Assembléia, um sobrinho-neto de Pasqualini, Alexandre Pasqualini, advogado e professor, participou do debate. A Assembléia está apoiando a implantação de um museu onde nasceu o ex-senador em setembro de 1901. Aniversário – Durante duas horas Zambiasi recebeu cumprimentos pelo aniversário em jantar ontem no Clube Farrapos, totalmente lotado. Presentes representantes de todos os partidos, com exceção do do PT, que começa a identificar em Zambiasi um adversário para 2002. Tedesco é favorito para presidir TJE Uma chapa com cinco nomes está sendo formalizada para a direção do Tribunal de Justiça do Estado tendo à frente o desembargador José Eugênio Tedesco. Num habilidoso trabalho de engenharia política, terá Élvio Schuch Pinto na 1ª vice-presidência, Osvaldo Stefanello, na 2ª vice, Carlos Alberto Bencke na 3ª vice e Marcelo Bandeira Pereira como corregedor. O consenso começou a ser construído com a realização de uma prévia interna no início entre Tedesco, Schuch Pinto e Stefanello, que está sendo honrada pelo grupo de mais de 90 desembargadores que participaram do processo. Chapa de consenso – Considerada de consenso, dificilmente a nominata encontrará adversário, pelo que se recolhe nos corredores do tribunal, diante da representatividade dos nomes não apenas pela densidade eleitoral e consistência jurisdicional mas também por reconhecida experiência administrativa. Três já presidiram o Tribunal Regional Eleitoral (Tedesco, Schuch Pinto e Stefanello), dois presidiram a Associação de Juízes do RS (Stefanello e Schuch Pinto). Tedesco também presidiu o conselho de administração na gestão de Milton dos Santos Martins, quando deu a arrancada para a construção de foros no Interior. A chapa não tem carimbo. Não é nem de oposição, nem de situação. Redução de cargos – A nova direção deve aproveitar proposta formalizada no Centro de Estudos do TJE, extinguindo os cargos de 4º vice-presidente e de vice-corregedor, colocando menos desembargadores administrando e mais jurisdicionando. A eleição deve ocorrer no dia 17 de dezembro, na última reunião do órgão especial composto por 125 desembargadores. A posse ocorre após o recesso de janeiro. Tarso e Olívio festejam resultado Defensores da candidatura de Tarso a governador apostam na divisão da Articulação de Esquerda, que deverá eleger David Stival para a presidência regional do PT, para assegurar a vitória na prévia de março. Os cálculos são feitos em cima dos resultados parciais das convenções e da nova correlação de forças das correntes. Está confirmada a supremacia da Articulação no Estado, que tem sido fiel da balança, embora a corrente tenha perdido espaço para a Ação Democrática de Ivar Pavan e Marco Maia. O grupo palaciano também proclama vitória com a vantagem expressiva de Raul Pont para presidente nacional, Stival para estadual e Bohn Gass na Capital, os três identificados com o governador. Com 45%, Stival vai para o segundo turno. Os resultados parciais no Estado mostram nas tabelas ao lado que os votos nulos e brancos passam de 6%. ROSANE DE OLIVEIRA Fiasco nacional Os organizadores da eleição direta no PT devem um pedido de desculpas aos filiados que votaram na eleição de domingo e até agora não sabem com exatidão quem ganhou, qual é o peso de cada corrente nos diretórios, nem mesmo quantos votaram. Inventaram até a sigla PED para o Processo de Eleição Direta, mas na hora de totalizar os votos o sistema entrou em pane. Com tanta confusão, os filiados devem estar se perguntando qual é o grau de confiabilidade dos resultados. No Rio Grande do Sul, a primeira parcial saiu ontem por volta das 21h30min, mais de 48 horas depois de encerrada a votação. Em vez de totalizar os votos nos próprios municípios e mandar os boletins para uma central nas capitais, inventaram de mandar para São Paulo. Como não deu certo, ontem foi preciso mudar tudo. A comissão que concebeu esse primor de centralização deverá ser proibida de dar palpites na campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. A baixa participação registrada em todo o país – com falta de quórum em cidades como Belo Horizonte e Santos, que não atingiram 15% de participação – devem levar o PT a discutir a conveniência de manter esse processo. Não há dúvida de que a eleição direta é mais democrática, mas se os candidatos não conseguiram empolgar os filiados seria mais produtivo voltar ao sistema de eleição por delegados. O sucesso das prévias para a escolha de candidatos a cargos majoritários, que já é tradicional no partido, não se repetiu. Os resultados extra-oficiais indicam que a maioria dos filiados está afinada com o discurso moderado de José Dirceu, adotado nos últimos tempos por Lula. Propostas como a reestatização de empresas privatizadas, não-pagamento da dívida externa e veto às coligações com partidos de centro, bandeiras dos candidatos mais à esquerda, foram derrotadas. Serão discutidas na elaboração do programa de governo, mas com chances remotas de que Lula, nesta fase pragmática, venha a abraçá-las. Editorial A ameaça da intolerância No rastro das reações norte-americanas e mundiais aos atentados terroristas em Nova York e Washington, assiste-se ao crescimento de ódios preconceituosos. A particularidade de os suspeitos dos crimes serem de origem árabe vem dando margem a uma perigosa generalização de agressões contra pessoas que se vêem acusadas simplesmente por terem aparência oriental. Nessa onda preocupante de xenofobia, são agredidos, além de árabes, também indianos, paquistaneses, iranianos, turcos e até mesmo brasileiros, numa lamentável e sobretudo injusta desconfiança. É, portanto, dever dos governantes e de todas as organizações das sociedades impedir que tal situação se prolongue a ponto de levar a traumas como os que costumam ser legados pela intransigência. A humanidade já assistiu a uma cota alta de intolerância, como a que culminou com a destruição das torres comerciais de Nova York, e já sofreu durante o século 20 os efeitos da discriminação religiosa ou étnica. Neste sentido, têm razão o presidente francês, Jacques Chirac, e o primeiro-ministro Tony Blair, da Inglaterra, que ao manifestarem sua inteira solidariedade às ações norte-americanas para destruir o terrorismo alertam para as injustiças que em nome dessa guerra podem ser cometidas. Neste sentido também, é correta a preocupação do presidente George W. Bush, que, vendo crescerem ódios irracionais contra a comunidade árabe, tomou a iniciativa de visitar o Centro Islâmico de Washington. O mundo, que à esquerda e à direita condena o terror por ser o produto de fanatismos e de espírito desumano e destrutivo, não pode conviver com ações igualmente irracionais. Ninguém pode ser considerado suspeito apenas pela cor da pele, pela origem étnica, pela língua que fala, pela procedência geográfica, pela fé religiosa ou pela opção ideológica. Os atentados terroristas são ações criminosas que devem ser tratadas como tais, com a identificação e a punição dos culpados. E apenas deles. O mundo que condena o terror não pode conviver com ações igualmente irracionais Ainda agora, representantes de todo o mundo reunidos em Durban numa conferência contra o racismo deixaram claro o quanto é difícil deixar de lado animosidades em muitos casos atávicas para enfrentar o problema e apontar as soluções. É positiva, portanto, a constatação de que, mesmo alvejado em seus valores mais caros pela rede internacional do terror, o governo norte-americano vem lançando mão da diplomacia e do diálogo, ao invés de partir para um ataque que tanto poderia ter êxito como mergulhar o país numa guerra ao estilo do Vietnã ou do próprio regime de Cabul, que derrotou os soviéticos. O radicalismo está na origem de ações de terror que os países democráticos se propõem a extirpar a partir de agora. Como adverte o historiador Eric Hobsbawm, é inevitável que nesse embate os próprios Estados Unidos venham a se sentir tentados a “limitar as liberdades civis”. A democracia, porém, não corre riscos, pois é incentivando-a que se combate o terrorismo, sempre mais fértil nos regimes fechados. Adeus melancólico Confrontado com a escalada de denúncias, perdendo a cada passo apoio político entre seus pares, constrangido por uma pública recomendação do Conselho de Ética do Senado para que não reassumisse a presidência da Casa, o senhor Jader Barbalho retomou o cargo na última semana, apenas para apresentar, no dia de ontem, sua renúncia àquele que é um dos mais altos postos da República. Sua decisão, inédita até aqui no parlamento brasileiro, foi formalizada em um discurso no qual o representante paraense se declarou vítima de uma campanha, orquestrada especialmente pelo seu mais conhecido adversário, senhor Antonio Carlos Magalhães. Procurando amparar-se em copiosas citações de autores célebres, abriu ele suas baterias contra os órgãos de imprensa que difundiram as imputações que o atingem e das quais buscou defender-se utilizando-se de argumentos que em boa parte já havia externado. Negou também veementemente haver obstruído ou dificultado as apurações das transgressões em que foi envolvido seu nome, esforçando-se em especial por afastar quaisquer suspeitas de ofensa ao decoro parlamentar. Justificou por fim seu gesto de abandonar a presidência, mantendo contudo o mandato, como um sinal de respeito à Câmara Alta e à instituição legislativa. Foi um adeus melancólico. Amanhã o Conselho de Ética deverá decidir, ao que tudo leva a crer, pela instauração de processo contra o senhor Jader Barbalho. Cumpre lembrar ainda que o Supremo Tribunal Federal já determinara à Polícia Federal a abertura de processo criminal contra o senador, além de ampliar consideravelmente a extensão da quebra de seu sigilo bancário. Paralelamente, sondagem do jornal O Globo constatou que 44 de 73 senadores consultados entenderam que perdera todas as condições para se manter à frente da Mesa Diretora, posição que conquistara por maioria absoluta há sete meses. É imperativo que a sociedade brasileira saiba escolher melhor seus mandatários Nada disso chega a ser surpreendente quando se considera o volume de acusações levantadas contra o renunciante, algumas datadas de antes de sua investida na senatoria, o que na espécie, não é relevante. Mais: somente a mais completa cegueira política não perceberia o desprestígio crescente do Senado, abalado pela cassação de um de seus membros e pelo afastamento voluntário de outros dois, em função de episódios nada edificantes. Projetos da mais alta importância para a nação deixaram de ser apreciados, votações foram remetidas às calendas gregas, feriu-se de paralisia uma das instâncias do Congresso. Nenhum ensinamento maior deixam os fatos deploráveis do que o concernente à imperativa necessidade de que a sociedade escolha melhor seus mandatários. O Brasil precisa, nesta hora sombria, de dificuldades internas e externas, neste momento que pode converter-se em uma encruzilhada para a própria humanidade, de homens públicos confiáveis, sobre cuja honradez não paire qualquer dúvida. Topo da página

09/19/2001


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