Garotinho dá apoio a Lula, mas isola palanque









Garotinho dá apoio a Lula, mas isola palanque
Candidato derrotado avisa que não aceita dividir espaço com petistas do Rio

RIO – O candidato derrotado do PSB, Anthony Garotinho, declarou ontem apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, mas avisou que quer distância do PT do Rio. O ex-governador anunciou uma fórmula para não se aproximar dos petistas fluminenses: os socialistas farão uma campanha separada, com a presença só de Lula.

“Serão dois palanques. O Lula vem ao Rio? O PT organiza um comício, o PSB organiza outro”, disse Garotinho, depois de uma reunião com o presidente do PSB, Miguel Arraes. “Vamos fazer um palanque separado, vai ser mais saudável”, reforçou Rosinha, mulher de Garotinho, governadora eleita do Rio.

O PSB formaliza hoje o apoio a Lula, em um documento no qual pedirá o compromisso do PT em relação a cinco pontos, entre os quais a revisão do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o salário mínimo de R$ 280. Os outros são o fortalecimento das Forças Armadas, a rejeição à Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e a proibição de que a Base de Alcântara (MA) seja cedida aos Estados Unidos para manobras militares. Os socialistas ressaltaram que são posições, não condições para o apoio.

Apesar de ter se comprometido a pedir votos para Lula, Garotinho disse que não vai mobilizar o eleitorado evangélico, onde tem influência, por ser presbiteriano. “Os evangélicos não são partido político. Não têm obrigação de votar em um candidato”, afirmou.

Garotinho disse que a disputa estadual entre sua mulher, Rosinha, e a petista Benedita da Silva, que tentava a reeleição, foi traumática. “O PT jogou muito baixo, chamou a Rosinha de cara-de-pau, usou expressões chulas. A Benedita já se intitulou coordenadora da campanha no Rio. Não vamos nos submeter à coordenação de Benedita. Vamos fazer nossos comícios”, avisou o ex-governador do Rio. Rosinha tem chamado o PT do Rio de “raivoso”.

Pacífica – Já Benedita evitou polemizar ontem com Garotinho. “O que eu quero é que o Lula ganhe as eleições. Nós não seremos empecilho para isso e temos nos comportado com muita ética e muita transparência. Eu estarei pronta a subir em qualquer palanque que estiver aberto para Luiz Inácio Lula da Silva”, afirmou ela.

Benedita deu a largada na campanha de Lula no Rio para o segundo turno. Ela participou de uma carreata com cerca de 50 veículos que percorreu o centro e bairros da zona sul. “Alô, trocador! Alô, motorista! Passageiro, taxista, comerciante, senhor, senhora. No dia 27, vamos votar Lula presidente do Brasil”, dizia a governadora, ao microfone, do alto de uma caminhonete com caixas de som, ao lado do marido, o ator Antônio Pitanga.

Passou pela manifestação o carro que sempre servia ao candidato derrotado do PPS, Ciro Gomes, no primeiro turno. Aos adesivos de Ciro, foram acrescentados nos vidros plásticos com a inscrição “Agora é Lula”. O motorista do carro da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), Paulo Senra, coordenador operacional da campanha de Ciro, disse que encontrou a carreata casualmente, mas fez questão de cumprimentar Benedita. “Estamos à disposição do PT”, declarou Paulo. (Colaborou Rodrigo Morais)


FHC teme ‘efeito segundo turno’ no câmbio
Presidente convoca reunião de emergência com a equipe econômica

BRASÍLIA – Preocupado com a nova disparada do dólar ontem, o presidente Fernando Henrique Cardoso convocou a equipe econômica para uma reunião no Palácio da Alvorada, no final da manhã de ontem, seguida de almoço. O objetivo era fazer uma avaliação do mercado e de indicadores econômicos, como alta da moeda americana, o crescimento do risco Brasil e a elevação da taxa da inflação. O governo queria discutir a estratégia de atuação nesta fase, que a equipe econômica acredita que poderá estender-se durante todo o segundo turno.

A avaliação é que não se ouvirão do candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, novas declarações para acalmar o mercado, como ocorreu na primeira fase da disputa eleitoral.

Para o Palácio do Planalto, a nova inquietação no mercado foi provocada por declarações de Lula consideradas dúbias. A que causou maior preocupação à equipe econômica – e que pode ter sido responsável pela deflagração da inquietação do mercado, na avaliação das autoridades – foi a que tem referências ao documento de Olinda. Esse documento, lembram esses auxiliares, pregava a ruptura com o atual sistema econômico e teria sido deixado de lado quando a cúpula do PT apresentou, em meados deste ano, a Carta aos Brasileiros, considerada amena e tranqüilizadora para o mercado. A nova referência, nesta fase da disputa, deixou dúvidas sobre qual dos dois discursos deve ser levado em conta num governo de Lula.

Tranqüilizar – O governo entende que é a hora de Lula e sua equipe voltarem a dar declarações tranqüilizadoras ao mercado. Mas não há a menor chance de os governistas, mesmo que por emissários, fazerem qualquer apelo do gênero à cúpula petista. Também está descartada a possibilidade de uma nova conversa formal entre o presidente e os candidatos, como a que se seguiu ao fechamento do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). “Agora é governo contra oposição. É a calmaria contra a incerteza”, comentou um auxiliar palaciano.

INTERTITULO/INTERTITULOAinda assim, o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, designado por Fernando Henrique para dar todas as explicações públicas possíveis e tentar reverter a subida do dólar, disse ontem que caberia à oposição reafirmar suas sugestões dadas no primeiro turno. Mas o governo sabe que isso será difícil, pois Lula já afirmou, anteontem, que cabe à atual equipe econômica tomar medidas para conter especulações.

Compareceram ao almoço com Fernando Henrique os ministros da Fazenda, Pedro Malan, do Planejamento, Guilherme Dias, do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, da Secretaria-Geral da Presidência, Euclides Scalco e o presidente do Banco Central. Mesmo depois de ter dado as diretrizes para a equipe econômica, Fernando Henrique continuou em contato com esses auxiliares, acompanhando as medidas que estavam sendo tomadas. Ele estava muito preocupado com o fato de o dólar ter atingido quase a marca de R$ 3,90 e o risco psicológico de a moeda superar a barreira dos R$ 4. O governo achava que isso tem de ser evitado.


FHC abre o Alvorada para ajudar Serra
Presidente conversa com políticos de todos os partidos, negocia apoios e cobra empenho de aliados

BRASÍLIA – Depois de passar dois dias trabalhando nos bastidores pela candidatura de José Serra (PSDB), em telefonemas para governadores e aliados, o presidente Fernando Henrique Cardoso abriu as portas do Palácio da Alvorada e iniciou uma articulação mais intensa. Os contatos envolveram políticos de todos os partidos aliados e incluíram conversas com o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, com o governador eleito de Minas, Aécio Neves (PSDB), e com o senador eleito pelo PSDB cearense, Tasso Jereissati.

Aécio saiu do encontro dizendo que “o presidente está absolutamente engajado pela eleição de Serra, da mesma forma que todas as lideranças regionais do partido”. Para ele, o segundo turno servirá para aprofundar a discussão de idéias. Ele disse, ainda, que está à disposição da campanha de Serra e sugeriu que é preciso “aprofundar as propostas de cada candidato e mostrar as profundas divergências entre elas”.

As declarações de Aécio são prova concreta de que as articulações promovidas pelo presidente surtiram efeito. Muitos dos aliados que se mostravam tímidos e estavam querendo evitar oferecer apoio ostensivo a Serra, como o próprio Aécio, mudaram de posição. Mas o presi dente quer muito mais.

Quer, por exemplo, que Aécio ajude a reverter afirmações como a do seu vice, Clésio de Andrade (PFL), que anunciou possível apoio a Luiz Inácio Lula da Silva. O Planalto quer evitar que distorções assim abalem a campanha de Serra e tentará conter os dissidentes pedindo, no mínimo, silêncio.

Próximos passos – A mobilização terá prosseguimento em São Paulo, onde o presidente passará os próximos dois dias, perto do centro da decisões. O presidente está convencido de que pode ajudar Serra e acredita que os organizadores da campanha já perceberam isso.

Na sexta-feira, quando vai inaugurar o final do trecho oeste do Rodoanel, o presidente usará seu discurso para defender Serra, o governador Geraldo Alckmin e o seu próprio governo. Ontem, aliás, ele sentiu-se mais fortalecido ao ter de volta o fiel escudeiro, Arthur Virgílio Netto (PSDB-AM), eleito senador.

Depois de se encontrar com Fernando Henrique, Virgílio já avisou que nenhuma acusação ao presidente ficará sem resposta. “Nem agora, nem depois”, disse. Ele também disparou críticas a Lula: “Se ele perder, passa a ter a felicidade pessoal de poder continuar delirando. Se ganhar, terá de se dedicar ao mundo real e concreto das verdadeiras limitações do governo.”

O presidente recebeu ainda dois aliados que poderiam atrapalhar os planos de Serra. Trata-se do senador eleito Romeu Tuma (PFL), que já foi cortejado pelos petistas, e o prefeito do Rio, César Maia, que chegou a anunciar que até maio a candidatura Serra teria implodido. Outra reunião foi com o ex-ministro Raul Jungmann.


Ala radical do PT cresce e vira impasse para Lula
Se vencer as eleições, ele terá de negociar com 26 dos 91 deputados e 3 dos 14 senadores petistas

BRASÍLIA - As esquerdas do PT, que tanto preocupam o mercado no caso de vitória do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, conseguiram eleger 26 dos 91 deputados federais petistas e 3 dos 14 senadores. O principal berçário é o Rio Grande do Sul, de onde virão seis parlamentares "radicais" para a Câmara.

Se estiver unido, esse grupo terá uma força comparável às bancadas do PL, PSB e PTB e superior às do PDT e PPS. O grupo pode incomodar Lula, em caso de sua vitória, com posições contrárias às limitações do acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI).

Na prática, porém, esse bloco é bastante heterogêneo e é com isso que a cúpula nacional do partido conta para tentar "domesticar" uma parte deles, oferecendo cargos no governo e no Congresso. Ou seja, ao contrário do que os analistas de mercado pensam, o convite para que "radicais" integrem o governo Lula não é um perigo, mas - talvez - uma solução, do ponto de vista da maioria dos petistas.

Questionado nesta semana sobre qual a influência da esquerda do partido em seu eventual governo, Lula tergiversou, dizendo que no PT as coisas são democraticamente discutidas, mas depois a minoria segue a linha majoritária.

Uma parte do PT tem essa prática, como a Democracia Socialista (DS), corrente do coordenador de fiscalização da campanha de Lula, Joaquim Soriano, e da senadora Heloísa Helena (AL). Entre militantes e "amigos", segundo Soriano, a DS elegeu a senadora Ana Júlia, do Pará, e 11 deputados, como o ex-líder Walter Pinheiro (BA).

No Rio Grande do Sul, os quadros da DS administram os setores estratégicos do governo, como a Secretaria da Fazenda. A oposição ao PT gaúcho já chegou a comparar a rigidez fiscal do secretário Arno Augustin com a de Pedro Malan.

Fôlego - Segundo outra líder da esquerda, a catarinense Marlene Rocha, da corrente Articulação de Esquerda, "os movimentos sociais vão dar um tempo a Lula" no início de governo.

Mas há correntes mais barulhentas que prometem pressionar o presidente desde o início do mandato. É o caso do Bloco de Esquerda, que reúne pequenos grupos radicais e elegeu sete deputados, entre os quais Luciana Genro (RS), Ivan Valente (SP) e Lindbergh Faria (RJ).

"A esquerda vai ter de batalhar para que Lula não se submeta aos acordos com o FMI e aumente o salário mínimo", diz Luciana. Segundo ela, para mudar o modelo econômico é necessário um "choque de investimentos públicos", o que não é possível cumprindo as metas de superávit primário negociadas.


Dólar sobe 3,89%, para R$ 3,875
Moeda americana igualou o recorde do Plano Real, de 27 de setembro

O dólar subiu ontem 3,89%, cotado a R$ 3,875, igualando o nível recorde de fechamento do Plano Real atingido em 27 de setembro. Num cenário marcado por incertezas políticas e pela turbulência externa, o câmbio continuou pressionado pela dificuldade do Banco Central (BC) em rolar US$ 3,6 bilhões de títulos cambiais que vencem no dia 17 e pelos vencimentos de dívidas de empresas brasileiras no exterior, que podem atingir até US$ 2,64 bilhões neste mês.

A entrevista do presidente do BC, Armínio Fraga, não reduziu o nervosismo. Ele começou a falar depois do encerramento dos negócios no mercado à vista, mas o dólar continuou em alta no mercado eletrônico, indicando uma abertura hoje na casa de R$ 3,91. A decisão do BC de aumentar a exigência de capital para os bancos manterem posições em dólares, anunciada na segunda-feira, também não está produzindo grande impacto.

Segundo operadores, o péssimo desempenho das bolsas internacionais e a expectativa crescente de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve derrotar José Serra (PSDB) no segundo turno sem grandes dificuldades levaram os investidores estrangeiros a vender pesadamente títulos da dívida externa logo pela manhã, contaminando o mercado de câmbio. “O nervosismo começou no mercado de títulos da dívida, e colaborou para que o dólar já abrisse pressionado”, disse o diretor de Tesouraria do WestLB Banco Europeu, Flávio Farah. (ler ao lado).

E no mercado de câmbio a grande fonte de pressão é o vencimento de US$ 3,6 bilhões de títulos atrelados ao dólar no dia 17. Na terça-feira, o BC rolou US$ 592 milhões dos papéis, mas ainda restam US$ 3 bilhões. À medida que se aproxima o vencimento, tende a aumentar a pressão sobre o câmbio, pois as instituições que detêm os papéis tentam forçar a alta do dólar, para aumentar seus ganhos. Outro problema é que as empresas têm de honrar até US$ 2,64 bilhões em dívidas no exterior neste mês, segundo números do BC. Na semana que vem, há vencimentos privados de cerca de US$ 650 milhões. Se de um lado isso pressiona o câmbio, de outro existe a expectativa de que a medida do BC que elevou de 50% para 75% a exigência de capital para exposição em câmbio aumente a oferta da moeda. Há estimativas de que os bancos podem ter de desovar entre US$ 500 milhões e US$ 1 bilhão até a segunda-feira, para se adaptarem às regras do BC. O problema é que esse é um volume pequeno ante os vencimentos de títulos cambiais e privados.

Em relatório divulgado ontem, o analista Marcos Brandão, da corretora Fator Doria Atherino, analisa o caso de alguns grandes bancos brasileiros, e conclui que não serão necessários ajustes significativos nessas instituições: “O Bradesco apresentava em 30 de junho uma exposição cambial líquida de US$ 900 milhões, com um patrimônio de referência de R$ 10 bilhões, tendo assim uma grande folga em relação ao limite máximo de exposição cambial, o qual não foi alterado”, disse. A situação do Banco do Brasil também seria confortável. O Itaú seria um dos mais afetados pela medida, segundo Brandão, “mas ao mesmo tempo é aquele que tem a maior folga para disponibilizar capital”.

O BC atuou no mercado ontem, mas novamente não impediu a alta das cotações. Segundo operadores, a instituição vendeu entre US$ 50 milhões e US$ 100 milhões no mercado à vista. O BC também fez um leilão de linhas para exportação, pondo US$ 30 milhões. (Com AE)

Risco Brasil vai para 2.269 pontos
O risco Brasil voltou a disparar ontem, fechando em alta de 7,9%, para 2.269 pontos, num dia de vendas expressivas de títulos da dívida externa. O C-Bond, o papel brasileiro mais negociado, recuou 6,27%, cotado a 48,625% do valor de face – abaixo do importante nível de 50%.

O diretor-executivo de Tesouraria do Banco Fator, Sérgio Machado, disse que a preocupação dos investidores estrangeiros com o cenário político brasileiro contribuiu de maneira decisiva para o tombo dos títulos. Além da perspectiva de que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá ganhar as eleições, o fato de que o futuro Congresso ficará ainda mais fragmentado, devendo tornar complicada a vida do próximo presidente, também causa mal-estar no mercado externo, afirmou ele.

O diretor de um banco estrangeiro ressaltou a turbulência no mercado internacional, evidenciada pela queda das bolsas americanas. E, disse ele, há uma forte aversão global ao risco, que atinge até mesmo grandes empresas: os juros dos títulos de companhias como Ford e General Motors estão superando em 5 pontos porcentuais (500 pontos) o rendimento dos títulos do Tesouro americano – acima do risco do México, por exemplo, que ontem fechou em 411 pontos. “Nesse cenário, os papéis de um País como o Brasil, que passa por um momento de grande incerteza política, são muito atingidos”.

Segundo operadores, o péssimo desempenho de Wall Street – o Dow Jones recuou 2,87% e o Nasdaq, 1,34% –, também levou os investidores a se desfazerem de papéis de países emergentes como o Brasil.


Dólar levou inflação para 0,72% em setembro
Entre janeiro e o mês passado, o índice oficial, apurado pelo IBGE, já acumula alta de 5,6%

RIO - A inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu para 0,72% em setembro, ante 0,65% em agosto, como resultado da pressão cada vez mais intensa e generalizada do dólar sobre os preços no varejo. O índice, que já acumula alta de 5,6% no ano, começa também a acender o sinal de alerta para uma possível estabilidade ou elevação da taxa básica de juros. Para a gerente do Sistema de Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos, a variação cambial "contamina" vários produtos.

Ela lembrou que os impactos do dólar sobre a inflação começaram a se intensificar em agosto, especialmente sobre os alimentos, mas em setembro o efeito foi mais disseminado, devido à pressão nos custos.

Os produtos alimentícios, pressionados pelo câmbio, subiram 1,96% e representaram sozinhos uma contribuição de 0,43 ponto porcentual, ou 60% da inflação do mês. Os principais aumentos foram registrados em produtos com impacto direto do dólar, como óleo de soja (14,23%) e farinha de trigo (10,71%). No caso dos não alimentícios, o impacto foi ainda mais visível e elevou os preços desde artigos de limpeza (1,73%, sob pressão dos custos das embalagens) até óculos e lentes (1,32%, com repasse do aumento das armações importadas).

A inflação de setembro só não for maior porque a queda no preço do gás de cozinha (-7,61%) ajudou a conter a alta do índice. A redução de 12,4% dos preços do produto nas refinarias a partir de 19 de agosto, determinado pela Agência Nacional de Petróleo (ANP), já havia contido a inflação em agosto, quando o produto teve queda de 3,11%. Em setembro, o gás de cozinha representou uma contribuição negativa de 0,13 ponto porcentual. Ou seja, se o preço do produto ficasse estável, por exemplo, a inflação atingiria pelo menos 0,85%.

Os dados do IBGE revelaram também que, mais uma vez, a inflação foi maior para a população de baixa renda em setembro. O INPC (renda de um a oito salários mínimos) atingiu 0,83%, bem superior ao IPCA.

Os impactos do dólar já começam a elevar as apostas de aumento ou, pelo menos, estabilidade na taxa de juros até o fim deste ano. Em relatório divulgado ontem, o BBV Banco aponta que está "configurada uma conjuntura que não nos permite vislumbrar uma redução dos juros até o final do ano" e que "há pouco espaço para a queda da inflação em 2003".

Petróleo - O preço represado dos combustíveis nos três últimos meses pode provocar um impacto expressivo na inflação de novembro e dezembro. O IPCA poderia ultrapassar 1% em novembro, caso a Petrobrás repasse a defasagem integral acumulada nos três últimos meses entre os preços da gasolina e do óleo diesel em relação ao mercado internacional. (Colaborou Kelly Lima/AE)


Artigos

Os mais mal votados
Roberto Macedo

No mês passado, neste espaço, foram publicados dois artigos meus criticando as eleições proporcionais para deputados. Em síntese, defendi a tese de que uma boa escolha não pode prescindir da lista de candidatos e de informações sobre todos eles. Entretanto, dado o seu enorme número - 793 candidatos a 70 vagas federais e 1.572 a 94 estaduais - não seria possível cumprir esse requisito.

Argumentei também que numa boa escolha a seleção de um deve excluir os demais. A eleição presidencial, por exemplo, cumpre esse requisito.

Entretanto, na eleição proporcional, com a transferência de votos para outros candidatos dentro do mesmo partido ou coligação, há sempre risco de o eleitor sufragar indiretamente um candidato que por sua vontade não teria o seu voto. Ou, então, de eleger um desconhecido.

E mais: recebendo votos em todo o Estado, os eleitos não têm maiores vínculos com os eleitores, nem estes têm condições de cobrar desempenho dos deputados. Na seqüência, defendi o voto distrital como saneador desses defeitos.

Os resultados do pleito evidenciaram esses vícios de forma contundente, em particular com a eleição do dr. Enéas, do Prona, para a Câmara dos Deputados. Com uma votação recorde de 1,6 milhão de votos, elegeu mais cinco do seu partido, o último da lista com apenas 275 votos. Na lista de votação dos candidatos de todos os partidos, há vários com mais de 100 mil votos ou perto disso, que não foram eleitos.

Duvido que alguém que tenha votado no dr. Enéas imaginasse que estaria escolhendo os outros federais do Prona, ou mesmo que os conhecesse como candidatos. O resultado é a antítese da democracia representativa, pois esses outros eleitos constituirão uma representação que não tem nada de democrática. Por outro lado, será impossível ao dr. Enéas representar seus eleitores espalhados por todo o Estado, nem estes terão condições de interagir com seu "representante".

Também na Assembléia Legislativa as distorções ficaram muito evidentes.

Neste caso, o Prona teve quatro eleitos - o mesmo número do PMDB -, arrastados pela votação da candidata dra. Havanir, de 679 mil votos, com o último eleito do partido tendo cerca 10 mil votos. É um número bem superior aos dos votos dos federais pronistas arrastados pelo dr. Enéas, mas mesmo assim mostrando grandes distorções, pois nas demais legendas o menos votado teve cerca de 35 mil votos e a maioria, bem acima de 50 mil.

Imaginando, no caso dos federais, o voto distrital simples, e tomando o número total de eleitores paulistas (25,6 milhões), com 70 vagas na Câmara cada distrito teria cerca de 360 mil eleitores, o que equivale a uma cidade de médio porte. Mantida a estrutura partidária atual e as mesmas coligações, teríamos apenas 12 candidatos por distrito. Assim, seria muito mais fácil ter informações sobre os candidatos, fazer comparações e chegar à escolha de apenas um deles, excluindo todos os demais, direta ou indiretamente. E o eleito, residente do próprio distrito, ficaria bem próximo de seus representados, sendo cobrado e tendo condições de prestar contas a todos, seus eleitores ou não. Entre outras formas de comunicação, o distrito tornaria v iáveis a mala direta e as mensagens eletrônicas, pois que os destinatários seriam conhecidos.

Aliás, nos últimos dias, vi na televisão várias reportagens em que eleitores eram entrevistados com o objetivo de se saber em quem haviam votarado quatro anos atrás. Muitos dizem não se lembrar.

Outro desastre é que a maioria dos eleitos também fica sem saber quem votou neles, com um mínimo de precisão indispensável para manter uma comunicação efetiva com seus representados.

Mais uma vez: que representação é essa?

Não estou generalizando conclusões a partir apenas do "efeito Enéas". Pelas suas dimensões , ele apenas dramatiza as distorções. O chamado coeficiente eleitoral - número de votos válidos necessário para eleger um federal dentro do mesmo partido ou coligação - deve ter ficado em torno de 300 mil votos.

Além do dr. Enéas, apenas dois eleitos, do PT, superaram esse coeficiente.

Os demais se elegeram em parte puxados por esses mais "bem" votados e, principalmente, empurrados pelos 723 candidatos que não tiveram votação suficiente. Coloquei aspas ao referir-me aos mais bem votados, mas não para denegrir a qualidade dos eleitos, mas a do voto em si, que acabou não sendo dirigido apenas ao escolhido, mas levou à eleição de outros, sem que isso fosse necessariamente desejado pelo eleitor. Independentemente da qualidade do candidato, nesse sentido todos são mal votados, uns mais, outros menos. O problema está na forma de votar.

Minha esperança é que esses resultados eleitorais venham a contribuir fortemente para demonstrar a grande farsa que é a eleição proporcional, e que surjam grandes pressões para reformá-la. O PT nunca gostou da idéia do voto distrital porque no seu início era um partido minoritário e tinha receio de perder espaço com a mudança. Agora não é mais o caso e, a menos que suas convicções democráticas não sejam tão fortes como apregoa, deveria também empunhar essa bandeira. Ademais, o argumento de que o voto distrital exclui as minorias políticas não é motivo para não adotá-lo, pois há a alternativa do distrital misto, em que uma metade dos parlamentares seria eleita pelos distritos e a outra, a partir de listas partidárias com voto no partido, mas não diretamente nos candidatos. Nessa alternativa, um fenômeno como esse do dr. Enéas seria reduzido à metade no seu efeito deletério sobre a representação democrática, o que já seria um grande avanço.

Para concluir, tomo o Prona sem a abreviação. Como Partido da Reedificação da Ordem Nacional, surge agora com mais força no cenário político, mas já começa mal, pois se edifica a partir dessa desordem nacional que é a eleição para deputados.


Editorial

RECOMEÇA O ATAQUE AO REAL

O dólar voltou a disparar, depois de um dia quase calmo no mercado cambial. O Banco Central (BC) fracassou novamente, segundo vários analistas, no esforço de conter a especulação com a moeda americana.

Se novas pesquisas não revelarem um aumento substancial das possibilidades do candidato Serra, as cotações continuarão a ser comandadas, pelo menos até a próxima votação, pelos interessados em lucrar com a instabilidade. Até o fim do ano, haverá três vencimentos de papéis vinculados ao câmbio, no valor total de US$ 9,34 bilhões. O primeiro ocorrerá dia 17, quando será preciso rolar ou pagar títulos equivalentes a US$ 3,6 bilhões.

A instabilidade cambial começou em maio. No fim de abril, o dólar valia R$ 2,36, praticamente a mesma cotação de um ano antes. O mercado financeiro tornou-se instável quando o candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva, despontou com grande vantagem nas pesquisas de intenções de voto. Desde essa fase, as tensões apenas cresceram, apesar das tentativas de Lula para mostrar-se confiável.

Nada mais favorável à especulação do que um ambiente de insegurança. A procura de moeda americana, ou de papéis vinculados ao dólar, pode ter sido alimentada, no início, principalmente pelo desejo de proteção. Com o tempo, a onda especulativa cresceu e passou a determinar as grandes oscilações do mercado. Desde a segunda-feira, uma vez conhecidos os números de sua estrondosa vitória parcial, Lula não deu uma única declaração que pudesse tranqüilizar o mercado.
Ao contrário, tratou levianamente a questão, como se ele nada tivesse a ver com o nervosismo do mercado: "Cabe ao presidente Fernando Henrique e sua equipe econômica, que não estão em campanha, se dedicarem a acalmar o mercado, enquanto eu tenho de ganhar votos."

Com a insegurança crescente, o governo foi levado a mudar a administração da dívida pública. Grandes vencimentos concentraram-se neste semestre. Para o mercado, a posição defensiva do governo tornou-se uma nova fonte de ganhos, especialmente quando se trata de liquidar, ou de rolar a juros muito altos, papéis vinculados ao câmbio. Ao se aproximar o vencimento desses títulos - sejam compromissos cambiais ou contratos de swap cambial -, os credores do governo procuram valorizar o dólar. Depois de dois vencimentos em condições muito desfavoráveis, o Banco Central tentou mudar o jogo, tornando a especulação mais cara para os bancos. Para isso, elevou de 50% para 75% o patrimônio líquido necessário para respaldar a posição vendida em moeda americana.

A novidade pareceu produzir um pequeno efeito, na segunda-feira, mas na terça o dólar voltou a disparar logo de manhã. Segundo uma das explicações, a maior parte dos grandes bancos tem folga, em suas carteiras, para ampliar a posição comprada. Muitos deles, além disso, não teriam interesse na rolagem de papéis cambiais, preferindo reforçar seu estoque de moeda estrangeira.

Há, também, a suposição de que o efeito da nova regra só será sensível a partir de segunda-feira, quando terminar o prazo para o ajuste das posições dos bancos. Essas explicações não se excluem mutuamente e só dentro de alguns dias se poderá avaliar a situação com maior clareza. É preciso, no entanto, não esquecer a explicação do diretor de Normas do BC, Sérgio Darcy, ao anunciar a nova exigência: não se esperava que os bancos desovassem grandes volumes de dólares no mercado, mas apenas que seu apetite por moeda americana fosse reduzido.

A dimensão desse apetite será conhecida, com maior segurança, no começo da próxima semana.

Até lá, quem se preocupa com a saúde da economia brasileira terá todos os motivos para permanecer ansioso. As pressões contra o real estão afetando não só as contas públicas, mas também, e cada vez mais intensamente, os preços. A especulação, mesmo que venha a dissipar-se em algumas semanas, poderá ainda causar estragos consideráveis, especialmente se a cotação do dólar não recuar para uma posição mais razoável. Os diretores do BC, portanto, deveriam estar fazendo um balanço cuidadoso de seu arsenal. Ainda há, certamente, armas disponíveis para um ataque mais forte contra a especulação, se as pressões contra o real não cederem logo.


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10/10/2002


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