Lula diz que Itamar estará em palanque
Lula diz que Itamar estará em palanque
Petista deve se encontrar com governador em Minas e disse que o quer em seu palanque em outros Estados
O presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse ontem que já é "certa e definitiva" a presença do governador de Minas Gerais, Itamar Franco (sem partido), em seu palanque eleitoral.
"Itamar definiu claramente que nos apóia. Queremos agora que ele viaje conosco para outros Estados, isso já está consolidado", afirmou Lula, durante a posse da nova diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
O possível apoio de Itamar é disputado entre Lula e seu adversário tucano, José Serra. A reaproximação de Itamar com o presidente Fernando Henrique Cardoso e seu apoio ao presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB), na disputa pelo governo de Minas, geraram dúvidas sobre a possível adesão do governador mineiro à campanha petista.
Lula, no entanto, disse que o apoio é certo. Na próxima quarta-feira, o petista afirmou que irá se encontrar com Itamar em Minas para acertar sua participação na campanha. O prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel, tenta organizar esse encontro há pelo menos duas semanas. Segundo as assessorias, houve desencontro de agendas.
A cúpula do PT avalia que a presença de Itamar na campanha é estratégica, pois o ex-presidente pode comandar seguidores em diversos Estados.
Lula conta também com um possível apoio da ala rebelde do PMDB, que não aceitou a aliança do partido com o PSDB.
"Conseguimos o apoio de parte do PMDB de Goiás e da Paraíba", disse Lula, que reafirmou ser "bem-vinda" a adesão do ex-governador Orestes Quércia (PMDB-SP) à campanha, apesar das antigas divergências políticas.
"Estive no palanque com Quércia no movimento das Diretas-Já e no ato de impeachment de Fernando Collor ex-presidente". Quero o apoio de todas as pessoas que votam contra o projeto neoliberal que afundou o nosso país."
O passado
As declarações de Lula foram feitas durante a cerimônia de posse de Luiz Marinho como presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que reuniu cerca 2.000 pessoas, segundo organizadores-a Polícia Militar não forneceu o número de participantes.
O evento ocorreu no estádio da Vila Euclides, que tem significado simbólico para o partido e para seu presidenciável -foi lá, no final da década de 70, que Lula despontou no cenário nacional, ao comandar greves metalúrgicas.
"É sempre muito prazeroso vir a Vila Euclides. Aqui começou a minha história", disse Lula, ao lado de sua mulher, Marisa.
Luiz Marinho, apesar de empossado, está afastado da presidência porque é vice do candidato José Genoino (PT) ao governo de São Paulo. O presidente interino é José Lopez Feijóo.
Participaram do evento os petistas Eduardo Suplicy, Aloizio Mercadante, Paulo Frateschi, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, Jair Meneguelli e Luiz Eduardo Greenhalgh.
Internacional
Lula reúne-se hoje, pela manhã, com Pascal Lamy, representante da União Européia (UE) em missão oficial no Brasil. Como comissário para assuntos comerciais, Lamy deverá participar do Encontro Ministerial Mercosul-União Européia, no Rio.
O embaixador-chefe da delegação da UE no Brasil, Rolf Timans, e dirigentes petistas irão acompanhar o encontro.
Petista promete reforçar pasta do Planejamento
O candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse anteontem a empresários do centro-oeste mineiro, em Divinópolis, que num eventual governo petista o Ministério da Fazenda perderá poder para o do Planejamento, que, segundo ele, "deixou de planejar faz muito tempo".
"Se ganharmos as eleições, o Ministério da Fazenda deverá perder muita importância, e o Ministério do Planejamento deverá ganhar muita importância no Brasil, porque, se não conseguir planejar a longo prazo, você não consegue estabelecer um plano de metas."
Lula criticou a falta de planejamento no país, aproveitando para lançar farpas contra José Serra (PSDB): "O Serra ficou dois anos no Ministério do Planejamento e não se sabe nenhum projeto que ele apresentou para o Brasil, e os técnicos estão lá querendo trabalhar". (PP)
Demissão ameaça PFL pró-Ciro em SC
Objetivo é afastar correligionários do senador Jorge Bornhausen, que apóia Ciro (PPS) e Esperidião Amin (PPB)
Aliado em Santa Catarina do candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, o ex-prefeito de Joinville e candidato ao governo do Estado, Luiz Henrique (PMDB), tem cobrado dos coordenadores da campanha de Serra que promovam uma demissão coletiva de correligionários do senador Jorge Bornhausen (PFL) em cargos públicos federais de Santa Catarina.
O senador declarou apoio à candidatura de Ciro Gomes (PPS) e apóia a reeleição do governador Esperidião Amin (PPB), adversário de Luiz Henrique. "Quem tem de comandar o governo federal em Santa Catarina somos nós (PSDB e PMDB), e não o Esperidião Amin e o Jorge Bornhausen, que estão do outro lado", disse ontem o ex-prefeito, que chegou a ser cotado para vice de José Serra.
O coordenador da campanha PSDB-PMDB em Santa Catarina, Geovah Amarante, afirma que o PFL comanda a Eletrosul, o Inmetro, o Ibama, a Funasa (Fundação Nacional de Saúde), a Embratur, o Serpro e o IBGE.
"Queremos pelo menos o comando de cada um desses órgãos", disse Amarante.
A coligação PSDB-PMDB também sugere a destituição do conselheiro da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) Eduardo Felipe Ohana, que teria sido indicado para o cargo após a licença de Paulo Bonrhausen, filho do senador, que se candidatou ao Senado por Santa Catarina.
O senador Geraldo Althoff (PFL-SC), um dos principais aliados de Bornhausen e elo do PFL com a campanha de Ciro, reconhece que o PFL tem os principais cargos de chefia na Eletrosul, no Inmetro e no Ibama.
Segundo o senador, "desde março", quando o PFL rachou com o governo federal após o escândalo envolvendo a empresa Lunus, de Roseana Sarney (PFL-MA), "todos os cargos do PFL foram colocados à disposição do governo federal".
Althoff afirmou que "não mais que três" servidores em cargos de chefia pertencem aos quadros do PFL. "Todos entregaram suas cartas de demissão", disse o senador.
Perguntado se o governo deve tomar a iniciativa e demitir os afilhados políticos de Bornhausen e do PFL, o senador respondeu: "Se forem inteligentes, que façam. Senão o Serra vai para quarto lugar (nas pesquisas)".
Reação
O apoio declarado de Bornhausen ao candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes (PPS), deu mais força ao pedido da coligação PSDB-PMDB em Santa Catarina.
Luiz Henrique e um grupo de candidatos da coligação PSDB-PMDB foram a Brasília, na última quarta-feira, para pedir providências ao coordenador da campanha de Serra, Pimenta da Veiga (MG), e ao secretário-geral da Presidência, Euclides Scalco.
Veiga e Scalco cobraram uma lista com os nomes dos funcionários públicos que integram o grupo de Bonrhausen e disseram que seriam tomadas providências.
No decorrer desta semana, o senador Casildo Maldaner (PMDB) deve entregar à coordenação da campanha de Serra uma lista com todos os ocupantes de cargos federal em Santa Catarina da cota de Jorge Bornhausen, do PFL e também do PPB.
O levantamento começou a ser feito durante o final de semana pelas presidências do PSDB e do PDMB catarinenses e deverá ser concluído na terça-feira.
Além da questão dos cargos, Luiz Henrique tem outro motivo para se sentir desprestigiado. Ele reclamou a aliados que não consegue sequer conversar por telefone com José Serra, mas apenas com a vice, Rita Camata (PMDB).
Anteontem, em entrevista a uma rádio de Concórdia, Luiz Henrique sugeriu que Serra tem feito jogo duplo, ao apoiar Ami n e Luiz Henrique ao mesmo tempo. "Quem tem um pé em cada canoa acaba afundando", disse o ex-prefeito de Joinville, em entrevista à rádio Eldorado.
Justiça Eleitoral apreende boletim do PT gaúcho com críticas a Britto
Partido vai recorrer de decisão do juiz
O primeiro boletim de campanha do PT do Rio Grande do Sul foi apreendido por determinação da Justiça Eleitoral anteontem. O juiz da 112ª Zona Eleitoral, Pedro Rodrigues Bossle, considerou o material ofensivo aos candidatos de oposição, que em seus textos são definidos como ""escória".
O boletim -que teve uma tiragem de 20 mil exemplares- não tem periodicidade definida e ainda não chegou a ser distribuído: a intenção do PT é distribuí-lo a partir de terça, convocando para a caminhada que o candidato à Presidência do partido, Luiz Inácio Lula da Silva, deverá fazer em Porto Alegre com o candidato ao governo do partido, Tarso Genro.
O pedido de apreensão foi feito pelo PPS, sustentando que o principal ofendido foi Antônio Britto. O juiz considerou o boletim ofensivo ao ex-governador porque há expressões como ""risco Britto". Além disso, segundo o juiz, a propaganda não trazia o nome da coligação responsável (Frente Popular) e as respectivas legendas.
A coordenação de campanha petista se defende dizendo que o material identificava a coligação Frente Popular. O advogado Antônio Castro, do PT, entrou ontem, ao mesmo tempo, com um pedido de reconsideração ao juiz e um recurso ao TRE (Tribunal Regional Eleitoral). "É incrível: se não podemos fazer um boletim criticando o Britto, o que poderemos fazer nesta campanha?", disse o vice-presidente regional do PT, Paulo Ferreira, que coordena a campanha de Lula no Estado.
O comitê eleitoral do PT no bairro São João, zona norte de Porto Alegre, foi arrombado na madrugada de anteontem. Foram levados produtos de campanha da loja do partido, como bandeiras, adesivos e outros materiais. O partido ainda iria fazer um levantamento do que foi roubado.
Garotinho aposta na televisão para subir nas pesquisas
Quarto colocado nas pesquisas, o candidato do PSB à Presidência da República, Anthony Garotinho, disse ontem, no interior de São Paulo, que com a falta de recursos de sua campanha espera dar a volta por cima e até ir para o segundo turno após o horário eleitoral na televisão.
Em Sorocaba (interior de São Paulo), Garotinho disse que conquistará o voto dos indecisos a partir da sua exposição na televisão. Ele participou ontem de um encontro de jovens da Assembléia de Deus na cidade, que reuniu cerca de 10 mil pessoas, segundo a organização.
Garotinho sustenta que dos três principais presidenciáveis -José Serra (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Ciro Gomes (PPS)- é o que mais tem condições de conquistar o apoio dos indecisos, por ser o único "desconhecido nacionalmente".
"Serra faz parte do governo, Ciro é ex-ministro e Lula já está na quarta tentativa. Se o eleitor tivesse de ter escolhido entre um deles, já teria feito", disse Garotinho.
Ainda segundo Garotinho, o seu "desconhecimento" é reflexo da falta de dinheiro na sua campanha para fazer viagens pelo Brasil. "Outros candidatos mais à frente não têm esse tipo de dificuldade. Sobram recursos, mas algo está errado."
O candidato disse ontem que, se eleito, vai implantar uma "reforma tributária agregada com desoneração de importações" para baixar o valor dos impostos.
Questionado sobre como faria isso, Garotinho atacou o governo de Fernando Henrique Cardoso, dizendo que o presidente perdeu o momento oportuno, que seria "logo após as eleições", para negociar com os partidos, o que ele não repetiria.
Acompanhado do deputado estadual Neuton Lima (PFL), Garotinho foi recepcionado depois, em Itu, pessoalmente pela primeira-dama, Maria do Carmo Piunti (PSDB), na entrada do ginásio de esportes do Ituano, onde participou de outro encontro de jovens da Assembléia.
O pastor Raimundo Soares de Lima, pai de Neuton, disse que se empenharia para obter dos fiéis dinheiro para a campanha de Garotinho pelos bônus de R$ 1.
De Itu, Garotinho seguiria para Limeira e Campinas, ainda na noite de ontem, também para participar de encontros de jovens da Assembléia de Deus.
Candidato faz apelo a evangélicos
Em baixa nas pesquisas de intenção de voto, o presidenciável Anthony Garotinho (PSB) usou de sua condição de evangélico para pedir votos anteontem à noite em um evento de líderes da Igreja Sara Nossa Terra onde se misturou política com religião e críticas ao governo.
Em um discurso cheio de saudações religiosas e citações bíblicas, Garotinho pediu engajamento em sua campanha e votos "no presidente que vai discutir valores e se preocupar com a família".
O candidato lançou um slogan para ser usado pelos evangélicos na hora de pedir votos. "Ele é meu irmão, ele é crente, mas eu voto nele porque ele é competente".
Na onda dos presidenciáveis de aproveitar a presença da família nas campanhas, Garotinho subiu no palco com a filha Clarissa, 21, que havia passado o dia em Brasília fazendo panfletagem.
Em uma fusão de religião e política, o presidenciável se ajoelhou no palco do Ginásio Nilson Nelson, o maior do Distrito Federal, para ouvir a oração do bispo Robson Rodovalho, o líder da Igreja Sara Nossa Terra, na qual classificou a pretensão de Garotinho à Presidência de "projeto divino" e não um "projeto humano".
"Deus, o Brasil não merece o que está passando. Somos um país maravilhoso, com riquezas e com um povo maravilhoso. Coloque políticos hábeis e honestos. Coloque nosso irmão Anthony Garotinho na Presidência em nome do Senhor Jesus Cristo."
Espinheiro
Garotinho usou a Bíblia para justificar sua candidatura e criticar o governo. Contou a parábola na qual as árvores se reuniram para eleger o rei. Depois de consultarem a oliveira, que não quis deixar de produzir o azeite, a figueira, que não quis largar a doçura da fruta, e a videira, que não concordou em deixar de produzir o vinho para os homens, encontram o espinheiro que aceitou com a condição de que todos vivessem sob sua sombra inexistente.
"O espinheiro é a miséria, a fome, a injustiça. Tudo que é provocado a partir de um modelo econômico que privilegia tanto o sistema financeiro em detrimento das pessoas. Não estamos tratando de uma pessoa, estamos falando de um sistema injusto. Um sistema que reina há muito tempo", disse mais tarde em entrevista.
Depois de afirmar que os evangélicos são discriminados, Garotinho evitou dizer que tem sido discriminado politicamente como o único dos três principais candidatos de oposição a não ser chamado para um encontro com o presidente do Banco Central, Armínio Fraga. "Provavelmente ele irá chamar ainda. Eu acredito na boa-fé dele", afirmou.
Se Serra não decolar, PMDB fica com Lula
Partido não deve apoiar Ciro Gomes porque PFL já embarcou primeiro na campanha da Frente Trabalhista
Ao contrário de seções estaduais do PFL e do PPB que ameaçam rever o apoio a José Serra (PSDB) devido à subida de Ciro Gomes (PPS) nas últimas pesquisas, o PMDB continua firme com o tucano. Discretamente, porém, discute o que fazer num eventual segundo turno Lula-Ciro.
A Folha apurou que, hoje, a tendência majoritária na cúpula é pró-PT. Se Ciro demonstrar enorme vantagem sobre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas simulações de segundo turno, a tendência é liberar cada liderança nacional, estadual e municipal a seguir o caminho que desejar. Essa avaliação não será feita publicamente, porque o PMDB jogará pesado para tentar levar Serra ao segundo turno da eleição presidencial.
Mas os dirigentes do partido já têm data para fazer uma análise mais precisa sobre quem deverá estar no segundo turno. Um cacique diz que, passado s 20 dias da propaganda de TV, ficará claro se Serra conseguirá chegar lá.
Se o candidato do PPS mantiver o segundo lugar com sete a oito pontos percentuais acima de Serra, ficará difícil segurar prefeitos e candidatos a deputado e a senador, que escolheriam na reta final a canoa de Ciro ou de Lula. Só a cúpula do PMDB, grupo que bancou a aliança com o PSDB, ficaria no barco serrista. Os três principais fatores que tornam mais provável um acerto com o PT são:
1) divergências regionais: a avaliação da cúpula é que adversários políticos de dirigentes peemedebistas, sejam eles do PFL ou do PSDB, chegarão primeiro ao barco de Ciro. É o caso de Antonio Carlos Magalhães, cacique pefelista da Bahia que é inimigo mortal do deputado federal peemedebista Geddel Vieira Lima (BA), um dos mais fiéis serristas.
Outro exemplo é o tucano Tasso Jereissati, um crítico duro da parcela de poder que o PMDB teve nos anos FHC. Tasso era o tucano que poderia ser candidato a presidente em aliança com o PFL. O PMDB sempre preferiu Serra.
Tasso será forte num eventual governo Ciro, uma espécie de fiador da governabilidade e interlocutor empresarial. Na campanha cirista, é lembrado para ministro da Fazenda ou chefe da Casa Civil. O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, que rompeu com o governo, é outro nome cotado para o ministério. Também é lembrado para a Casa Civil.
O próprio Ciro é crítico duro do PMDB. Ataca Serra lembrando que o tucano apoiou a eleição de Jader Barbalho para presidente do Senado. Jader renunciou ao posto e ao mandato devido a acusações de envolvimento em irregularidades no caso da extinta Sudam (Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia);
2) base parlamentar: além da indisposição entre aliados de peso de Ciro e dirigentes do PMDB, há também a avaliação peemedebista do chamado "atacado político". Se o candidato do PPS chegar ao segundo turno e Serra ficar pelo caminho, já que Lula parece ter uma das duas vagas assegurada, parcela expressiva do PSDB e a fatia do PFL que está com o tucano serão candidatas a formar o núcleo de sustentação de Ciro, ao lado das legendas da aliança. Ou seja, um governo Ciro teria PPS, PDT e PTB mais PSDB e PFL como siglas de sustentação. Nesse caso, o PMDB estaria sujeito a ser canibalizado, com Ciro estrangulando o poder dos peemedebistas inimigos de seus aliados;
3) avaliação sobre o PT: a menos que Ciro Gomes se torne uma onda tão forte que mostre que Lula será esmagado no segundo turno, a cúpula vê vantagens em um acordo com o petista.
Reta final
O mais importante a oferecer ao PT é o apoio de dirigentes estaduais na reta final da eleição e a força congressual para dar sustentação a um eventual governo Lula no Legislativo. Assim, o PMDB seria o partido que garantiria ao PT o núcleo de sustentação parlamentar, ajudando os petistas a atrair um setor do PSDB.
Na avaliação da cúpula tucana, a base do eleitorado do PSDB ficaria com Ciro, se Serra não chegar ao segundo turno. Mas FHC e Serra tenderiam a apoiar o PT.
O presidente repetiria o comportamento do ministro Pedro Malan (Fazenda) na eleição para o governo do Distrito Federal em 1998. Malan não assumiu publicamente, mas vazou por assessores e interlocutores que preferia o petista Cristovam Buarque a Joaquim Roriz, peemedebista que acabou eleito governador.
Mais: dirigentes peemedebistas que boicotaram a aliança com Serra têm afinidades com o PT, o que facilitaria um reagrupamento, já que o partido rachou ao apoiar o tucano. Exemplo: Orestes Quércia, candidato ao Senado que fez aliança branca com Lula em São Paulo, poderia se entender com o presidente do partido, o deputado federal Michel Temer, aliado de Serra. Há casos parecidos em outros Estados.
Tucano encontra representante da União Européia
O presidenciável do PSDB, José Serra, tem encontro marcado hoje com o comissário de comércio da União Européia, Pascal Lamy, em São Paulo. Segundo sua assessoria, o objetivo da reunião é discutir o futuro das relações entre o Mercosul e a União Européia.
Após a reunião, marcada para as 11h, Serra permanece na cidade. Estão agendadas uma visita ao posto do Programa Saúde da Família, na Vila Aparecida, e a gravação de uma entrevista para o programa "Show Busine$$", da Rede TV.
José Serra não fez campanha nas ruas ontem. O presidenciável aproveitou o domingo para se reuniur com colaboradores no comitê de sua campanha em São Paulo. Com a presença dos publicitários Nizan Guanaes e Nelson Biondi, foram discutidos os principais pontos de seu programa de governo.
Artigos
A bolha e você
Vinicius Torres Freire
SÃO PAULO - A santa na janela de Ferraz de Vasconcelos ou as venturas da primeira-dama "wannabe" Patrícia Pillar parecem assuntos menos chatos que o pânico nas Bolsas, mas a coisa está feia nos Estados Unidos, senhoras e senhores.
Os americanos estão à beira do medo histérico de uma tragédia nas Bolsas. Bolsa, lá, não é essa coisa pequena, esotérica e infelizmente desimportante que é no Brasil. O dinheiro que circula na Bolsa paulista em um dia roda na Bolsa de Nova York em minutos. Mais de 60% das famílias têm dinheiro lá. É a poupança, o plano de aposentadoria, o dinheiro guardado para pagar a universidade caríssima dos filhos deles.
A queda do preço das ações das empresas torra a poupança das famílias. Se mais gente entrar em pânico e vender suas ações, a Bolsa cai mais, torra mais poupança etc. Isso se chama "crash". Se acontecer, o já endividado americano tende a parar de gastar, com medo de desemprego, para recompor seu patrimônio. Se os EUA não gastam, a economia global emperra, nós aqui também.
O medo tem piorado porque se descobriu não só que empresas fraudavam o valor de seus lucros (mais lucro, mais uma ação tende a subir) e porque agora os lucros verdadeiros são menores, devido à recessãozinha de 2001 e a uma crise de superprodução na indústria. A mentira sobre os lucros era a alma do negócio da bolha dos 90. Era sistemática. Até dia 14 de agosto, as 945 maiores empresas têm de dizer ao governo se fraudavam balanços (o que não inclui a maquiagem esperta da era da bolha). Diz-se que há mais megafraudes por vir. O bicho vai pegar.
Após a tola história de que a número 2 do FMI viria ao país fechar um acordo, circula a tola idéia de que as relações do Brasil com os economistas de George Bush melhoraram porque o ministro das Finanças deles, Paul O'Neill, vem aqui. O'Neill, ora tratado como palerma por mídia e mercado nos EUA, esteve semana passada no Uzbequistão e no Quirguistão. Após o Brasil, vai à Argentina. Estamos bem no lance.
Colunistas
PAINEL
Questão de fundo
O comitê de José Serra priorizará a arrecadação para a campanha, principalmente entre os bancos e as indústrias de São Paulo. Na avaliação dos tucanos, a campanha só decolará com a injeção imediata de dinheiro.
Canteiro vazio
O PSDB tem dificuldades para arrecadar recursos das empreiteiras. Doadores tradicionais, estão com poucas obras.
Outros interesses
Empresas privatizadas já não aceitam dar recursos à campanha de Serra. Usineiros e empresários nordestinos estão preferindo financiar o comitê de campanha de Ciro Gomes.
Regime rigoroso
Gerson Camata (PMDB-ES) parou de fumar e de beber por recomendação médica. E praticamente parou de ver a mulher, Rita Camata, dedicada à campanha presidencial de Serra.
Apoio tucano
FHC escolheu a procuradora da República Consuelo Moromizato para desembargadora do Tribunal Regional Federal em São Paulo, na quota do Ministério Público Federal. A mais votada na lista tríplice foi a procuradora Elizabeth Peinado.
Prato do dia
O PT do PR vai denunciar Serra no TSE por suposto crime eleitoral. Tucanos de Cascavel (PR) distribuíram 5.000 convites com direito a um almoço para o showmício de sábado. Padre Roque (PT-PR) diz que o ato infringiu o Código Eleitoral, que veda a concessão de vantagem ao eleitor em troca de voto.
Brechas da lei
O presidente do Tribunal de Justiça da Bahia, Carlos Dultra Cintra, pediu ajuda da AMB (Associação dos Magistrados do Brasil) para denunciar o déficit de juízes no Estado. Nada menos que um terço das vagas previstas está vazio. O problema pode afetar as eleições.
Mil e uma utilidades
Acusada de fraude ao remeter US$ 1,3 bilhão ao exterior, a Bombril fez acordo com o governo, em 2000: a Comissão de Valores Mobiliários suspendeu inquérito e o controlador Sérgio Cragnotti doou R$ 1 milhão ao órgão e R$ 1 milhão ao Programa Comunidade Solidária.
Trampolim mínimo
O comando da campanha petista avalia que Lula não pode chegar ao primeiro turno com menos de 30% dos votos. Se isso ocorrer, a vitória no segundo turno será quase impossível.
Pé em cada canoa
Lula receberá o apoio do PMDB-MA, controlado por José Sarney. Roseana ficará com Ciro e Zequinha votará em Serra.
Rompante da minoria
A Articulação de Esquerda, tendência minoritária no PT, divulgou carta intitulada "Sem medo da ruptura". Pede votos para Lula, mas diz que o PT "encontra-se dominado por uma tendência social-democrata".
Vasos comunicantes
Roseana (PFL-MA) quer responsabilizar a União pelo vazamento à imprensa do inquérito sobre a Sudam, o que atribui a delegados da PF e procuradores.
Integração regional
O Ministério da Integração Nacional já liberou R$ 205 milhões em julho. R$ 31,6 milhões foram para a Paraíba, Estado do ex-ministro Ney Suassuna. E R$ 24,2 milhões para Alagoas, do ministro Luciano Barbosa.
Sem justa causa
Secretários do Ministério da Justiça que entregaram seus cargos em solidariedade a Miguel Reale pediram ao novo ministro, Paulo de Tarso, para ficar na Pasta. O Planalto não permitiu.
Modéstia à parte
Slogan do vereador Carlos Apolinario (PGT), candidato à sucessão de Geraldo Alckmin: "São Paulo nas mãos de Deus".
TIROTEIO
Do ex-senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), sobre a queda do candidato José Serra nas pesquisas e a consequente migração de apoios para a candidatura de Ciro Gomes:
- Serra vai ser abandonado dia após dia. Quem acompanha candidato que o povo não quer também perde voto.
CONTRAPONTO
Última palavra
Em 1996, José Serra, atual candidato do PSDB à Presidência, disputou a eleição para a Prefeitura de São Paulo. Uma das explicações dos marqueteiros -chefiados por Nizan Guanaes- para os baixos índices nas pesquisas era o semblante sério do candidato, que não transmitia "emoções" ao eleitor.
Para tentar reverter a situação, decidiram gravar diálogos de Serra com eleitores, colocando um pequeno microfone na lapela do candidato.
A primeira experiência foi numa caminhada no Mercado Municipal de São Paulo. Serra foi ao mercado acompanhado de mulheres, entre elas, uma tia sua.
Ao chegar ao local, Serra viu uma equipe de jornalistas. Imediatamente alertou as mulheres:
- Olhem os jornalistas chegando. Não falem nada!
Os marqueteiros ouviram a frase gravada. No ato, abandonaram a estratégia.
Editorial
CAPITAL ELEITORAL
Ganhou maturidade o debate acerca do uso de informações privilegiadas sobre ascensão e queda de candidatos para ganhar dinheiro no mercado financeiro. A Comissão de Valores Mobiliários obrigou as instituições que operam sob seu controle a informarem, num prazo de 24 horas, sobre a contratação de pesquisas eleitorais.
A agência reguladora passará a monitorar os movimentos da corretora que encomendou a pesquisa até o momento em que houver a divulgação de seus resultados. Se forem constatadas práticas lesivas ao mercado, a instituição será multada e os ganhos obtidos nas operações irregulares serão anulados.
A resolução da CVM só vale para as pesquisas registradas no TSE. Um banco que contratar sondagem apenas para seu consumo próprio -que não será divulgada- está desobrigado de prestar informações à comissão. Mas é justo nesse ponto que reside uma brecha importante para manipulações.
Entre a data que uma pesquisa é registrada no TSE e a da publicação de seus resultados, a lei obriga que haja um espaço de pelo menos cinco dias. Sabendo que uma enquete está em curso, uma corretora pode contratar uma pesquisa informal para saber a tendência do eleitorado naqueles dias. Com a informação privilegiada, terá tempo para operar no mercado antes da publicação do resultado da sondagem registrada no TSE.
Para fechar essa brecha, o presidente do TSE, Nelson Jobim, recomendou uma mudança na lei eleitoral: a retirada do prazo obrigatório de cinco dias entre registro e publicação de uma pesquisa. A sondagem poderia ser registrada no mesmo dia de sua publicação, o que impediria o "parasitismo" de quem quer operar se antecipando aos fatos. A proposta é interessante, embora não possa valer para as eleições de outubro.
É evidente que tudo isso não acaba com as possibilidades de manipulação de mercados. A boataria é incontrolável. Mas o debate evidencia que há espaço para avançar no sentido de tentar evitar algumas fraudes.
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07/22/2002
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