Governo chama parlamentares para votar hoje o Orçamento








Governo chama parlamentares para votar hoje o Orçamento
Os líderes da base governista apostam em que haverá hoje no Congresso número suficente de parlamentes para tentar concluir a votação dos destaques ao Orçamento da União de 2002. Mas também se espera que a sessão da Comissão Mista de Orçamento, prevista para começar às 14h30m, seja tumultuada e repita o duelo entre governo e oposição, ocorrido na madrugada de sábado até os trabalhos serem interrompidos por falta de quórum.

O vice-líder do governo no Congresso, deputado Ricardo Barros (PPB-PR), garante que "a oposição perdeu o discurso e terá muita dificuldade para sustentar uma obstrução." Tanto os aliados do governo quanto os líderes de partidos de oposição reúnem-se amanhã para avaliar suas estratégias.

Pela manhã, o líder do governo no Congresso, deputado Heráclito Fortes (PFL-PI), fará um levantamento da presença de parlamentares em Brasília e reafirmará a estratégia de realizar sessões de, no máximo, duas horas para impedir que a oposição peça verificação de quórum. Para manter a sessão na Comissão Mista e votar os destaques, o regimento exige a presença de 12 senadores e 33 deputados. "Deveremos ter entre 15 e 16 senadores. Se precisar, podemos chamar os parlamentares substitutos para cobrir eventuais ausências", afirma o vice-líder do governo no Senado, Romero Jucá (PSDB-RR), que ficou em Brasília só para preparar a votação do Orçamento.

Oposição tentará obstruir
"O governo tem maioria esmagadora na Comissão e, se quiser, conclui a votação dos destaques de um Orçamento que, além de inflacionário, é uma demonstração de falta de austeridade nas contas públicas", acusa o líder do PDT, deputado Miro Teixeira (RJ).
Na reunião de avaliação, os líderes governistas vão analisar também as chances de o Orçamento ser votado amanhã mesmo no plenário do Congresso Nacional, caso consigam votar todos os destaques até a madrugada. Essa hipótese, porém, não é consenso na base aliada. "A tendência é encerrar a votação na Comissão amanhã mesmo, mas estamos preparados para ir até sexta-feira", previu Jucá, revelando pessimismo quanto à possibilidade de que o plenário do Congresso aprove o Orçamento até o dia 28.

Enquanto os governistas fazem as contas, os líderes de oposição estarão também reunidos em busca da unificação do discurso. Miro Teixeira vai propor que os partidos oposicionistas tentem, por meio de destaque, suprimir do relatório as verbas que, segundo o líder pedetista, se destinariam aos líderes governistas e aos integrantes da Mesa da Câmara. "São recursos advindos de receitas condicionadas para atender ao núcleo de poder da Comissão de Orçamento, processo semelhante ao que ocorreu na era Collor e no escândalo dos anões do Orçamento", denuncia.
O líder do PT na Câmara, Walter Pinheiro, concorda com o colega do PDT ao afirmar que "o relator-geral do Orçamento, deputado Sampaio Dória (PSDB-SP), tem poderes para movimentar sozinho, por exemplo, o montante de R$ 850 milhões e,m esmo que não se levantem suspeitas sobre sua honestidade, não há dúvida de que é algo muito arriscado", disse Pinheiro. Segundo ele, esses recursos seriam usados como moeda eleitoral.

Os integrantes da base governista e da oposição só concordam ao prever que a reunião de amanhã atravessará a madrugada e, mais uma vez, confrontará os dois grupos. "Será uma discussão cansativa e política. Um exercício de paciência. Vamos esperar e ver o que acontece", conclui o deputado Heráclito Fortes.


Genro do juiz Nicolau terá sigilo preservado
O presidente do Superior Tribunal de Justiça, ministro Paulo Costa Leite, suspendeu a quebra do sigilo fiscal, bancário, telefônico e telemático de Francisco Antônio de Azevedo, genro do juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto. A quebra do sigilo de Azevedo havia sido determinada pelo Tribunal Regional Federal da 3.ª região (São Paulo). O habeas-corpus foi pedido pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de São Paulo. Nicolau é o principal suspeito de desvio de recursos da obra superfaturada do Fórum Trabalhista de São Paulo e está preso. A OAB alegou que a quebra do sigilo do genro o constrangia profissionalmente.


Presidente volta do Natal no Pantanal
O presidente Fernando Henrique Cardoso embarca hoje de volta a Brasília depois de passar quatro dias no Refúgio Ecológico Caiman, no município de Miranda (MS), a 236 quilômetros de Campo Grande. Fernando Henrique passou o Natal com dona Ruth, os filhos Beatriz e Paulo Henrique e quatro netos. Disposto a descansar e a manter-se longe da polêmica envolvendo a Argentina, Fernando Henrique evitou falar com jornalistas e aproveitou para fazer passeios com a família pelo hotel-fazenda.

Ontem, ao ser informado sobre a tragédia no Rio de Janeiro por causa das fortes chuvas, ele determinou que o ministro da Integração Nacional, Ney Suassuna, se deslocasse para o estado para que acompanhasse de perto o resgate das vítimas da enchente.

O embarque do presidente está previsto para ocorrer às 11h40 de hoje, horário de Brasília, na Base Aérea de Campo Grande. No sábado, primeiro dia de passeio, Fernando Henrique quis mostrar aos netos e aos filhos os ninhos de araras azuis e chegou a alimentar jacarés num local chamado Ponto do Paizinho, no hotel fazenda Caiman, que tem 53 mil hectares. No domingo, passeou pelo Aquidauana, um dos principais rios de Mato Grosso do Sul, e fez um safari pela fazenda nos chamados Zebrões, caminhões com carroceria coberta e bancos laterais. Ontem participou de um passeio de barco no rio Aquidauana.


Gasolina poderá baixar para R$ 1,41 por litro
A partir de janeiro, o brasileiense começa a experimentar a sensação de pagar menos para encher o tanque de combustível. A estimativa é de 20% de redução. Ou seja, pelo litro de gasolina que custa, em média, 1,78. No dia 2 de janeiro, deverá estar comprando a mesma quantidade a R$ 1,41.

O presidente do sindicato de donos de postos, Carlos Recch, confirma a expectativa da redução, mas adianta que o preço defintivo vai depender das distribuidoras. "Elas é que terão que passar os valores, para que os donos de postos possam calcular quanto será reduzido na bomba".

Ao contrário de quando ocorre aumento no preço dos combustível, os empresários só devem reduzir a tabela quando não existir uma gota de combustível comprado antes da redução. Por isso mesmo, a baixa de preços vai demorar um pouco para chegar ao bolso do consumidor, mesmo após decretado o aumento. "Ganhar dinheiro, todo mundo quer; perder, é outra história", admite Recch.

Quando o novo preço vigorar, o distribuidor de produtos veterinários Emílio Tavares Júnior, 39 anos, vai economizar de R$ 195,32 por mês, no reabastecimento de sua Kombi, que consome 137,5 litros de gasolina por semana, nas viagens de distribuição dos produtos. "Mas será que este negócio de redução vai dar certo?", desacredita Tavares Júnior

A administradora de empresas Shirley Resende da Sila, de 39 anos, também vai sentir a diferença no seu orçamento. "Combustível é o meu maior gasto mensal", explica, ao relatar que gasta dois tanques de gasolina por semana, no Pálio. Com um tanque com capacidade para 48 litros, significa um gasto de R$ 168 por semana.

Se a redução de 20% emplacar, Shirley vai economizar R$ 130 por mês. Quase os dois tanques de gasolina semanais, que poderão custar R$ 135,36, com a nova tabela. "Já que o salário não sobe nunca, é, sem dúvida nenhuma, uma ótima notícia saber que alguma coisa vai diminuir de preço."

Proprietário de um Monza, o comerciário Valdir da Silva Andrade, 34 anos, já sabe o que fará com os R$ 100 que vão sobrar no orçamento, quando o novo preço do combustível passar a valer. Ele explica que atualmente gasta R$ 500. "Vou reservar para a cerveja"

Postos esperam as distribuidoras para calcular preços
A expectativa do mercado é que a redução de preço nas bombas de combustível só aconteça, para valer, a partir do dia 7 de janeiro. Como estes valores não são controlados, os empresários só vão reajustar os valores quando não houver nenhuma gota de combustível nos tanques dos postos.

"Ainda precisamos saber como as distribuidoras se comportarão", informa Carlos Recch, presidente do sindicato dos donos de postos de combustíveis. Ele informa que as distribuidoras ainda não informaram quanto vão cobrar pelo litro da gasolina. "Só a partir disto poderemos definir de quanto será a redução para o Distrito Federal."

Ao divulgar a redução, o presidente Fernando Henrique Cardoso explicou que utilizou a média de 20% porque em alguns estados, a diminuição de preço seria de 21% e em outros, 19%.

Na refinaria, segundo informações divulgadas pelo governo federal, a redução será de 25%. Baseado neste índice, Fernando Herinque Cardoso fez questão de anunciar a primeira redução significativa de preço de combustível desde que ocupou o Palácio do Planalto. Disse que, na média, o brasileiro iria economizar 20% na compra de gasolina e¨6% com o diesel.

A utilização dos 25%, no caso da gaslina, não é transferida integralmente para o valor da gasolina porque o governo mexeu apenas em uma das variáveis que formam o preço do combustível.

No caso, a Parcela de Preço Específica (PPE), que foi extinta. Ela é cobrada sobre o preço da refinaria e corresponde R$ 0,60 por litro. No lugar deste imposto, o governo criou a Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico (Cide), cuja incidência será de R$ 0,28 por litro, cobrado na refinaria.

A mudança tramitou por um período recorde no Congresso Nacional. A proposta de Emenda à Constituição autorizando a modificação no sistema de cobrança foi aprovada em dois meses.

Segundo Recch, muitas contas precisam ser feitas para se chegar ao valor a ser pago pelo consumidor final. Afinal, antes de chegar ao tanque do automóvel, a gasolina é transportada da refinaria para a distribuidora, onde é adicionado 22% de álcool anidro (a partir do dia 10 será 24%), depois transportado ao posto de combustíveis.


Aposentado paga mais pelos remédios
Último reajuste, que começou a ser aplicado na sexta, atinge os preços dos medicamentos usados por idosos.

O último reajuste de medicamentos fez dos aposentados a sua maior vítima. A maior parte dos remédios que aumentaram de preço são os mais consumidos por idosos, como os que tratam de hipertensão, colesterol e depressão. O hipertensivo Capoten, por exemplo, teve reajuste de 12,5%, passando de R$ 42 para R$ 48 nas farmácias.

Para fugir do preço alto, o aposentado Antônio Oliveira, 60 anos, passou a comprar somente o genérico do Capoten, Captropil, que sai por R$ 25. Mas no caso do Liptor, que controla colesterol e não possui genérico, não teve como escapar. O remédio custava cerca de R$ 60, mas há dez dias é vendido a R$ 68,26. "É tanto aumento que a gente não consegue nem acompanhar", disse ele.

Revoltada, Edmee Terezinha Ribeiro, 72 anos, disse que só consegue sobreviver porque recebe parte dos remédios que necessita do Plano de Saúde. "Não sei o que eu faria se tivesse que comprar tudo", diz. "Já percebi que os preços aumentaram. Está tudo muito caro nesse Natal".

Todos os quatro medicamentos que Edmee compra com freqüência foram reajustados. O Dimenfor e o Prandin, ambos para diabetes, aumentaram cerca de 8%. O antidepressivo Sulpan passou de R$ 9,80 para R$ 10,48, e o seu concorrente Stilnox, que saía por R$ 17,60, está sendo vendido a R$ 19,30 nas prateleiras – um aumento de quase 9%.

Outros remédios que estão custando caro, principalmente aos aposentados, são o hipertensivo Cardizen – que passou de R$ 22,50 para R$ 24,70 – e o hormônio Evista, que aumentou em 12,5%, pulando de R$ 96 para R$ 109,79. "Estou achando que os genéricos não estão adiantando em nada", reclama Carina Almed, 61 anos. "A situação não está boa. Imagino como fica uma pessoa que ganha um salário mínimo por mês".
Enquanto vários remédios ficaram mais salgados ao consumidor, houve quem recebesse uma boa surpresa ao chegar na farmácia. O aposentado George Straub, 67 anos, havia comprado uma caixa de Zocon, que combate colesterol alto, há uma semana por R$ 20,42. Ontem, ele encontrou o remédio mais barato: por R$ 18, 77. "Não dá para acreditar. Deve ser um milagre de Natal", disse.


4 cidades brasileiras receberão 100 afegãos
Porto Alegre (RS), Natal (RN), Mogi das Cruzes (SP) e Santa Madalena (RJ) são os locais escolhidos.

Pela primeira vez, por meio de parceria com as Nações Unidas, o Brasil fará o reassentamento de refugiados de guerra. Cem afegãos chegarão ao Brasil na segunda quinzena de janeiro e serão instalados em quatro cidades: Porto Alegre (RS), Natal (RN), Mogi das Cruzes (SP) e Santa Maria Madalena (RJ).

A experiência servirá como um teste para que o País passe a receber regularmente refugiados de guerra nos próximos anos.

Atualmente, existem 2.795 refugiados no Brasil – a maioria vinda de países africanos, segundo dados do Ministério da Justiça. Eles chegam ao País, principalmente, como clandestinos de navios e também de avião, com passaportes falsos.

De acordo com a secretária nacional de Justiça, Elizabeth Süssekind, presidente do Conare (Comitê Nacional para os Refugiados), se a experiência com os afegãos der resultado, deverão chegar novas turmas de estrangeiros vindos de países em situação de conflito.

"Vai depender única e exclusivamente do desempenho desse programa de reassentamento (dos afegãos). Vamos ver se eles se adaptarão, se serão bem recebidos. A partir daí, pode ser que o Brasil entenda que deva dobrar esse número. Acredito que manteremos os cem no primeiro ano e possamos receber outros cem no ano seguinte", declarou.

Os cem afegãos (cerca de 25 famílias) vivem em campos de refugiados na Índia, Irã e Turquia e são parte das 5 milhões de pessoas que abandonaram o Afeganistão desde a guerra civil, motivada pela ocupação soviética, em 1979.

O programa de reassentamento dos afegãos representará uma nova modalidade de recepção de estrangeiros em busca de refúgio.

Antes do programa, os pedidos de refúgio eram formulados pelos interessados, após terem entrado no país, legal ou ilegalmente. É o caso, por exemplo, da atriz mexicana Glória Trevi, acusada no México de corrupção de menores. Ela pediu refúgio ao Brasil, onde está presa há quase dois anos.

Africanos são a maioria
Do total de refugiados acolhidos pelo governo brasileiro até novembro último, 84,7% são africanos, de acordo com o Comitê para Refugiados (Conare). Por país, a maior parcela de refugiados é a dos angolanos (59,4% do total).

Eles optam pelo Brasil principalmente porque falam português e se valem de uma linha aérea direta, com um vôo semanal, da companhia angolana Taag, entre a capital, Luanda, e o Rio. Depois de entrar no país com visto de turista, solicitam refúgio.

Parte dos demais africanos chega pelos portos brasileiros, principalmente o de Santos (SP), a bordo de navios cargueiros, nos quais embarcam clandestinamente nos portos de seus países de origem.

Registros da Polícia Federal apontam que, este ano, houve um recorde de clandestinos no porto de Santos (25, todos africanos). Em 2000, foram apenas quatro e, em 1999, cinco. Em outro grande porto, o de Paranaguá (PR), o número dobrou entre 2000 e 2001 (de seis para 12), segundo a PF.

"Pelo que sabemos e pelo relato dos próprios clandestinos, a segurança portuária em portos como Abidjã (Costa do Marfim), Lagos (Nigé ria) e Matadi (Congo) praticamente inexiste. Então, o cidadão fica no cais, à espera de uma oportunidade para entrar e se esconder no interior do navio", disse o delegado Cássio Luiz Nogueira, chefe do Nepom (Núcleo Especial de Polícia Marítima), da Polícia Federal, em Santos.

Esse tipo de refugiado normalmente não tem o Brasil como opção preferencial, porque nem ao menos sabe o destino do navio ao ingressar na embarcação. "Eles têm a esperança de parar na Europa ou nos EUA, mas, em 90% dos casos, assim mesmo pedem refúgio ao Brasil", afirmou Nogueira.

Foi o que aconteceu com o pedreiro cubano Ogandy Diaz Maz, 37 anos, que chegou ao Brasil em 1994 de navio, como clandestino, e solicitou refúgio. Sua intenção era ir para o México. "Conhecia o Brasil pelas novelas que passavam em Cuba", disse.


Artigos

Caymmi, Tom e João
Cláudio Lysias

A música brasileira recebeu dois presentes de Natal muito especiais, os livros de Ruy Castro ( A Onda que se Ergueu no Mar) e de Stella Caymmi (Dorival Caymmi, o Mar e o Tempo). O primeiro é um novo mergulho na bossa nova, como Ruy descreve o trabalho, e o segundo uma viagem à vida especialíssima do grande Caymmi. Em comum os dois têm a paixão com que foram escritos, coisa que para muitos é um defeito, e o fato de terem chegado para enriquecer a bibliografia sobre nossa música, ainda muito pobre. São dois livros, graças a Deus, agradabilíssimos e sem teorias sobre isso ou aquilo.

Ruy Castro é flamengo doente ( autor do Vermelho e o Negro-Pequena Grande História do Flamengo, livro também editado agora) e bossanovista de primeira. Ou seja, é um sujeito cheio de virtudes. Escreveu, há dez anos, Chega de Saudade, em que conta a história da bossa nova, e agora dedica-se, numa grande crônica, a contar o que fazia Tom Jobim nas décadas de 70 e 80, quando o compositor ficou mais tempo no Brasil, e o que faz João Gilberto trancado em seu apart-hotel na Zona Sul do Rio. As histórias de Tom são saborosíssimas. As de João Gilberto parecem inacreditáveis, não fossem verdadeiras. Ruy Castro dedica ainda capítulos a outros músicos, como Dick Farney e Johnny Alf, e ainda a João Donato, novo brasiliense e outra figura muito especial.

Ao contar histórias de Tom e João, Ruy revela muito do espírito da música brasileira. Tom Jobim era muito mais do que um compositor de bossa nova. Era um compositor de música brasileira, na melhor tradição de Villa-Lobos. Tom era também uma figura encantadora, um conversador admirável e um ser humano que se parecia em tudo com a bela música que fazia. Em Tom, o ser humano, a música e o ambiente eram uma coisa só, indivisível. Para entender João Gilberto, Ruy Castro conta histórias de sua reclusão. Não fosse o baiano um gênio, seria provavelmente o maior chato da terra. A música, porém, o absolve e perdoa suas esquisitices.
Stella Caymmi é neta de Dorival, fato que poderia ter transformado o livro em uma crônica familiar. Mas isso não ocorreu. Stella vai fundo na vida do avô e conta tudo, rigorosamente tudo, o que apurou de sua vida desde os tempos de Salvador, na Bahia, até a época em que chegou ao Rio de Janeiro, na década de 40. Com a benção de Caymmi – "tudo o que é humano é natural" – Stella relembra a época em que Caymmi bebia muito, na década de 50, a ponto de assustar bebedores da estirpe de João Ubaldo Ribeiro, e não ser furta a contas os inúmeros casos amorosos do avô fora do casamento. Mas Stella fala sobretudo da trajetória de Dorival, de sua ligação com o mar, de seu método de compor, do seu cancioneiro.

Os dois livros, no fundo, falam de música. Com paixão. Falam de compositores, artistas e música brasileira, algumas das poucas coisas que deram certo por aqui.


Colunistas

Anulados contratos na ANP
Claudio Humberto

O juiz federal César Antônio Ramos, de Brasília, acolheu as alegações do procurador da República Brasilino Pereira dos Santos e anulou todos os "contratos temporários" de pessoal, sem concurso, ordenados pelo ex-genro David Zyb(*)171$putz, na Agência Nacional de Petróleo, revelados nesta coluna há um ano. A farra do garotão sobrou para o substituto, embaixador Sebastião do Rego Bastos, e vai ser cobrada também de Luiz Carlos Capella, secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento e Gestão, condenado a pagar até as custas processuais.

Que rolo, FhC
FhC levou a família para o Natal na Fazenda Caiman (MS), certamente como uma homenagem ao empresário Roberto Klabin, dono da fazenda e pertencente ao clã da indústria do mesmo nome, aquela que enganou os consumidores, reduzindo seus rolos de papel higiênico em dez metros. FhC nem se toca, mas os consumidores lembram.

Pensando bem...
...se o mínimo vai para US$ 400,00 na Argentina, quero ser argentino!

O especialista
Chama-se Carmem Ruete a linda herdeira de uma usina de açúcar em Palmares Paulista (SP), entusiasta da candidatura do ministro José Serra à presidência da República. Ela é mãe do produto de uma fugaz união com Jorge Murad, quando ele esteve separado da governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Ele reconheceu, mas nunca visitou o filho.

Cabeça a prêmio
Está por um fio o emprego de Erly Rodrigues, que chefia as operações da American Airlines no Brasil. A empresa registrou queda de mais de 40% nas passagens para Miami e Nova York, após o 11 de setembro, mas, ao contrário das concorrentes, continua no fundo no poço.

Todos são inocentes
Começou a ruir o esquema de aprovação fácil de projetos milionários na Caixa, em São Paulo, com a participação de ex-superintendente regional. Michel Temer nada tem com isso. Nem os colegas Wagner Rossi e Paulo Lima. Ninguém tem nada com isso. Ainda mais agora, quando até o governo compara o caso ao da Sudam, onde se fazia a mesma coisa.

Anote e guarde
A licitação nem foi aberta, mas a área técnica da Construtora Norberto Odebrecht trabalha como se a empresa já tivesse ganho a obra do Aeroporto Santos Dumont, no Rio. A concorrência será no próximo ano e a obra custará R$ 40 milhões, mas vai sair ao Erário pelo dobro.

Aiatolá Lampreia
Provocam grande constrangimento no gabinete do ministro das Relações Exteriores, Celso Láfer, as constantes declarações do antecessor, Luiz Felipe Lampreia, em assuntos de governo. Como um aiatolá tardio, o ex-chanceler virou figurinha fácil no noticiário e suas declarações quase sempre estão em desacordo com a política externa.

Puro corporativismo - A OAB está sendo acusada de dificultar a aprovação de projetos, no Congresso, que agilizam a Justiça, como o que transfere para o juizado especial as causas de família e contra as fazendas estadual e municipal, até 40 salários mínimos, como no âmbito federal. E o Judiciário não quer que se implante os juízes leigos e de paz para pequenas soluções.

Sentindo-se eleito
Nelson Jobim, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, é só felicidade: ele e a mulher, Adrienne, foram convidados por Roberto Irineu para o Réveillon ao lado do casal Roberto Marinho.

Intifada na paulicéia...
A colônia judaica está em pé de guerra contra o governador Geraldo Alckmin. É que ele demitiu o secretário de Turismo, Marcos Arbaitmann, com requintes de humilhação: mandou a secretária avisar. Fez mais: desmembrou a secretaria em duas e nomeou Gabriel Chalita, de origem libanesa, para a de Juventude, indicado pela primeira-dama Lu Alckmin.

...contra a ingratidão
O ex-secretário de Turismo de São Paulo, Marcos Arbaitamann, era íntimo amigo de Mario Covas. Tão amigo que, em um único jantar, obteve doações de US$ 4 milhões para a campanha de reeleição do falecido e US$ 1 milhão para a de prefeito do próprio Geraldo Alckmin.

Gente boa Sebastião Otímio Garcia, preso em Mato Grosso do Sul após ofender todo o Código Penal, tentou habeas-corpus no Superior Tribunal de Justiça. É acusado de corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, extorsão, seqüestro, roubo qualificado etc. O presidente do STJ, ministro Paulo Costa Leite, de plantão durante o recesso, negou.

O Ibope é cruel
Dias atrás, com Patrícia Pillar a tiracolo, Ciro Gomes esperou meia hora por lugar no Spot, bar favorito de artistas, intelectuais e moderninhos de São Paulo. O quadro se repetiu: desta vez a espera foi de 1h20m, em pé. Estava com a filha Lívia. Fumaram muito, beberam vodka com Red Bull (arghh!), não foram cumprimentados nem sorriram uma única vez.

Dia de São Nunca
A pauta do presidente boliviano Jorge Quiroga com FhC, na recente visita a Brasília, era imensa, mas um item mereceu profundo suspiro do embaixador Stélio Amarante, nosso homem em La Paz: o prejuízo de US$ 50 milhões no Lloyd Aéreo Boliviano, que o governo de lá insiste em cobrar da Vasp. Há até pedidos de prisão na Justiça.

PODER SEM PUDOR

Com a faca na bota
O ex-deputado Brito Velho chegou a ser chamado de "vulcão de ternura" pelo também parlamentarista Afonso Arinos. Mas, exaltado, revelava o lado de gaúcho sempre com a faca na bota. Como quando discutiu com o conterrâneo Leonel Brizola asperamente. Transtornado e brandindo um punhal, ele avançou sobre o engenheiro, gritando em puro gauchês:
- Te sangro! Te sangro!

Foi contido a tempo, felizmente.


Editorial

A voz do povo

Nenhum governo tem procuração para fazer o que quer depois de eleito. A sociedade deve ser chamada sempre que possível para decidir o que quer. Neste sentido, é salutar que o Governo do Distrito Federal procure ouvir a população sobre temas polêmicos, como acontece agora no Parque Olhos D'água, na Asa Norte, e também na Vila Estrutural, aprovada pela Câmara Legislativa.

No caso do Parque Olhos D'água, os freqüentadores estão sendo convidados a participar de um plebiscito para decidir se os ciclistas podem usar as pistas do local ou se elas serão reservadas aos pedestres. Nada mais correto, o governo fez a parte dele ao revitalizar uma das mais belas áreas verdes do Distrito Federal, mas o usuário é quem deve dizer o que quer fazer com o parque.

No caso da Estrutural, a situação merece maiores cuidados. O governo pediu ao Instituto Soma, reconhecido pela seriedade, para fazer uma pesquisa e saber o que o brasiliense pensa da regularização da vila, aprovada pelos deputados distritais. A população, em sua maioria, apoia a instalação da nova cidade, mas ainda assim é preciso que o governo observe alguns cuidados, como os estudos ambientais que diminuam o impacto da presença da vila no local. A pressa pode ser prejudicial a toda a cidade.


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12/26/2001


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