PT marca 5 debates entre Olívio e Tarso









PT marca 5 debates entre Olívio e Tarso
PORTO ALEGRE - O Partido dos Trabalhadores vai promover cinco debates entre o governador Olívio Dutra e prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, antes da prévia do dia 17 de março, que definirá o candidato ao governo do Rio Grande do Sul. O primeiro, aberto à imprensa, será no dia 27, em Porto Alegre. Os demais serão acompanhados em março pelos filiados, em Caxias do Sul (dia 7), Palmeira das Missões (9), Santo Ângelo (10) e Santa Maria (15).


Serra deixa governo para abraçar campanha
Com lágrimas nos olhos, ex-ministro disse que cargo foi o mais gratificante de sua carreira

BRASÍLIA – Numa solenidade que reuniu 500 pessoas no Centro Cultural Banco do Brasil, o ministro José Serra (PSDB) desligou-se ontem do cargo para dedicar-se exclusivamente à campanha presidencial. Com lágrimas nos olhos, Serra afirmou que nunca teve uma experiência tão gratificante quanto a do Ministério da Saúde e apontou uma série de avanços, mas admitiu não ter resolvido todos os problemas da área, como a dengue. “A Saúde está no rumo, entrou no caminho certo e não vai ser mais desviada desse caminho”, afirmou para uma platéia que incluía dez ministros de Estado, prefeitos e parlamentares até do PFL.

Ao transmitir o cargo para o secretário-executivo do ministério, Barjas Negri, Serra afirmou que o governo federal tem feito “mais do que sua parte” para conter a epidemia de dengue. “É muito claro que a dengue não terá futuro no Brasil porque estamos multiplicando o número de agentes de saúde e de equipes de saúde da família para reforçar o combate à doença”, disse. Ele reconheceu que a dengue “recrudesceu”, mas frisou que o problema este ano, em comparação com 2001, só é mais sério no Rio, Estado responsável por algo entre 55% a 60% dos casos.

Cacique – Foi uma solenidade bem cuidada, com direito a homenagens dos funcionários, dos agentes de saúde, de uma paciente tratada de câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e até do cacique Raoni, que falou na língua de sua tribo, com tradução de outro índio. “Estou aqui para falar que o trabalho dele foi muito bom e quero agradecer o ministro que liberou dinheiro para tratar dos meus parentes índios”, afirmou Raoni. “Quero falar ao ministro que, quando for ocupar outro cargo grande, trabalhar num lugar grande, continue ajudando os índios”, completou.

Serra prestou contas de todos os programas bem-sucedidos do ministério e de sua maior vitória: a queda da mortalidade infantil, de 50 para 30 crianças em cada mil nascidos vivos. Ele não falou diretamente de sua candidatura, mas citou Shakespeare – a mesma frase que usou na posse no cargo – para comentar seu destino de candidato: “Nossos desejos e os fatos podem ir em direções tão contrárias, que todas as nossas estratégias caem por terra. Nossos pensamentos nos pertencem, mas nossas ambições pertencem aos outros e são os outros que vão julgar.”

O PSDB bancou a produção do vídeo exibido aos convidados, mostrando os feitos do ministro que cumpriu as promessas feitas na posse, e as despesas da montagem em grande estilo da solenidade, orçada em R$ 20 mil. No domingo, a candidatura de Serra será lançada oficialmente na pré-convenção no Hotel Nacional, em Brasília. O objetivo do agora ex-ministro é conseguir atrair o maior número de militantes, numa demonstração de força capaz de entusiasmar o partido. Na terça-feira, Serra marcará sua volta ao Senado com um discurso.


Exposição cria constrangimento para ex-ministro
BRASÍLIA - Horas antes de o candidato do PSDB à Presidência e ministro José Serra deixar a pasta da Saúde para reassumir sua cadeira no Senado, uma exposição com 70 fotografias exibindo cenas chocantes de pacientes em hospitais de sete capitais era inaugurada no Salão Negro do Congresso.

Intitulada "A saúde que só o povo conhece", a mostra irritou tucanos, que estranharam a coincidência de a exposição começar logo no dia em que o ministro se despedia do cargo. Serra havia feito discurso e comemorado suas conquistas à frente do ministério.

O primeiro-secretário do Senado, Carlos Wilson (PTB-PE), responsável pela autorização, chegou a ser procurado por colegas de partido de Serra para acabar com a mostra. "Não vou tirar a exposição porque não é uma mostra contra ninguém."

Wilson alegou que não sabia do teor das fotos. "Não faço censura prévia nem pergunto o que vai se exposto. Seria deselegante da minha parte", argumentou. O primeiro- secretário só admitiu acabar com a exposição no caso de alguém comprovar que as fotos não são verdadeiras.

Patrocínio - A mostra, que vai até 1.º de março, foi visitada pelo presidente do Senado, Ramez Tebet (PMDB-MS). Ele confidenciou a amigos ter gostado "muito" da exposição. As 70 fotos foram tiradas em de dezembro de 2001 e janeiro deste ano pela empresa Free Press, do jornalista Mino Pedrosa.

Ele não quis, no entanto, revelar quem patrocinou a mostra. "Foi um laboratório farmacêutico que não quer aparecer", limitou-se a informar.

Segundo Pedrosa, a exposição percorrerá várias capitais e será exibida em shopping centers a partir da segunda quinzena de março.

As fotos foram tiradas em hospitais de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Maceió, Recife, Teresina e Brasília. Mas não há qualquer identificação dos locais. As fotografias exibem pacientes no chão de salas de cirurgia, em macas sujas, abandonados em leitos de hospital e à espera de atendimento em longas filas.


Aliança com PL é contestada no PT e na Igreja
CNBB vê “risco” em acordo com grupo sob controle de evangélicos da Universal

A intenção de líderes do PT de levar adiante uma aliança com o Partido Liberal, fazendo do senador José Alencar (PL-MG) o vice da chapa presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva, começa a enfrentar resistências mais concretas – dentro do PT, dentro do PL e na cúpula de sua antiga e estratégica aliada, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

No Rio, setores mais à esquerda entre os petistas estão organizando uma campanha nacional contra tal aliança e dizem contar com o apoio de militantes de vários Estados. Eles pretendem influenciar na decisão do diretório nacional do PT, que discutirá o assunto em sua próxima reunião, na semana que vem. A campanha anti-PL deve tomar corpo em um encontro no dia 4 de março, com a presença do ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont e do prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues. O grupo calcula contar, no momento, com 35% do diretório nacional.

CNBB estranha – Em Brasília, o vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, d. Marcelo Cavalheira, manifestou preocupação com a possibilidade de formação de uma coligação entre o PT, um partido tradicionalmente aliado da CNBB na defesa de excluídos, índios ou sem-terra, e um partido sob forte influência da Igreja Universal do Reino de Deus. “Nós sabemos do risco que existe se elementos de uma igreja que é uma potência na mídia exigirem um ministério”, comentou d. Cavalheira, ressaltando que a Igreja Católica nunca reivindicaria cargos em governos. “O que vai significar isso de intervenção no programa do PT como proposta para a sociedade?”, perguntou ainda o secretário da Comissão de Justiça e Paz da CNBB, Francisco Whitaker.

No Partido Liberal a possibilidade dessa aliança conta com a clara oposição do pré-candidato do partido ao governo paulista, Francisco Rossi. Rossi deixou claro ontem, em São Paulo, que preferiria apoiar a candidatura presidencial do governador Anthony Garotinho, pelo PSB do Rio. “Eu e Garotinho somos muito amigos, participamos da mesma entidade, a Associação de Homens de Negócio do Evangelho Pleno”, diz Rossi . “Espero ter liberdade para apoiá-lo.”

Em seus contatos no Rio (reportagem ao lado), o governador fluminense abordou com ironia uma possível aliança entre petistas e liberais. Tachando o PT de “muito exclusivista”, ele disse ter em mãos um documento em que dirigentes ldo PL de dez Estados negam apoio à candidatura de Lula e pedem uma aliança com o PSB. Garotinho lembrou também que já ofereceu o vice de sua chapa ao mesmo senador José Alencar e aguarda uma posição do PL sobre sua proposta. “Não adianta ter o aval do bispo se não tem o aval do papa”, brincou o governador, sobre a simpatia demonstrada pelo deputado Bispo Rodrigues pelo nome de Lula.


Garotinho agora quer aliança com os peemedebistas
RIO - O PMDB é o novo alvo de negociações do governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), para dar corpo à sua pré-candidatura. Ontem, depois de reunião com o presidente nacional do PSB, Miguel Arraes, ele anunciou que vai procurar, na próxima semana, o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP), para discutir uma aliança na sucessão presidencial. O cortejo tem aval de Arraes e da direção da legenda.

"Decidimos iniciar conversações com o PMDB", avisou o governador, que disputa, ainda, o apoio do PL. As alianças podem significar a sobrevivência de Garotinho na disputa eleitoral - segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o PSB sozinho tem direito a apenas um minuto e 16 segundos de horário gratuito na televisão. O PMDB tem direito a cinco minutos e o PL, ainda menos favorecido que o PSB, terá 46 segundos.

Garotinho acredita que PFL e PSDB acabarão se unindo em torno da candidatura do tucano José Serra ou da governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL). "A tendência do governo será firmar uma aliança, excluindo o PMDB. Por isso, vamos procurá-lo", justificou. Ele ressaltou, ainda, que seu partido já fechou com o PMDB em Alagoas e em Santa Catarina.

Sem união - Em resposta ao convite feito anteontem pelo candidato do PT a presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, para que o PSB indique o vice de sua chapa, Garotinho disse que isso é "impossível" e que não abrirá mão de sua candidatura. "Lula não está buscando a união das esquerdas. Mas, sim, a união em torno dele e isso nós não temos o que discutir", justificou.


Roseana começa giro pelo País no dia 11, em Minas
BRASÍLIA - A candidata do PFL à Presidência, governadora Roseana Sarney (Maranhão), começa a percorrer o País a partir do dia 11 de março. A pré-campanha começa em Minas, onde o PSDB e o PMDB são fortes. Nos dias seguintes, Roseana conversará com deputados e senadores do PFL. No dia 14, a candidata participará da reunião da executiva nacional do partido com governadores e prefeitos de capitais.

A governadora, que passa esta semana no Rio, teve de desmarcar seus compromissos ontem por causa de uma gripe forte. Amanhã, Roseana vai encontrar o prefeito César Maia e o presidente do partido, senador Jorge Bornhausen (SC). Ela já havia encontrado os pefelistas na segunda-feira.

Para mostrar que continua a apoiar o ex-senador Antonio Carlos Magalhães, a executiva do PFL confirmará a presença da candidata à entrega do prêmio Luís Eduardo Magalhães, no dia 25, em Salvador, uma homenagem do partido ao filho do senador. Presidente da Câmara, Luís Eduardo morreu em 1998.

Roseana deixará o governo do Maranhão em 5 de abril, passando o cargo para o vice, José Reinaldo Tavares. Bornhausen vai se licenciar do cargo de senador para se dedicar à campanha da candidata. Antes disso, conversará com o presidente Fernando Henrique Cardoso para tratar de cargos no governo. Para ele, a presença do PFL dependerá do presidente.


TSE define coligações na terça-feira
BRASÍLIA - Preocupados com a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) obrigar os partidos a repetir nos Estados as mesmas coligações feitas para presidente, alguns líderes partidários visitaram na quarta-feira o presidente do TSE, Nelson Jobim, para discutir o problema. A decisão deverá ser anunciada pela Justiça Eleitoral na terça-feira.

Eles temem que a proibição de fazer coligações diferentes nos Estados acabe "engessando" o processo eleitoral e beneficiando candidatos ao Planalto. Até o presidente Fernando Henrique Cardoso foi acionado. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), pediu que ele intervenha no debate.

O autor da consulta,que provocou o TSE a se manifestar, foi o líder do PDT na Câmara, deputado Miro Teixeira (RJ).Miro não acredita que o tribunal restringirá as alianças, mesmo com o clima de apreensão nos partidos.

Brindeiro - "Eu comemoraria se viesse o resultado contra as coligações diferentes, mas tenho poucas ilusões nessa direção", comentou Miro. "Por notícias que me chegam por políticos e jornalistas, a decisão do TSE não contemplará a minha tese." O pedetista defende a "simetria" das coligações por considerar que os partidos políticos têm de ser nacionais. Sua consulta foi feita em agosto passado. "Já disseram que isso poderia favorecer nomes como os de Roseana Sarney ou de José Serra, mas eu queria apenas esclarecer uma dúvida", explicou Miro.

O deputado ficou desanimado ao tomar conhecimento da posição do procurador-geral eleitoral, Geraldo Brindeiro, que deu parecer contrário à uniformização das coligações. Brindeiro alega que não é possível mudar as regras no mesmo ano da eleição. E, acrescenta, a legislação é clara ao permitir alianças diferentes nos âmbitos federal e estadual.


Governo age para isentar bolsas de CPMF
Ofensiva para aprovar destaque inclui promessa de preservar emendas de parlamentares de corte

BRASÍLIA - O governo iniciou uma ofensiva para garantir que a Câmara aprove na terça-feira a isenção da cobrança da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF) nas operações na Bolsa de Valores. Na votação da emenda que prorroga a CPMF até dezembro de 2004 - com alíquota de 0,38% até 31 de dezembro de 2003, e 0,08% em todo o ano seguinte -, na quarta-feira, foi identificado um forte movimento pela derrubada da isenção.

Deputados contrários à medida argumentam que é um absurdo isentar as bolsas quando o governo fez um corte superior a R$ 12 bilhões no Orçamento.

Temeroso de que o movimento ganhe força, o Planalto decidiu agir em duas frentes. Ontem, o líder do governo na Câmara, Arnaldo Madeira (PSDB-SP), informou que quando os deputados quiserem os ministros da Fazenda, Pedro Malan, e do Planejamento, Martus Tavares, irão ao Congresso explicar por que foi decidido o corte de R$ 12 bilhões. Além disso, os líderes foram orientados a dizer aos parlamentares de seus partidos que esse corte em nada vai prejudicar suas emendas, que serão integralmente liberadas.

"O governo terá de liberar os R$ 12 milhões", reagiu o líder do PPB, Odelmo Leão (MG), que trabalhou a favor da prorrogação da CPMF. "O Congresso não aceitará esse corte." Ele acha que ainda não dá para vincular a ação dos parlamentares descontentes com uma possível retaliação na votação do destaque da isenção da cobrança da CPMF nas operações na bolsa. Mas diz que ela poderá vir se o governo não agir rápido.

Na noite de quarta-feira, antes que o destaque fosse votado, parlamentares dos partidos governistas foram embora do plenário, o que obrigou os líderes a pedirem ao presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), que deixasse essa votação para a terça-feira. Senão, a derrota seria certa, porque caberá ao governo garantir o mínimo de 308 votos (três quintos, exigência para a aprovação de emenda constitucional) favoráveis à isenção.

Ao perceber que havia descontentes entre os governistas, Sérgio Miranda (PC do B-MG) atacou. Disse que a isenção para as bolsas representa perda anual de arrecadação de R$ 950 milhões - a CPMF prevista para 2002 é de R$ 19,9 bilhões, mas se não houver a isenção, passa a ser calculada em R$ 20,85 bilhões. Miranda disse que é um absurdo dar imunidade para as bolsas quando o governo faz um corte superior a R$ 12 bilhões no Orçamento.


Artigos

Como mudar o mundo?
Washington Novaes

Em todas as partes, inclusive no Brasil, diplomatas, ONGs, grupos de pressão de vários movimentos sociais e empresariais mobilizam-se na tentativa de ganhar posições nas reuniões preparatórias da Rio + 10, a terceira conferência mundial sobre meio ambiente e desenvolvimento, que se realizará em Johannesburgo, África do Sul, em fins de agosto e começo de setembro. A segunda reunião preparatória foi agora no começo de fevereiro em Nova York, a terceira será em Monterrey, México, e a quarta e última em Jacarta, Indonésia, no fim de maio/começo de junho.

Aqui no Brasil, a Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional começa a discutir no fim deste mês sua primeira proposta de agenda, após os diagnósticos setoriais, reuniões em todas as capitais, diagnósticos e propostas regionais. Ao todo, mais de 5 mil propostas.

Espera-se que no fim de maio/começo de junho se tenha, afinal, uma Agenda 21 brasileira, com a enunciação de contextos e conflitos, estratégias e ações prioritárias para o desenvolvimento sustentável.

Não será fácil, nem no plano mundial, nem no local. Os conflitos são profundos. Resolvê-los implica, mais que contrariar interesses - que já é muito complicado -, reaquacionar os próprios formatos de viver no planeta.

Na conferência do Rio de Janeiro em 1992, quando o panorama do mundo ainda era bem menos problemático, foram assinadas duas convenções vitais - sobre mudanças climáticas e conservação da diversidade biológica - e a Agenda 21, que definia estratégias e ações para chegar ao desenvolvimento sustentável.

Muito pouco se caminhou de lá para cá em termos práticos. As emissões de poluentes que agravam o efeito estufa aumentaram e não se conseguiu ainda levar à prática o Protocolo de Kyoto, que definiu a meta de redução de emissões nos países industrializados até 2012. Os Estados Unidos, maior emissor (cerca de 25% do total), recusam-se a homologar o Protocolo. A biodiversidade continua a ser perdida antes mesmo de conhecida, com a remoção anual de uns 150 mil quilômetros quadrados de florestas tropicais, sua principal fonte (o Brasil desmata 20 mil km2 de floresta amazônica por ano). E, na Agenda 21, não se cumpriu o compromisso de os países desenvolvidos aumentarem de 0,36 para 0,7% de seu Produto Interno Bruto a ajuda para que os demais países enfrentem seus problemas ambientais e sociais: a ajuda recuou para 0,22% e a contribuição dos Estados Unidos, para 0,1% do PIB.

Ainda recentemente, numa reunião diplomática na Inglaterra, os EUA se opuseram a um documento que reiterava esse compromisso. A proposta dos delegados norte-americanos é de substituir na agenda da Rio + 10 esse compromisso de aumentar a ajuda por projetos de melhora da estrutura econômica dos países em desenvolvimento que levem a "maior liberalização do mercado" (Estado, 24/1/2).

Na reunião de Nova York, definiram-se quatro temas-chaves para Johannesburgo: 1) erradicação da pobreza; 2) padrões insustentáveis de consumo e produção; 3) manejo sustentável de recursos naturais; 4) compatibilizar globalização e desenvolvimento sustentável. Ao mesmo tempo, definiu-se que se esperam, ao final das preparatórias, três documentos. No primeiro, uma declaração que expresse os novos compromissos e as políticas capazes de implementar o desenvolvimento sustentável. No segundo, programas de ação negociados, que orientarão a ação dos governos nessa implementação.

No terceiro (não negociado, facultativo), a compilação de novas parcerias e compromissos.

Enfatizou-se muito que em Johannesburgo não se vão rediscutir as convenções assinadas em 1992 e compromissos da Agenda 21 - e sim meios de levar os compromissos à prática. Lembrou-se muito em Nova York que 90% do aumento da população mundial nas próximas décadas acontecerá nos países em desenvolvimento. Será preciso "evitar que se repitam aí os modelos insustentáveis; caminhar para formatos que usem menos energia, produzam menos resíduos" . Jan Pronk, que falou em nome do secretário-geral da ONU, acha indispensável que se discuta na África do Sul a "insegurança gerada pela globalização, as causas do terrorismo, a inviabilização de Estados nacionais, as questões ligadas ao avanço tecnológico, principalmente nas áreas de comunicação e engenharia genética". Esta última, principalmente, promete muita polêmica.

Nas preparatórias, cada grupo de pressão (mulheres, índios, ONGs ambientalistas, sindicatos, etc.) tenta incluir na pauta e nos documentos seus interesses específicos - o que certamente complexifica muito as negociações. É curioso, entretanto, que as questões urbanas, tão dramáticas hoje no mundo, tenham ficado de fora. Até mesmo a pobreza urbana, como se só houvesse carências nas zonas rurais (embora essas ainda reúnam metade da população do mundo e boa parte das carências).

Um indício da dificuldade das negociações para mudar o mundo está patente no documento aprovado no recente Fórum Preparatório da Rio + 10, realizado simultaneamente com o Fórum Social Mundial. Ali se fixaram posições frontalmente contrárias aos alimentos geneticamente modificados, "que põem em risco a segurança alimentar de milhões de pessoas e representam ameaça à biodiversidade e à saúde humana", assim como aos "modelos de urbanização e industrialização que concentram a riqueza e distribuem a miséria e a degradação ambiental". O documento propõe "mudança radical nos padrões de produção e consumo, assim como no uso de recursos naturais".

Levando em conta a dificuldade de levar à prática a Rio 92, a tarefa proposta para Johannesburgo - mudar os padrões civilizatórios - parece ainda mais desafiadora, diante do quadro traçado no recente Fórum Econômico Mundial pelo painel de cientistas: "Um futuro de ameaças biológicas sem precedentes, aquecimento global e substituição de seres humanos por robôs."


Colunistas

RACHEL DE QUEIROZ

Quem com o ferro fere...
Quando o pitecantropo virou homem, a coisa que mais o deveria impressionar seria a vastidão do mundo ao seu redor. A terra descambando para todos os horizontes, os morros, as savanas, as florestas. Principalmente as florestas, espessas, quase negras de tão verdes... E o céu! O céu sem fundo, sem limite. E ele ainda não descobrira o mar. Mas quando o encontrou, afinal, numa das suas andanças de primavera, recuou, apavorado, ante aquela outra imensidão, espécie de céu líquido, também sem fim; o furioso, o rugidor como uma horda de leões, se erguendo nas altas vagas coroadas de espuma branca. Dava mais medo que o céu de tempestade, com seus trovões e coriscos.

Milênios mais tarde, o homem medievo já se convencera de que a terra firme era uma imensa plataforma que se estendia por léguas infinitas; já tinha noção e até conhecimento de África, Ásia; o mais, seria tudo cercado de mar, que não se sabia como acabava. E, por cima de tudo, o céu, iluminado pelo Sol, a Lua, as estrelas.

Veio depois Copérnico, declarando que a Terra era uma esfera, a girar como um pião em torno do Sol. E começaram as grandes navegações, saindo das águas fechadas do Mediterrâneo. Soltaram-se nos oceanos as caravelas portuguesas, deram a volta à África para sair na Índia; em seguida os espanhóis descobriram as Américas. Depois, Magalhães deu sua volta ao mundo. Mas como tudo parecia grande, como tudo era longe! E, acima disso, perigoso. Meses e meses a velejar em frágeis barcos de madeira, ao sabor dos ventos, das calmarias, das tempestades. É de crer que nenhuma das caravelas que saísse dos portos de Espanha e Portugal fosse acabar velha, ancorada no seu cais, sua nobre madeira corroída, lascada dos embates com as ondas de tempestade, comida pelos insetos roedores das terras quentes de mar além.

Para se chegar, da Europa, quer às Américas, quer à Índia, gastavam-se meses e meses; e cada dia era um risco, cada noite uma aventura; sem falar no tempo das calmarias, quando a falta dos ventos como que ancorava as naus; e grandes e pesadas como eram, não se poderia sequer ajudar com os remos.

Afinal um inglês descobriu a locomoção a vapor: os primeiros navios cruzavam o mar entre Europa e América, em lugar de em meses, apenas em poucos dias; e os trens já cortavam a Europa por terra; a Rainha Vitória utilizava o seu trem de luxo para ir passar as férias na Escócia. E até no Brasil o nosso d. Pedro II inaugurava as primeiras vias férreas, também tinha o seu trem que o levava a Petrópolis.

E, então, fomos descobrindo como na verdade a nossa Terra era pequena e não a vastidão sem fim suposta pelos antigos. E quando afinal, em 1927, Lindbergh transpôs o Atlântico num curto vôo sem paradas e aterrou em Paris, foi o golpe final.

E agora vivemos todos num mundo minúsculo, ameaçado de morrer por excesso de gente e por excesso de uso. Há população demais em todos os continentes, em todas as ilhas. A Inglaterra pulula de habitantes que já não são mais os louros e orgulhosos "filhos de Albion", mas mestiços de todas as Jamaicas, Tanzânias, Índias que ela outrora dominava. E como diz o Pequeno Príncipe: "A gente acaba escravo daqueles que cativa..."

Sim, somos demais no mundo. As linhas aéreas cruzam os céus do planeta com a intensidade, que já é necessário organizar o tráfego dos aviões com o mesmo rigor que regula o trânsito nas cidades, infestadas de automóveis. Abateram-se as grandes florestas; na Europa, existem apenas os bosques de plantio, enfileirados como soldados em formatura, sem a desordenada espontaneidade da selva natural.

E nem podemos falar mal dos outros. Aqui no Brasil, a devastação criminosa vai abatendo tudo; no Sul, no Nordeste, não existe mais a mata nativa e as queimadas acabam de destruir o pouco que milagrosamente ainda restava. E já vai adiantada a devastação da mata amazônica. Todo dia a mídia denuncia mais um contrabando do precioso mogno e outras essências. E o pior é o que se derruba por simples selvageria - abatendo-se uma floresta a machado, serra e a fogo -, para ali se plantar uma mesquinha roça de mandioca, ou se abrir um pasto para o gado.

No Nordeste do Brasil é preciso defender da pesca predatória as lagostas em extinção, os pássaros exportados clandestinamente - canários, papagaios, araras, etc., o que dizer então dos bichos sem serventia, ou considerados nocivos - as raposas, as onças, os gaviões, até urubus? Lá na fazenda, já faz anos que não vejo uma raposa; e dantes, nas estradas, à noite, elas corriam à nossa frente, encandeadas pelos faróis do carro.

Nisso tudo há um consolo: "Quem com ferro fere..." E o perigoso bicho homem também já vai virando animal em extinção; é o que acontece com todos os grandes carniceiros: já quase não existem leões no deserto, nem tigres em Bengala; e o mesmo sucederá conosco, que somos os mais ferozes de todos os predadores.


Editorial

O COPOM PECOU PELA TIMIDEZ

Os analistas do mercado financeiro não gostam de errar nas suas previsões. Daí a reação raivosa de quase todos diante da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de reduzir a Taxa Selic de 19% para 18,75%, pois a previsão quase unânime era de que essa redução só ocorreria em março ou em abril. Por isso, alguns analistas criticam uma decisão que há meses era aguardada.

As explicações dadas pelas autoridades, na ata da penúltima reunião do Copom, em janeiro, para justificar a manutenção da Selic, levavam a crer que não haveria redução da taxa básica tão cedo. De fato, os índices de preços, embora ligeiramente em baixa, continuam acima do que seria necessário para atingir a meta de 3,5% de inflação para 2002; o dólar ainda oscila muito e, em janeiro, houve nova desvalorização; a situação na Argentina piorou em face da resistência do FMI em conceder ajuda; e as autoridades monetárias dos Estados Unidos suspenderam, pelo menos por enquanto, sua política de redução continuada dos juros. O único sinal que poderia ser considerado como prenúncio da redução da Selic era o fato de que o mercado futuro já a havia antecipado - mas as autoridades monetárias não costumam alinhar-se com as expectativas do mercado.

De modo que a decisão do Copom deve ter outras explicações: as autoridades podem estar convencidas de que os índices da inflação vão melhorar; compenetraram-se, afinal, de que juros elevados são também fator de inflação; ou que a inflação pode ficar ligeiramente acima da meta prevista sem colocar em risco o desempenho da economia como um todo. Afastamos a idéia de que a decisão do Copom possa ter sido inspirada pelas necessidades da campanha eleitoral que se aproxima, pois os membros do comitê são imunes a esse tipo de pressão.

No início do ano passado o Copom errou ao reduzir bruscamente a Selic, e foi criticado por isso. Agora, não se deve condenar seus membros por reconhecerem que demoraram demais para decidir uma redução, que, na verdade, em nada ameaça o controle da inflação.

Nesse contexto, nada justifica a opinião de alguns comentaristas que consideram que o Banco Central renunciou à sua política de metas de inflação e que, por isso, estaríamos entrando numa fase de política monetária demagógica.

O que o Copom está sinalizando é que a política monetária entrou numa fase de racionalidade. O que se pode lamentar, apenas, é que não tenha dado um passo maior, com uma redução da Selic para 18,50%, que teria tido um efeito mais importante sobre o serviço da dívida interna, ao menos. Cumpre lembrar, aliás, que, desde que Armínio Fraga preside o Copom, nunca se registrara uma redução da Selic inferior a 0,50 ponto de porcentagem.

A redução aprovada terá pouco efeito sobre a taxa de juros efetivamente praticada pelas instituições financeiras, que são mais sensíveis à evolução da inadimplência - atualmente em alta - do que a uma variação tão reduzida da Selic. Seria até desejável que, diante dos resultados financeiros dos bancos, as autoridades monetárias exercessem sobre eles pressão para obter redução dos spreads, pois o que existe hoje não é inflação de demanda, mas sim grande capacidade ociosa na indústria. Cabe lembrar às autoridades monetárias que a concentração bancária não está estimulando a concorrência e, ainda menos, a melhoria do atendimento às pequenas e médias empresas.

Espera-se que, na próxima reunião, o Copom se mostre mais audacioso, até por constatar que a decisão desta semana não tem qualquer impacto negativo sobre os fundamentos da economia.


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02/22/2002


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