Itamar busca aliança com PDT



Itamar busca aliança com PDT BRASÍLIA - A uma semana da convenção do PMDB, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, desistiu da vitória e articula sua candidatura como presidente da República por uma aliança formada pelos pequenos PDT, PL e PSC. Nem mesmo os aliados mais próximos nutrem esperanças de que Itamar seja escolhido candidato à Presidência da República pelo PMDB para as eleições de 2002. A derrota do grupo de Itamar na convenção do próximo domingo também é considerada certa. Ligado ao governo, o deputado Michel Temer (PMDB-SP) deve se tornar o novo presidente do partido, derrotando senador Maguito Vilela (GO). ''Itamar me disse que não confia no grupo que está comandando o PMDB e nos pediu para construirmos uma alternativa'', afirmou o deputado Vivaldo Barbosa (PDT-RJ), nomeado por Itamar representante informal de sua candidatura. Mesmo desistindo de ser candidato à presidência, Itamar terá obstáculos se continuar no PMDB. Precisará enfrentar o grupo do vice-governador Newton Cardoso se quiser uma reeleição no governo mineiro. O assessor especial da presidência da República, Moreira Franco, não vê possibilidade de Itamar representar o partido na luta pela presidência, mesmo que o PMDB decida ter uma candidatura própria. ''As atitudes de Itamar não inspiram compromisso com o partido. O candidato tem que expressar as mudanças exigidas pelo PMDB.'' Moreira Franco sugere o nome do governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, como capaz de unir o partido. PDT - O convite para Itamar Franco entrar no PDT partiu do ex-governador do Rio de Janeiro Leonel Brizola. ''Temos as mesmas bandeiras nacionalistas. Se somarmos um bom número de partidos pequenos ganharemos um espaço razoável na televisão'', afirmou Vivaldo Barbosa, que lidera a bancada nacionalista do Congresso, formada principalmente por parlamentares do baixo-clero. Amigo de Itamar há décadas, o ex-embaixador José Aparecido acusa os integrantes do PMDB ligados ao governo federal de tramarem uma ''cassação branca'' contra o governador de Minas. Aparecido acredita que Itamar possa vencer a batalha, mas admite a mudança de partido. ''Não será por falta de legenda que Itamar deixará de ser candidato.'' Michel Temer já conta vitória contra Maguito na convenção de domingo. ''Agora vamos nos preparar. Estamos com boa margem. Em janeiro, escolheremos o nosso candidato à Presidência da República. Por enquanto, as opções são Itamar Franco e Pedro Simon (RS)'', afirma. Dia 20 de janeiro, o PMDB escolhe o candidato à presidência por meio de um prévia eleitoral onde votarão todos os integrantes do partido com cargos eletivos, cerca de cem mil pessoas. Maguito Vilela despreza o concorrente. Sustenta que seu verdadeiro adversário é o governo federal, interessado no tempo de televisão do PMDB na propaganda eleitoral de 2002. ''Meu problema é o peso da máquina do governo. Se o Temer vencer, o partido não terá candidatura própria e vai rachar.'' Nova sentença ameaça juiz Nicolau Procuradoria da Justiça Federal de SP pode condenar ex-presidente do TRT a até dez anos de prisão SÃO PAULO - Depois de dois anos de investigações, o juiz Casem Mazloum, da 1ª Vara da Justiça Federal de São Paulo, aguarda apenas as manifestações da Procuradoria da República e dos advogados de defesa para definir a primeira sentença relacionada ao juiz aposentado Nicolau dos Santos Neto - o ex-todo poderoso presidente do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) de São Paulo, acusado pelo desvio de R$ 196,7 milhões das obras superfaturadas do Fórum Trabalhista. No processo, Nicolau é acusado, sozinho, pela lavagem de US$ 7 milhões e poderá ser condenado a uma pena que varia de três a dez anos de reclusão em regime fechado. O dinheiro foi remetido de forma ilegal para dois paraísos fiscais, em Genebra, na Suíça, e nas Ilhas Cayman, nas Bahamas, ambas em agências do Banco Santander. Na Suíça, foram localizados e bloqueados US$ 3,8 milhões, que estavam depositados na conta que leva o sugestivo nome de Nissan, cujas iniciais representam o nome completo do magistrado acusado pelos desvios. Na outra conta, nas Bahamas, foram encontrados rastros de outros US$ 3,2 milhões, que desaparecerem. Os extratos bancários mostram, segundo a procuradora da República, Janice Agostinho Ascari, que há uma relação cronológica entre o período de liberação dos recursos destinados pelo governo federal e TRT para custear as obras do Fórum Trabalhista e os depósitos feitos por Nicolau, entre 1992 e 1998. ''As provas contra Nicolau são substanciais. Ele recebeu depósitos constantes dias após a liberação após das parcelas destinadas pelo TRT às obras'', sustenta a procuradora, que pedirá a condenação de Nicolau por lavagem de dinheiro. Segundo Ascari, no processo estão anexados uma grande quantidade de extratos bancários sobre a abertura de contas no exterior e depósitos feitos em favor do juiz aposentado. A acusação está amparada também na transferência de um apartamento avaliado em cerca de US$ 1 milhão, em Miami, para o governo brasileiro, por determinação da justiça americana - reconhecendo que o imóvel foi comprado com dinheiro de origem ilícita. Xadrez - A decisão do juiz Mazloum será anunciada depois que o advogado Alberto Zacharias Toron, que faz a defesa de Nicolau, e o Ministério Público Federal apresentarem as alegações finais - parte do processo que antecede a sentença. Em outro processo, o que trata dos desvios dos R$ 197,6 milhões do TRT, ainda está em fase de instrução na Justiça Federal, Nicolau é réu pelos crimes de estelionato contra entidade pública (a União), formação de quadrilha, peculato e corrupção passiva. Junto com ele são também acusados o ex-senador Luiz Estevão, dono do Grupo OK - que responde pelos mesmos crimes, mais a acusação de falsidade ideológica - e os donos da Incal Incorporações, Fábio Monteiro de Barros Filho e José Eduardo Ferraz. A situação de Nicolau se complicará se ele for condenado por lavagem de dinheiro nos próximos dias. É que uma sentença poderia provocar a extensão do regime prisional se seus advogados não conseguirem revogar os dois mandados de prisão preventiva. Nicolau está há dois meses em sua mansão no Morumbi para tratamento médico, mas poderá voltar à cela especial da Polícia Federal assim que Mazloum julgar o pedido de revogação da prisão domiciliar provisória. Uma junta médica do Instituto de Medicina Social e Criminológica de São Paulo (Imesc) já atestou que Nicolau pode continuar tratando na prisão seus problemas de depressão e pressão arterial. A procuradora Janice Ascari também já emitiu seu parecer, recomendando o retorno ao xadrez, mas o advogado Alberto Toron entrou com novos recursos. Ele questiona o laudo do Imesc e pede ao juiz que seu cliente seja submetido a junta do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo (USP). Segundo o advogado, o juiz, com 73 anos de idade, sofre de depressão profunda e não tem condições de ser tratado numa prisão. A sucessão de exames médicos e a exigência de novos laudos dá tempo para que os advogados trabalhem para a revogação das prisões antes que saia a primeira sentença contra Nicolau. Nos próximos dias o Supremo Tribunal Federal deverá julgar uma petição em que os advogados pedem que o juiz seja beneficiado pela mesma decisão do ministro Marco Aurélio de Mello, que concedeu liberdade aos donos da Incal concordando com a extrapolação do prazo da prisão preventiva. Nicolau ficou preso na Polícia Federal em São Paulo de oito de dezembro do ano passado até o dia 30 de junho deste ano. Normalmente o prazo para se manter um réu encarcerado por conta de prisão preventiva não passa de 83 dias, mas a Justiça decidiu mantê-lo encarcerado por entender que Nicolau deu demonstrações de que tem condições para fugir. Do glamour à prisão no Brasil Empresário americano detido em SP acusa Hillary Clinton de fraude eleitoral Empresário do setor de multimídia, o americano Peter Paul foi preso pela Polícia Federal em São Paulo no dia 3 de agosto passado a pedido da Justiça dos Estados Unidos, numa história de acusações digna de uma trama hollywoodiana. Ele é acusado de manipular ações da Nasdaq - a bolsa eletrônica americana - e de causar um prejuízo de US$ 25 milhões aos investidores. Em sua defesa está ONG Justice Watch que acusa a senadora Hillary Clinton de crime eleitoral. Peter Paul e sua mulher, Andrea Paul, foram organizadores de almoços e de uma grande festa, que ano passado reuniu artistas e celebridades em Hollywood, para angariar fundos para a campanha ao Senado de Hillary - mulher do então presidente americano Bill Clinton. Só a festa, segundo Andrea, arrecadou U$ 1,7 milhão. Ao então presidente, Paul prometeu US$ 17 milhões em ações para que Bill Clinton, quando deixasse a presidência, fizesse parte da diretoria da empresa dirigida por ele, a Stanlee Media. ''Tínhamos uma relação amistosa. Hillary chegou a ligar para minha casa para agradecer a festa, perguntou como minha gravides estava indo e chegou a me apresentar a Barbra Streisand'', disse Andrea. A amizade entre o casal e a família Clinton acabou no dia 12 de agosto de 2000, quando o jornal Washington Post noticiou que Hillary estava recebendo apoio de um ex-condenado pela Justiça norte-americana. Há 25 anos, Peter Paul foi condenado há dois anos de prisão por fraude e porte de cocaína. A partir daí, segundo Andrea, Hillary e Bill Clinton passaram a negar até que conhecessem o casal. Como também negaram a contribuição de campanha. Contas - O advogado americano Larry Klayman, que é presidente do conselho da Ong Justice Watch, quer provar que Hillary apresentou uma falsa prestação de contas à Justiça eleitoral americana ao sonegar US$ 1,7 milhão arrecadados com a festa promovida pelo casal. Klayman reuniu fotos, documentos, e uma fita de vídeo para provar que o empresário era amigo da família Clinton. Amparado pela Justice Watch, Peter Paul moveu um processo nos Estados Unidos contra Bill e Hillary Clinton, assim como seu comitê de campanha, para reaver o dinheiro que ele arrecadou e, segundo diz, não foi declarado. ''Três dias depois de mover esta ação, surgiu uma acusação do Ministério Público em Nova Iorque contra Peter Paul'', contou o advogado Nélio Machado contratado pela Ong para defendê-lo no Brasil. O MP americano acusa Peter de fraudar o sistema financeiro americano. A empresa de Peter, Stanlee Media, teria causado um prejuízo de US$ 25 milhões ao falir em fevereiro deste ano. A defesa diz que o empresário nunca especulou na bolsa e que está sendo perseguido politicamente. O pedido de extradição do empresário, que tem negócios no Brasil, vai ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). O julgamento não tem data marcada. ''Ele na verdade é uma testemunha contra Bill e Hillary Clinton. Essa acusação contra ele foi feita por um promotor de Nova Iorque, que veio a ser indicado pelo próprio Bill Clinton, numa estratégia para desqualificá-lo. Peter tem as provas para por os Clinton na prisão. Ele tem cópias dos cheques pagos para a realização da festa, cartas de agradecimento da família Clinton, e um vídeo do evento'', disse Klayman. Política - Para evitar sua extradição, o advogado Nélio Machado pretendo mostrar no STF que a acusação tem uma essência política. ''A acusação que pesa contra Peter é artificial. Várias empresas de Internet foram a banca-rota, entre as quais a Stanlee Media. E só no caso dele isso foi transformado em um fato criminal'', disse Machado. Na semana passada, Bill Clinton e os advogados da Justice Watch quase se encontram em São Paulo. Klayman marcou uma entrevista coletiva no mesmo hotel, onde Bill Clinton estava hospedado Ex-diretor pode ter sigilo quebrado O procurador da República no Rio Paulo Fernandez Correia disse que solicitará à Justiça a quebra do sigilo fiscal do ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira no período de 1995 a 2000. O ex-diretor do Banco do Brasil está sendo investigado pela Procuradoria da República e pela Polícia Federal sob a acusação de ter recebido propina em 1998 para beneficiar o Grupo La Fonte, de propriedade do empresário Carlos Jeressaiti, no leilão da Telebrás. Segundo revelou ontem o Jornal do Brasil, em 1998, em seu último ano de governo, Ricardo Sérgio arrecadou R$ 1,4 milhão, o equivalente a pouco mais da metade do patrimônio em 1997 de R$ 2,5 milhões construído em 30 anos na vida privada. Distantes dos cerca de R$ 170 mil de renda bruta que o ex-diretor do Banco do Brasil declarou em 1996, os rendimentos de 1998 provocaram também uma evolução patrimonial de quase 30% em apenas um ano, atingindo R$ 3,2 milhões. ''Esses dados são mais do que suficientes para embasar um pedido e obter na Justiça as declarações de Imposto de Renda de Ricardo Sérgio de 1995 a 2000, que poderá nos ajudar a elucidar a origem de seus rendimentos'', afirmou o procurador Paulo Ferreira Correia, que na semana passada solicitou à PF abertura de inquérito para apurar as denúncias de que houve cobrança de propina no leilão das teles. As informações sobre renda e patrimônio de Ricardo Sérgio em 1998 deixaram de ser sigilosas no início do mês, quando a 19 Vara Cível de São Paulo mandou anexar cópias do Imposto de Renda do ex-diretor do Banco do Brasil num processo de execução fiscal movido pela Rhodia Ster Fidack contra empresa Têxtil Calfat S.A. O ex-diretor envolveu-se no processo por ter avalizado a Calfat na compra de produtos têxteis. De acordo com sua declaração de Imposto de Renda, os rendimentos do ex-diretor originaram-se de várias fontes: R$ 139,5 mil de salários R$ 812,2 mil de lucros e dividendos de suas empresas e R$ 439,3 mil de movimentações financeiras. A soma desse valor supera o capital do ex-diretor na corretora RMC, que em 1997 e 1998, ficou estagnado em R$ 1.026.713,17. Ricardo Sérgio também está sendo investigado pelo procurador da República do Rio Rogério Nascimento em outro inquérito civil que apura se houve improbidade administrativa durante o leilão. Segundo Nascimento, com base nas informações divulgadas pelo JB, Ricardo Sérgio será convocado para prestar esclarecimentos sobre a origem de seus rendimentos em 1998. Nascimento poderá também à Justiça a quebra de sigilo bancário do ex-diretor do Banco do Brasil. ''As notícias do JB podem provocar uma reviravolta nas investigações. Poderemos investigar se a corretora RMC, de Ricardo Sérgio, foi utilizada, por meio de operações no mercado financeiro, para esquentar recursos provenientes do leilão'', afirmou Nascimento. Para o procurador caberá ao Ministério Público de São Paulo investigar a ligações do ex-diretor da área internacional do Banco do Brasil coma empresa fiscal Andover, localizada no paraíso fiscal da Ilhas Virgens. Ricardo Sérgio nega ser proprietário da Andover. ''Nunca tive conta e nem empresa em nenhum paraíso fiscal'', afirmou ao JB o diretor do Banco do Brasil. Segundo ele, não há erros em seu imposto de Renda, ao qual seus rendimentos, segundo ele, estão cristalinos. Artigos Gritos de independência Frei Betto Comemora-se a independência do Brasil. Consta que não houve sangue, apenas o grito do Ipiranga, que marcou a ruptura com a tutela portuguesa, mantendo no poder o português D. Pedro I, que se proclamou imperador do Brasil, mas terminou seus dias como duque de Bragança e figura, na relação dinástica, como o 28° rei de Portugal. Como se vê, na passarela da história, o samba não é o do crioulo doido. Entre o fato e a versão do fato, a história oficial tende à segunda. Ainda hoje se discute se o grito decorreu do sonho de uma pátria independente ou da ambição de um império tropical. Ficou o grito parado no ar, expresso nos rostos contorcidos das figuras de Portinari, no romanceiro de Cecília Meireles, na poesia agônica de Chico Buarque, no coração desolado das mães brasileiras que enterram, por ano, cerca de 300 mil recém-nascidos, precocemente tragados pelos recursos que faltam à área social. O número só não é maior graças ao voluntariado da Pastoral da Criança, monitorada pela doutora Zilda Arns. O Brasil, pátria vegetal, ostenta o semblante de uma cordialidade renegada por sua história. Sob o grito da independência ressoam os dos índios trucidados pela empresa colonizadora, agora restaurada pela assepsia étnica proposta pelos integracionistas que julgam as reservas indígenas privilégio nababesco. Ecoam também os gritos das vítimas indefesas de entradas e bandeiras, Fernão Dias sacrificando o próprio filho em troca de um punhado de pedras preciosas, bandeirantes travestidos de heróis da pátria pelo relato histórico dos brancos, versão barroca do esquadrão da morte rural, diriam os índios se figurassem como autores em nossa historiografia. Abafam-se, em vão, os gritos arrancados à chibata dos negros arrastados de além-mar, sem contar as revoltas populares que minam o mito de uma pacífica abnegação que só existe no ufanismo de uma elite que se perfuma quando vai à caça. Pátria armada de preconceitos arraigados, casa-grande que traça os limites intransponíveis da senzala, na pendular política de períodos autoritários alternados com períodos de democracia tutelar, já que, neste país, a coisa pública é negócio privado. Índios, negros, mulheres, lavradores e operários não merecem a cidadania, reza a prática daqueles que sequer se envergonham de serem compatriotas de 50 milhões de pessoas que não dispõem de R$ 80 mensais para adquirir a cesta básica. À galera, as tripas, marca indelével em nossa culinária, como a feijoada. Privatizam-se empresas e sonhos, valores e sentimentos, convocando intelectuais de aparência progressista para dar um toque de modernidade aos velhos e permanentes projetos da oligarquia. Vale tudo frente ao horror de um Brasil sujeito a reformas estruturais. Os que querem governar a sociedade não suportam os que querem governar com a sociedade. Destroçada e endividada, a pátria navega a reboque do receituário neoliberal, que dilata a favelização, o desemprego, o poder paralelo do narcotráfico, a concentração de renda. Se o salário não paga a vida, a vida parece não valer um salário. No Brasil, os hospitais estão doentes, a saúde encontra-se em estado terminal, a escola gazeteia, o sistema previdenciário associa-se ao funerário e a esperança se reduz a um novo par de tênis, um emprego qualquer, alçar a fantasia pelo consolo eletrônico das telenovelas. Amanhecia em Copacabana quando Antônio Maria gritou: ''Não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí''. Não vou pelas receitas monetaristas que salvam o Tesouro oficial e apressam a morte dos pobres. Vou com aqueles que sempre denunciam a injustiça, testemunham a ética na política, agem com escrúpulos, defendem os direitos indígenas, repudiam todas as formas de preconceitos, promovem campanhas de combate à fome, administram recursos públicos com probidade e lutam por uma nova política econômica. Vou com aqueles que, esta semana, estarão mobilizados no Grito dos Excluídos, promovido pela CNBB, em parceria com entidades e movimentos populares. Nenhum país será independente se, primeiro, não o forem aqueles que o governam. Gênova-Porto Alegre e Durban Tarso Genro Na década de 60, diversos estados americanos aplicavam de forma legal políticas segregacionistas que, na verdade, davam continuidade moderada, já na órbita do estado democrático de direito, às mesmas políticas racistas da época da escravidão. Elas ensejaram até a metade do século passado a formação da elite branca, dominante na vida pública americana. Em 10 de agosto deste ano a Subcomissão para a Promoção e Proteção dos Direitos Humanos das Nações Unidas adotou, por unanimidade, súmula que reconhece ''o direito à indenização, relativamente à violação dos direitos humanos''. Essa indenização seria devida às vítimas de todas as violências sociais e econômicas massivas que caracterizaram não só o período da escravatura, mas da época colonial clássica. Certamente irão surgir, em função da mobilização das comunidades negras, teorias revisionistas sobre a responsabilidade dos próprios negros na escravidão: negros que vendiam negros, tribos que escravizavam outras tribos e vendiam-nas, negros que participavam como feitores da violência física e da tortura contra comunidades inteiras. Trata-se essa formulação, teoricamente vazia e insubsistente do ponto de vista moral, do mesmo argumento com que pretendem culpar judeus por não terem reagido nos guetos, ou, por vários deles terem feito acordos com Hitler e seus sequazes. É a tentativa de amortecimento das responsabilidades diretas nos crimes contra a humanidade perpetrados por necessidades econômicas, apontando comportamentos particulares que são transferidos, cinicamente, para uma comunidade vitimizada. Dois pontos de referência iluminam a crise da pós-modernidade: o Fórum Social Mundial (Gênova-Porto Alegre) e a Conferência contra o Racismo, em Durban. O que o nosso país tem a ver com isso?, poderão perguntar alguns ingênuos, incautos ou racistas. Toda a história brasileira está manchada pela violência racial da escravidão. Pelo apartheid social dos negros pobres ou mestiços de ascendência africana, com a indiferença histórica e a cumplicidade das elites. Um dos componentes essenciais de qualquer democracia séria é a criação de condições políticas e institucionais para que cada cidadão possa vencer sua submissão psicológica, moral e material, para atuar na cena pública ou nas relações privadas com todo o seu potencial de cidadania. É o que não ocorre no Brasil, mesmo que um de seus maiores intelectuais tenha sido um negro: o professor Milton Santos. Qual a conexão entre Gênova-Porto Alegre e a reunião de Durban? Aparentemente não há, pois as lutas contra o racismo e a discriminação são lutas nos elos avançados da ''velha'' sociedade moderna. As lutas presentes no Fórum Social Mundial repousam na fragmentação pós-moderna, induzida pelo estilhaçamento da sociedade de classes tradicional, no interior da qual as lutas contra o racismo se realizaram.O Fórum Social é a rebelião dos fragmentos em busca de uma nova utopia, contra um processo que vem suprimindo a exploração em favor da exclusão radical. Exclusão sonegadora do próprio direito à sobrevivência de parte da sociedade ou, às vezes, de populações inteiras. Bem examinados ambos os movimentos, é possível dizer que compõem uma mesma matriz de lutas sociais, cujos programas, ao invés de abordarem as questões econômico-sociais através de demandas diretas de distribuição da renda ou a partir das lutas salariais, abordam todas as diferenças. Inclusive as econômicas entre as classes, como negação dos direitos fundamentais previstos nas Constituições Sociais do Século 20. São direitos sonegados pela financeirização do capital e pela acumulação artificial, via mercados financeiros, que destroem a sociedade de classes anterior e suas instituições públicas, sem repor nada em seu lugar. Na sociedade fragmentada por uma reciclagem do capitalismo estamos presenciando a rebelião saudavelmente anárquica dos fragmentos em Porto Alegre-Gênova e a retomada das grandes lutas contra o racismo e a discriminação, em Durban, com o mesmo refrão: cumpram os direitos prometidos pela doutrina iluminista e afirmados pelas leis da modernidade, que já estão em processo de revogação pela barbárie neoliberal. Colunistas COISAS DA POLÍTICA – DORA KRAMER Calendário em movimento O governador Tasso Jereissati sabe o que diz quando afirma que o candidato governista à sucessão de Fernando Henrique Cardoso não será uma escolha exclusiva e pessoal do presidente. Da mesma forma, o ministro José Serra sabe o que faz, quando, a cada hora, estabelece uma data diferente para a definição da candidatura. Já foi fevereiro de 2002, abril, dezembro deste ano e agora o Dia D pode ser em algum momento entre outubro e janeiro. E isso não significa que o calendário não possa vir a ser alterado novamente. Tanto o nome quanto a oportunidade de lançamento estão na dependência das circunstâncias - pesquisas, unidade partidária, acertos de aliança - que, por sua vez, dependem da disposição da sociedade de tratar a sério do tema eleição. No Planalto avalia-se que antecipar o anúncio ao interesse do eleitorado renderia dois prejuízos: o candidato pregaria no vazio e ainda provocaria nas pessoas a impressão de que o governo dá prioridade às eleições, em detrimento de outras preocupações que, para o cotidiano das pessoas, são mais urgentes. Exemplos: a crise de energia e as turbulências na economia. Enquanto esses dois problemas não estiverem controlados o suficiente para que o governo possa dar respostas definitivamente satisfatórias - como o fim do racionamento e a retomada de indicadores de crescimento - é tempo perdido fazer campanha. Um terceiro tema que pede providências urgentes, na concepção oficial, é o da segurança pública. Mas para resolver este, admite-se, não há tempo. Sendo assim, o cronograma da reforma ministerial - primeiro anunciado para dezembro, depois em fevereiro e agora talvez em abril - feito em função daqueles que sairão para se candidatar, fica também condicionado à solução daquelas questões práticas. Necessárias até porque, sem elas, o candidato fica sem discurso, e a reboque dos ataques adversários exatamente sobre os pontos mais delicados da administração Fernando Henrique Cardoso. Mas, se a solução demorar demais, o governo seguirá sem candidato até as convenções partidárias, em junho? Não, aí é que está. Enquanto a troca de ministros pode esperar até abril, data-limite para a desincompatibilização dos candidatos, o anúncio da candidatura não pode ultrapassar a virada do ano, sob pena de a oposição ganhar um terreno difícil de ser recuperado depois. Donde se conclui que o governo trabalha com a expectativa de poder anunciar o fim da crise de energia e a ultrapassagem dos obstáculos na economia exatamente no início do ano eleitoral. E, provavelmente, é disso que o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, fala quando alerta que é preciso ir devagar com o andor do entusiasmo, porque o santo de FH tem lá suas fortalezas ainda não de todo reveladas. De cara nova O investimento do PFL na governadora do Maranhão, Roseana Sarney, parece mais um projeto de reformulação de imagem do que a construção de uma candidatura à presidência. Vice, Roseana não será, e para cabeça de chapa a aliança tem outras precedências. Os pefelistas estão fazendo dela uma nova referência nacional para o partido, bastante necessitado de uma marca renovada, confiável na percepção popular e bem-sucedida política e administrativamente. As pesquisas indicam que o eleitor confia nas mulheres e o PFL é o único a ter uma mulher dona de todas aquelas características. Fixar a boa figura de Roseana é também uma forma eficaz de substituir de vez o logotipo pefelista durante anos representado por ACM. Convites suspensos Tanto o ministro Pedro Malan repetiu que não é candidato e não pretende se filiar a partido algum no dia 5 de outubro próximo, que mesmo os mais insistentes pararam de convidar. No momento, até o presidente Fernando Henrique está trabalhando com a hipótese de que Malan não vai mesmo assinar ficha alguma. Portanto, se ele mudar de idéia, precisará tomar a iniciativa. Editorial Divisa Forte Sempre que se fala em prioridade para as exportações, o que vem à cabeça são os principais produtos made in Brazil. Se o negócio é exportar ou morrer, como disse o presidente Fernando Henrique, que se invadam os mercados estrangeiros com aviões da Embraer, soja e seus derivados, café in natura e solúvel, minério de ferro e produtos siderúrgicos. Pouca gente se dá conta de que um dos principais itens de ingresso de divisas no país é a indústria do turismo. Na verdade, o turismo é o produto de exportação que mais cresceu na última década. A receita cambial do setor subiu de US$ 1,9 bilhão em 1994 para US$ 4,2 bilhões no ano passado. No mesmo período, o total de turistas estrangeiros passou de 3 milhões para 5,1 milhões. A taxa de crescimento deixou longe produtos tradicionais como minério de ferro e do açúcar. Empresários são unânimes em apontar a explicação para o desempenho: o governo federal entendeu que o turismo é um fato econômico e social, que multiplica emprego e renda. A primeira iniciativa oficial ganhou corpo através de investimentos na infra-estrutura nas principais regiões turísticas, com o objetivo de atrair investimentos privados. No Nordeste, foram construídos sete novos aeroportos e centenas de quilômetros de estradas, sem falar de projetos de saneamento básicos e de restauração do patrimônio histórico. Paralelamente ao desembolso público, estima-se que o setor privado investirá cerca de U$ 6 bilhões até 2002. ''O Brasil nunca será bom para o turista estrangeiro se não for bom primeiro para o brasileiro que mora aqui'', costuma dizer o presidente da Embratur, Caio Luiz de Carvalho. Além de fonte de divisas, o turismo emprega, direta ou indiretamente, cerca de um milhão de pessoas no setor hoteleiro. Graças aos novos investimentos, está prevista a criação de mais 500 mil postos de trabalho. Segundo dados da Organização Mundial do Turismo (OMT), cada US$ 7 mil que um visitante gasta no país são suficientes para manter um emprego direto. Sobram motivos para que o Brasil invista cada vez mais na atração de turistas estrangeiros. Sabe-se que é crescente no mundo a procura por destinos que ofereçam sol e praia, mas com preferência para os pontos que apresentam diferencial agregado como ecoturismo e turismo cultural. Cabe ao Brasil saber tirar proveito de sua história e de sua diversidade cultural. Topo da página

09/03/2001


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