Jader reassume e diz que vai renunciar à presidência



Jader reassume e diz que vai renunciar à presidência O senador Jader Barbalho (PMDB-PA) reassumiu ontem a presidência do Senado e, em seguida, anunciou que renunciará ao cargo no início da próxima semana -mas se mantendo senador. À imprensa, disse se tratar de tentativa de pôr fim à crise que vem desgastando o Senado. O anúncio foi quase simultâneo a uma reunião entre os presidentes dos partidos governistas e o presidente Fernando Henrique Cardoso, da qual o PMDB saiu com uma garantia: fica com a presidência do Senado. Jader disse que fará um discurso ""na segunda ou terça-feira" para formalizar a renúncia. Pelo regimento, o vice-presidente, Edison Lobão (PFL-MA), assume para comandar a eleição do seu sucessor, que deve ser convocada no prazo de cinco dias. "Fui surpreendido. O PFL apoiará o nome a ser indicado pelo PMDB", declarou Lobão. O nome mais comentado ontem era o do ex-presidente José Sarney (PMDB-AP), que já declarara disposição de assumir o cargo, desde que houvesse consenso. Jader pensava em reassumir -em princípio, no dia, 18, quando vencia sua licença-, mas a renúncia ao cargo sempre foi uma alternativa analisada por Jader e pelo comando do PMDB. Dois fatos precipitaram a decisão: um movimento do PFL para eleger o novo presidente do Senado, detectado pelo PMDB, e a decisão do Conselho de Ética de sugerir à Mesa que impedisse o retorno do senador à presidência. Ontem, Jader fez questão de tratar de tratar o anúncio da renúncia como decisão pessoal. "Se alguém divulgar o contrário, estará mentindo", disse, em entrevista coletiva, transmitida ao vivo pela TV Senado. "O impasse é da instituição, que está acima de qualquer interesse político pessoal", afirmou, mais tarde, à Folha. As negociações para a saída de Jader com o Planalto intensificaram-se na segunda-feira e culminaram na reunião de ontem com FHC. ""A presença do presidente [FHC] foi uma espécie de aval. Havia um problema. Havia um impasse sobre a presidência do Senado", afirmou Temer. Eleito presidente do PMDB no último domingo, o deputado Michel Temer (SP) comandou as negociações. Na hora do almoço, agendou a conversa com FHC. À tarde, levou ao Planalto os presidentes de PSDB, PFL e PPB. O gesto de Jader foi anunciado no dia em que cresceram as pressões no Senado para que ele não voltasse a presidir a Casa. Pela manhã, o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), comunicou à Executiva Nacional do partido que deputados pefelistas iriam boicotar as sessões do Congresso, se presididas por Jader. ""É uma forma de mostrar indignação [pelo eventual retorno de Jader à presidência", devido às evidências da participação dele nos desvios de recursos do Banpará", disse Inocêncio. No Senado, os pefelistas decidiriam aderir ou não à obstrução em reunião na próxima semana, segundo anunciou o líder do PFL na Casa, Hugo Napoleão (PI). Relatório duro Na quarta-feira, os senadores Romeu Tuma (PFL-SP) e Jefferson Péres (PDT-AM) apresentaram ao conselho um relatório contundente, propondo abertura de processo por falta de decoro contra Jader, acusando-o de ter se beneficiado do dinheiro desviado do Banpará. Ele foi acusado também de ter mentido ao negar seu envolvimento no caso. Jader tratou como uma ""questão menor" a eventual abertura de um processo de cassação. ""Não é o momento de tratar de questões pessoais. Tratarei disso como senador", afirmou o peemedebista. O relatório de Tuma e Péres será votado na quinta-feira da próxima semana. Se for aprovado e acolhido pela Mesa, terminará o prazo para que uma eventual renúncia de Jader ao mandato suspenda o processo. Jader não resiste a pressão após eleição Duelo Em abril de 2000, o então presidente do Senado, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), e Jader Barbalho (PMDB-PA) batem boca e trocam acusações de corrupção. O clima de animosidade entre os dois aumenta ao longo do ano. No final de 2000, ACM aumenta sua ofensiva contra o peemedebista, tentando evitar que ele fosse eleito seu sucessor Tempo de glória Apesar de todas as acusações contra ele, Jader é eleito presidente do Senado, em fevereiro de 2001, com o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso. Em maio, vê o seu maior rival renunciar devido ao escândalo da violação do painel eletrônico da Casa Bola da vez Com a renúncia do senador baiano, as atenções se voltam para Jader. A imprensa divulga novas acusações e documentos contra o senador. Em julho, a oposição protocola denúncia contra ele no Conselho de Ética do Senado, para que seja investigado se Jader mentiu em plenário, o que configuraria quebra do decoro parlamentar e permitiria a abertura de um processo de cassação do mandato do peemedebista Pressão total A situação de Jader no Senado fica insustentável. Pressionado, ele se licencia, em julho, da presidência da Casa. Seu objetivo era que as acusações a ele não fossem investigadas pelo Conselho de Ética, mas enviadas diretamente ao Ministério Público Federal, o que teria sido combinado com senadores. A manobra não funciona, e o conselho começa a investigar o então presidente da Casa Depoimento Jader depõe no Conselho de Ética, em agosto, e nega ter se beneficiado dos desvios ocorridos no Banpará. Para dois dos três integrantes da comissão constituída para fazer o relatório sobre o caso -Romeu Tuma (PFL-SP) e Jefferson Péres (PDT-AM)-, Jader não consegue provar sua inocência. O terceiro integrante, João Alberto (PMDB-MA), aliado de Jader, considera o depoimento convincente Gota d'água Em 12 de setembro, é lido o relatório da comissão sobre o caso. Ele aponta ""provas irrefutáveis" de que Jader se beneficiou dos desvios do Banpará e diz que ele mentiu ao se defender. Além disso, o acusa de improbidade administrativa, por ter tentado obstruir as investigações. João Alberto apresenta voto em separado. No dia seguinte (ontem), Jader anuncia que vai renunciar à presidência do Senado Jader sabia de fracasso de ação para salvá-lo O presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA), foi informado anteontem por um interlocutor do presidente Fernando Henrique Cardoso que tinha fracassado a operação abafa que livraria o paraense de um processo de cassação. A operação consistia em convencer a maioria do Conselho de Ética do Senado a rejeitar a abertura do processo por quebra de decoro, enviando as acusações para a Justiça. Em troca, Jader renunciaria à presidência do Senado e permaneceria apenas com o mandato de senador. Ao saber que a operação fracassara, Jader reagiu de forma calma, quase fleumática. Parecia resignado e não demonstrou ao interlocutor do Planalto que poderia renunciar. FHC soube do resultado do encontro apenas ontem de manhã. Ao longo das últimas semanas, FHC se esforçou para fazer duas coisas. Primeiro, demonstrar a Jader que o governo não estava interferindo a favor da cassação. Em um dado momento, há menos de um mês, FHC chegou a telefonar para Jader, algo que nunca foi revelado por nenhum dos dois à imprensa. A outra estratégia era ajudar Jader a encontrar uma saída para sua renúncia ao cargo de presidente do Senado. O principal obstáculo era convencer o relator da subcomissão do Conselho de Ética que cuidava do caso, Romeu Tuma (PFL-SP), a concluir que não havia provas definitivas. Tuma ficou irredutível, apesar de ter sido contatado mais de uma vez nas últimas semanas por pessoas ligadas a FHC. Na avaliação do governo, o senador paulista teria se convencido de que o eventual contra-ataque de Jader seria ignorado pela mídia. Couraça Segundo a Folha apurou, Tuma avalia que criou uma couraça contra eventuais retaliações de Jader. Acha que a imprensa tenderá a minimizar ataques contra ele nesse momento. Por causa disso, e por pressão do PFL, Tuma manteve sua posição de recomendar a abertura do processo por quebra do decoro contra Jader. Na conversa que teve com o interlocutor do Planalto anteontem, Jader ainda foi instado a se manter calmo e não iniciar um processo de ataques a outros membros do Senado. O paraense diz ter preparado dossiês com acusações contra, pelo menos, sete políticos de expressão nacional. "Qual a saída?", perguntou Jader durante a conversa de anteontem. "Vocês não entregam a mercadoria", concluiu. A "mercadoria", no caso, seria fazer com que o caso fosse enviado à Justiça. O senador paraense reclama que todas as ofertas de acordo que recebeu foram quebradas por quem o procurou. Estaria sem saída. Mas sempre calmo. Aliados preferem Sarney, mas Alencar está no páreo O ex-presidente José Sarney (AP) é o mais cotado para substituir o senador Jader Barbalho (PA) na presidência do Senado, mas cresceu nos últimos dias um movimento no PMDB para eleger o senador mineiro José Alencar para o cargo. Sarney comentou recentemente que aceitaria, desde que não houvesse disputa e que não fossem reviradas acusações sobre seu governo. Mas ontem confidenciou a um aliado que não aceitaria mais nem como nome de consenso. "Não ocupo cargo que já ocupei." O presidente Fernando Henrique Cardoso tem simpatia por Sarney, apesar de analisar a conveniência de inflar Alencar como um contraponto ao governador e inimigo Itamar Franco em Minas. Esse é o argumento do grupo que apóia Alencar -o ministro Eliseu Padilha (Transportes), o assessor especial do Planalto Moreira Franco e o líder na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA). Esse grupo desconfia que Sarney, na presidência do Senado, atuaria para indicar Roseana Sarney (PFL), sua filha, para vice da chapa governista à sucessão presidencial de 2002. Seria jogar por terra o trabalho feito pelo PMDB nos últimos dias para retomar os espaços perdidos no Congresso a fim de se credenciar como aliado preferencial dos tucanos em 2002. Ontem, o partido retomou o comando do Conselho de Ética. O peemedebista Juvêncio da Fonseca assumiu a presidência dele. Além de Alencar, correm por fora os nomes de José Fogaça (RS), Gerson Camata (ES) e Ramez Tebet (MS), ministro da Integração Nacional. Sarney é o que mais agrada ao PFL. "Reconhecemos que foi um ato unilateral [a renúncia de Jader" e vamos respeitar a proporcionalidade", disse o presidente pefelista Jorge Bornhausen (SC). Com a afirmação, Bornhausen quer dizer que reconhece que o cargo é do PMDB, bancada majoritária no Senado. A articulação arrematada ontem pelo PMDB surpreendeu os pefelistas. Na segunda-feira, o novo presidente do partido, o deputado federal Michel Temer (SP), esteve com Jader, que se dispôs a aceitar a renúncia desde que o PMDB mantivesse o cargo e tentasse ajudá-lo a salvar o mandato. Ontem, Temer foi a FHC às 12h para abortar uma tentativa do PFL de tomar a presidência do Senado. FHC chamou uma reunião para as 15h30 com os presidentes de PSDB, PMDB, PFL e PPB. Temer disse aos colegas que Jader reassumira a presidência do Senado. Relatou as condições para a renúncia. Quando todos concordaram, com o aval de FHC, Temer telefonou para Jader. Disse: "Pode anunciar a renúncia". Se os partidos tivessem discordado, Jader não anunciaria a renúncia, para criar pressão por um acordo. Não foi preciso. Enquanto isso, o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), já sondava Sarney. Jader diz que prefere ficar à margem das negociações, mas também apóia Sarney. Ex-ministro no governo dele, Jader espera de Sarney, seu amigo, um tratamento mais favorável que aquele imprimido pelo PFL. Senador vai enfrentar votação no Conselho de Ética O próximo desafio do senador Jader Barbalho (PMDB-PA) será enfrentar, na próxima quinta-feira, a votação do relatório que propõe a abertura de processo por quebra de decoro parlamentar contra ele. A votação será aberta, da mesma forma que aconteceu nos casos que levaram à renúncia de Antonio Carlos Magalhães e José Roberto Arruda, pelo envolvimento na violação do painel de votações do Senado. O voto aberto, transmitido ao vivo pelas TVs, prejudicaria Jader, por constranger eventuais manifestações favoráveis a ele. A votação acontecerá sob o comando do peemedebista Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), que assumiu ontem a presidência do Conselho de Ética, retirando o controle das mãos do PFL. Para escapar da abertura do processo, Jader precisa ter a maioria absoluta dos 15 votos do conselho, excluindo o presidente, que só vota em caso de empate. Se o relatório contra Jader for aprovado e acolhido pela Mesa, será devolvido ao conselho para abertura do processo de cassação propriamente dito. Oposição a Tasso reúne as assinaturas para CPI O governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), sofreu ontem sua maior derrota política: a Assembléia Legislativa do Estado reuniu as assinaturas necessárias para a instauração de uma CPI para investigar o rombo no BEC (Banco do Estado do Ceará). Caso seja aprovada pela Procuradoria da Assembléia e pelo presidente da casa, essa será a primeira CPI contra uma instituição ligada ao governo cearense a passar pela Assembléia em três gestões de Tasso. Só foi possível ultrapassar o número de assinaturas necessário (o mínimo seriam 12, mas foram reunidas 13 assinaturas) porque uma ala liderada pelo presidente da Assembléia, o ex-tucano Wellington Landim (sem partido), decidiu aderir à CPI. Esse grupo era governista até pouco mais de um mês atrás. O deputado petista João Alfredo Telles já havia solicitado essa CPI em 1996, quando começaram a aparecer denúncias contra a gestão do então presidente do BEC, José Monteiro Alencar. Ele ficou no cargo entre 95 e 98. Na época, os deputados aliados a Tasso conseguiram impedir a CPI. A principal denúncia a ser investigada é a de que o BEC teria facilitado empréstimos milionários a empresários e políticos que não devolveram o dinheiro aos cofres públicos. O rombo causado por esses empréstimos chegaria perto de R$ 1 bilhão. Segundo Telles, em 1996, um grupo de petistas teria ido ao governador para avisá-lo do rombo. Mas Tasso decidira manter Alencar no cargo. Somente em 1998, quando a situação tornou-se insustentável, o banco sofreu uma intervenção e, em seguida, foi federalizado. A Procuradoria da Assembléia Legislativa tem 15 dias para anunciar seu parecer contrário ou favorável à CPI. Tasso tenta se articular nos bastidores com deputados do PPS, partido do presidenciável Ciro Gomes, e do próprio PSDB, para evitar a investigação. O principal argumento é que o BEC não é mais estadual. Brizola diz que não dará apoio a Itamar no PMDB O ex-governador Leonel Brizola, o líder do PDT, colocou ontem contra a parede o governador de Minas Gerais, Itamar Franco. Após duas horas de conversa com o governador no Palácio da Liberdade, ele disse que não apoiará Itamar à Presidência em 2002 se ele continuar no PMDB. "Essa é uma hipótese que está afastada", afirmou Brizola, quando questionado sobre a disposição que o PDT demonstrava, antes da convenção peemedebista de domingo, de apoiar Itamar mesmo estando ele no PMDB. O que mudou: o PMDB de Itamar foi derrotado pelo grupo que dá sustentação ao presidente Fernando Henrique Cardoso. Foi alijado da Executiva do partido e tem apenas 37,26% de representação no Diretório Nacional, contra 62,74% do grupo governista. Ainda assim, Itamar estuda ficar no PMDB por avaliar que pode consolidar sua candidatura à Presidência da República na prévia que o partido fará em janeiro. Brizola, ao contrário, não acredita que isso seja possível. Avalia que Itamar foi derrotado com a "interferência" de FHC, que vai continuar, segundo ele, trabalhando para abater o governador. Disse que Itamar no PMDB é "um tigre dentro da jaula". "Seria inviável estarmos em um palanque onde estivesse Moreira Franco (assessor de FHC), toda essa macacada do PMDB, governistas, fernandistas e entreguistas", disse Brizola. O encontro com o pedetista deveria acontecer na segunda-feira, dia seguinte à convenção do PMDB. Foi cancelado por Itamar, sinal de que ele está mais para o PMDB do que para o PDT. Brizola não desistiu. Disse que Itamar está fazendo "levantamentos necessários" para decidir sua opção partidária. Por isso, vai continuar com "esperanças" de que Itamar deixe o PMDB. Itamar mais uma vez não deu declarações. Nem sequer acompanhou Brizola até o saguão do Palácio da Liberdade. Relator quer receita prevista maior O relator do projeto do Orçamento de 2002, deputado Sampaio Dória (PSDB-SP), pretende aumentar as receitas previstas na proposta em pelo menos R$ 9 bilhões por causa da tributação dos fundos de pensão. Com esses recursos, o Congresso poderia tomar medidas populares, como um aumento maior do salário mínimo no próximo ano, o da sucessão presidencial. O Orçamento da União tem receitas de R$ 308 bilhões, das quais cerca de R$ 12 bilhões já estão condicionadas à aprovação de algumas medidas. Com o dinheiro extra, os congressistas poderiam discutir aumentos maiores que 5% para o salário mínimo e até a correção da tabela do Imposto de Renda da pessoa física. A tributação dos fundos está, porém, condicionada a uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre a imunidade tributária que eles alegam possuir. O governo editou uma medida provisória que alivia as condições de pagamento dos fundos, mas eles continuam questionando a cobrança de IR sobre os rendimentos de suas aplicações financeiras. Ontem, na Comissão Mista de Orçamento, o ministro Martus Tavares (Planejamento) disse que não incluiu nada da tributação sobre os fundos na proposta orçamentária porque o governo estava negociando com essas entidades quando o projeto teve que ser enviado ao Congresso. Dória citou informações do ministro Roberto Brant (Previdência Social) sobre um fluxo de recursos de R$ 750 milhões com a taxação. O secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, fala em R$ 1 bilhão. Já o estoque das dívidas dos fundos de pensão com a Receita chegaria a R$ 8 bilhões, segundo o deputado. Everardo fala em R$ 12 bilhões. O deputado disse que vai convocar Everardo e Brant para que eles entrem em um consenso sobre os números. Dória disse que a correção da tabela do IR poderá ser menor, para evitar um impacto de R$ 4 bilhões no Orçamento. Além disso, poderiam ser criadas novas alíquotas. O deputado Sérgio Miranda (PC do B-MG) questionou a inclusão de R$ 5 bilhões em superávit financeiro no total do superávit primário (economia de receitas para pagamento de juros) do governo para 2002. O superávit financeiro é formado pela reserva de parte dos recursos de fundos como o Fust (Fundo de Universalização das Telecomunicações). O dinheiro desses fundos só pode ser gasto em despesas específicas. Artigos Artes do Diabo JOSÉ SARNEY Nenhuma violência se iguala ao terrorismo. Sua crueldade não tem limites. Só uma coisa o move: a possessão do ódio. O homem primitivo era um escravo compulsivo do medo. Medo do imaginado terror da violência da natureza. Medo dos animais, do desconhecido, do mistério indesvendável do universo e prisioneiro da fragilidade e da incerteza. Para libertar-se desses perigos, subiu às árvores, habitou cavernas inexpugnáveis, foi um fugitivo permanente. Tudo era mistério: desde o dia, a noite, o céu com seus luzeiros, o sol, a lua e as estrelas até sua própria existência. Depois, veio-lhe a presença de Deus. Petrônio, o romano, diz que Deus assim quis porque fez o medo antes de revelar-se. "Primus in orbe deos fecit timor." (Primeiro no mundo Deus criou o medo.) O próprio Deus inspirava medo, com a ameaça de vingança contra a violação de suas leis. Hoje, o homem é a imagem do próprio medo, sempre associado ao pânico da morte. Desse temor, só o defende a ilusão da eternidade da alma. O homem, no seu destino, construiu aldeias e cidades e delas permaneceu prisioneiro, fortificando-as. Dominou tecnologias, venceu as doenças, desvendou muitas leis físicas, biológicas e algo além, mas não se libertou da insegurança. Sempre foi um desconfiado do imprevisto. O que ocorreu em Nova York e em Washington mostra que não há nada mais cruel e ignominioso do que o terrorismo. Foi uma jamais imaginada realização da ficção de terror. Não há como qualificar o que aconteceu. É horror e desgraça, mas a face da tragédia não se contém na dimensão das palavras para explicar esse fanatismo. O inusitado, de consequências políticas, é o fato de a grande superpotência americana ser vulnerável e frágil diante desse neoterror. Como na Idade da Pedra, o medo está em tudo e em toda parte e não poupa ninguém. Lembro-me de um poema de Malherbe em que ele diz que "a guarda que vela as barreiras do Louvre não defende da morte o rei". De que valem os escudos nucleares, a guerra nas estrelas, os serviços sofisticados de inteligência? A tecnologia massificada colocou a serviço da loucura instrumentos de destruição incontroláveis. Passou a fazer parte da vida o medo de viver. Perde-se a esperança, cresce um sentimento de horror, de pânico e de impotência diante da surpresa e da gratuidade desses gestos de insanidade. O que fazer? Só flores e palavras. Flores para os tristes e inocentes mortos. Chorar e orar por eles. Palavras de conforto e lamento ao povo e ao governo dos Estados Unidos. O Brasil deve alinhar-se com absoluta solidariedade e colaboração ao sentimento mundial contra o terror. O século 20 foi o da chamada "guerra revolucionária", permeada pela confrontação ideológica. Agora, sem inimigos visíveis, meu receio será o trágico surgimento do islamismo como alvo. Seria a evidência de "O Choque das Civilizações", de Samuel Huntington. Diante da perplexidade, quem é o culpado? Uma velha empregada de minha avó, fundamentalista contra o mal, sempre dava uma explicação. Colunistas PAINEL Sem saída Jader Barbalho decidiu renunciar à presidência do Senado por pressão de líderes do PMDB. O paraense ouviu dos colegas que o partido deixaria de brigar pela manutenção de seu mandato se ele continuasse à frente da Casa. Asas cortadas O Planalto também aconselhou Jader a renunciar. Risco de contágio A cúpula do PMDB ficou aliviada com a renúncia de Jader, mas aliados de FHC estão preocupados. "Se Jader conseguir se salvar, não haverá como dizer que não houve um acordo com o Planalto", analisa um senador. Pé na estrada Jader voltou a dizer à cúpula do PMDB que renunciará ao mandato de senador se for aberto um processo de cassação. Mas, enquanto arruma as malas, continuará mantendo o discurso de que fica na Casa até o fim. Conforme o figurino Novo presidente do Conselho de Ética, Juvêncio da Fonseca (PMDB) tentará protelar a decisão sobre o caso Jader. Deverá alegar que o processo sofreu vícios e pedir um parecer à Comissão de Constituição e Justiça. Corpo-a-corpo FHC conversou por mais de duas horas no início da semana com José Sarney para convencê-lo a aceitar a presidência do Senado. O ex-presidente afirmou que aceita, caso seu nome seja consensual na base aliada. Pane ministerial O avião que levaria Paulo Renato (Educação) ontem a Campinas sofreu pane pouco antes da decolagem. Ele teve de trocar de avião. Foi visitar a viúva de Toninho do PT, assassinado. Discurso de ocasião O publicitário Nizan Guanaes começou ontem a gravar os comerciais de Roseana Sarney, que vão ao ar a partir de segunda. A governadora irá condenar na TV os ataques aos EUA. Atentado no Paraná Trecho do discurso do deputado estadual Irineu Colombo (PT) na Assembléia Legislativa do Paraná: "Não foi de graça que atingiram o Pentágono e o World Trade Center". Mau gosto Na mesma sessão da Assembléia paranaense, Nereu Moura (PMDB-PR) ironizou: "Se tivesse havido uma coincidência [de data] entre o atentado e o casamento [da filha de Jaime Lerner, realizado em Nova York], poderia ter sobrado para o iate que levou o governador Lerner...". Apoio moral Marta Suplicy (PT-SP) e os prefeitos das cidades de Buenos Aires, Montevidéu, Porto Alegre e Belo Horizonte encaminharam ontem uma carta conjunta de solidariedade ao prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani. Coincidência histórica Onze de setembro, data do ataque aéreo a Nova York e a Washington, também marca a história da América do Sul. Foi nesse dia, em 1973, ocorreu o golpe militar no Chile. Tema da hora Projeto de lei do senador Pedro Simon (PMDB-RS) que facilita a investigação sobre o crime organizado -e, por extensão, o terrorismo- está engavetado. A proposta repousa na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara desde abril de 2000. Duelo regional De Orestes Quércia, desafiando Michel Temer a disputar as prévias para a definição do candidato do PMDB ao governo paulista: "Michel não tem o que temer. Ele é um líder nacional e eu sou apenas um líder de província. Se tiver voto, não tem por que fugir das prévias". Visita à Folha O deputado federal Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder do governo no Congresso, visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. TIROTEIO Do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), sobre o rival Jader Barbalho (PMDB) ter anunciado que vai renunciar à presidência do Senado: - O país sente-se aliviado em parte. Mas o processo [de investigação no Senado" não pode parar. O povo quer algo mais profundo. CONTRAPONTO Prato do dia Candidato ao governo do Paraná pelo PMDB em 1982, José Richa percorria o interior do Estado acompanhado do deputado federal Maurício Fruet. Ambos chegaram a uma reunião com cabos eleitorais em Norte Pioneiro (PR), em uma fazenda cuja dona era renomada cozinheira da região. Assim que chegou, Fruet procurou a cozinheira para pregar uma peça em Richa, famoso apreciador de churrasco. Disse que ele estava de dieta por ordem médica e que não podia comer carne. Só verduras. A fazendeira correu para a cozinha e preparou uma sopa de vegetais. Na hora de servir o almoço, entregou um pedaço de carne assada para cada convidado e um prato com sopa para Richa: - Fiz especialmente para o senhor. Vai fazer bem! -disse, enquanto Fruet gargalhava. Richa tomou toda a sopa, mas ficou dias sem falar com Fruet Editorial UM ESTADO EM XEQUE Os americanos exigem que os responsáveis pelos odiosos atentados a Nova York e a Washington sejam punidos. Antes de mais nada, o resto do mundo deve apoiar e ajudar no que for possível para prender e levar os terroristas a julgamento. Não é aceitável, em lugar nenhum do mundo civilizado, a conivência com a chaga do terrorismo. Porém não se pode deixar de olhar com preocupação para o radicalismo surgido na própria sociedade americana. É certo que ela é a vítima, e a sensação de insegurança tem levado ao aumento nas vendas de armas e ao clamor por uma "retribuição", embora ainda não se saiba exatamente contra quem. Washington, em situações similares, costuma mandar bombas antes e perguntar depois, como fez após os ataques a embaixadas dos EUA na África (também atribuídos ao grupo extremista do saudita Osama bin Laden). Esse tipo de reação vem sendo defendido pelos mais diversos líderes políticos e por formadores de opinião, como alguns jornalistas. E mais. É de causar espanto um discurso corrente de que as garantias da lei não podem ser usadas como escudo pelos terroristas. Esse sentimento de guerra, de estado de exceção, parece estar contaminando a maioria da opinião pública americana. Corre-se o grande risco de que isso seja canalizado para uma caça às bruxas interna, já que não há um inimigo externo visível. Algumas atitudes esparsas de ameaça contra comunidades islâmicas mostram que esse medo não é despropositado. Será preciso muita cautela por parte do presidente Bush para que uma caça às bruxas não coloque em xeque o sistema democrático de seu país, fundado principalmente nos direitos individuais. Movido pelas críticas que apontam uma suposta falta de liderança sua, Bush pode ser tentado a respostas rápidas e fáceis, como a de jogar bombas logo e a de promover uma "flexibilização" no respeito aos direitos individuais. No século 18, os "fundadores da nação" pensaram os EUA como uma nova forma de organização política, numa época em que o Estado sufocava os cidadãos. Eles deram início a uma era de direitos do indivíduo e criaram uma tradição que influenciou todo o Ocidente. Não há que se discutir a necessidade de combater o terrorismo, mas o cuidado de não se igualar ao agressor deveria ser o mote de todos os que prezam a democracia. Topo da página

09/14/2001


Artigos Relacionados


Jader irá renunciar à presidência do Senado

Jader reassume presidência do Senado e anuncia renúncia para a próxima semana

Jader diz no Pará que vai renunciar

Jader admite renunciar ao mandato

Jader admite pela 1ª vez renunciar

Jader anuncia que vai renunciar ao mandato