JEFFERSON CRITICA DECISÃO DA CÂMARA DE NÃO APRECIAR REGULAMENTAÇÃO DE MPS



Ao fazer um balanço da convocação extraordinária, o senador Jefferson Peres (PDT-AM) disse que, qualquer que seja a importância das votações realizadas, sai "frustrado com a servidão voluntária do Congresso Nacional". Para ele, o fato de a Câmara ter decidido não apreciar a proposta de emenda constitucional (PEC) que regulamenta o uso de medidas provisórias (MPs) significa que "a sociedade continuará submetida à anomalia institucional de um Executivo que legisla mais do que nunca sob o olhar impotente de um Legislativo reduzido ao papel de mera instância homologatória de seus atos". Anomalia de um "admirável mundo novo", segundo o senador, em que vige não a governabilidade democrática, mas "a democracia de um homem só", que edita e reedita MPs supostamente sobre matérias relevantes e urgentes, "desde a instauração de planos e cargos e salários até a compra de automóvel para um vice-presidente". O argumento das lideranças da base governista para brecar a tramitação da PEC - a de que ela representa uma ameaça à governabilidade - é, na opinião de Jefferson, "frágil e desprovido de fundamento", pois não consta que, por não terem o instituto das MPs, os EUA, a Argentina e outros países sob regime presidencialista sejam ingovernáveis. Uma comparação com o presidencialismo americano evidencia a hipertrofia do Executivo brasileiro, ressaltou o senador, lembrando que nos Estados Unidos é vedada ao presidente até mesmo a apresentação de projeto de lei, e uma iniciativa legislativa do Executivo exige uma "proclamação presidencial", que direciona a apresentação de projetos por parte da bancada governista federal. No Brasil, o Executivo pode apresentar diretamente ao Congresso projetos de lei e PECs, além de deter competência privativa para iniciar a tramitação de várias matérias, como as orçamentárias. Ele citou estudo realizado pelos cientistas políticos Argelina Figueiredo e Fernando Limongi segundo o qual 90% das leis que entraram em vigor desde o início da década de 90 são de autoria do Executivo.Lembrando que o Congresso teve mais de 11 anos para regulamentar o uso de MPs, Jeffernson Peres lamentou que o Legislativo e os partidos políticos que o integram, "voluntariamente desmerecidos e enfraquecidos, conformem-se ao papel secundário de meros trampolins para posições do Executivo ou de plataformas de negociações fisiológicas".Ao apartear Jefferson, Pedro Simon (PMDB-RS) disse que votou favoravelmente à PEC que regulamenta as MPs por ter sido convencido por José Eduardo Dutra (PT-SE) de que "o ótimo é inimigo do melhor", mas, na verdade, considera a PEC "uma aberração". A seu ver, a Constituição é clara e nela não há sequer referência à possibilidade de reedição. Simon disse que, se pudesse optar entre o decreto-lei do regime militar (em que o "decurso de prazo" assegurava a promulgação do decreto, se o Congresso não o apreciasse em 60 dias) e as atuais MPs, optaria pelo primeiro, "pois o decreto-lei pelo menos não era reeditado com modificações". Eduardo Suplicy (PT-SP) registrou concordância com Jefferson e relatou comentário de um deputado federal em primeiro mandato, surpreso com a "quebra da dignidade parlamentar" representada pela substituição de deputados governistas indecisos às vésperas de votação importante na CCJ da Câmara. José Eduardo Dutra (PT-SE), por sua vez, enfatizou que o Senado acatou, na PEC que regulamenta as MPs, praticamente todas as modificações feitas pela Câmara, introduzidas naquela Casa pelo então relator da matéria, deputado Aluísio Nunes Ferreira (PSDB-SP). "Depois, como secretário-geral da Presidência da República, foi ele o primeiro a falar em ingovernabilidade".

01/02/2000

Agência Senado


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