Jefferson Péres discorda de sistema de cotas proposto pelo governo



Referindo-se ao projeto de lei (PLC 3.627/04) apresentado pelo Executivo para garantir, nas universidades federais, vagas para alunos negros e indígenas egressos de escolas públicas, o senador Jefferson Péres (PDT-AM) afirmou que o governo do PT preferiu -enveredar pela demagogia do facilitário-. Em sua opinião, é preciso desativar o potencial devastador do projeto sobre o futuro da universidade brasileira.

O parlamentar entende que, em matéria educacional, correto seria o Executivo trilhar -o árduo, longo e pouco vistoso caminho dos investimentos financeiros, materiais, tecnológicos e, sobretudo, humanos, consistentes e sustentados para a superação das múltiplas e agudas deficiências dos níveis fundamental e médio do ensino público-.

Para Jefferson Peres, em todas as etapas de tramitação do projeto no Senado, especialmente na Comissão de Educação, os senadores têm a obrigação de mobilizar o melhor de sua energia, inteligência e espírito público, apoiados na experiência dos maiores peritos educacionais do país, para transformar radicalmente o texto e colocá-lo a serviço do progresso nacional.

O projeto destina metade de todas as vagas nas universidades federais para estudantes que tenham cursado integralmente o nível médio em escolas públicas e, nessa metade, estabelece uma reserva para negros e indígenas em proporção à presença de pretos, pardos e indígenas em cada unidade da Federação, segundo o último censo do IBGE.

- Trata-se, na verdade, de um sistema híbrido de cotas raciais e sociais que me traz imediatamente à memória o desabafo irônico de Gilberto Amado, para quem a capacidade de articular causa e efeito seria o dom mais raro na cultura brasileira - analisou.

Na opinião do senador, ao rebaixar os níveis de exigência para ingresso na universidade, com base nos critérios de cor de pele e pobreza, o governo poderá destruir os bolsões de excelência acadêmica, científica e tecnológica a duras penas construídos e consolidados nos centros federais de ensino superior do país.

Ele citou o pesquisador de políticas educacionais Cláudio de Moura Castro para dizer que -obter justiça social na entrada da universidade é como tentar maquiar um Frankenstein: batom, ruge e pó-de-arroz não conseguirão reduzir sua feiúra-.

E constatou que qualquer solução séria, produtiva e duradoura nessa área pressupõe a coragem de encarar a lógica do funil que desemboca no ensino superior, mas é alimentado por um caudal de fracassos anteriores. Isso porque apenas 60% dos alunos que iniciam o nível fundamental logram concluí-lo, e metade daqueles que ingressam no ensino médio interrompe os estudos.

- É a baixa qualidade da educação pública fundamental e média que compromete as chances de ascensão da brava minoria de jovens de baixa renda e de todas as cores que obtém o certificado do ensino médio.



28/05/2004

Agência Senado


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