Joseph Stiglitz alerta: "Protecionismo dos ricos está aumentando e situação pode piorar"
O economista Joseph Stiglitz, Prêmio Nobel de Economia de 2001 e ex-vice-presidente do Banco Mundial, disse em exposição no Senado que, apesar das negociações, o protecionismo dos países ricos vem aumentado nos últimos anos e -a situação ainda pode piorar-. Ele fez severas críticas à política norte-americana na área de comércio, ponderando que os Estados Unidos adotaram duas leis sobre o assunto: uma válida para o mercado interno e outra aplicada para o resto do mundo.
- Se as leis antidumping que os Estados Unidos defendem no mercado internacional fossem aplicadas efetivamente em seu território, 80% de suas empresas poderiam falir - disse.
Ele falou durante reunião conjunta das Comissões de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) e de Assuntos Econômicos (CAE), presididas pelos senadores Eduardo Suplicy (PT-SP) e Ramez Tebet (PMDB-MS). A reunião foi aberta por Tebet, mas conduzida por Suplicy, autor do requerimento para que fosse ouvido o economista, ex-chefe do Conselho de Consultores do governo Bill Clinton e atualmente professor da Universidade de Colúmbia (EUA).
Stiglitz é autor do livro Globalização e seus Malefícios, onde critica o Fundo Monetário Internacional (FMI) pela imposição de políticas monetárias aos países aos quais empresta dinheiro sem se preocupar com as repercussões sociais de suas exigências. Estiveram presentes, a convite das comissões, os economistas Albert Fishlow, diretor do Centro de Estudos Brasileiros da Universidade de Colúmbia, e Giovanni Dosi, professor da Escola de Estudos Avançados Sant"Anna, de Pisa, Itália. A exposição de Stiglitz durou pouco mais de uma hora, pois ele tinha de embarcar no meio da tarde de volta aos Estados Unidos.
De acordo com Joseph Stiglitz, além do protecionismo o mundo não vê avanços significativos para redução dos subsídios que os países ricos dão aos seus produtores agrícolas, o que afeta países onde a agricultora tem grande peso, como o Brasil.
- Pelo contrário, desde 1994 o subsídio agrícola dos Estados Unidos está aumentando.
Stiglitz lamentou que acordos de livre comércio que vêm sendo feitos entre países estejam avançando em áreas que nada têm a ver com comércio. Citou como exemplo recente acordo dos Estados Unidos com o Chile, que prevê liberdade para o fluxo de capitais.
- Isso é irônico. Até o FMI entende que a livre entrada de capitais não favorece os países pobres - disse, acrescentando que, apesar da pressão norte-americana para que países em desenvolvimento adotem leis de proteção à propriedade intelectual, na época em que foi assessor do presidente Bill Clinton ele e sua equipe concluíram que essa legislação só interessava mesmo aos laboratórios farmacêuticos e à indústria de entretenimento.
O economista afirmou que programas de reforma agrária, desde que feitos com apoio total do governo, inclusive com oferta de tecnologia aos beneficiados, podem -melhorar a igualdade e promover o desenvolvimento-. Stiglitz sustentou ainda que projetos de microcrédito também podem apresentar bons resultados em termos de melhoria de qualidade de vida das populações e pôde ver isso há dez dias, ao visitar Bengladesh. Entretanto, alertou que este tipo de programa precisa integrar outros de apoio ao pobres, nas áreas de saúde, educação e saneamento.
27/08/2003
Agência Senado
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