Lula abre 32 pontos sobre Serra
Lula abre 32 pontos sobre Serra
Candidato do PT tem mais que o dobro dos votos válidos do tucano, segundo levantamento do Ibope
BRASÍLIA - Na primeira pesquisa Ibope realizada no segundo turno, divulgada ontem pelo Jornal Nacional, da TV Globo, Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, mantém praticamente o dobro das intenções de voto que José Serra, do PSDB. Segundo o Ibope, Lula tem 60% contra 31% de Serra. Os votos brancos e nulos somam 4% e os indecisos são cinco pontos percentuais. Considerado os votos válidos - sem brancos e nulos - Lula soma 66% e Serra, 34%.
- A pesquisa mostra que a campanha de Lula está no caminho certo. Ele está mostrando ao povo brasileiro que é preciso mudar, e para sustentar essa mudança é preciso muita união - disse o líder do PT na Câmara, deputado João Paulo Cunha (SP).
Para o senador reeleito Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que defende o voto em Lula mas promete ser oposição em um eventual governo petista, o resultado é definitivo.
- A eleição está totalmente definida e a diferença vai ser maior. A campanha do terror só piora a situação do governo. Respeito o trabalho de Regina Duarte, mas ela não levará 20 milhões de votos para Serra. O povo não se impressiona com isso - acredita o senador.
Mas os tucanos acreditam que podem reverter os mais de 30 milhões de votos de diferença.
- Começou agora o horário eleitoral, ainda não teve nenhum reflexo. Se a eleição fosse hoje, nós perderíamos. Assim como se ela fosse no dia 1º de outubro, Lula ganharia no primeiro turno. Com isso, fica claro que o que vale é o dia da eleição - avalia o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Júnior (BA).
Segundo ele, a campanha será centrada em quatro pontos: buscar apoio dos prefeitos, trabalhar com os evangélicos, manter a linha no programa eleitoral e mostrar que Serra está preparado para o debate.
Os números anunciados pelo Ibope praticamente confirmam as tendências demonstradas pelas pesquisas Datafolha e Vox Populi, divulgadas no sábado à noite. No Datafolha, Lula lidera com 58% das intenções de voto contra 32% do tucano José Serra. Foram entrevistadas 3.979 eleitores na sexta-feira, dia 11 de outubro. Lula tem, na sondagem, 64% contra 36% de Serra.
O petista também aparece como o preferido dos pesquisados pelo Vox Populi. Luiz Inácio tem 58% e José Serra, 27% das intenções. Foram ouvidas 2.502 pessoas em 155 municípios brasileiros. A margem de erro de ambas as pesquisas é de 2%, para mais ou para menos. O Ibope entrevistou 3 mil pessoas em 203 municípios brasileiros.
A solidão do candidato na iminência da derrota
Serra enfrenta 2º turno em meio a pesquisas adversas e aliados sem entusiasmo
O programa Roda-Viva estava a segundos da abertura, na noite de segunda-feira passada, quando o senador José Serra recebeu a visita da dúvida. Ao sentar-se na cadeira colocada no centro do estúdio da TV Cultura, em São Paulo, notou que se derramavam abaixo da cinta quase dez centímetros da gravata azul-marinho com riscas brancas. - É melhor deixar assim ou esconder? - quis saber o candidato a presidente da República.
A pergunta não foi dirigida a um dos assessores que, até recentemente, mantinham esses detalhes sob estreita vigilância. Não havia especialista em comprimento de gravatas na diminuta comitiva que chegara à emissora pouco depois das 22 horas. Serra fez a pergunta a um dos jornalistas que logo iriam colocá-lo na roda.
Depois de ligeiras ponderações, ambos concordaram que o mais sensato seria abotoar o paletó (azul, na fronteira do negro). Radical, Serra enfiou as demasias da gravata entre a calça e o ventre, sensivelmente reduzido pelas durezas da campanha. O apresentador Paulo Markun pediu silêncio. Serra assumiu a fisionomia mais serena que lhe permite a crispação permanente.
O episódio da gravata sugere que, entre as raríssimas solidões comparáveis à do goleiro na hora do pênalti, deve ser incluída a do candidato na iminência da derrota. Tal solidão é enganosamente abrandada pela companhia constante de amigos de fé e auxiliares fidelíssimos. Mas a escolta raquítica também serve para ressaltar o sumiço do bando que se acotovela nas cercanias do candidato quando chances de vitória emergem no horizonte.
Não ocorreria na TV Cultura o debate com Lula que Serra reivindica todo o tempo. Mas pelo menos um contínuo a serviço da equipe de marketing poderia estar por lá. Serra só arrebanhou meia dúzia de íntimos. Com exceção do deputado Jutahy Junior e do coordenador-executivo da campanha se Serra, Milton Seligman, os figurões da coligação PSDB-PMDB encontraram pretextos para atravancar agendas. Nenhum governador (ou candidato a), nenhum senador, nenhum deputado, nenhum prefeito, nem mesmo um vereador se juntou à caravana.
Um jornalista perguntou se Serra estava satisfeito com o comportamento de duas estrelas do PSDB: o mineiro Aécio Neves, que liqüidou a disputa estadual no primeiro turno, e o cearense Tasso Jereissati, eleito senador em 6 de outubro e agora em campanha pelo candidato ao governo Lúcio Alcântara. A julgar pelas respostas, ou Serra decidiu exibir dotes de ator ou o antigo brigão também resolveu adotar, no âmbito partidário, a linha ''paz e amor''.
- O Aécio tirou alguns dias para descansar depois de uma campanha dura - disse. - Eu faria o mesmo.
Aécio soube preparar seu triunfo em Minas com tal competência que a campanha não lhe foi exatamente extenuante. Transformou-se numa seqüência de viagens apoteóticas, exemplarmente encerrada com a visita à avó Risoleta em São João del Rey. Então, descansar do quê? Nenhum governador eleito favorável a Lula parou para repousar, apesar da vantagem exibida nas pesquisas pelo candidato do PT. Enfim, e mais importante: Serra não faria o mesmo.
E quanto a Tasso Jereissati?
- No primeiro turno, ele mostrou franqueza ao declarar publicamente apoio a Ciro Gomes. Agora está comigo, tanto que estaremos juntos amanhã, fazendo campanha no Ceará - disse no Roda Viva de segunda-feira.
Ontem de manhã, ele de fato se encontrou com Jereissati em território cearense. Não em Fortaleza, a capital do Estado, como recomendam agendas de presidenciáveis. Os constrangidos parceiros subiram ao palco em Quixadá. Oficialmente, trocou-se o mar pelo sertão porque Jereissati quis homenagear o reduto que sempre lhe foi fiel. A versão oferecida por assessores do senador eleito é mais verossímil:
- Em Fortaleza, partidários de Ciro Gomes poderiam promover manifestações hostis a Serra, que acabariam prejudicando a candidatura de Lúcio Alcântara - explicam.
Para eleger-se no primeiro turno, faltaram a Alcântara pouco menos de 10 mil votos. Enfrenta um opositor do PT que, embora em desvantagem nas pesquisas, pode ser beneficiado pelo que Tasso Jereissati chama de ''onda Lula''. Talvez seja o nome do momento para a velha expectativa de poder.
Na mesma segunda-feira, durante o almoço que reuniu em São Paulo líderes da coligação ameaçada de liqüefazer-se, Serra, invariavelmente otimista e decidido a lutar até a última hora, subiu o tom num trecho do discurso. ''Quem votar em mim pelo menos sabe que tenho uma cara só. Só uma'', reiterou com especial veemência. O recado tem dupla tradução, registra uma assessora.
Mais uma vez, o orador estava desafiando Lula a participar dos três debates combinados com emissoras de televisão. Assim, poderiam ser esclarecidos aspectos do programa petista que, na opinião de Serra, seguem obscuros.
- Mas muita gente na mesa olhou para baixo, ou para o outro lado, ao ouvir que nem todos têm uma cara só - observa a assessora.
Ela conhece Serra há muito tempo. Conhece os convivas também.
FH:‘Instituições estão fortes’
Preside nte diz que se irrita com especulação
BRASÍLIA - Na entrega do “Prêmio Incentivo à Educação Fundamental”, ontem no Palácio do Planalto, o presidente Fernando Henrique Cardoso encontrou espaço em seu discurso para um protesto. Sem citar o nome, ele disse que se irrita quando presencia especulações quanto a riscos e temores em caso de vitória do candidato petista, Luiz Inácio Lula da Silva. – As instituições estão cada vez mais fortes, tão fortes que eu fico irritado quando ouço, aqui e ali, que, ganhando fulano ou beltrano... Se ganhar fulano ou beltrano, não vai acontecer nada. Vai continuar no caminho que é nosso, da sociedade, de um projeto nacional de continuação do crescimento, dentro da democracia – disse o presidente.
FH também aproveitou o momento para defender o seu governo. Ele comentou o anúncio de sua escolha pela Organização das Nações Unidas (ONU) para receber o prêmio Mahbub ul Haq por Contribuição Destacada ao Desenvolvimento Humano no próximo mês de dezembro, em Nova York. O presidente afirmou que além dos mercados não enxergarem as melhorias econômicas, seus adversários não reconhecem o desenvolvimento social promovido nos últimos oito anos.
– Na questão do desenvolvimento social, da saúde, da educação, do acesso à terra, da valorização dos seres humanos, houve muita coisa aqui no Brasil mas as pessoas não percebem o que houve – comemorou o presidente.
Lula busca apoio dos evangélicos
BRASÍLIA - Depois das costuras de alianças com os partidos políticos, Luiz Inácio Lula da Silva e José Serra disputam palmo a palmo o apoio de um eleitorado estimado em 20 milhões de brasileiros. São os evangélicos, que no primeiro turno fecharam com Anthony Garotinho (PSB), mas agora estão se dividindo entre o petista e o tucano.
Lula, que já garantiu o apoio da Igreja Universal do Reino de Deus, tem um encontro amanhã, no Rio de Janeiro, com representantes de outras denominações evangélicas. O encontro, marcado para as 17h desta quinta, foi organizado por petistas evangélicos como o deputado Walter Pinheiro (BA) e a senadora Marina Silva (AC). A idéia é reunir lideranças religiosas independentes mas com grande poder de influência junto aos fiéis. Por independentes, entenda-se aqueles integrantes de denominações que já manifestaram apoio a Serra ou que preferiram não se alinhar no segundo turno.
Ontem, representantes políticos da Convenção Geral das Assembléias de Deus (CGADB) passaram o dia reunidos em Brasília tentando chegar a um consenso sobre qual dos dois candidatos apoiar.
- Estamos muito divididos, meio a meio mesmo. Mas certamente não ficaremos em cima do muro e vamos buscar nossa militância e aconselhar o nosso povo - afirma o pastor Ronaldo Fonseca, presidente da Comissão Política Nacional da CGADB.
O apoio da maior denominação evangélica do país não é nada desprezível. O ministério Missões compreende cerca de 70% dos fiéis da Assembléia de Deus, ou, nas contas dos assembleanos, cerca de 18 milhões de pessoas.
- Ficamos com Garotinho no primeiro turno e ele venceu nas cidades com menos de 20 mil habitantes, além de ter ficado em segundo lugar em alguns Estados - observou o pastor Ronaldo.
Zito diz que também vota no PT
O prefeito de Duque de Caxias, José Camilo Zito, e seu irmão, Waldir Zito, prefeito de Belford Roxo, aderiram ontem, oficialmente, à campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à Presidência. Em julho, ambos se desligaram do PSDB.
Lula é o terceiro dos quatro principais candidatos ao Palácio do Planalto a receber o apoio de Zito. Ele ressaltou que, ainda no primeiro turno, sentia vontade de entrar na campanha de Lula, mas não o fez por motivos éticos:
- A ética me impediu de fazer o que minha vontade pedia. Lula tem a nossa cara, cheiro de povo e será um presidente-modelo - disse ele, durante encontro com a governadora Benedita da Silva (PT) na prefeitura de Duque de Caxias.
No início do período eleitoral, Zito coordenou a campanha de José Serra (PSDB) no Estado. Depois, pediu afastamento do partido e apoiou o candidato do PPS, Ciro Gomes, na disputa presidencial, e Jorge Roberto Silveira (PDT), no pleito estadual.
Benedita dividiu ontem a agenda de governadora com dois outros eventos de campanha de Lula: uma caminhada pela Avenida Rio Branco, no Centro, e uma carreata em Nilópolis.
Durante a caminhada, que reuniu militantes de outros dois partidos - PMN e PDT -, Benedita ressaltou a importância do apoio de outros partidos e disse que espera conseguir a adesão da maioria dos prefeitos do Rio.
- Dos 92 prefeitos, uns 70 vão vir com a gente.
Itamar chama Serra de mentiroso
BRASÍLIA - O governador de Minas Gerais, Itamar Franco, acusou ontem o candidato do governo, José Serra (PSDB), de mentiroso e de ter agido contra o Plano Real. Em visita a Brasília, onde se encontra hoje com o candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, o governador afirmou que Serra diz ''inverdades'' ao sustentar que defende a estabilidade econômica e que foi o criador do programa de medicamentos genéricos.
- Serra sempre foi contra o Plano Real. Ele sabe que o programa de genéricos foi criado durante o meu governo. Eu não sei porque Fernando Henrique não fala isso. Aliás, eu nem sei se Serra é o candidato do presidente - ironizou.
Itamar acusou Serra de mentir ao dizer que Light e Escelsa foram privatizadas durante seu governo.
- Ele fica se fingindo de bobo. Como se finge de bobo, vai perder.
No encontro de hoje com Lula, Itamar irá se prontificar a fazer campanha no Paraná e a participar do horário político do candidato do PT ao governo de São Paulo, José Genoino.
O voto, o debate, o salário
Com a pesquisa do Ibope não apresentando nenhuma mudança quanto ao rumo da sucessão, no debate da noite do dia 25 na Globo, quando se fecham as cortinas da campanha política, é de se esperar que, finalmente, o tema salário seja colocado de forma substantiva. É fundamental, já que sem ele nenhum dos cem milhões de eleitores que vão às urnas pode viver. Não existe tema mais abrangente, nem assunto mais universal. Sem emprego e sem salário - quem disse foi o presidente Roosevelt em 32 - não se vai a lugar algum. O esquema traçado para o confronto com William Bonner é inovador e inteligente. Uma espécie de pesquisa qualitativa, no caso da platéia para o palco, não do palco para a platéia. As perguntas para Lula e Serra vão ser feitas por eleitores indecisos, rostos na multidão, como todos nós, à espera de respostas claras e afirmativas para as suas dúvidas e aflições. Nada mais legítimo. Eles vão nos representar na tela gigantesca, tão essencial quanto decisiva. Esperamos respostas concretas.
Os eleitores as merecem. Afinal, são a fonte anônima do poder que se decide. São igualmente a usina do gesto de alcançar a caneta que pode mudar para melhor - aí entra a esperança - a vida de 170 milhões de brasileiros. Dentro do esquema projetado para o debate, logicamente não é de supor que possa alterar o rumo do presente a dois dias da maior digitação política da história. Mas se não pode talvez alterar o rumo do presente, até porque a elevação da taxa de juros não poderá repercutir a favor de Serra, será capaz de proporcionar a base popular para melhorar o futuro e legitimar com nitidez a transição.
Daí a importância dos compromissos assumidos. Daí a importância que eles sejam assumidos diante de quase todo o eleitorado. O voto por testemunha, mais do que uma afirmação dos candidatos, será em conseqüência também uma afirmação popular, na medida em que o testemunho venha a se incorporar ao processo político. O tema salário, de outro lado, é de uma amplitude absoluta. Afinal de contas, todos os salários estão perdendo para a inflação desde 95. Nesse período, segundo o próprio IBGE, ela ultrapassou a escala dos 72 por cento. Qual o salário que foi reajustado linearmente neste nível no mesmo período? Além disso, de todos os contratos sociais em vigor no país - para recorrer ao título notável de Rousseau -, o único que não possui cláusula de reajuste anual automático é do trabalho. Incrível isso. E, no caso dos funcionários públicos, foi preciso que o Supremo Tribunal Federal determinasse, em ação ajuizada por órgão de classe, que o presidente Fernando Henrique Cardoso implantasse lei nesse sentido. Fixou a data-base para janeiro. A mesma sentença, decorrente de ação diversa, foi determinada pelo STF em agosto de 2001 para o governo do Rio de Janeiro. Até agora não cumprida, tanto quanto a uma data, tanto quanto ao percentual. A governadora Benedita da Silva ficou fora do segundo turno principalmente por ter deixado de estabelecer o que era legítimo para os servidores e para si própria eleitoralmente. Qual a razão de não ter seguido a Corte Suprema?
A verdade, no final de tudo, é que não existe nada tão direto quanto o salário. O Brasil tem 170 milhões de assalariados, dos quais 6 milhões, segundo o IBGE, de funcionários federais, estaduais e municipais, civis e militares. Os candidatos devem uma explicação a todos os que trabalham. Afinal, eles têm que pagar os preços que sobem sem que o que recebem suba também.
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Muito barulho por nada
Octávio Costa
Dava o nó na gravata italiana que ganhei de meu pai quando me veio à cabeça a deliciosa polêmica sobre Lula e o Romanée-Conti. Qual seria a opinião do velho jornalista Álvaro Costa sobre o artigo demolidor de Elio Gaspari, a resposta antológica do Veríssimo e a lição irreverente de Millôr? Pouco antes de morrer, ele me pediu que registrasse o que mais amava. A lista de seu próprio punho, que guardo ainda hoje: primeiro, as mulheres, em segundo lugar, os livros, e, em terceiro, os vinhos. É favor não confundi-lo com um pândego. Meu pai era homem de bom gosto que gostava das coisas boas da vida.
Sem tempo e sem saúde, não viajou muito. Mas nas duas vezes que visitou a França fez questão de conhecer os vinhedos bem de perto. No primeiro roteiro, com dinheiro de sobra, alugou um Renault e percorreu sem pressa a Côte D'Or, a região dos borgonhas. Na volta para casa presenteou os amigos com alguns de seus vinhos prediletos: Nuits-Saint-Georges, Gevrey-Chambertin, Clos de Vougeot. E da passagem pela Itália, trouxe a recomendação de outro excelente vinho, o Brunello di Montalcino.
Sua segunda viagem à França não foi tranqüila. De caixa baixa, traçou novo roteiro pelas vinícolas. Minha mãe discordou do projeto desde o início. Mas meu pai tinha um sonho: abrir o portão do Domaine de la Romanée e comprar diretos na fonte o famoso vinho. Mais uma vez dirigiu até o destino. Levou um susto com o preço: US$ 1 mil a garrafa. Não quis perder a viagem e sacou os travellers. Quando ia fechar o negócio, levou um cartão vermelho. Dona Rafaela achou um despropósito pagar tanto por uma garrafa de vinho.
Meu pai resistiu o quanto pôde, até admitir que a despesa não se justificava. De olho comprido, viu um alemão encostar na porta da loja o BMW de último tipo e pôr na mala uma caixa com 12 garrafas. O turista brasileiro não pagaria os US$ 1 mil, mas não podia sair de mãos vazias. A vendedora lhe informou que havia um vinho de segunda linha, também engarrafado no Domaine de la Romanée. Ele então comprou, por US$ 500, um engradado de três garrafas de La Tache. A primeira foi aberta ao chegar ao Brasil e as demais foram guardadas para o dia do seu aniversário.
Coisas que não têm de acontecer não acontecem mesmo. Para grande tristeza de meu pai, as garrafas de La Tache foram roubadas de sua pequena adega. E assim o Romanée-Conti entrou para o folclore da família.
Hoje outros vinhos caríssimos estão na moda. No início do ano, três executivos de um banco inglês foram demitidos porque gastaram U$ 60 mil dólares num jantar regado a Chateau Petrus. Além disso, os especialistas dizem que o Romanée-Conti 1997 oferecido por Duda Mendonça era muito novo. Para ficar no ponto certo, deveria envelhecer mais 10 anos. Há quem lembre também que José Bonifácio Sobrinho, o Boni, nos áureos tempos de TV Globo, freqüentava boas churrascarias e só bebia Romanée-Conti. Se a casa não os tinha, Boni levava a garrafa e pagava pela rolha.
Cá entre nós, apesar do sonho do velho jornalista, o Romanée-Conti não está com essa bola toda. É certo que mais vale um gosto. Mas pagar US$ 1 mil por uma garrafa de vinho é coisa de novo-rico, de milionário alemão ou de marqueteiro cantando a vitória antes do tempo.
De resto, fazem muito barulho por nada. Duda Mendonça já ganhou dinheiro suficiente para tomar o vinho que quiser pelo resto de sua vida. E Lula nada tem a ver com isso.
PS: Com plataforma adernando e juros a 21%, Lula acaba eleito por aclamação.
Editorial
DOENÇA INFANTIL
Já se aglutinou na nova bancada eleita pelo PT - a maior na Câmara, com 91 deputados - uma tendência mais à esquerda do que a tônica moderada da campanha do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. A possibilidade de vitória acende, nos 26 oriundos de correntes mais radicais, um apelo à ação direta desde já. Querem marcar posição independente do resultado da campanha eleitoral.
Como não se alinharam pela moderada plataforma que atraiu mais votos do que nas três eleições anteriores, sentem-se com direito a trazer a público a divergência que é anterior à própria sucessão presidencial. Na eleição dos dirigentes do PT, essas tendências mais à esquerda tomaram posição contra a diretoria atual e adiantam, agora, desinteresse pelos cargos no eventual governo Lula, além de renegarem o espírito social democrático que impregna o comando do partido. Cerraram fileiras contra a aliança com o PL e a escolha do empresário José Alencar para vice de Lula.
A temperatura do Bloco de Esquerda, como se denominam esses radicais, pode ser tomada na advertência do deputado Walter Pinheiro (ex-líder do PT), para quem ''não há como compatibilizar o superávit primário com o programa de reformas do partido''. Ou no brado da nova deputada Luciana Genro (RS): ''para mudar de verdade o modelo econômico, não podemos cumprir o acordo com o FMI''.
A manifestação de discordância, reunindo radicais oriundos do PT nos estados, escolheu a pior hora. A disputa do segundo turno está começando e obriga o comando da campanha a abafar o fogo doméstico e, ao mesmo tempo, sustentar as posições realistas e pragmáticas como lastro de confiança da sociedade.
São 26 deputados, do total de 91, que representam a maior bancada na Câmara dos Deputados, com responsabilidades políticas assumidas em compromisso de campanha. Os neófitos do PT contribuem apenas para alimentar a repercussão externa de uma imaturidade política que o Brasil não merece, por não ter peso político. É exibicionismo infantil.
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10/16/2002
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