Lula e Serra mostram as armas










Lula e Serra mostram as armas
No primeiro dia de propaganda eleitoral no segundo turno, os programas de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB) apareceram com cara nova no rádio e na televisão. Num clima de programas de auditório, Lula mostrou os apoios dos candidatos derrotados no primeiro turno, Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB). Serra, por sua vez, partiu para uma linha de ataque. Usando a atriz Regina Duarte, o programa tucano apostou na estratégia do medo diante da instabilidade econômica para bater em Lula:

— Estou com medo. O Brasil corre o risco de perder a estabilidade. Não dá para jogar tudo na lata do lixo. O Serra eu conheço, sei o que vai fazer. O outro (Lula) eu achava que conhecia. Isso dá medo na gente. Medo da inflação desenfreada de 80% ao mês — disse a atriz no programa da noite de ontem.

Em outro ataque a Lula, o programa tucano o acusou de fugir dos debates, lembrando que o petista fizera perguntas sobre saúde para Garotinho e Ciro em encontros no primeiro turno. De acordo com a propaganda de Serra, Lula teria a oportunidade de fazer isso a Serra (ex-ministro da Saúde) agora. Para isso, “basta não fugir dos debates”.

Serra prometeu fazer a reforma agrária “sem permitir invasões a áreas produtivas” e manter a estabilidade econômica. Ele também disse que, “ao contrário do que o PT fala”, seu governo não seria um terceiro mandato do presidente Fernando Henrique Cardoso. Mantendo o tom dos riscos pelos quais o país passaria com Lula, Serra citou as crises na Argentina e na Venezuela:

— Ser presidente exige uma responsabilidade enorme, sobretudo neste momento que estamos vivendo. O mundo conturbado, perigo de guerras, terrorismo, crises em países da Europa, até nos EUA. É só olhar para os nossos vizinhos aqui do lado, Venezuela e Argentina, para se ter uma dimensão da crise em que todo mundo está envolvido — disse Serra, em declaração que também foi usada no programa de rádio.

A propaganda de Serra também apresentou os nomes de vários políticos que estão apoiando sua candidatura.

Três deles apareceram em entrevistas: Aécio Neves, governador eleito de Minas (PSDB), Tasso Jereissati, senador eleito pelo Ceará (PSDB), e o deputado Michel Temer, presidente nacional do PMDB.

Lula mostra até Roseana Sarney no hospital
Já o formato da propaganda de Lula foi próximo ao de um programa de auditório. Tentando capitalizar o número de petistas vitoriosos no primeiro turno, a platéia foi composta por deputados, senadores e governadores eleitos no último dia 6, além dos oito candidatos a governos estaduais que estão disputando o segundo turno e políticos de partidos aliados de primeira hora (como Jandira Feghali, do PCdoB-RJ) ou que aderiram no segundo turno (como Luiza Erundina, do PSB-SP, e Miro Teixeira, do PDT-RJ). Garotinho e Ciro, que anunciaram o apoio a Lula, foram as principais estrelas do programa.

Garotinho, chamado de “amigo e companheiro” por Lula, declarou apoio.

— Eu e o Lula queremos a mesma coisa para o Brasil: mudança. Você que votou em mim, eu lhe peço. Para o bem do Brasil, agora é Lula — disse o ex-governador do Rio.

Já Ciro Gomes teve direito a apresentação nos moldes de programas de calouros.

— Agora é Lula, Garotinho e quem mais? — perguntou Lula para a platéia.

— Ciro! — respondeu a platéia.

— Você de casa, que votou comigo no primeiro turno, receba minha gratidão. E neste momento lhe peço: Agora, vote no Lula — disse Ciro.

Num novo clipe musical — cuja letra diz que “falta pouco, quase nada” para a vitória — vários políticos apareceram, incluindo a senadora eleita Roseana Sarney (PFL-MA), que apareceu rapidamente em imagem gravada na cama do hospital em que foi operada para retirada de nódulos nos seios.

Prevendo que Serra afirmaria em seu horário eleitoral que Lula não quer participar de debates, em dois momentos o programa do PT disse que Lula participou de “vários debates em rádios, quatro em jornais e três na TV”.

O programa de rádio de Lula criticou o adversário, diferentemente do da TV, no qual o nome de Serra não foi mencionado.

— Se no primeiro turno você votou em Ciro Gomes para mudar o Brasil, seu voto agora é Lula. Se você votou Garotinho para mudar o Brasil, seu voto agora é Lula. Agora, se votou no Serra para mudar (música desafina), a gente recomenda uma leitura atenta dos jornais, acompanhar o rádio, a TV, conversar com os amigos. Ainda dá tempo de perceber que mudança de verdade é Lula — disse um locutor.


Serra atacará administrações do PT
BRASÍLIA. A campanha do tucano José Serra na televisão inicia amanhã um bombardeio mirando as administrações petistas. Adotando como slogan “Mudança sim, incompetência não”, criado pelo publicitário Nizan Guanaes, os programas estarão recheados de casos e exemplos que tentarão mostrar a incompetência do PT no governo.

A equipe de marketing do tucano concluiu que Lula tem uma forte blindagem pessoal e que, para atingi-lo, será preciso primeiro fulminar sua retaguarda política, o PT.

As pesquisas qualitativas feitas pela campanha tucana mostram que uma parcela do eleitorado de Lula é vulnerável ao argumento da competência administrativa.

Tucano criticará Lula por não ir a debates
Por isso, nas próximas 48 horas, o comando da campanha tucana também insistirá em criticar o petista por sua decisão de participar de apenas um debate na televisão durante o segundo turno. Serra vai continuar batendo nesta tecla mesmo depois do programa de Lula, veiculado ontem, ter anunciado que o petista participará do debate da Rede Globo no dia 25, dois dias antes da eleição.

— A maioria dos eleitores é a favor do debate e 44% dos eleitores de Lula desaprovam sua tática de limitar sua presença a apenas um debate — afirmou o consultor político da campanha de Serra, o cientista político Antônio Lavareda.

A idéia que será trabalhada pretende sugerir aos eleitores, segundo um integrante da equipe de marketing, que “não temos nada contra Lula, só não queremos o PT administrando o Brasil”. Os supostos riscos de um possível governo petista estão sendo apontados pelas inserções veiculadas no rádio. Ontem à noite, o programa da TV também citou os casos da Argentina e da Venezuela para tentar provar aos eleitores que existiria risco de instabilidade econômica caso haja uma vitória petista no segundo turno.

Slogan já foi usado por Duda contra o PT
Por ironia, este conceito, segundo um tucano, já foi usado no passado pelo publicitário Duda Mendonça, atual responsável pelo marketing da campanha de Lula, a favor do ex-prefeito Paulo Maluf e contra o PT, cujo mote era “não temos nada contra Suplicy, mas não queremos o PT governando São Paulo”.

— No marketing político não há muito espaço para inovações. A tarefa principal é a de recolher os signos disponíveis, e que funcionam em outras situações, e adequá-los à campanha política — afirmou Antônio Lavareda.

Tom do programa será mais agressivo
O tom dos programas de Serra na televisão nesse segundo turno será incisivo. Um membro do comando da campanha tucana explicou que essa agressividade é decorrente de uma opção política, de jogar para ganhar e mostrar que o PSDB estará na oposição em caso de derrota.

Assim, se alguns líderes regionais, como o governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves, têm preocupação de manter as portas abertas para os petistas, a campanha de Serra na TV pretende dinamitar pontes. Além da crítica à administração petista, o programa apresentará as propostas do candidato tucano e os apoios políticos que José Serra recebeu no segundo turno. Esses apoios serão us ados ao longo dos programas que serão exibidos até o último dia de propaganda no horário eleitoral.


PT monitora impacto das críticas a Lula com pesquisas qualitativas
BRASÍLIA. O comando de campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está acompanhando, por meio de pesquisas qualitativas, o impacto das críticas exibidas nos programas eleitorais de José Serra. Por enquanto, a orientação é não devolver os ataques do tucano e de seus aliados. Reunidos ontem em São Paulo, os coordenadores de campanha de Lula concluíram que entrar em embate com o PSDB será um caminho sem volta.

— Não podemos despolitizar a campanha. Se entrarmos na arena de Serra, cada dia será uma briga e não teremos como sair — disse um participante da reunião, acrescentando, no entanto, que os ataques mais pesados receberão resposta.

Serra chama Lula para o debate em inserções na TV
Os aliados de Lula estão recomendando ao candidato que preserve a linha de seu programa.

— Serra vai fazer o que pode e o que não deve para aparecer. Agora vai ser jogo pesado. Cabe a nós manter um programa que amplie a interação do PT com o eleitor — disse ontem o deputado Walter Pinheiro (BA).

Ontem à tarde, uma inserção de Serra mostrou entrevistados dizendo que Lula será covarde se não for aos debates programados. No fim do dia, um filmete comparou as trajetórias políticas de ambos, afirmando que Serra tinha mais experiência.

O comando da campanha de Lula montou um comitê evangélico, liderado por quatro parlamentares evangélicos: Marina Silva (PT-AC), Magno Malta (PL-ES), Walter Pinheiro (PT-BA) e Bispo Rodrigues (PL-RJ). O comitê organizou para a próxima quinta-feira um encontro entre Lula e líderes evangélicos no Rio.

Segundo Bispo Rodrigues, o ato contará com a presença de cerca de 500 pastores e líderes nacionais de
diferentes congregações. Os quatro viajarão pelos estados onde há segundo turno com a missão de reduzir a rejeição do eleitor evangélico a Lula.

— Nossa missão é dessatanizar Lula. É injusto! Satanizaram o Lula sem conhecê-lo! — disse Magno Malta, da Igreja Batista.

Muito mais atuante na campanha de Lula após a derrota de Anthony Garotinho (PSB), Bispo Rodrigues nega os boatos de que tamanha dedicação seja para reivindicar a presidência dos Correios, como se aventa, num possível governo petista.

— Acho que o PL, tendo o vice-presidente, terá um ministério. Eles vão saber reconhecer o valor que o PL está tendo. Estamos marchando juntos na oposição há oito anos. Somos parceiros confiáveis — disse o líder do PL na Câmara.

No encontro de quinta-feira, Lula receberá um manifesto dos parlamentares evangélicos. Os líderes pedirão a Lula comprometimento com valores cristãos.

— Vamos reunir os mais expressivos líderes evangélicos. Eles não vão lá ser convencidos. Vão declarar apoio a Lula. Isso é histórico! Os evangélicos, em geral, votam no anti-Lula. Mas cansamos de ser massa de manobra — disse Rodrigues.

O ato foi precedido de dedicada negociação. E a expectativa do grupo é que Lula receba o apoio do maior segmento da Assembléia de Deus, a Missão. Na sexta-feira à noite, acompanhados do pastor Rodoválio, da Igreja Sara Nossa Terra, Marina Silva, Magno Malta e Walter Pinheiro se reuniram em São Paulo com o pastor Paulo, filho de José Welington, um dos principais coordenadores políticos da Assembléia. Hoje, os quatro se reúnem com o apóstolo Estevão Ernandes, fundador da Renascer em Cristo.


Debate com Lula e Serra na Globo será dia 25
RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO. Representantes do PT e do PSDB confirmaram ontem as regras, a data e o lugar do único debate confirmado entre os candidatos à Presidência da República no segundo turno, que será realizado pela Rede Globo. O encontro entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano José Serra acontecerá no próximo dia 25, sexta-feira, dois dias antes da eleição, às 21h40m, na Central Globo de Produção, em Jacarepaguá.

As regras acertadas são diferentes daquelas estabelecidas nos debates do primeiro turno. Lula e Serra responderão a perguntas formuladas por 50 eleitores indecisos, que estarão presentes no estúdio. O mediador será o jornalista William Bonner, que só interferirá se achar que alguma questão não foi completamente respondida. Não haverá perguntas de candidato para candidato.

Câmera permitirá ver todas as reações dos candidatos
Os 50 eleitores formularão perguntas, mas apenas 16 delas, escolhidas por sorteios, serão levadas aos candidatos. No início de cada bloco, Bonner vai sortear uma pergunta e quem irá respondê-la. Ao outro candidato caberá uma réplica e, em seguida, haverá a tréplica. Será o próprio eleitor que fará a pergunta, depois de se apresentar dizendo seu nome, profissão e cidade de origem.

Pela primeira vez, a TV Globo colocará uma câmera com plano geral para que seja possível acompanhar todas as reações dos dois candidatos. O estúdio terá o formato de uma arena e será permitido a Lula e Serra se moverem por toda a área. O formato foi inspirado em debates entre candidatos à Presidência dos Estados Unidos.

No acerto das regras, ontem, representaram o PT o coordenador do programa de governo de Lula, Antonio Palocci, e o assessor de imprensa, Ricardo Kotscho. Pelo PSDB, compareceram o publicitário Nelson Biondi e a assessora de imprensa de Serra, Andréa Gouvêa Vieira. As negociações da Rede Globo para este debate começaram ainda em abril, com representantes dos quatro principais candidatos à Presidência.

— É diferente (o debate) no formato e na importância. O eleitor ganha mais do que no programa eleitoral gratuito, que é uma coisa conduzida — afirmou Biondi.

Para Palocci, o debate tende a ficar mais ágil:

— A novidade interessante é o eleitor fazendo a pergunta. Isso ajuda a esclarecer suas dúvidas.

Para o presidente nacional do PT, José Dirceu, a participação de Lula em um debate em rede nacional de televisão "é mais que suficiente". Ele criticou a falta de "autoridade moral" de Serra para cobrar mais participações do petista.

— O Serra não tem nenhuma autoridade moral para cobrar nada de nós porque apoiou Fernando Henrique nas suas decisões de não participar de debates nas eleições passadas. Nós temos autoridade porque fomos a todos os debates no primeiro turno — afirmou Dirceu.

O presidente do PT disse que a agenda de Lula está muito apertada e que, mesmo assim, o candidato vai debater. Durante os 12 dias que restam da campanha do segundo turno, Dirceu disse que o candidato petista visitará 11 estados.

— Está mais do que evidente que o Lula vai ao debate, quer o debate, mas tem que ser também de acordo com a nossa agenda, também com a nossa estratégia de campanha, não pode ser a estratégia de campanha do Serra — disse.

Para Duda Mendonça,"Lula adora debates"
O publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha do PT, disse que Lula não tem evitado debates com Serra, como insinua a campanha do tucano.

— Lula adora debate, poderia fazer até três por dia, mas ele não tem é tempo — disse.

Em entrevista à rádio CBN ontem, Serra voltou a cobrar a participação de Lula em debates e reclamou da ausência do petista no programa da rádio.

— É uma pena que o Lula não tenha aceitado participar desse debate de hoje. Ele tem desistido de confrontar as idéias dele com as minhas na última semana, e quem perde com isso é o eleitor — disse Serra.


Debate com Lula e Serra na Globo será dia 25
RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO. Representantes do PT e do PSDB confirmaram ontem as regras, a data e o lugar do único debate confirmado entre os candidatos à Presidência da República no segundo turno, que será realizado pela Rede Globo. O encontro entre o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano José Serra acontecerá no próximo dia 25, sexta-feira, dois dias antes da eleição, às 21h40m, na Central Globo de Produção, em Jacarepaguá.

As regras acertadas são diferentes daquelas estabelecidas nos debates do primeiro turno. Lula e Serra responderão a perguntas formuladas por 50 eleitores indecisos, que estarão presentes no estúdio. O mediador será o jornalista William Bonner, que só interferirá se achar que alguma questão não foi completamente respondida. Não haverá perguntas de candidato para candidato.

Câmera permitirá ver todas as reações dos candidatos
Os 50 eleitores formularão perguntas, mas apenas 16 delas, escolhidas por sorteios, serão levadas aos candidatos. No início de cada bloco, Bonner vai sortear uma pergunta e quem irá respondê-la. Ao outro candidato caberá uma réplica e, em seguida, haverá a tréplica. Será o próprio eleitor que fará a pergunta, depois de se apresentar dizendo seu nome, profissão e cidade de origem.

Pela primeira vez, a TV Globo colocará uma câmera com plano geral para que seja possível acompanhar todas as reações dos dois candidatos. O estúdio terá o formato de uma arena e será permitido a Lula e Serra se moverem por toda a área. O formato foi inspirado em debates entre candidatos à Presidência dos Estados Unidos.

No acerto das regras, ontem, representaram o PT o coordenador do programa de governo de Lula, Antonio Palocci, e o assessor de imprensa, Ricardo Kotscho. Pelo PSDB, compareceram o publicitário Nelson Biondi e a assessora de imprensa de Serra, Andréa Gouvêa Vieira. As negociações da Rede Globo para este debate começaram ainda em abril, com representantes dos quatro principais candidatos à Presidência.

— É diferente (o debate) no formato e na importância. O eleitor ganha mais do que no programa eleitoral gratuito, que é uma coisa conduzida — afirmou Biondi.

Para Palocci, o debate tende a ficar mais ágil:

— A novidade interessante é o eleitor fazendo a pergunta. Isso ajuda a esclarecer suas dúvidas.

Para o presidente nacional do PT, José Dirceu, a participação de Lula em um debate em rede nacional de televisão "é mais que suficiente". Ele criticou a falta de "autoridade moral" de Serra para cobrar mais participações do petista.

— O Serra não tem nenhuma autoridade moral para cobrar nada de nós porque apoiou Fernando Henrique nas suas decisões de não participar de debates nas eleições passadas. Nós temos autoridade porque fomos a todos os debates no primeiro turno — afirmou Dirceu.

O presidente do PT disse que a agenda de Lula está muito apertada e que, mesmo assim, o candidato vai debater. Durante os 12 dias que restam da campanha do segundo turno, Dirceu disse que o candidato petista visitará 11 estados.

— Está mais do que evidente que o Lula vai ao debate, quer o debate, mas tem que ser também de acordo com a nossa agenda, também com a nossa estratégia de campanha, não pode ser a estratégia de campanha do Serra — disse.

Para Duda Mendonça,"Lula adora debates"
O publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha do PT, disse que Lula não tem evitado debates com Serra, como insinua a campanha do tucano.

— Lula adora debate, poderia fazer até três por dia, mas ele não tem é tempo — disse.

Em entrevista à rádio CBN ontem, Serra voltou a cobrar a participação de Lula em debates e reclamou da ausência do petista no programa da rádio.

— É uma pena que o Lula não tenha aceitado participar desse debate de hoje. Ele tem desistido de confrontar as idéias dele com as minhas na última semana, e quem perde com isso é o eleitor — disse Serra.


Garotinho já pensa em 2006
GUARAPARI (ES). Apesar do apoio a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno, o ex-governador do Rio e candidato derrotado à Presidência da República Anthony Garotinho deixou claro ontem que nos próximos quatro anos terá como tarefa principal trabalhar pelas eleições presidenciais de 2006.

Garotinho disse que sua meta é assumir a presidência da Fundação João Mangabeira, instituto de estudos políticos do PSB, e afirmou:

— Se depender de minha vontade, com certeza quero ser candidato à Presidência daqui a quatro anos.

Descansando no balneário de Guarapari (ES) com a mulher, Rosinha Matheus, governadora eleita do Rio, Garotinho descartou a possibilidade de o PSB aceitar qualquer cargo num possível governo Lula, para ter liberdade de migrar para a oposição.

— O momento agora é de apoiar Lula porque ele representa a esperança de mudança neste país. Mas, se o Lula não cumprir os compromissos, nós vamos para a oposição. Nós devemos estar livres para, se o governo acertar, apoiarmos; e se errar, criticarmos. E aí faremos uma oposição construtiva.

Garotinho reclamou do fato de o candidato petista ainda não ter se manifestado sobre a lista de reivindicações que o PSB apresentou como condição para o apoio:

— Deixamos claro ser contra a Alca e Lula não deixou nítida sua posição. Deixamos claro que somos contra a cessão da base de Alcântara para os Estados Unidos e o PT também não afirmou sua posição.


Serra não terá apresentadores na nova fase do programa eleitoral
BRASÍLIA. Nenhuma estrela deverá tirar o espaço do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, nos programas de TV do horário de propaganda eleitoral gratuita neste segundo turno. Daqui para a frente não serão utilizados âncoras. O programa de ontem à noite exibiu novos cenários e novo formato.

A apresentadora do programa no primeiro turno, a jornalista Valéria Monteiro, não deve mais aparecer no vídeo. O jornalista Alexandre Machado, que no programa de ontem à tarde entrevistou o candidato, também encerrou sua participação na campanha.

Sai o azul, entra o verde e o amarelo
Sobreviveram na nova fase dos programas concebidos pelos publicitários Nelson Biondi e Nizan Guanaes apenas o apresentador Gugu Liberato e dona Jura, que poderá apresentar uma espécie de “Fala, povo”, no qual pessoas comuns e famosas manifestarão apoio a Serra.

Com a mudança nas cores da campanha de azul para verde e amarelo, nos próximos programas não se ouvirá a intérprete Nana Caymmi entoando o verso “A mudança é azul”. O jingle “Trabalho, trabalho, trabalho” ganhará nova versão com os mesmos intérpretes: Chitãozinho e Xororó, Elba Ramalho e a banda KLB.


Artigos

Morrer em Bali
Rosiska Darcy de Oliveira

Bali ocupa, no imaginário do Ocidente, o doce lugar do Paraíso. Foi certamente ao encontro desse sonho que viajaram os turistas que vemos enfileirados, cobertos com panos brancos, empapados de sangue, como pacotes que a morte e o ódio encomendaram. “Buscavam o amanhecer e o amanhecer não era.”

Despedaçados, confirmam ao mundo a sentença proferida contra todos. Fica a lição insuportável destes tempos: a perda do futuro, a imprevisibilidade no dia de cada um.

Enquanto policiais, em todos os países, farejam aeroportos à cata de terroristas, e serviços de inteligência dobram a segurança em lugares sagrados como o Vaticano, o que vai pelos ares é um conjunto de bares e boates, profanas casas de alegria. Com elas voam as últimas ilusões de uma vida normal possível. Com a bomba vem o recado explícito: qualquer lugar, a qualquer momento, pode ser maldito. E, por uma lógica qualquer ou pura demência, alvo.

Aprender a esperar o inesperado, prever o imprevisível é o impossível exercício que, hoje, se exige de nós.

Quem vive nas grandes cidades brasileiras e toma, em pílulas diárias, sua dose de pavor e revolta contra a violência que ataca a esmo, conhece bem ess e exercício que destrói não apenas os nervos, mas o melhor dentro de cada pessoa. Vem à tona então a fera ferida, lutando pela sobrevivência, desconfiada de tudo e de todos, buscando uma segurança improvável em algum lugar de fantasia, onde se imagina a paz e a harmonia.

Umas férias em Bali, por exemplo.

Vai correr tinta e informação sobre esse atentado, falarão experts em terrorismo, que já anunciam um grande golpe, desta vez contra a Europa, possivelmente a França. Ações militares, serviços de inteligência, negociações diplomáticas, de tudo se falará muito. Mas quem conseguirá medir o verdadeiro alcance desses atentados, que não se esgotam em seu macabro rol de mortos, queimados e amputados?

Seu alcance é muito maior, porque essas bombas explodem na alma das pessoas, semeiam pânico em quem não estava lá. A instantaneidade da informação e a abrangência dos atos terroristas, fazendo de cada um uma vítima potencial, declaram uma guerra mundial subterrânea, face à qual todos tentam ao mesmo tempo garantir sua segurança pessoal e dar às autoridades uma espécie de carta branca para guerrear.

Os americanos fecharam-se em casa, viajam pouquíssimo depois do 11 de setembro e, através do Congresso, deram seu voto de confiança ao presidente Bush para fazer a guerra em seu nome. Como reagirá a opinião pública que ainda resiste a Bush depois de mais esse atentado?

A primeira reação, a da autodefesa, lembra o relato de Chaucer nos “Canterbury Tales”, quando, no fim da Idade Média, face aos descalabros que marcaram aquela época, os habitantes assustados, prevendo um novo dilúvio, tratavam de construir cada um sua arca particular para escapar das águas.

A outra, a adesão a crítica a quem nos pode defender por que meios for, ignora que existe uma ecologia da ação, que ela escapa às nossas intenções e entra em um universo de interações, podendo virar um bumerangue que nos atinge na testa. A invasão do Iraque teria, muito provavelmente, um resultado assim.

O terrorismo busca o pânico e a intimidação. Ele escolheu um caminho irreversível, que inclui o suicídio. Mas esqueceu que existe essa ecologia da ação, que seus atos ou escolhas são também uma aposta que pode falhar.

Os efeitos desses atos caem numa engrenagem que vai muito além da provocação-resposta entre um grupo terrorista e um governo atacado.

É provável que a opinião pública americana momentaneamente reforce seu apoio a Bush, mas é possível também que uma opinião pública mundial se mobilize em face de uma ameaça que é planetária. O que faria sair o problema da esfera exclusiva de decisão dos Estados Unidos para interrogar a comunidade internacional, que terá que se exercitar no difícil equilíbrio entre ser intrépida, assumir riscos, e precaver-se, às vezes ao preço de decisões mais demoradas, condição da negociação e da reflexão.

São múltiplas as incertezas a que está submetida a população mundial: economia descontrolada, desemprego, sensação de desamparo em face de um país todo-poderoso que decide sozinho da sorte de todos ou em face de um terrorismo, também todo-poderoso, porque decide a seu bel-prazer da sorte de cada um. O crescimento da criminalidade e da violência, que não deixa de refletir essa impotência, só vem agravar, para as vítimas, a sensação do chão que foge debaixo dos pés.

Lá onde se afrontam as forças da vida e da morte, assistimos a uma agonia. Resta saber se é a agonia de um mundo que morre para que outro nasça; se, invisível hoje, nas incertezas que vivemos se esconde ainda um mundo possível e viável, ou se é a agonia pura e simples de uma humanidade que não consegue dar à luz a si mesma.


Colunistas

PANORAMA POLÍTICO – Tereza Cruvinel

O plebiscito
A seleção dos candidatos que foram para o segundo turno confirmou a natureza plebiscitária da eleição presidencial. O detalhamento das primeiras pesquisas sobre o segundo turno, notadamente a do Datafolha, reitera que o eleitor move-se mais pelo julgamento do atual governo do que pelas qualidades de seu candidato. A disputa agora é entre o desejo de mudança e o medo de mudar.

Os programas de ontem, na reabertura do horário eleitoral, traduziram bem isso. Lula apresentou-se ao lado das forças de oposição que agora se uniram a ele. A Serra restou o recurso de apontar para os riscos da mudança, ainda que se apresente como a alternativa da mudança segura. No programa da noite a atriz Regina Duarte trabalhou muito bem esses receios que a campanha de Serra quer disseminar e fortalecer no eleitorado.
Com Fernando Henrique deu certo. Como ele mesmo já disse, foi eleito pela esperança em 1994 e pela insegurança em 1998. Mas agora é outro momento e cada eleição é única e irrepetível.

Para os tucanos, Serra está pagando o preço da reeleição de Fernando Henrique, cujo segundo mandato foi minado pelas conseqüências econômicas e sociais da sobrevalorização cambial. Já foi uma façanha chegar ao segundo turno em tais condições. Para os petistas, o plebiscito eleitoral está condenando centralmente a política econômica do ministro Pedro Malan. Destacam como evidência disso a consagradora eleição para o Senado de seu principal crítico petista, Aloizio Mercadante.

Alguns sinais do plebiscito revelados pela pesquisa Datafolha: apenas 13% dos entrevistados admitem que o apoio do atual presidente a um candidato poderia induzi-los a votar neste mesmo candidato. Já 35% dizem que tal apoio os levariam a não votar em tal candidato. No primeiro turno, Serra obteve 23% dos votos válidos, índice que coincide com o dos que, nesta última pesquisa Datafolha, consideram o governo ótimo ou bom. Entre estes, Serra obtém sua melhor média no segundo turno, 57% contra 36% de Lula. Mas diante da alta rejeição, persiste o dilema anterior, de colar ou não o candidato à imagem do presidente, coisa que não foi feita no primeiro turno. Nos dois programas de ontem, Fernando Henrique continuou ausente.

O programa de Lula ocupou-se principalmente de mostrar a amplitude de seus apoios políticos e a correlação de forças favorável que terá no novo Congresso. Ciro e Garotinho proclamaram o “Agora é Lula”, mas o Datafolha mostra que os eleitores de ambos estão divididos: 42% dos eleitores de Garotinho estariam apoiando o tucano e 41%, o petista. Dos eleitores de Ciro, 42% teriam ido para Serra e 42%, para Lula. Serra teria que conquistar entre eles uma adesão maior para reduzir a vantagem de Lula.

Pelo menos na estréia, Serra explorou o medo de mudar mas não com as armas e a linguagem esperadas pelos petistas. Foi apenas o começo.

Ciro no ninho petista
Na reunião de aliados de Lula, no sábado, em São Paulo, olhando a movimentação do publicitário Duda Mendonça, que colhia as imagens exibidas no programa de ontem, Ciro Gomes brincou com um amigo:

“Agora entendo por que foi que perdi esta eleição para o Lula”. Marketing foi mesmo um dos pontos fracos de sua campanha.

Todos os apoiadores do segundo turno estão sendo tratados com a maior fidalguia pelo PT. Ciro em particular, pelo apoio imediato e irrestrito a Lula. Pelo que se ouve, se Ciro quiser, tem lugar garantido num possível governo petista.

Gabam-se os petistas de que ninguém pediu qualquer cargo em troca de apoio. Nem precisava; Lula deixou claro que, se ganhar, os apoiadores participarão do governo. Se quiserem.

Pé na estrada
Até o fim desta semana, diz o presidente do PSDB, José Aníbal, Serra deve receber o apoio de quase quatro mil prefeitos de todo o país. Hoje em Quixadá recebe o apoio de prefeitos cearenses, mobilizados pelo senador eleito Tasso Jereissati. Na sexta-feira, Serra vai a Porto Alegre desfilar com Germano Rigotto, ao Paraná e a Minas, onde será recebido pelo governador eleito Aécio Neves. < BR>
Estando agora claro que haverá mesmo só um debate, o da TV Globo no dia 25, Serra também vai intensificar a agenda de viagens.

Agenda cheia
O segundo turno estadual mais apertado deve ser o do Rio Grande do Sul, onde o petista Tarso Genro enfrenta o favoritismo do peemedebista Germano Rigotto, que apóia Serra. Lula fará dois comícios no estado, um em Porto Alegre, outro em Santa Maria. Além dos 14 estados onde petistas ou aliados disputam o segundo turno, pretende revisitar aqueles em que teve mais de 50% dos votos no primeiro turno. Já foi a Minas e visitará a Bahia. Por Ciro deve ir ao Ceará, e por Garotinho, ao Rio, estados onde perdeu para os agora aliados.

CORREÇÃO necessária: Fujimori, e não Pinochet, diferentemente do que foi registrado aqui, foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul.

GAROTINHO e Rosinha declararam apoio a Lula e foram descansar em Guarapari, no Espírito Santo. De lá só voltam na semana que vem.


Editorial

O ALVO

A morte de quase 200 pessoas num balneário indonésio foi a ação terrorista mais devastadora desde os atentados de 11 de setembro nos Estados Unidos. Americanos morreram na explosão de duas bombas e é justa a indignação do presidente dos EUA, George Bush, que chamou o ataque corretamente de “ato covarde”. Não foi outra coisa.

Mas o lugar e o alvo escolhidos pelos terroristas demonstram que a reação indignada não deve ser prerrogativa de Bush. Nem só cidadãos e interesses americanos foram atingidos.

Tudo indica que existe um elemento local na motivação do atentado. O arquipélago da Indonésia tem um longo histórico de disputas territoriais e lutas separatistas. Recorde-se o caso ainda recente dos massacres no Timor Leste. Já na segunda-feira, a Bolsa de Valores de Jacarta teve queda, juntamente com a moeda, a rúpia.

Milhares de turistas correram para o aeroporto. E provavelmente o turismo, uma das principais indústrias do país, sofrerá conseqüências de longo prazo.

Contam-se entre as vítimas, segundo as últimas informações, turistas australianos, ingleses, holandeses, franceses, alemães, equatorianos, americanos e pelo menos dois brasileiros. Além de indonésios.

Há suspeitas de participação, ainda que indireta, do grupo terrorista al-Qaeda, de Osama bin Laden. Essa possibilidade levou Bush a interpretar o atentado como mais uma afronta aos EUA: “Estão tentando nos intimidar, mas não vamos nos acovardar.”

Depois do ataque ao World Trade Center, não pode haver dúvida de que os EUA são o país mais visado. Isso se explica por sua condição de superpotência, que defende — e inevitavelmente contraria — interesses em toda parte. E por tudo que os americanos representam, de bom e de ruim, na civilização ocidental.

Atos de selvageria como o ataque de sábado em Bali afetam a todos, em toda parte, o que faz do combate ao terror uma preocupação coletiva. Provavelmente ninguém tem motivos mais fortes que os EUA para orquestrar uma reação mundial — o que não dá ao presidente Bush carta branca para agir sozinho.


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10/15/2002


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PSB apóia Lula e PFL vai de Serra

Lula alcança 58%; Serra tem 32%