Paulinho quer processar Anadyr
Paulinho quer processar Anadyr
Para vice de Ciro Gomes, denúncias da Controladoria Geral da União contra ele são ''jogo político''
BRASÍLIA - A investigação do governo sobre o uso dos recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) pela Força Sindical desencadeou uma reação que pode chegar às Nações Unidas. O candidato a vice-presidente da Frente Trabalhista, o sindicalista Paulo Pereira da Silva, anunciou ontem que vai levar aos fóruns internacionais, incluindo ONU e Organização Internacional do Trabalho (OIT), a denúncia de que o governo Fernando Henrique Cardoso está tornando viciado o processo eleitoral brasileiro.
''A máquina do governo está sendo usada para destruir e intimidar os adversários do candidato oficial, José Serra'', criticou. A gestão de Paulinho à frente dos recursos do FAT foi posta em xeque pela chefe da Controladoria Geral da União (CGU), ministra Anadyr de Mendonça Rodrigues. Ela recomendou a rejeição das contas da Força ao Ministério do Trabalho.
Paulinho levou à cúpula da Frente Trabalhista, incluindo o candidato Ciro Gomes, a proposta de pedir observadores internacionais para acompanhar o processo eleitoral brasileiro. ''Para nós está claro que (a investigação da CGU) é um jogo político'', disse o sindicalista. ''Vamos mostrar que ela foi a ministra da corrupção só de nome. Não fez um trabalho sério. Todas as denúncias de corrupção que apareceram, ela colocou para debaixo do tapete e agora se volta contra mim, pelo fato de ser vice de Ciro''.
Paulinho disse que vai processar Anadyr e a União pelo anúncio das ''suspeitas'' contra a Força Sindical. ''Cadê o resultado das investigações sobre o Eduardo Jorge, a privatização das teles, as falcatruas no DNER e na Sudam? Não desviei nada e vou provar'', afirmou. Ele abriu mão ontem do seu sigilo bancário e fiscal, ao sair do MP, em São Paulo.
O presidente do PDT, Leonel Brizola, é um dos entusiastas da sugestão de levar a ''interferência'' da máquina federal na sucessão presidencial até os palcos internacionais. A mesma tese já havia sido levantada pelo senador José Sarney (PMDB), aliado do petista Luiz Inácio Lula da Silva, em março, quando subiu à tribuna para denunciar o desmonte da candidatura da filha Roseana, do PFL.
Brizola, o presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), e o coordenador da campanha, deputado Walfrido Mares Guia (PTB), denunciaram Anadyr, em nota: ''Deploramos a postura parcial de uma funcionária pública que age com clara motivação partidária e eleitoral''.
Anadyr também abriu outra frente para críticas. Há dois dias, ela pediu aos ministros dos Transportes, João Henriques, e da Previdência Social, José Cechin, que indiquem funcionários para presidir as comissões de inquérito instauradas para apurar fraudes no DNER e no INSS. São 530 processos paralisados às espera de conclusão. A praxe, até agora, era a de indicar funcionários da Advocacia Geral da União para presidir as comissões.
Serra cria slogan inspirado em JK
BRASÍLIA - ''Serão 20 anos em 4''. Com esse slogan parecido com o do ex-presidente Juscelino Kubitschek (''50 anos em 5'') e nos moldes da Operação Nordeste, do economista Celso Furtado, o candidato tucano à presidência, José Serra, do PSDB, anunciou ontem, em Porto de Galinhas (PE) seu programa para a região mais pobre do País. Ele promete transformar o Nordeste no maior pólo turístico do mundo, recriar a Sudene - que ficará sob seu comando pessoal - e acabar com a seca.
Apesar das restrições orçamentárias para o ano que vem, as promessas de um novo Nordeste poderão custar R$ 60 bilhões em quatro anos. Só para as obras de saneamento serão destinadas R$ 5,2 bilhões até 2006. Serra anunciou que vai remanejar o Orçamento da União e usar todas as ''fontes possíveis'', internas e externas.
O maior programa é o de turismo, o Prodetur Nordeste II, com investimentos de R$ 800 milhões por ano, do Orçamento. US$ 480 milhões (R$ 1,4 bilhão) virão do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) que já autorizou US$ 240 milhões (R$ 720 milhões).
O plano, denominado ''Ação por um novo Nordeste'', foi aplaudido pelos coordenadores da bancada nordestina na Câmara e no Senado. José Carlos Aleluia (PFL-BA) e João Almeida (PSDB-BA) elogiaram a proposta. Apesar de apoiar a candidatura Ciro Gomes (PPS), Aleluia achou ''correto'' o plano. ''Cria uma política de desenvolvimento regional permanente. Mas é preciso examinar o dos outros candidatos'', afirmou. O tucano João Almeida disse que o fato de Serra ser paulista não desmerece o plano. ''É uma questão de bom senso e não de bairrismo. Os que andam vendendo soluções apenas nordestinas se esforçam é para preservar o poder oligárquico esquecendo de acabar com a miséria e promover o desenvolvimento'', avaliou Almeida.
A reativação da Sudene era uma das reivindicações do vice-presidente Marco Maciel (PFL-PE), que se manteve fiel a Serra. Ela foi extinta pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e em seu lugar foi criada a Agência de Desenvolvimento do Nordeste (Adene), considerada insuficiente para tocar os projetos de desenvolvimento.
Entre as obras prioritárias do programa estão a construção da Ferrovia Transnordestina, ligando o Ceará à Bahia, além da a duplicação da BR-101 (Natal a Salvador), com novo nome: ''Rodovia do Atlântico''. Será construído o trecho da BR-020 entre Barreiras e Picos, o que criará um corredor rodoviário ligando Fortaleza a Brasília.
Durante entrevista coletiva, Serra afirmou que vai investir na revitalização do São Francisco, mas não contemplará o polêmico projeto de transposição das águas da bacia. Ele aproveitou almoço com os diretores da Fiat para anunciar que a reativação do setor automobilístico no Nordeste.
Lula vive dia de celebridade
Estudantes da UnB, em Brasília transformam palestra de petista em comício
BRASÍLIA - Diante de uma platéia favorável formada por alunos, professores, funcionários e militantes do partido na Universidade de Brasília (UnB), o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, intensificou ontem a artilharia contra o candidato do governo, José Serra (PSDB).
O petista manteve o tom agressivo. Seguindo a linha de carimbar o senador tucano como candidato do governo, Lula criticou Serra por não assumir essa condição nos debates.
''A verdade é que o candidato do governo é chorão. Só quer o bônus da máquina fazendo campanha para ele, mas não quer o ônus de ser o candidato do governo'', afirmou Lula. O presidenciável do PT observou em seguida que Serra não quer se definir como o representante oficial porque ''o passado do governo que ele representa é desastroso''.
Lula também criticou a troca de acusações e as discussões entre Serra e Ciro Gomes (PPS) nos debates, dizendo que isso não contribui para melhorar o nível de conscientização política da sociedade brasileira. ''Eles não vão resolver essa disputa no debate porque um acusa o outro e ninguém prova nada. Fica uma rixa e parece até uma questão pessoal'', sustentou.
Para o PT e para Lula, a estratégia deve ser outra. Ele avaliou que o candidato que não se envolver nessa briga ganhará credibilidade perante a opinião pública.
Mesmo sem endossar as reclamações de Ciro e Anthony Garotinho (PSB) sobre suposto favorecimento a Serra nas decisões da Justiça Eleitoral, o candidato do PT lançou suspeitas sobre parcialidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) nas questões que envolvem as eleições deste ano. ''A verticalização (das coligações partidárias) foi feita com o objetivo de beneficiar José Serra'', acusou Lula, que fez campanha ontem em Brasília.
Depois de receber o apoio de 52 reitores de univ ersidades, ele participou do que deveria ser um debate sobre os problemas brasileiros com professores e alunos da UnB. Mas o evento se transformou em comício. Cerca de 5 mil pessoas, a grande maioria militantes com bandeiras do PT e camisetas vermelhas, receberam o candidato no Centro Comunitário do Campus da UnB, no Lago Norte, em clima de campanha: ''Lula! Lula! Lula!'', gritavam.
Na entrada, militantes comandavam, à revelia do partido, a coleta de votos para o plebiscito sobre a integração do Brasil à Área de Livre Comércio das Américas (Alca). O plebiscito contra a Alca é um assunto que provoca calafrios na versão moderada de Lula, que durante entrevista se recusou a responder se iria votar no plebiscito.
O calor intenso e o clima de tietagem durante a apresentação que Lula fez de seu programa de governo fez com que o reitor da UnB, Lauro Morhy, encerrasse o evento antes da etapa destinada às perguntas e respostas. O tratamento dispensado ao candidato do PT foi diferente do que tiveram Ciro Gomes e Anthony Garotinho nos encontros anteriores, mas não houve protestos. O público queria apenas chegar perto da celebridade, tirar fotos e pedir autógrafos.
Viana festeja em Brasília
BRASÍLIA - O governador do Acre, Jorge Viana (PT), só tinha o que comemorar ontem. Além de ter sua candidatura e seus direitos políticos restituídos em decisão unânime do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Viana é apontado pelo Ibope como favorito disparado entre os eleitores acreanos. Candidato a reeleição, Jorge Viana aparece com 62% dos votos, enquanto seu principal adversário, Flaviano Melo (PMDB), tem apenas 27%. Cerca de seis mil pessoas celebraram a decisão do TSE com uma festa em frente ao Palácio Rio Branco.
''Nossos adversários apostaram num Brasil velho e ultrapassado, onde é possível conduzir uma decisão'', afirmou o governador, que ontem ainda estava em Brasília. Ele tinha ido acompanhar o julgamento do TSE, na noite de terça-feira.
Ainda na capital, Viana encontrou-se com o candidato do PT à presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, que fazia uma palestra na Universidade de Brasília. ''Jorge Viana é o homem que o crime organizado tentou cassar, impedindo o registro da candidatura dele'', saudou Lula quando o governador chegou à UnB.
Viana ressaltou que a decisão do TSE não acaba com os problemas em torno da sucessão estadual no Acre. ''Espero que não tenha revanche e que tenhamos uma eleição tranqüila, mas para isso precisamos de observadores'', disse, afirmando em seguida que acredita estar sob risco de vida. ''Sinceramente estou preocupado'', desabafou.
Garotinho e Ciro vêem filme
SÃO PAULO - O Instituto Ayrton Senna realizou ontem uma sessão especial do filme Uma Onda no Ar, de Helvécio Ratton, para os candidatos à Presidência. O objetivo era entregar-lhes um documento com propostas de uma política para a juventude. Apenas Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) compareceram. O petista Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano José Serra se fizeram representar pelos vices José Alencar e Rita Camata.
Na saída, Ciro, acompanhado da mulher, a atriz Patrícia Pillar, prometeu incorporar as propostas do documento ao seu programa de governo. ''Senti vergonha de ser político no Brasil''. E disse que a vergonha só não foi maior porque seu programa de governo vai acabar com a ''situação vergonhosa que os jovens enfrentam hoje''.
Já Garotinho prometeu criar o Ministério da Juventude, caso seja eleito. ''Isso permitirá o desenvolvimento de políticas voltadas para um segmento tão importante da população'', afirmou.
O filme conta a história bem-sucedida da Rádio Favela, emissora educativa de Belo Horizonte criada nos anos 80, que foi reprimida por atuar ilegalmente durante 20 anos e hoje está legalizada.
PFL ganha espaço na Frente
Bornhausen diz que campanha precisa 'acertar seu rumo' e costura alianças
BRASÍLIA - O susto que a queda de Ciro Gomes nas pesquisas causou na Frente Trabalhista está levando o PFL para o centro das decisões da campanha do PPS. O presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), passou os últimos oito dias entre Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. ''A campanha precisa acertar seu rumo'', explicou. A partir da próxima semana, o senador vai viajar ainda mais. Começa pelo Maranhão e segue por todo o país para costurar apoios a Ciro Gomes.
O ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) deve se encontrar com Ciro no fim de semana. O candidato e sua mulher, a atriz Patrícia Pillar, telefonaram para ACM ontem a fim de parabenizar o cacique baiano pelos seus 75 anos. ''Eles me ligaram enquanto caminhava no Mercado Modelo e marcamos um encontro para bem breve'', contou Antonio Carlos.
A principal crítica entre os integrantes da campanha do presidenciável é a falta de profissionalismo da equipe. O amadorismo, reclamam os críticos, vai desde a arrecadação de dinheiro para a campanha até a organização da agenda do candidato.
O vice na chapa de Ciro, o sindicalista Paulo Pereira da Silva, explicou que a falta de profissionalismo incomodava muito na semana passada, mas depois de uma longa reunião com Ciro, no sábado, os ânimos ficaram mais calmos.
O marqueteiro e cunhado do candidato, Einhart Jácomo da Paz, é um dos principais alvos de críticas. Segundo um integrante da Frente, Einhart foi útil quando a campanha não tinha recursos, mas agora é preciso substituí-lo. ''Temos o melhor produto e o pior marqueteiro'', critica o líder o PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ). Vários nomes já foram lançados para substituir Einhart, mas ninguém acredita que isso será possível. Fernando Barros, responsável pela campanha de Antonio Carlos Magalhães na Bahia, afirmou que não irá para a Frente - mas fala freqüentemente com Einhart ao telefone. O publicitário mineiro Cacá Moreno, amigo do coordenador da Frente, Walfrido Mares Guia, também nega que vá colaborar para a campanha de Ciro Gomes.
Adversários se unem no ataque a Rosinha
Se antes cada um via só o seu lado, agora os candidatos que estão atrás de Rosinha Garotinho (PSB) nas intenções de voto já pensam em termos de esforço coletivo. Afinal, confirmando o levantamento anterior, a última pesquisa do Ibope mostra que a candidata do PSB ganha, com folga, já no primeiro turno. Os comitês confirmam que estão se conusultando, com a intenção de evitar a dispersão de esforços e centrar fogo contra a inimiga comum, na tentativa de garantir o segundo turno.
As coordenações das campanhas de Benedita da Silva (PT) e Solange Amara l (PFL) decidiram que será prioridade mostrar – tanto nos programas da TV como nos eventos – as deficiências políticas de Rosinha, além dos erros e supostas irregularidades cometidas no governo Garotinho. Os spots da candidata do PT nos intervalos comerciais na TV começam a imitar o que José Serra já vem fazendo com Ciro Gomes: destinam- se, basicamente, a bater em Garotinho. Ontem Benedita mostrou qual será o tom até o daqui por diante, ao se referir ao governo anterior: “Colocaram as coisas por debaixo dos panos e não enfrentaram os problemas com seriedade.”
O marqueteiro de Jorge Roberto Silveira observa, no entanto, que bater não é bem a característica do candidato da Frente Trabalhista. Arnaldo Cardoso Pires, coordenador de marketing da campanha, diz que Jorge Roberto não tem por costume político “sair por aí atacando as pessoas. E ele não tem razões suficientes para mudar agora”. Seria desperdício, no entender do especialista, aproveitar os escassos 2m19 do horário na TV para se concentrar em ataques. “Se isso fizesse efeito, Solange Amaral não estaria estacionada nos 7%”. Ao contrário da tendência de Benedita e Solange, a intenção mostrar prioritariamente os programas de governo.
Apesar das observações de Arnaldo, as críticas de Jorge R oberto a Garotinho e Rosinha, no programa de TV de ontem, já estavam mais pesadas. Ao se referir educação, tachou de “criminoso”, o governo anterior. A principal aposta de Jorge Roberto para salvar o segundo turno é trabalhar o vasto eleitorado dos que ainda não sabem em quem votar, como demonstram as pesquisas espontâneas. Para isso, o ex-prefeito de Niterói leva vantagem: é o concorrente com menor índice de rejeição.
Na campanha de Solange Amaral, a coordenação informa que deve sair de cena, como principal mote, a frase “todos são farinha do mesmo saco” para se referir aos adversários. Na berlinda, como alvo dos ataques, Rosinha. Alguns dos principais temas estão escolhidos: críticas aos projetos habitacionais de Garotinho, supostas irregularidades no programa cheque-cidadão, e denúncia de superfaturamento em compras de equipamentos na área de ação social do governo anterior, na qual atuava Rosinha. “Vamos denunciar com vigor o despreparo administrativo da candidata e como ela se arvora em mãe dos pobres para manipular eleitoralmente os excluídos”, garante Solange. “Se alguém declara que vai bater no outro candidato porque ele está na frente, mostra para a população que só quer bater. Motivo real não há. Não está colando ”, reagiu Rosinha, no corpo-a-corpo que fez ontem no Centro da cidade.
Aécio venceria no 1º turno
BELO HORIZONTE - O candidato ao governo de Minas Gerais pelo PSDB, Aécio Neves, pode ser eleito no primeiro turno, de acordo com resultado da pesquisa Ibope divulgada ontem. Aécio subiu de 42% para 44 %. Os outros candidatos, juntos, somam 25%. O segundo nas intenções de voto, Newton Cardoso (PMDB), caiu de 16% para 14%. E Nilmário Miranda (PT) subiu de 4% para 8%. O presidente da Câmara dos Deputados conta com o apoio de nove partidos. Entre eles, os da Frente Trabalhista.
Mais do que a ampla aliança partidária, no entanto, o que tem pesado a favor do tucano é o apoio do atual governador, Itamar Franco (sem partido). Aécio e Itamar, que sempre mantiveram relações amistosas, apesar das críticas do governador a Fernando Henrique, se aproximaram mais depois que o vice de Itamar, Newton Cardoso, não aceitou desistir da disputa a favor da reeleição do governador.
Itamar também provocou um racha no PMDB. Pelo menos 96 dos 231 prefeitos da legenda já comunicaram apoio a Aécio.
Artigos
O fim dos dinossauros
José Carlos Azevedo
Admitindo que uma guerra entre países ricos e produtores de petróleo cancele a venda desse combustível para países em desenvolvimento, que reflexo haverá em suas economias e quanto durarão as reservas da Petrobras, se isso nos afetar? Dez dias, um mês? Pelo que se sabe, ela não pesquisou nem desenvolveu outras fontes, mas, há muito tempo, outras empresas aproveitam energia geotérmica, eólica, solar e da biomassa e gastam bilhões de dólares em células de combustíveis e fotovoltaicas, para obter combustíveis, eletricidade e assim por diante.
Em 1977, Melvin Calvin, Prêmio Nobel, procurou em Brasília uma determinada euforbiácea e disse que, plantada em todo o Arizona, sua energia abasteceria todo os Estados Unidos. Quanto a Petrobras e o Brasil gastam nesses estudos e em aproveitamento da energia eólica e solar? A Terra recebe do Sol 1,35 MW/m² e células fotovoltaicas que aproveitem 10% disso, em uma área de poucos milhares de hectares, abastecerão toda a Terra, que consome hoje uns 120 bilhões de MWH; o custo desse empreendimento é elevado e diminuí-lo exige ciência e tecnologia, desamparadas nos países cujas universidades e centros de pesquisa vivem à mingua. Mas é bom lembrar que o transistor, uma conseqüência dos estudos de Shockley, Bardeen e Brattain que lhes deram o Prêmio Nobel de Física de 1956, custava entre 2 e 45 dólares a unidade, mas hoje, 1 milhão custam menos de um centavo.
É evidente que as estimativas de exaustão das reservas de petróleo em poucas décadas podem ser alteradas com a descoberta de novas jazidas, mas isso não afeta a preocupação com o futuro do Brasil e com o descuido de governantes por assunto tão importante. Há estudos sobre a formação do petróleo de maneira diversa da decomposição de matéria orgânica - e Thomas Gold, co-autor de teoria sobre a origem do universo, estudou a origem abiogênica do petróleo (The Supply of Natural Fuels, Pergamon Press, 1979, e Abiogenic Methane and the Origin of Petroleum, Energy Exploration and Exploitation, 1982) - que podem levar a descobrir novos depósitos.
Há ainda fantásticas quantidades de metana no fundo do mar, em profundidades superiores a uns 300m. Ela aparece presa em cristais de gelo (clatratos) e estudos do U.S. Geological Surveys revelaram que os depósitos no mar territorial dos EUA são da ordem 6 quatrilhões de m³, muito superiores aos de gás natural, uns 40 trilhões de m³. Há cerca de 1 trilhão de m³ nos mares do Japão e há depósitos em outros locais, incluindo o Brasil. A exploração dessa metana, existente no fundo dos mares e os estudos sobre sua utilização foram objeto da lei sancionada pelo presidente Clinton, em 2 de Maio de 2000.
Essa cansativa repetição de números e fatos conhecidos procura refletir a preocupação de muitos e muitos brasileiros com este país, carente de estadistas que enxerguem o dia de amanhã. Sem reservas em dólar e com dívida da ordem de 62% do PIB, revelada em julho passado; com exportações fracas e universidades e centros de pesquisa em fase difícil, há motivos concretos para essa preocupação. As raízes desses problemas são a educação e a disponibilidade de energia e todos sabem que a educação brasileira é um enorme fracasso. A falta de energia é menos conhecida e, por isso, convém lembrar que hoje, praticamente, dependemos de São Pedro; se não houver água suficiente nas hidroelétricas, restará fechar as portas.
Por isso, é importante saber se a Petrobras, capaz de descobrir plataformas baratíssimas perto do Ártico e nos confins da Ásia, investiu na busca de energias alternativas e se dimensionou as reservas desses clatratos no Brasil. Aliás, é muito importante ter cautela na sua exploração, pois não teria sido apenas o asteróide que caiu em Chicxulub, no Yucatán, há 65 milhões de anos, que extinguiu os dinossauros: ao cair no mar, ele teria liberado uma quantidade fantástica da metana desses clatratos, que incendiou toda a atmosfera da Terra e deu fim aos vorazes dinossauros.
Colunistas
COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer
Infidelidade ao alcance de todos
Concorde-se ou não com a justeza e a lisura dos métodos, não se pode deixar de reconhecer que os candidatos a presidente estão adaptados aos costumes dos novos tempos. Todos maiores de 40 anos - uns bastante mais, outros bem menos -, José Serra, Ciro Gomes, Luiz Inácio Lula da Silva e Anthony Garotinho nem parecem rapazes criados à época em que namoro era vínculo e noivado, compromisso.
Na virada do milênio, ''ficam'' com seus parceiros políticos numa desenvoltura adolescente cuja aparência esquisita muito provavelmente é mero fruto do conservadorismo do espectador. Por exemplo, onde foram parar as sedutoras trocas de gestos, olhares e palavras entre petistas e tucanos?
Ainda outro dia Lula ganhava direito a declaração de voto quase pública por parte do presidente Fernando Henrique Cardoso e assistia, impassível, à distribuição de elogios que seus correligionários mais próximos e poderosos faziam à excelência do candidato José Serra.
Ambos os grupos diziam que o enfrentamento recíproco na etapa final seria sinal de disputa qualificada, à altura de um novo Brasil. Veio a onda Ciro, os tucanos aplicaram-se com afinco, na bossa da conquista, para cima dos petistas.
Pois veja só o leitor que gente emocionalmente instável. Bastou que Se rra esboçasse a reação e surgissem sinais de que, na hipótese de embate frontal, o governismo não seja exatamente um adversário café-com-leite (estamos hoje totalmente anos 60, pois não?), para que o amor se travestisse em rancor.
Eis que já estão os dois, Lula e Serra, tal cônjuges de maus modos em processo de separação, a expor as mazelas um do outro em praça pública. De respeitável, mas inexperiente, cavaleiro da esperança nas palavras de Serra, o candidato do PT passou a ambíguo defensor de teses contraditórias.
E Serra, antes companheiro de velhas lutas e vida profissional ilibada, já virou um ''chorão'' receoso de se assumir como candidato governista. E que não se iludam os senhores e as senhoras porque tudo indica que dias piores virão.
São os sinais desses novos tempos em que até na política os namoros são de ocasião. Garotinho sempre poderá argumentar que se manteve imune. Mas aí não foi por falta de tentativa e sim por escassez de par disposto a tirá-lo para dançar.
Se por um desses acidentes do destino vier a subir nas pesquisas, veremos que não eram as uvas que estavam verdes, mas ele que não as alcançava para lhes testar o paladar.
Bem, de Ciro Gomes não se pode dizer que não tenha tirado proveito da vida enquanto ocupou o posto de rainha do baile. Agora que começa a arrefecer o entusiasmo de alguns pares, o cenário acompanha a alteração.
Se a memória não se configura traidora, faz pouquíssimo tempo que o ex-governador Tasso Jereissati pulou no centro do palco, apresentado como interlocutor privilegiado de uma possível aproximação entre Ciro e FH. Este que também de ''ser desprezível'' havia sido promovido a homem sério e bem-intencionado.
Aparentemente, a idéia era isolar Serra sob o argumento de que importante é o dia de amanhã. Pois antes mesmo de começar, a obra quedou-se inacabada.
Como, de resto, vai se demonstrando inconseqüente e inconsistente boa parte dos relacionamentos que nesta campanha começam sem que haja compromisso entre os parceiros sobre os respectivos fins.
Pela volatilidade, a finalidade não leva em conta que a vida prossegue para muito além do dia seguinte às eleições.
Debates em questão
Cresce no tucanato a sensação de que os debates de televisão podem ser armadilha fatal para o candidato José Serra, transformado em sparing por ação conjunta dos postulantes de oposição.
Na noite seguinte ao último deles, havia quem pensasse seriamente em rever a participação de Serra nesse tipo de programa. O problema é que, até onde a vista alcança, não há argumentos plausíveis para justificar a ausência sem correr o risco de um prejuízo maior.
Ilusão de ótica
O senador Roberto Freire ontem atribuía a queda de seu candidato, Ciro Gomes, nas pesquisas à exibição de aliados como o ex-senador Antonio Carlos Magalhães no horário eleitoral.
O raciocínio não faz jus à lucidez política de Freire. Um tanto prejudicada, é verdade, desde o momento em que considerou Ciro um disciplinado adepto do projeto político do PPS e achou de somenos importância a acoplagem do PFL à candidatura.
Atribuir a culpa aos pouquíssimos segundos que Antonio Carlos apareceu no programa da Frente Trabalhista é transferir a responsabilidade a quem aderiu e não a quem avaliou mal o peso da adesão.
Editorial
O FUTURO BATE À PORTA
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Marco Aurélio Mello, manifestou no Rio, em entrevista à imprensa, opinião contrária à mudança sistemática da Constituição. Na sua opinião, mexer na Constituição a todo momento, sem plano, constitui erro: ''É inimaginável que, antes de prática maior, se emende a Constituição 44 vezes''. De fato, emendas constitucionais ao sabor das circunstâncias levam fatalmente à prática do casuísmo.
No exercício da Presidência da República, por ausência do presidente Fernando Henrique, o ministro Marco Aurélio declarou indispensável vontade política por parte dos representantes do povo (deputados e senadores) para cuidar dos 50 dispositivos constitucionais ainda em aberto.
Faltou até hoje a consciência da necessidade de dar acabamento coerente à estrutura constitucional brasileira. Confessou que não são do seu agrado iniciativas autônomas.
Os constituintes de 1986/88 tinham consciência do risco assumido ao tentarem elaborar constituição minuciosa, de difícil aplicação. Por isso, fixaram o prazo mínimo de cinco anos para sua revisão e, chegada a hora, a oposição opôs resistência ao trabalho. Foi o suficiente para frustrar a iniciativa. As correntes de oposição entenderam que o quórum baixo, previsto para a revisão, favorecia a maioria parlamentar. Trataram de inviabilizar a revisão sem atentar que, no futuro, haveria dificuldade para um programa de correção completa.
A necessidade de dar à Constituição a indispensável exeqüibilidade bate à porta da consolidação democrática brasileira. Com uma dose de bom senso, cabeças esfriadas depois da eleição, chegará a hora de criar comissão exclusiva para elaborar a agenda da revisão constitucional.
Uma dúzia (ou dúzia e meia) de deputados e senadores conhecedores do assunto, com tempo limitado, poderá fazer o levantamento completo dos pontos dependentes de complementação legal e das reformas que se tornarem necessárias para fazer face a novos aspectos da visão contemporânea do Estado.
Com um trabalho de ordenamento prévio das modificações constitucionais e o equacionamento das leis complementares, estará facilitado o ajuste para dar à Constituição sustentabilidade, apesar do peso excessivo de sua natureza detalhista. Os constituintes quiseram prever todas as possibilidades e riscos mas se esqueceram do excesso de artigos, incisos e parágrafos que embaraçam a sua aplicação.
A necessidade de revisão constitucional não diminuiu com o tempo, antes aumentou com a perda da oportunidade depois de cinco anos de promulgada.
Se a única saída é a reforma, que seja uma empreitada com a responsabilidade dos grandes partidos, que são os mais prejudicados. As mudanças não dizem respeito apenas à aplicação de tudo que está na Constituição, mas no universo da política, no funcionamento insatisfatório dos partidos e em tudo que ficou do passado e no que falta ao futuro. E o futuro bate à porta.
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09/05/2002
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