PEDRO PIVA DEFENDE "FIRME MUDANÇA NA POLÍTICA ECONÔMICA"



A necessária ênfase no desenvolvimento e nas atividades produtivas exige "uma firme mudança na política econômica", mudança em cujo comando o senador Pedro Piva (PSDB-SP) quer ver o presidente da República. "Comande essa cruzada, presidente!", disse o senador nesta quarta-feira (dia 10).Para o senador, a economia brasileira, as exportações, os políticos e a geração a que ele pertence - "hoje majoritariamente responsável pelos destinos do país" - estão todos na "hora da verdade", conforme ele intitulou seu pronunciamento.A verdade da economia, conforme Piva, está na "brutal desnacionalização do nosso parque produtivo e do nosso sistema bancário", de modo que reconhecer a genialidade do Plano Real "já não basta", visto que, "como numa explosão, tudo parece ir pelos ares" e retornam os fantasmas da inflação, indexação, recessão e desemprego. O próprio presidente, em entrevista à revista Época, reconheceu o erro de não ter feito o ajuste fiscal no primeiro período de seu governo, salientou o senador, mas as recentes desvalorização do real e trocas de presidentes do Banco Central revelaram que aquele "não foi o único erro".- A fragilidade do viés monetarista da política econômica, apoiada na âncora cambial, desnudou-se completamente ante a opinião pública - disse.No âmbito das empresas, massacradas por altas taxas de juros e falta de créditos, a desnacionalização não foi acompanhada por uma política industrial, entendida pelo senador como "aplicação de fundamentos que garantam, por meio da isonomia competitiva, a integração soberana do Brasil na economia globalizada". Daí os setores de alimentos, autopeças, bens de consumo durável, bens de capital, siderurgia e varejo terem passado progressivamente ao controle do capital estrangeiro, que aumentou sua participação no faturamento total da indústria de transformação de 29% para 42%, de 1980 a 1995.Entre 1994 e 1998, acrescentou, ocorreram 1.181 fusões e aquisições, sendo que 650 delas contaram com participação de capital estrangeiro, responsável por 71% das aquisições realizadas de janeiro a junho de 1998, contra 55% em 1997 e 33% em 1992.A hora da verdade para as exportações estaria, segundo Piva, na oportunidade de aproveitar a desvalorização do real e promover uma grande ofensiva exportadora baseada numa aliança estratégica entre o poder público e a iniciativa privada, com o Ministério do Desenvolvimento ou a Câmara Exterior, ligada à Presidência da República, na coordenação. O momento também seria crucial "para a nacionalização de insumos e componentes que se estava importando para os processos industriais", completou.Para os políticos, a hora da verdade impõe aprovar o ajuste fiscal, a reforma tributária, a segunda reforma previdenciária (liquidando o regime de repartição em prol da instituição do sistema de capitalização) e a reforma política, avaliou o senador. Nesses tópicos estaria, a seu ver, a chave para a reformulação do pacto federativo.Chegou a hora da verdade também para a "nossa geração", aquela que vivenciou as crises abertas pelo suicídio de Getúlio Vargas, tomou-se de esperança com Juscelino, ficou perplexa com a renúncia de Jânio Quadros e espantada com a desestruturação do governo João Goulart, viveu as agruras do regime militar, festejou a redemocratização, assistiu o fracasso dos sucessivos planos econômicos, superou a crise do impeachment de Fernando Collor, apoiou com entusiasmo o Plano Real e "apostou na proposta de Fernando Henrique Cardoso", detalhou o senador.- Devemos mudar, sob pena de deixarmos como legado para as próximas gerações um país sem rumo e ainda injusto - concluiu.Em aparte, Eduardo Suplicy (PT-SP) assinalou que os dados relativos à desnacionalização da economia apresentados por Pedro Piva não concordam com a conclusão de estudo realizado por Luciano Martins, segundo o qual, no governo Fernando Henrique Cardoso, os grupos nacionais teriam não só se mantido como se fortalecidos. Como o pesquisador foi indicado pelo presidente para ser embaixador do Brasil em Cuba, Suplicy antecipou que o questionará sobre o assunto por ocasião da sabatina da Comissão de Relações Exteriores. O senador Bernardo Cabral (PFL-AM), por sua vez, destacou a importância do quadro de desnacionalização traçado por Piva e considerou que o pronunciamento deveria ser lido pelas autoridades econômicas.

10/03/1999

Agência Senado


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