PMDB separa Serra do PSDB e diz que aliança é com partido
PMDB separa Serra do PSDB e diz que aliança é com partido
Temer diz que escolha de pré-candidato cabe aos tucanos
José Serra não é mais unanimidade na cúpula do PMDB. Apesar de julgar difícil a sua substituição, a direção do partido quer, por precaução, separar a aliança com o PSDB -projeto que deseja manter, indicando o vice na chapa- da obrigatoriedade de o pré-candidato à Presidência ser Serra.
Indagado se o PMDB daria apoio ao movimento do PFL e de tucanos contrariados com Serra pela troca de candidato, o presidente do partido, deputado federal Michel Temer (SP), disse:
"O Serra tem a nossa simpatia, é um excelente nome, mas essa questão de quem deve ser o candidato cabe somente ao PSDB. O PMDB não vai se intrometer nisso. Vai cumprir a sua parte, que é indicar o vice do PSDB".
A declaração de Temer tem duas leituras. A primeira: é um recado da contrariedade com as resistências de Serra ao vice preferido pela cúpula, o deputado federal Henrique Eduardo Alves (RN), que deverá ser confirmado em breve. A segunda é que a demora de Serra em indicar o vice, numa tentativa de impor um nome de sua preferência -o senador Pedro Simon (RS) ou a deputada federal Rita Camata (ES)- abriu fissuras em parte da cúpula, que se sentiu menosprezada.
Por isso, diminuiu o entusiasmo por Serra, antes visto pelo PMDB como o único tucano capaz de viabilizar a aliança. Ao mesmo tempo em que dizem que Serra é preparado, peemedebistas começam a reclamar de uma suposta arrogância e antipatia.
Agora, o partido está mais preocupado em garantir a união com o PSDB e a vice. Tucanos como o presidente da Câmara, Aécio Neves, ou o ex-governador Tasso Jereissati (CE) são rejeitados apenas por serristas mais convictos, como o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima (BA).
Na avaliação do PMDB, a reportagem da revista "Veja" sobre suposta propina pedida por Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-arrecadador de recursos de Serra, não é suficiente para derrubá-lo, mas pode ter dado gás ao movimento para troca do pré-candidato.
Na visão de peemedebistas, a permanência de Serra como pré-candidato dependerá de uma rápida saída da atual crise. Se persistirem reportagens negativas e se ele cair de três a quatro pontos percentuais nas pesquisas, poderá sofrer ameaça séria de ser abandonado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, seu maior esteio político até o momento, e pelos tucanos e peemedebistas que defendem sua candidatura.
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen, fez chegar ao PMDB a proposta de que concorda em dar a um peemedebista a vaga de vice se Serra for substituído por Tasso ou Aécio. Essa é uma manobra pefelista para dizer que, sem Serra, haverá mais agregação política em torno do postulante do governo. Em conversas reservadas, Bornhausen sugere até o vice. Seria o próprio Temer, paulista que formaria dupla com o nordestino Tasso ou o mineiro Aécio.
Apesar do canto da sereia do PFL e de certo desencanto com Serra, Temer e os peemedebistas estão dispostos a ajudar o pré-candidato a superar a má-fase.
Temer diz que "sem fatos novos", o PMDB não dará apoio a uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito). Segundo o presidente do PMDB, Serra, com quem tem conversado, disse-lhe ter explicações convincentes sobre a contribuição de campanha do empresário Carlos Jereissati à sua campanha para o Senado em 1994 que, à primeira vista, não estaria registrada na prestação de contas à Justiça Eleitoral.
Bornhausen nega apoio do PFL a CPI e volta a pedir troca de tucano
Com a posição reforçada pelas denúncias de suposto pedido de propina feito por Ricardo Sérgio de Oliveira, ex-tesoureiro de campanha do senador José Serra (PSDB-SP), a cúpula do PFL reafirmou ontem ao presidente Fernando Henrique Cardoso e a dirigentes do PSDB a disposição de apoiar outro tucano na disputa presidencial.
Antes do encontro com FHC, que aconteceria ontem à noite no Palácio da Alvorada, o presidente do PFL, senador licenciado Jorge Bornhausen (SC), defendeu "convergência" em torno de uma "candidatura viável", mas repetiu que Serra não tem viabilidade.
Num tom conciliador, descartou eventual apoio à criação de uma CPI no Congresso. ""Ao PFL, como partido independente, não cumpre agravar a crise política. Cabe mostrar ao presidente que o quadro atual não levará o candidato do governo ao sucesso."
A avaliação da cúpula pefelista é que Serra tem divergências no PFL, no PMDB e no próprio PSDB. E que isso poderá levar à vitória do pré-candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, ainda no primeiro turno. "Nosso sentimento não é de revanche. Nosso sentimento é de procurar alguém que possa ganhar a eleição."
Serra na reunião
Serra cancelou entrevista que daria em Maceió, onde estava ontem, e voltou às pressas para Brasília para participar da reunião. Dela participariam também o presidente do PSDB, José Aníbal (SP), o ex-ministro Pimenta da Veiga (Comunicações), coordenador da campanha tucana, e o senador José Jorge (PFL-PE), um dos vice-presidentes do PFL.
A reunião já estava marcada, mas a revelação do suposto pedido de propina feito por Ricardo Sérgio deu novo fôlego ao PFL.
"Na medida em que o empresário Benjamin Steinbruch [ex-sócio da Vale do Rio Doce que teria sido o alvo do pedido de propina] cita fatos ratificados por um ministro [Paulo Renato Souza, da Educação] e um ex-ministro [Luiz Carlos Mendonça de Barros, das Comunicações], que envolvem o nome de Serra, ele está com o nome em jogo nesse affair. O esclarecimento dele é recomendável", afirmou o senador José Agripino (PFL-RN).
Na reunião, Bornhausen apresentaria formalmente o que já era público: que consulta feita por ele a congressistas e dirigentes pefelistas mostrou que 87% do partido apoiaria um candidato do governo se o nome não fosse Serra.
Planalto e PSDB recusam outro nome, apesar de ofensiva do PFL
O presidente Fernando Henrique Cardoso e o PSDB decidiram manter a pré-candidatura de José Serra à Presidência, apesar da ofensiva do PFL para a substituir o tucano.
O Planalto e o PSDB argumentam que nenhuma acusação pesa sobre Serra. E atribuem a uma "briga de comadres" a acusação de que o economista Ricardo Sérgio de Oliveira -que arrecadou fundos para a campanha de Serra ao Senado em 1994- teria cobrado propina durante o processo de privatização da Companhia Vale do Rio Doce, em 1997.
"O PSDB tem candidato, sim, e não vai trocar. O candidato é o senador José Serra. A denúncia está circunscrita a um empresário contra um ex-diretor do Banco do Brasil. Que se apure. Não temos nada a ver com isso e não temos o que esconder", disse o presidente nacional do PSDB, deputado José Aníbal (SP).
Os tucanos também dizem que não há alternativas ao nome de Serra. O ex-governador do Ceará Tasso Jereissati, por exemplo, seria vetado por Serra, ao qual continuou a fazer oposição mesmo após o paulista vencer a disputa interna pela indicação do PSDB. Além disso, carrega o estigma de ser o preferido do PFL.
Outra opção seria o presidente da Câmara, Aécio Neves (MG), 42. Político hábil, é considerado muito jovem e ainda não foi testado numa eleição majoritária. E seus índices em pesquisas, a exemplo dos de Tasso, são muito inferiores aos de Serra.
Ontem à noite, FHC teria uma reunião com José Aníbal, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), o senador José Jorge (PFL-PE) e o deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG). Os pefelistas iriam insistir na substituição de Serra.
Acusações são "requentadas", afirma FHC
Presidente diz que há "vontade de ver escândalo em toda parte" e nega que espere demissão de Paulo Renato
O presidente Fernando Henrique Cardoso classificou ontem de "r equentadas" as acusações de que o ex-diretor do Banco do Brasil Ricardo Sérgio de Oliveira tenha pedido R$ 15 milhões como propina ao empresário Benjamin Steinbruch para formar o consórcio que liderou a compra da Vale do Rio Doce, privatizada em 1997.
Em entrevista à rádio Eldorado, o presidente disse que, em época de eleição, aumentam os rumores de escândalo. "Naturalmente, quando chega a fase eleitoral, aumenta mais ainda, aguça mais essa vontade de ver escândalo em toda parte", disse FHC sobre as acusações contra Ricardo Sérgio, publicadas no último fim de semana pela revista "Veja".
"Até agora, outras denúncias já feitas contra a mesma pessoa não foram comprovadas e não passaram de rumores", completou.
Ricardo Sérgio foi arrecadador de fundos para campanhas de FHC e do presidenciável tucano, José Serra. É investigado pela Receita por ter movimentado, em 98, valor cinco vezes maior que o que declarou ao fisco. E é acusado pelo ex-senador Antonio Carlos Magalhães de ter cobrado propina de R$ 90 milhões para intermediar a participação da Previ (fundo de pensão do Banco do Brasil) no consórcio que comprou a atual Telemar. Ele nega a acusação.
"O governo não tem por que ficar aflito com esse diz-que-diz. Se for verdadeiro, muito bem. Espero que isso passe -e com a tranquilidade com que levo essas coisas. Havendo algo efetivo, a Justiça se ocupará disso", disse FHC.
Demissão
O presidente negou, por meio da assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, que esteja esperando um pedido de demissão do ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Segundo FHC, as informações de que esteja esperando o pedido são "especulações descabidas".
Paulo Renato confirmou à revista "Veja" o suposto pedido de propina no caso da Vale e disse que "de acordo com o Benjamin [Steinbruch], Ricardo Sérgio pediu dinheiro alegando estar agindo em nome de tucanos". Ele afirmou não ter perguntado quais seriam esses tucanos.
O ministro disse ainda que o empresário, "por meio de um emissário", afirmou ter falado com FHC sobre o caso. "Como resposta, ainda segundo suas palavras [de Steinbruch], escutou que o governo não tinha nada a ver com aquilo e que ele não deveria pagar", declarou o ministro.
Segundo a assessoria do Planalto, FHC "desmente categoricamente" que tenha confidenciado "a quem quer que seja" que cogitara a demissão do ministro.
Atuação de FHC divide advogados
A possibilidade de que Fernando Henrique Cardoso tenha se omitido ao ser informado de pedido de propina na privatização da Vale do Rio Doce pode caracterizar crime de responsabilidade, segundo advogados. Para outros, a questão é apenas ética.
A divergência refere-se à declaração do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros de que ele teria informado FHC sobre o pedido na privatização da Vale, em 1997, sem obter resposta do governo.
Advogados especializados em direito penal e administrativo ouvidos pela Folha divergem quanto a possível irregularidade na atuação do presidente.
Segundo o jurista Luiz Flávio Gomes, doutor em direito penal, a suposta atitude do presidente caracterizaria contravenção penal, porque ele teria tido ciência de um crime e não o teria comunicado às autoridades -no caso, o Ministério Público-, que é uma obrigação de todo servidor.
Para o jurista, trataria-se ainda de crime de responsabilidade, no caso, de improbidade administrativa. "Ele teria que ter tomado providências, indiscutivelmente."
O professor de direito administrativo da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Florivaldo Dutra Araújo, afirma que "existe um dever geral que qualquer irregularidade de que [um servidor" tenha ciência deve ser levada às autoridades competentes". "Se o servidor de menor hierarquia tem esse dever, logicamente isso também compete ao presidente da República."
Segundo Araújo, o presidente poderia ser acusado de crime de responsabilidade, cuja pena seria, no limite, a perda de mandato.
Para o advogado Roberto Podval, presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, o fato de que não teria sido apresentada a FHC nenhuma prova de ato ilícito o isentaria da responsabilidade de apuração. "Pode ter obrigação ética, mas não jurídica."
Pela mesma razão, Maurício Silva Leite, especialista em direito penal, diz entender que FHC não teria cometido ato irregular.
Lula adota cautela e evita falar sobre caso Vale
O PT adotou ontem cautela absoluta ao tratar da crise dentro do campo governista, causada por um suposto pedido de propina na venda da Companhia Vale do Rio Doce, privatizada em 1997.
Líderes partidários evitaram fazer declarações contundentes sobre o episódio e "blindaram" o pré-candidato a presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não se pronunciou a respeito.
Com vantagem folgada nas pesquisas de intenção de voto, o PT assiste de uma posição confortável à crise na pré-candidatura de José Serra (PSDB). A ordem no comando lulista é aproveitar o momento para divulgar uma agenda "positiva". Uma polarização radical com o governo não ajudaria em nada.
O tom cauteloso foi dado pelo presidente nacional do partido, José Dirceu. "O presidente Fernando Henrique e os ministros [Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro das Comunicações, e Paulo Renato Souza, ministro da Educação" podem ter prevaricado ao não dar prosseguimento à denúncia que receberam", declarou Dirceu. "Não estou dizendo que prevaricaram, estou dizendo que podem ter prevaricado. Isso quem vai dizer é o Ministério Público."
Protegido por assessores e dirigentes petistas, Lula não falou sobre o caso. Deixou a tarefa exclusivamente a seu porta-voz, André Singer, que deu, sem detalhes, a posição oficial do partido, de que quer uma "ampla investigação".
No único evento público que teve no dia, a inauguração de um comitê formado por sindicalistas, Lula evitou falar de política. Entrou mudo e foi direto para uma sala. O deputado Aloizio Mercadante foi escalado para falar com a imprensa, diante da insistência dos jornalistas. "Hoje, ele vai falar sobre sindicalismo", avisou.
Na saída, assessores de Lula receberam ordem de Dirceu para evitar o contato do presidenciável com a imprensa.
Contas
O PT também não inclui, no modelo de CPI que defende para investigar o caso, a suposta existência de caixa dois na campanha de Serra para o Senado em 94.
"Trata-se de se concentrar no episódio mais significativo e fundamental [o suposto pedido de propina"", afirmou Mercadante.
Segundo o deputado, o caso da propina é mais importante que o do caixa dois, entre outros motivos, porque Serra não teria cometido, à luz da legislação eleitoral de 94, irregularidade ao deixar de declarar doação do empresário Carlos Jereissati em horas de vôo. Para os petistas, a Lei Eleitoral, na época, não exigia o detalhamento.
"Naquela época, era possível que isso fosse feito, não era obrigatório a declaração daquele tipo de serviço", disse. No entendimento do petista, somente a Lei Eleitoral aprovada para as eleições presidenciais de 98 passou a exigir que houvesse o detalhamento das doações.
O petista garantiu que o partido defende, mesmo assim, a apuração das acusações. "A ética está acima das circunstâncias", disse.
A aposta entre líderes do partido é que as acusações feitas até o momento contra Ricardo Sérgio de Oliveira ferem a pré-candidatura de Serra, mas que não serão suficientes para inviabilizá-la. A menos que novos fatos surjam, diretamente ligados ao tucano.
Ninguém na cúpula petista trabalha a sério, no momento, com a possibilidade de Serra precisar ser substituído na chapa. "Não é nossa função discutir o futuro da candidatura do governo. Queremos é falar sobre programa de governo", afirmou Dirceu.
PTB quer Pillar como porta-voz de Ciro na TV
O PTB quer colocar a atriz Patricia Pillar como "porta-voz" de seu namorado, Ciro Gomes (PPS), caso o presidenciável não receba autorização judicial para participar do programa de TV do partido.
O partido quer apresentar Ciro Gomes como seu candidato a presidente no programa gratuito que vai ao ar na última semana de junho. Ciro deve ser apoiado por uma frente que inclui, além de PPS e PTB, o PDT.
Os três partidos planejam realizar uma convenção conjunta para oficializar a frente no dia 10 de junho. A idéia seria ceder espaço ao pré-candidato em todos os espaços de TV dos três partidos.
O problema é que a Justiça Eleitoral ameaça não autorizar essa possibilidade antes do início oficial da campanha, em 6 de julho. Isto ficou indicado em resposta do Tribunal Superior Eleitoral a consulta sobre o tema feita pelo PSDB.
O PTB, no entanto, entende que, a partir do momento em que o partido oficializar que seu candidato é Ciro, tem autorização para exibi-lo na TV.
"Queremos fazer a convenção no dia 10 de junho para termos tempo hábil de colocar Ciro na TV no final daquele mês", diz o líder do PTB na Câmara, Roberto Jefferson (RJ).
Substituta
O PTB diz que só desistirá do projeto se houver um documento endereçado ao partido, explicitando que Ciro está proibido de participar do programa de TV. Nesse caso, entraria em cena Patrícia Pillar.
"Estamos confiantes na participação do Ciro, mas precisamos nos precaver. Patricia seria sua representante, caso a Justiça proíba a aparição do presidenciável", declarou Jefferson.
Segundo o deputado, o convite para a atriz participar do programa foi feito pelo presidente nacional do PTB, José Carlos Martinez, a Ciro há cerca de dez dias. "Ele sorriu e ficou de pensar sobre a possibilidade", declarou o deputado. Patricia Pillar foi procurada ontem, mas não foi localizada.
A atriz, que tem participado ativamente da campanha nas últimas semanas, defenderia Ciro, explicando que ele não pôde falar no programa do PTB em razão de decisão judicial.
O PTB terá direito, na última semana de junho, a 20 minutos em um programa em horário nobre e mais 40 minutos distribuídos em pequenas inserções.
Procuro ficar limpo", afirma Ciro
Sem citar diretamente o nome do pré-candidato do PSDB, José Serra, Ciro Gomes aproveitou palestra que fazia em Nova York ontem para atacar o ex-ministro e o governo FHC. "Procuro me preservar limpo de toda essa molecagem e bandalheira", disse o pré-candidato do PPS à Presidência.
No final da conversa, Ciro criticou também "o fato de o candidato do governo fazer um jantar com empresários em São Paulo e arrecadar R$ 2 milhões", segundo notícia publicada neste fim-de-semana na imprensa brasileira.
Disse ainda que as denúncias de cobrança de propina envolvendo Ricardo Sérgio Oliveira, ex-diretor do Banco do Brasil, deveriam ser "apuradas com rigor". Para ele, deve-se presumir a inocência dos suspeitos, "mas é preciso investigar".
O ex-governador do Ceará estava na cidade falando para 40 estudantes e professores na Universidade Columbia e partiu no fim do dia de volta ao Brasil. Na palestra, defendeu uma reforma no sistema de financiamento de campanhas eleitorais como forma de acabar com a corrupção na arrecadação de fundos.
Segundo o modelo que defende, uma fração da receita do Tesouro Nacional seria destinada para o financiamento das campanhas. "Se tivéssemos eliminado a matriz de todos esses problemas, esses escândalos que vieram à tona no fim de semana não teriam acontecido", afirmou ele.
Ciro Gomes evitou, no entanto, comentar as acusações publicadas segundo as quais o empresário cearense Carlos Jereissati teria doado R$ 700 mil para a campanha ao senado de José Serra em 1994, dos quais apenas R$ 95 mil teriam sido declarados.
"Não respondo a você", disse ao repórter que fez a pergunta. Depois, justificando sua reação à platéia, afirmou: "Estou aqui falando apenas para estudantes e acadêmicos". Carlos Jereissati é irmão do governador do Ceará, Tasso, padrinho político de Ciro.
O candidato do PPS também se recusou a comentar declaração feita durante a palestra que atacava diretamente a política econômica de FHC.
Segundo o que disse, se eleito, Ciro pretende se concentrar numa meta de crescimento, em vez de numa meta de inflação, como faz o governo atual.
Seu argumento é de que o Brasil "precisa crescer pelo menos a uma taxa de 5% ao ano".
Apoio "aos pedaços"
O ex-governador do Ceará descartou ainda uma eventual aliança com o PFL nas eleições de outubro. "Eles foram o parceiro central deste modelo que eu antagonizo", falou. Disse ainda não acreditar que o partido vá apoiar alguma candidato: "Aos pedaços, talvez sim".
Economista diz que vai "proteger" FHC e Serra
O economista Ricardo Sérgio de Oliveira tem dito a pessoas próximas que vai proteger o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso e o pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, José Serra.
Segundo a Folha apurou, Ricardo Sérgio disse o seguinte para pelo menos um interlocutor que priva da sua total confiança: "O pessoal do Planalto está me tratando bem". Não detalhou o que seria esse tratamento, mas deu a entender que está recebendo sinais de apoio.
O economista foi procurado por emissários do governo Fernado Henrique Cardoso nos últimos dias. Foi tranquilizado e informado de que não será abandonado pelo núcleo tucano comandado pelo presidente.
Ao comentar a reportagem da revista "Veja" do fim de semana, Ricardo Sérgio disse: "Queriam que eu repicasse. Mas eu não vou repicar". Segundo a Folha apurou, o economista acha que adversários de José Serra querem pressioná-lo para que ele conte detalhes de suas atividades como arrecadador de campanha.
Houve alguns momentos em que Ricardo Sérgio chegou a pensar em dar entrevistas comentando sua passagem pelo governo FHC. A época em que essa idéia esteve mais próxima de se realizar foi no final de 98 e no início de 99, quando ele foi demitido do Banco do Brasil.
Em seguida, Ricardo Sérgio se recompôs com o governo. A situação voltou a piorar no final do ano passado e no início do atual. O economista começou a se sentir novamente um pouco abandonado pelo Palácio do Planalto, pois recomeçaram a aparecer reportagens sobre ele na mídia.
Experiência
Uma pessoa muito ligada aos tucanos, Clóvis Carvalho (ex-ministro da Casa Civil e do Desenvolvimento de FHC) foi investido já há algum tempo de uma tarefa permanente: acalmar e tranquilizar o economista.
Até o momento, tem dado certo a estratégia. Quem conversa com o economista Ricardo Sérgio não enxerga no ex-arrecadador de fundos de campanha de FHC e de Serra a intenção de falar mal do governo.
Dia tenso
Ontem foi um dia tenso, por causa da expectativa a respeito da entrevista que seria concedida, no início da noite, pelo ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros.
Ricardo Sérgio se reuniu com seu advogado, José Carlos Dias (ex-ministro da Justiça de FHC), no final da tarde. Traçaram juntos a linha de ação para esta semana.
Juntamente com Dias, o economista decidiu que não dará declarações públicas além das que a revista "Veja" já publicou. Dirá sempre que são mentiras as acusações de que teria cobrado propina nas privatizações nos anos 90. Se for novamente atacado e novas acusações surgirem, Ricardo Sérgio pode então reconsiderar e talvez dar novas explicações. Mas essa não é a sua intenção.
Artigos
O demônio público e privado
Clóvis Rossi
SÃO PAULO - À margem dos efeitos eleitorais do mais recente escândalo político tupiniquim, há um aspecto ideológico relevante a ser discutido em relação ao mesmo caso .
A própria revista "Veja", que fez a denúncia da vez, cuida, em editorial, de deixar claro que, embora o escândalo se refira a uma privatização, não se podem colocar em dúvida as benesses incomensuráveis das privatizações em geral.
Também acho que o Estado não deve nem produzir nem vender aço. Mas daí a aceitar que se privatize a produção e a venda de aço em meio a trambiques de grosso calibre vai uma imensa distância, que nem a lei nem o bom senso aconselham percorrer.
Se alguém cobra 15 milhões de propina (seja a moeda o real ou o dólar), é porque fez algo sujo que beneficiou alguém, que, por isso mesmo, é convidado a pagar pela benesse.
Se o presidente da República e dois ministros de Estado são informados da sujeira e nada fazem, em qualquer país civilizado haveria um baita escândalo. No Brasil, há, no máximo, panos quentes.
Parece que houve uma conspiração destinada não apenas a preservar reputações mas também a preservar o próprio conceito de privatização, como se fosse razoável reestatizar a Vale porque o processo de privatização teve manchas (manchas igualmente presentes no caso das teles, com atores parecidos).
Não é esse o ponto. O ponto é que a ideologia dominante demonizou de tal modo o Estado que ficou parecendo aos incautos que só há corrupção no setor público. Não é assim. Primeiro, porque para cada agente público corrompido há, em geral, um corruptor do setor privado. Segundo, porque a corrupção no setor privado (vide caso Enron) não é desprezível.
Não se trata, pois, de reestatizar a Vale, mas de ter claro que maracutaias não fazem distinção entre o público e o privado.
Colunistas
PAINEL
Revolta dos marujos
Tucanos que nunca engoliram a candidatura de José Serra já começaram a se mobilizar pela sua substituição, após a divulgação do caso Ricardo Sérgio. No Congresso, um grupo de cerca de 40 deputados (a bancada tucana tem 95) defende o lançamento do mineiro Aécio Neves.
O que virá
A substituição de José Serra é muito improvável, mas não impossível. Depende de FHC, das pesquisas e de como será o desdobramento do caso Ricardo Sérgio na mídia. De qualquer modo, a movimentação em favor da troca fragiliza ainda mais a campanha do presidenciável.
Não é conosco
Aécio Neves (MG) tem conversado com parlamentares. Não os estimula, mas também não coloca um freio na articulação em favor da substituição de Serra. Sua postura é a de esperar para ver. Tasso Jereissati (CE) -também considerado como alternativa- passou os últimos dias conversando com o PFL.
Maranhão paulista
Em tom de piada, pefelistas espalham que Serra entrou em processo de "roseanização".
Mais um
A demissão de Paulo Renato (Educação) -que deu o pontapé para o caso Ricardo Sérgio- já é dada como certa. No PSDB, diz-se que ele já entrou na fila do seguro-desemprego.
Coincidência tucana
Carla Grasso, mulher do ministro Paulo Renato (Educação), é diretora-executiva de Recursos Humanos e Serviços Corporativos da Vale do Rio Doce.
Outros tempos
No início de maio de 1994, Lula tinha, segundo o Datafolha, 42% das intenções de voto contra 16% de FHC. O tucano somente ultrapassou o petista em agosto, com apoio do Plano Real. E não havia crise na base aliada nem caso Ricardo Sérgio.
Senhor da razão
As denúncias contra Ricardo Sérgio deverão reforçar as ações judiciais que estão em andamento na Justiça Federal de Belém (PA) contra a privatização da Vale. Os juízes que deram liminares contra o leilão-e que por isso foram atacados pelo governo- sentem-se vingados.
Grande detalhe
O deputado Eduardo Campos, neto de Miguel Arraes, desistiu de sua pré-candidatura ao governo de Pernambuco pelo PSB e busca uma aliança com o PT. Detalhe: formalmente, a coligação seria possível apenas com a retirada da candidatura presidencial de Garotinho (RJ).
Bater no bolso
A bancada do PT na Câmara apresentará neste mês projeto que aumenta o salário mínimo para o equivalente a US$ 100 a partir de 2003. A idéia do partido é desgastar o PSDB, pois o tucanato não terá como ser favorável à proposta, que já foi recusada pelo governo FHC.
Múltiplo uso
A bancada do PT considera que, além das siglas de oposição, terá apoio de outros partidos, como o PFL e parte do PMDB, na proposta de salário mínimo de US$ 100. Aprovada ou não, a proposta vira bandeira para Lula utilizar na campanha.
Visitas à Folha
Fernando Antonio Pimentel de Melo, presidente da Abrapp (Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar), visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Devanir da Silva, superintendente-geral da Abrapp, e de Creston Portilho, assessor de imprensa.
Caio Luiz de Carvalho, ministro do Esporte e Turismo, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Laerte Rimoli, chefe de comunicação do ministério.
TIROTEIO
Do senador Jefferson Péres (PDT-AM), sobre Fernando Henrique Cardoso tratar o caso Ricardo Sérgio como notícia "requentada" e o presidenciável José Serra dizer que tudo não passa de "tititi":
- É inconcebível que ambos [FHC e José Serra] se mantenham nessa indiferença gélida. Eles se restringem a um não quero saber de nada.
CONTRAPONTO
Estranho no ninho
Há 15 dias, líderes do PSDB em São Paulo, como o governador Geraldo Alckmin e o deputado estadual Walter Feldman, presidente da Assembléia, participaram da inauguração de um ambulatório de especialidades no Jardim Satélite, na zona sul de São Paulo.
Os tucanos estavam num palanque armado para a inauguração. No meio do discurso de Feldman, apareceu na platéia o vereador Carlos Giannazi, que sofre processo de expulsão do PT por ter votado contra a orientação da prefeita Marta Suplicy num projeto que discutia as verbas para a educação.
Entusiasmado, Feldman anunciou ao microfone:
- Eu quero registrar a presença do companheiro Carlos Giannazi!
Mais tarde, o vereador explicou a jornalistas:
- Aquela é minha base eleitoral. Os tucanos exageraram...
Editorial
DA LENIÊNCIA
A notícia sobre uma suposta cobrança de propina na privatização da Vale do Rio Doce, publicada na revista "Veja", faz ressurgir uma marca ruim da Presidência de Fernando Henrique Cardoso. Sempre a pretexto de garantir a governabilidade, FHC fez concessões excessivas, deixando passar incólumes indícios de desmandos em seu governo. Aos gestos em favor do esclarecimento das suspeitas, o presidente muitas vezes preferiu negociar o "enterro" de escândalos. Mas as feridas mal cicatrizadas por esse modo de fazer política não cessam de reaparecer de tempos em tempos. É o caso agora, com potencial de repercussão negativa para a candidatura situacionista.
O núcleo do governismo se defende argumentando que há um complô para desestabilizar a candidatura presidencial do senador José Serra. O uso dessa tática por políticos acusados de irregularidades é recorrente. Recentemente, dela se valeu, sob pesadas críticas dos tucanos, o grupo de Roseana Sarney no episódio Lunus. Se há conspiração contra Serra, um observador isento diria que ela não existiria sem a contribuição ativa de dois correligionários do pré-candidato do PSDB.
Sem a participação do ministro da Educação, Paulo Renato Souza, e do ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros, a notícia que liberou do armário da privatização mais um "esqueleto" não teria sustentação. Eles confirmaram ter ouvido a história de que Ricardo Sérgio de Oliveira, diretor do Banco do Brasil à época da venda da Vale, teria cobrado do empresário Benjamin Steinbruch uma propina de R$ 15 milhões para montar o co nsórcio que arrematou a mineradora.
Outra nota preocupante do episódio é a informação, confirmada por Paulo Renato e por Mendonça de Barros, de que o presidente Fernando Henrique Cardoso soube da suposta cobrança de propina ainda em 1998. Ao que consta, nenhuma providência foi tomada por parte do Executivo a fim de esclarecer o assunto. Ricardo Sérgio de Oliveira permaneceu no seu estratégico cargo no Banco do Brasil.
Oliveira só perdeu o posto -em companhia de Mendonça de Barros e do ex-presidente do BNDES André Lara Resende- quando vieram a público, ilegalmente gravadas, conversas telefônicas entre altas autoridades federais que denotavam manobras de bastidores com o intuito de interferir na formação de consórcios para o leilão da Telebrás.
Carentes do devido controle público e da devida transparência, muitas etapas da venda de grandes empresas ao setor privado se passaram no subsolo do poder. Esse terreno é propício às chantagens, à corrupção, aos "grampos" ilegais e a outros golpes baixos -tudo à custa do contribuinte. E esse terreno é sobejamente cultivado pelos compromissos que os candidatos firmam em suas campanhas em troca de financiamento comumente irregular.
O déficit de prestação de contas por parte do poder público só se corrige com pressão social. Ministério Público atuante, sociedade civil atenta e jornalismo independente são fundamentais para que as instituições e os políticos atuem com lisura. A suspeita de cobrança de propina na privatização da Vale é grave e não pode tornar-se mais uma a constar da lista de escândalos do governo FHC varridos para baixo do tapete.
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05/07/2002
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