PSB quer comício para 'empurrar' Garotinho no Rio








PSB quer comício para 'empurrar' Garotinho no Rio
RIO - Coordenadores da campanha de Anthony Garotinho (PSB) à Presidência anunciaram ontem, durante reunião do partido, a participação de deputados e prefeitos do interior do Estado na organização de "caravanas" de militantes em ônibus fretados para o comício do candidato marcado para sexta-feira, na Cinelândia, centro do Rio. Além das caravanas, haverá o uso de carros de som e panfletagem diária ao longo da semana na mobilização para o comício, anunciado por dirigentes do PSB como "o primeiro ato de campanha com povo na rua" e "uma resposta para calar a boca dos adversários que trabalham para minar a candidatura de Garotinho".

"Será um comício de mobilização, de resposta, de planejamento e de afirmação de propostas.

Nossa posição é a de enfrentar uma guerra. Os outros candidatos são frutos da máquina. Vai ser um marco da campanha", disse o deputado Alexandre Cardoso, coordenador financeiro da campanha, durante o encontro, que reuniu cerca de 300 pessoas.

Rosinha - Coordenador da campanha de Rosinha, mulher de Garotinho, ao governo do Estado, Jayme Cardoso afirmou que sexta-feira será o "dia da arrancada". "O sai não sai não está mais em cogitação. Cada candidato a deputado estadual e federal e a prefeito vai organizar as caravanas e disponibilizar ônibus para os militantes", disse ele. Rosinha afirmou que tem o apoio de 70 dos 92 prefeitos do Estado.


Para Ciro, 'dragão da maldade' está solto
Ele diz que o governo quer "passar goela abaixo uma candidatura sem apoio popular"

Em uma reunião com o ex-governador Leonel Brizola, no Rio de Janeiro, e depois em São Paulo, onde conversou à noite com o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, o candidato Ciro Gomes (PPS) atribuiu as atuais dificuldades do País ao próprio governo, dizendo que "forças governantes querem a ferro e fogo passar goela abaixo uma candidatura que não tem apoio popular e, assim, soltam o dragão da maldade". Cobrado pela aliança com uma figura conservadora, como o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), comentou que sua preocupação "é ter o apoio de três em cada cinco parlamentares". "No primeiro dia de governo já tenho de dar condição de tranquilidade. Vou trabalhar para somar todas as forças". Ciro admitiu que está "na fase de recrutamento de pessoas para um possível governo".

Em São Paulo, onde esteve em um almoço com empresários, o ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL) dedicou-se a disparar ataques contra os adversários de Ciro, José Serra (PSDB) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), além do governo Fernando Henrique. No segundo turno, afirmou, votará em qualquer candidato que não seja o do governo. "Não apoio, independentemente da posição do meu partido. Serra será a continuidade dessa coisa que aí está e que nós não queremos", garantiu. Mas ele dá como definida, na disputa final, a presença do candidato Ciro Gomes, da Frente Trabalhista (PPS, PTB e PDT).

Ironias - O petista Lula mereceu também ironias do ex-senador no almoço, patrocinado pela Associação dos Dirigentes de Venda e Marketing do Brasil (ADVB). Lula está "se desfigurando", disse ele, ao passar por "bonzinho" e deveria ser mais autêntico. "Ele (Lula) é autêntico, tem melhorado bastante na sua posição, mas não precisa exagerar", disse ACM.

Sua principal crítica, no entanto, foi dirigida ao presidente Fernando Henrique, a quem acusou de "transigente" com a corrupção. "O presidente da República sabe quais são aqueles que não são honestos, mas infelizmente, para manter uma base política que acha sólida, transige", acusou.

"Não que ele (FHC) se beneficie, mas é subserviente com esta corrupção", declarou ele.

ACM foi prestigiado no evento por uma comitiva de políticos, na maioria do PFL baia no. Com ele estavam o senador e ex-ministro da Previdência Waldeck Ornelas (PFL-BA), o ex-ministro de Minas e Energia Rodolpho Tourinho Neto, o candidato à reeleição ao governo da Bahia César Borges, o prefeito de Salvador, Antonio Imbassahy, o ex-presidente da Eletrobras, Firmino Sampaio, o ex-presidente de Furnas Luiz Carlos Santos e o candidato ao Senado por São Paulo Romeu Tuma (PFL) e o senador Antonio Carlos Magalhães Jr.(PFL-BA).


Ciro e ACM acertam papel do PFL na campanha
Ex-senador baiano garante ao candidato o apoio pefelista em pelo menos 20 Estados

Num encontro a portas fechadas, ontem em São Paulo, o presidenciável Ciro Gomes (PPS) e o ex-senador Antonio Carlos Magalhães discutiram a participação cada vez maior de caciques do PFL na campanha da Frente Trabalhista. Numa conversa de hora e meia, no Hotel Maksoud Plaza, os dois acertaram detalhes sobre o papel de ACM na equipe. A união será celebrada com uma extensa agenda na sexta-feira em Salvador, onde o candidato receberá o apoio de 380 dos 417 prefeitos baianos, além de outros 300 ex-prefeitos também fiéis a ACM.

Ciro Gomes ouviu de ACM que o PFL deve dar apoio direto à sua candidatura em cerca de 20 Estados. Segundo a contabilidade do ex-senador, atualmente 16 diretórios regionais do partido já apóiam o candidato do PPS. Segundo ele, os pefelistas Roseana Sarney e Joaquim Francisco vão se juntar nessa ala. “Não posso dizer (outros nomes) porque senão entra a máquina do governo para esmagá-los”, ironizou.

Ciente da preocupação de líderes da Frente Trabalhista com o engajamento do PFL na campanha de Ciro o ex-senador baiano deu logo seu recado: “Quem manda é ele. Com Ciro Gomes não há partido A, B ou C.” Nesta eleição, disse ACM, seu candidato à Presidência seria Tasso Jereissati ou Ciro Gomes. Portanto, seu apoio não é recente.

“Ele rompeu com o governo; eu também. Isso nos fez convergir”, afirmou Ciro, sobre o apoio do ex-senador. “Tenho um projeto para o País que, para ser posto em prática, precisa do apoio de três de cada cinco deputados e senadores.” O apoio do PFL não se resume à campanha, disse ACM, mas também na formação da base parlamentar no Congresso.

Ciro revelou já estar recrutando pessoas para um possível governo. “Não estou encarregado só de vencer uma eleição. Sei que no dia seguinte tenho que dar ao País uma condição de tranqüilidade e governabilidade.”

Aliança – O ex-senador baiano disse que ele e seu novo aliado já trocaram farpas no passado, mas que sempre foi “amigo” de Ciro. Como sabe que seu nome será usado exaustivamente pelos adversários, que vão associar a candidatura de Ciro a uma aliança com uma figura conservadora, Antonio Carlos rebateu com analogias. Lembrou que Quércia apóia Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Renan Calheiros, José Serra (PSDB). “O Ciro não pode pagar pelo problemas dos outros.”

Ataques – Pela manhã, em almoçou com empresários na Associação dos Dirigentes de Venda e Marketing do Brasil, ACM disparou ataques contra os adversários de Ciro. “Serra será a continuidade dessa coisa que aí está e que nós não queremos.” Sobre Lula, afirmou que o petista INTERTITULO/INTERTITULOestá “se desfigurando” ao se passar por “bonzinho” e deveria ser mais autêntico.

Sua principal crítica, contudo, foi dirigida a Fernando Henrique. “O presidente da República sabe quais são aqueles que não são honestos, mas infelizmente, para manter uma base política que acha sólida, transige”, acusou.

Em uma reunião com o ex-governador Leonel Brizola, no Rio, Ciro atribuiu as atuais dificuldades econômicas do País ao próprio governo, dizendo que “forças governantes querem a ferro e fogo passar goela abaixo uma candidatura que não tem apoio popular e, assim, soltam o dragão da maldade”. Ele se diz preocupado com as turbulências econômicas, mas que seu papel no momento é de oposição.


Para candidato, FHC a poiar Serra é legítimo
Ciro acha que manifestação é justa, desde que máquina pública não seja usada

RIO – O candidato do PPS à Presidência, Ciro Gomes, considerou legítimo o apoio que o presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou ao candidato do PSDB, José Serra – desde que o presidente não use a máquina pública em benefício do candidato tucano. “Desde que o presidente guarde, como sei que guardará, a majestade do cargo e saiba estabelecer a fronteira entre o que é justo apoiar seu candidato e o que é a manipulação do poder político e do Orçamento público, penso que seja uma tendência natural”, disse.

Ciro não quis comentar a possibilidade de receber o apoio do candidato do PSB, Anthony Garotinho, no caso de o ex-governador desistir da corrida presidencial. “Não comento aquilo que não tem fundamento. Eu seria imperdoavelmente sem ética se fosse tripudiar sobre dificuldades que já passei e todos passam.”

Para Ciro, as denúncias de que o candidato a vice em sua chapa, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, teria desviado recursos da Força Sindical têm motivação política. Ele afirmou acreditar na inocência de seu companheiro de chapa. “Quando não se consegue se firmar por ser o melhor, aí começa o jogo de caneladas.”

Ciro esteve ontem no Rio para participar de um corpo-a-corpo no Buraco do Lume, no centro. Logo que chegou, correligionários, militantes e curiosos o rodearam. Impedido de caminhar, ele improvisou um comício na praça. O candidato ainda tentou seguir a pé até a Cinelândia, mas também não conseguiu ir muito longe. Em conseqüência da confusão, encerrou a manifestação e foi para casa de sua mulher, a atriz Patrícia Pillar.


Pimenta quer imagem de Serra ligada a FHC
Presidente poderia transferir até 20 pontos de sua popularidade ao candidato, diz Pimenta

BRASÍLIA - O comando político da campanha presidencial do senador José Serra (PSDB-SP) avalia que seu candidato já caiu "tudo o que tinha para cair" na preferência do eleitorado e aposta na atuação ostensiva do presidente Fernando Henrique Cardoso em favor do tucano para reverter as quedas sucessivas nas pesquisas eleitorais. O tucanato espera não só que Serra pare de cair, mas também que cresça pelo menos 3 a 4 pontos nas pesquisas até 20 de agosto, estreando na propaganda eleitoral gratuita no rádio e na televisão com cerca de 15% da preferência do eleitorado.

"Vamos inverter esta maldita curva declinante antes do início do programa eleitoral", prevê o coordenador político da campanha, deputado Pimenta da Veiga (PSDB-MG). "Não é possível que um presidente bem avaliado como Fernando Henrique não transfira 10% a 20% do prestígio que tem a seu candidato", diz outro dirigente tucano, ao lembrar que o mais ilustre cabo eleitoral de Serra está à frente de um governo avaliado como bom e ótimo por 30% dos eleitores. Nas contas do tucanato, Serra tem condições de crescer um ponto percentual semanalmente nas pesquisas, já a partir desta semana.

A previsão otimista apóia-se muito mais na migração de votos de adversários do que na definição de alguns indecisos. Avaliam que o candidato Ciro Gomes, do PPS, acabará perdendo pontos por duas razões: as denúncias de corrupção envolvendo seu candidato a vice, Paulo Pereira da Silva, e o empréstimo mal explicado do ex-tesoureiro de campanha de Fernando Collor, empresário Paulo César Farias, ao coordenador político da campanha do PPS, deputado José Carlos Martinez (PTB-PR). Na contabilidade tucana, a candidatura petista tem consolidados apenas 20% dos votos e não os 33% registrados hoje nas pesquisas, e também deverá perder apoios nos próximos dias.

Mas não é apenas com o presidente da República que os serristas contam para articular a reação.

Embora os estrategistas da campanha tenham decidido que o candidato deve concentrar sua movimentação nos maiores colégios eleitorais do País, os tucanos identificam uma reação positiva a Serra a partir do interior, mais especificamente da área rural. "Temos evidências concretas de que já começamos a reagir", diz Pimenta.


FHC elogia 'luta heróica' do Timor pela liberdade
Ele condecorou o presidente Xanana Gusmão com a ordem do Cruzeiro do Sul

BRASÍLIA - O presidente Fernando Henrique Cardoso manifestou ontem o orgulho do Brasil por ter colaborado para que o Timor Leste se tornasse uma nação livre. Em discurso no Palácio da Alvorada, durante almoço oferecido ao presidente daquele país, Xanana Gusmão, Fernando Henrique parabenizou os timorenses pelo ingresso na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e elogiou Xanana por personificar "a luta heróica de um povo que soube conquistar a liberdade".

Ao lado da atriz Lucélia Santos, principal protagonista da novela brasileira A Escrava Isaura, exibida naquele país, Fernando Henrique lembrou que o presidente timorense "transformou-se em símbolo dos valores mais caros à comunidade internacional - paz, democracia, justiça e respeito aos direitos humanos". Fernando Henrique condecorou Xanana Gusmão com o colar da ordem nacional do Cruzeiro do Sul - a mais importante honraria concedida a autoridades estrangeiras. Em troca, recebeu um "thais" vermelho com fios dourados, uma espécie de xale, muito usado naquele país.

O presidente disse ter ficado alegre ao saber que todos os projetos de cooperação, discutidos durante sua visita à capital do Timor Leste, Dili, como a Albetização Solidária, Educação à Distância e outros nas áreas de saúde, agricultura e educação, estão frutificando.

Ao agradecer a Fernando Henrique, e brincar com a atriz Lucélia Santos, chamando-a de "minha querida escrava", Xanana Gusmão fez questão de parabenizar o Brasil pela conquista do pentacampeonato. "Nesta Copa, nós sentimos que estávamos lá", disse o presidente timorense. Antes, em tom de brincadeira, ele disse que em seu país se comenta que "os timorenses jogam futebol como os brasileiros, o que não é verdade, mas perdem como os portugueses, o que não é mentira", arrancando risos dos presentes.

Participaram do evento os ministros da Defesa, Geraldo Quintão, da Saúde, Barjas Negri, e do Gabinete Militar, general Alberto Cardoso, além da presidente da Pastoral da Terra, Zilda Arns, e do secretário-executivo da CNBB, D. Raimundo Damasceno. Xanana Gusmão disse que o crescimento econômico é seu desafio para tirar os timorenses da miséria.


Artigos

Bases sociológicas da insegurança pública
Mário Cesar Flores

Opiniões racionais e palpites preconceituosos ou tolos povoam o cotidiano da mídia, mas pouco se diz sobre um influente alicerce da atual insegurança pública no Brasil: a tolerância permissiva com o delito em geral. Vejamos isso.

Para ser bem-sucedida a democracia precisa de Estado de Direito forte, capaz de impor a ordem social expressa na lei, de assegurar a compatibilização da segurança pública, individual, social, econômica, ambiental e patrimonial, com a liberdade racionalizada pela lei, interpretada sem deformações hipócritas, ideológicas ou demagógicas; o convívio social com liberdade só funciona bem se é eficazmente garantido pelo poder legal e seus instrumentos. Assim ocorre nas democracias tradicionais, onde não existe leniência, indiferença, conformidade ou impotência diante do delito e o poder legal não é cerceado na sua condição de fiador da ordem, onde a lei não é inócua por não ocorrerem sanções ao seu desrespeito, onde os instrumentos legais da ordem são acatados e prestigiados.

Já nas democracias de menor tradição é comum a confusão entre liberdade democrática e licenciosidade permissiva, entre ordem legal, que é alicerce da liberdade, e autoritarismo - confusão prejudicial à capacidade do Estado de regular a liberdade por parâmetros do direito, de inibir a desordem e conter a criminalidade, com risco de desgaste da lealdade do povo ao Estado e à ordem pela qual ele é responsável. O Brasil se insere nesse grupo, com uma nuança preocupante: as concepções que agravam a plasticidade do caráter coletivo, associando o respeito à lei ao autoritarismo, se manifestam com mais desenvoltura consciente nas classes média e alta; a pobre, é justo admitir, quando desrespeita a lei, o faz sem "apelar" a essa associação!

De fato, há anos vivemos no direito democrático, mas admitindo o cerceamento "politicamente correto" do cumprimento do dever do Estado de prover o direito do povo à tranqüilidade com segurança. Há anos convivemos um tanto complacentemente com o desrespeito à lei, a ponto de o certo e o errado se tornarem conceitos difusos e de já se perceber alguma redução na indignação com esse desrespeito, quando ele não atinge instituições ou pessoas próximas ou não "ouriça" a mídia... Há anos aceitamos a sistemática atribuição de culpa aos instrumentos da lei - e não à delinqüência - pelas conseqüências da imposição da ordem, haja vista serem sempre policiais as "balas perdidas" nas ações de repressão ao crime (a polícia atira mal ou porque o Estado indeniza...?).

Tudo agravado por indulgência preconceituosa que atenua os delitos à sombra de concepções subjetivas de justiça social, que em geral substituem uma injustiça por outra, ou supostamente éticas. Exemplificando: para a indulgência preconceituosa é aceitável que membros do MST ameacem com seus "inocentes letais" instrumentos de trabalho o proprietário e empregados de fazenda invadida, mas é inaceitável a reação no nível correspondente; é um princípio aceitável que os tribunais midiáticos "julguem" por indícios obtidos ilegalmente, mas, dependendo de quem seja o alvo, a obtenção ilegal é crime que descaracteriza os fatos em causa.

O "terreno" psicossocial e político assim caracterizado favorece a rotina dos delitos da insegurança pública. Mais ainda porque ele é fertilizado também por outros fatores igualmente estruturais, como o é, por exemplo, o crescimento da população em ritmo (ainda) elevado, do que resulta ser difícil a resposta social (educação, saúde, habitação, emprego) conveniente à contenção das tensões estimuladoras do escapismo delituoso: não há caso atual de democracia socialmente bem-sucedida, com o povo satisfeito, em que o crescimento da população se verifique no ritmo brasileiro. E o modelo consumista, em que o povo é instado a adotar hábitos perdulários da classe média e esta, da classe alta, porque a produção e o comércio exigem a permanente criação de necessidades, no mínimo, discutíveis, a serem atendidas a qualquer custo - causa de muitos delitos.

Resumindo: a pusilanimidade societária e do Poder Público, refletida na deterioração do caráter coletivo e da autoridade do Estado, estimula a crise de insegurança. Não há como garantir segurança pública satisfatória apenas com medidas conjunturais de repressão rigorosa, necessárias no curto prazo, mas insuficientes no longo; a solução a maior prazo exige enfrentar as bases socioeconômicas e culturais do problema - aí incluída a tolerância permissiva. Nunca existiu um exemplo de democracia saudável que tivesse convivido por longo tempo, em paz social, com o descaso pela lei, com a confusão entre liberdade democrática e libertinagem.


Editorial

O 'FAST TRACK' DE BUSH

O presidente George W. Bush passou a semana tentando convencer deputados, tanto democratas como republicanos, a aprovar o projeto que dá ao Executivo autoridade para negociar acordos comerciais, nos próximos cinco anos, sem que o Congresso possa emendá-los - ou seja, ou aprova ou rejeita os textos negociados. Na sexta-feira, quando constatou que ainda não tinha maioria assegurada, Bush foi ao Capitólio pedir, pessoalmente, apoio para o projeto. A noite já ia avançada quando as lideranças na Câmara e no Senado fecharam um acordo sobre o texto do fast track - medida necessária porque as duas Casas estavam trabalhando com projetos diferentes, que precisavam ser conciliados. Às 3 horas da madrugada de sábado, a Câmara dos Representantes aprovou o projeto. Acredita-se que, dentro de mais alguns dias, o Senado faça a sua parte.

Quando isso ocorrer, os Estados Unidos estarão em condições de negociar acordos comerciais com o Chile e Cingapura e completar o acordo de preferências com os países andinos. Mas o mais importante é que o fast track dará ao presidente Bush as condições políticas necessárias para prosseguir as negociações para a criação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) bem como a rodada global da Organização Mundial do Comércio (OMC), ambas devendo terminar em 2005.

O projeto de autoridade para a promoção comercial que a Câmara dos Representantes havia aprovado em dezembro, por maioria de um único voto, continha tantas restrições e exigia tantas consultas ao Congresso que praticamente tornavam inviáveis as negociações para a liberalização do comércio. O novo projeto ainda reflete as resistências dos setores mais protecionistas do Congresso norte-americano ao livre comércio, mas pelo menos foi derrubada a emenda Dayton-Craig ao projeto do Senado, que permitia ao Congresso emendar os acordos comerciais que não fossem cópia fiel das leis internas sobre anti-dumping e importações subsidiadas. Como tais leis impõem critérios unilaterais e são de aplicação automática, qualquer acordo comercial acabaria sujeito a emendas pelo Congresso - o que não seria aceitável pelas outras partes envolvidas.

Em troca, o texto agora aprovado pela Câmara cria um programa que subsidia 65% do seguro-saúde dos trabalhadores que perderem seus empregos em conseqüência da concorrência de produtos estrangeiros. E o dispositivo que destinava ajuda financeira a cada trabalhador que perdesse seu emprego devido à transferência de sua empresa para o exterior agora beneficiará apenas os empregados das companhias que se mudarem para países que têm acordos comerciais com os Estados Unidos.

O presidente George W. Bush está, sem dúvida alguma, obtendo uma grande vitória política, ao conseguir um mandato para a promoção comercial que o Congresso vinha negando à Casa Branca desde 1994. Assim que o Senado aprovar o texto, Bush poderá dizer que, como prometeu durante a campanha eleitoral, está firmemente comprometido com a liberalização do comércio internacional.

A verdade, no entanto, é que, para obter o fast track, Bush usou a tática de fazer sucessivas e cada vez maiores concessões aos setores protecionistas do Congresso. Primeiro, beneficiou as indústrias têxteis e farmacêuticas.

Depois, criou barreiras às importações de produtos siderúrgicos. Finalmente, aprovou o maior programa de subsídios agrícolas da história americana. Tudo isso, segundo ele, para que fossem vencidas as resistências dos congressistas protecionistas e criadas as condições para a liberalização do comércio. A atuação de Bush na semana passada, no entanto, mostra que, se ele tivesse resistido às pressões protecionistas com o mesmo empenho com que arregimentou os votos necessários para a aprovação do fast track, a autoridade para a promoção comercial teria sido concedida, sem as nefastas conseqüências que sua tática produziu sobre a economia de vários países.


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07/30/2002


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