Reduzir a folha salarial para salvar empresas e empregos



A diminuição de tributos foi uma das ideias discutidas nesta quinta-feira (12) em audiência pública conjunta da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) com a Comissão de Acompanhamento da crise financeira e da Empregabilidade. Para dois economistas presentes, a desoneração poderia fomentar a atividade econômica prejudicada pela crise global de crédito.

- Eu alocaria o máximo de dinheiro que eu pudesse para sustentar a redução das contribuições sobre a folha de salários - receitou o professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), José Márcio Camargo.

Ele disse acreditar que, com a folha salarial mais barata, as empresas preservariam e ampliaram os empregos. O resultado para economia como um todo seria o estímulo ao consumo e à produção.

Mas o economista ponderou que esse investimento no emprego não poderia levar o governo a abandonar as metas de poupança do superávit primário, essenciais para dar credibilidade ao país e garantir o seu financiamento externo. Camargo lembra que os Estados Unidos, a Europa e o Japão atrairão o grosso dos recursos disponíveis como forma de financiarem seus rombos financeiros. Tampouco seria sensato, de acordo com o professor da PUC, aumentar o déficit da Previdência Social.

Na opinião do economista Marcos de Barros Lisboa, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ), a ideia de reduzir o custo da folha salarial "é saudável". Os recursos necessários para compensar a queda de arrecadação previdenciária poderiam ser conseguidos com a diminuição dos gastos correntes do governo.

O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega é cético em relação a medidas de cunho fiscal para contrabalançar os efeitos da crise. No entender dele, dificilmente se poderiam mobilizar recursos orçamentários quando 90% das verbas estão vinculadas a destinações obrigatórias.

Os economistas presentes ao encontro, incluindo o também professor da FGV-RJ Luiz Guilherme Shymura de Oliveira, recomendaram a insistência em reformas estruturais, algumas a cargo do Congresso Nacional, como uma forma de o Brasil diminuir os riscos de sua economia e obter vantagens na disputa por créditos e investimentos.

O senador Delcídio Amaral (PT-MS) mencionou a necessidade de se avançar na definição dos marcos regulatórios do setor de infraestrutura e do papel das agências reguladoras. E o economista Marcos Lisboa defendeu a aprovação pelo Senado do projeto que altera a lei de concorrências e reestrutura o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Na Câmara dos Deputados, a matéria foi aprovada em dezembro do ano passado com o número PLC 3937/04.

Para Mailson, se o Brasil seguir a trilha de reformas iniciadas ainda no governo do presidente José Sarney, com redefinição do papel do Banco Central e dos bancos oficiais, poderá garantir que a queda nos juros não seja um efeito passageiro da crise atual. Para ele, é possível que até o fim do ano a taxa básica de juros, a Selic, esteja em 9% ao ano e a taxa de juros real, em 5%.

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) reclamou da falta de crédito e apontou a concentração bancária como um fator impeditivo da diminuição dos juros. Já o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) voltou a pregar a instituição de um programa de renda mínima.



12/03/2009

Agência Senado


Artigos Relacionados


Trabalhadores estão dispostos a sacrificar 2,9 mil empregos para salvar Varig, afirma representante de empregados

Sindicalistas criticam proposta do governo para desoneração da folha salarial

Marcos Guerra sugere queima de confecções contrabandeadas para salvar empresas nacionais

Governo fará auditoria na folha de pagamento do funcionalismo para reduzir gastos de custeio

Debatedores pedem contrapartidas à desoneração da folha salarial

Desoneração da folha não gera empregos, afirma técnico do Ipea