Requião defende participação do Congresso na negociação de acordos comerciais



Em discurso no Plenário nesta sexta-feira (14), o senador Roberto Requião (PMDB-PR) defendeu proposta de emenda à Constituição (PEC) que apresentou recentemente, determinando que os acordos e tratados sobre comércio internacional só poderão ser assinados pelo Executivo depois de aprovada autorização pelo Congresso Nacional.

- Não pode haver política exterior democrática, nacional e participativa sem a intervenção parlamentar no planejamento, execução e controle. É preciso equilibrar a necessária condução do processo pelo governo, com a influência do Parlamento, representante do sentimento nacional - afirmou Requião.

Para elaborar a proposta, Requião inspirou-se na experiência dos Estados Unidos, em que o Legislativo tem grande poder no acompanhamento das negociações comerciais internacionais. Pelo relato do senador, o governo daquele país dirige a política comercial exterior, mas o Legislativo a controla, respalda ou censura.

Nos EUA, segundo Requião, a legislação exige que o presidente consulte e mantenha o Congresso informado sobre as conversações bilaterais em curso, mesmo quando as negociações são conduzidas pelo mecanismo da chamada "via rápida" (fast track). O descumprimento de qualquer das normas pelo Executivo, continuou, pode levar à aprovação de resoluções parlamentares que levem à desaprovação de acordos comerciais.

- É imprescindível que se fortaleça de imediato o papel do Legislativo, para que o Brasil possa inserir-se no processo de globalização econômica em condições favoráveis. O Congresso não pode ser transformado num mero fantoche, homologador de acordos comerciais decididos no Executivo - afirmou, destacando que a agenda do comércio mundial para os próximos anos traz grandes desafios, como a definição das relações do país com a Comunidade Européia, a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e o Mercosul.

Requião também criticou a postura adotada pelos EUA e pela Europa, que não abrem mão de proteger setores de sua economia.

- Eles negociam tudo, desde que não percam nada. Não querem ceder espaço nenhum para o nosso comércio internacional - disse.

O senador, que é presidente da Comissão Parlamentar do Mercosul, espera ver sua proposta analisada pelas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), onde o senador Pedro Piva (PSDB-SP) é o relator, e de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) já no início do próximo ano.

Em aparte, o senador Lindberg Cury (PFL-DF) elogiou o pronunciamento de Requião e disse acreditar que a modificação por ele proposta poderá contribuir para melhorar a discussão dos acordos comerciais do país.

- A proposta coloca o Congresso como centro das discussões e acaba com a solidão do Executivo. Alem disso, atrairá a sociedade civil e o empresariado nacional para o Congresso, para que possam também participar das negociações comerciais no plano internacional - concluiu Requião.

14/12/2001

Agência Senado


Artigos Relacionados


Requião apresenta PEC para garantir participação do Congresso na negociação de acordos internacionais

Para Requião, Congresso tem que acompanhar toda a negociação dos acordos internacionais

Congresso poderá ter maior participação na negociação de acordos internacionais

Valdir Raupp defende maior participação brasileira em acordos comerciais com outros países

Executivo não poderá firmar acordos comerciais sem ouvir Congresso

Camata quer que Congresso dê autonomia a FHC para negociar acordos comerciais