Rigotto recebe apoio do PL contra Tarso









Rigotto recebe apoio do PL contra Tarso
O candidato do PMDB ao governo do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto (PMDB), recebeu ontem o apoio formal do PL gaúcho no segundo turno. O PL contraria, dessa forma, a deliberação nacional que apóia o PT na disputa presidencial. O empresário mineiro José Alencar (PL) é o candidato a vice na chapa de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a Presidência. Segundo pesquisa do Ibope divulgada no domingo, Rigotto lidera a corrida com 57% dos votos totais, contra 35% do petista Tarso Genro. No primeiro turno, o PL gaúcho teve candidatura própria com Aroldo Medina, que centrou seu discurso na segurança pública e fez ""tabelinhas" com os oponentes do PT no Estado. Quando o PL acertou sua aliança com o PT em nível nacional, o diretório gaúcho colocou-se sempre contra a decisão.


Lula terá de tomar decisão difícil, diz "Financial Times"
Se o candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, vencer a eleição, ele terá de tomar logo uma decisão muito difícil para resolver a crise de solvência da economia. É o que opina o jornal britânico "Financial Times", em editorial previsto para ser publicado hoje.

Para o jornal, medidas ortodoxas podem ser suficientes. Mas a reestruturação da dívida ou o controle do câmbio devem ser levados em conta, com a ressalva: "Qualquer uma dessas duas alternativas seria carregada de riscos, algo a ser evitado a todo custo, se possível. Mas é concebível que tais ações fossem melhores do que uma tentativa heróica e, no final, fracassada de continuar com tudo como está".
Leia a seguir a íntegra do texto:
Se as sondagens de intenção de voto estiverem certas, o Brasil vai eleger Luiz Inácio Lula da Silva para a Presidência no domingo depois do próximo. Conhecido universalmente como Lula, o líder do Partido dos Trabalhadores está entre 26 e 30 pontos percentuais à frente nas sondagens, cavalgando a crista de uma onda feita de apoio pessoal, anseio por mudanças e grandes esperanças. Mas esse clima positivo não bastará para garantir que ele faça um bom governo. Seu desafio primeiro, e mais importante, será fazer frente à crescente crise econômica brasileira.

Os males econômicos que o país enfrenta não foram provocados por Lula, mas são intensificados pela falta de fé em sua capacidade de gerir a economia. Todos os sinais de uma moratória próxima são visíveis: uma dívida do setor público que cresce vertiginosamente, taxas de juros de curto prazo muito altas, crescimento baixo, moeda em processo acelerado de desvalorização e perda de confiança internacional. Pelos índices de mercado atuais, até mesmo um otimista admitiria que o Brasil é insolvente.

Com esse pano de fundo, é impossível exagerar a importância que terão as primeiras decisões de Lula na área da política econômica. O silêncio que vem sendo mantido pelo PT antes do segundo turno da eleição é compreensível, mas não pode durar. Para garantir que seu governo tenha uma chance, Lula terá que agir prontamente para aumentar a confiança em sua economia e sua administração.

É preciso que a nova equipe financeira, o novo ministro do Planejamento e o novo presidente do Banco Central sejam indicados nos primeiros dias. Os mercados financeiros ficarão preocupados, com razão, se os candidatos não despertarem confiança na capacidade do novo governo de manter políticas monetárias e fiscais que inspirem respeito. Qualquer sinal de relaxamento com as finanças públicas ou a inflação aumentaria a pressão à qual o real vem sendo submetido, elevando ainda mais os juros de mercado. A parada seguinte seria a não liquidação das obrigações contratuais ou a volta da inflação alta.

A ortodoxia e o fato de que o Brasil tem condições de financiar suas dívidas pelo resto do ano podem bastar para acalmar os mercados, se bem que com dificuldade. Mas também é possível que não bastem, já que todo o mundo sabe que a solvência do Brasil se equilibra numa corda bamba. Assim, o novo governo não poderá furtar-se a considerar se deve impor controles cambiais parciais ou até mesmo reestruturar as dívidas brasileiras. Qualquer uma dessas duas alternativas seria carregada de riscos, algo a ser evitado a todo custo, se possível. Mas é concebível que tais ações fossem melhores do que uma tentativa heróica e, no final, fracassada de continuar com tudo como está.

Seja como for, a decisão precisa ser tomada rapidamente e com seriedade. Seria necessário, também, organizar qualquer reestruturação de maneiras que minimizassem o choque imposto ao sistema financeiro e à confiança no Brasil. Para isso, seriam necessárias negociações de boa fé com os credores. Seja o que for que o governo de Lula decidir fazer, ele também teria que comprometer-se a seguir políticas fiscais e monetárias mais ou menos ortodoxas, de modo a restaurar alguma confiança do mercado no país e a auferir os benefícios dos custos mais baixos de serviço da dívida.

Ninguém quer assumir a responsabilidade por uma economia que enfrenta uma situação tão difícil. Lula não tem outras opções disponíveis. Não haverá teste maior de sua presidência do que a decisão sobre o que fazer para resolver a crise de solvência do Brasil.


Para EUA, opção do Brasil é Alca ou Antártida Em recado a eventual governo Lula, integrante do governo Bush diz que área de livre comércio é "oportunidade, não anexação"

Robert Zoellick, uma espécie de ministro do Comércio Exterior norte-americano, mandou um duro recado ao governo brasileiro (especialmente o próximo): ou aceita a Alca (Área de Livre Comércio das Américas), ou vai ter que vender seus produtos na Antártida, região em que, sabidamente, não há mercados.
O recado foi dado por intermédio do jornal "The Miami Herald", na edição de domingo, nos seguintes termos precisos:
"Nós queremos fazer a primeira oferta [de acordo comercial] à América Latina, porque são nossos parceiros mais próximos. Mas, se eles [referindo-se a um eventual futuro governo Lula] decidirem que querem ir em outra direção, se eles querem tomar o rumo sul, para a Antártida, nós olharemos para o leste e o oeste", afirmou Zoellick.

Ontem, ele repetiu o recado, sem a menção à Antártida, em palestra na "Conferência das Américas", organizada pelo próprio "Miami Herald", que está comemorando seu centenário.

A Folha perguntou ao alto funcionário norte-americano o que ele achava das seguidas afirmações de Lula de que a Alca é um processo de "anexação" do Brasil pelos Estados Unidos. Resposta: "[A Alca" é uma escolha para o Brasil, não uma exigência. É uma oportunidade [para o Brasil], não uma anexação [do Brasil"".
Mas fez questão de dizer, na palestra primeiro e na resposta depois, que "não faltam países querendo fazer acordos comerciais com os Estados Unidos" uma forma menos direta de afirmar que, se o Brasil não quiser, não lhe restará alternativa que não a Antártica. É claro que Zoellick fez questão de ser diplomaticamente correto: "É uma decisão do Brasil, uma democracia soberana".

Mas ele até listou os países ou grupos de países com os quais os Estados Unidos estão negociando acordos comerciais: o Chile, com o qual a intenção é completar as negociações até o fim do ano, e os países do Mercado Comum Centro-Americano (Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras e Nicarágua).
Além disso, o governo Bush concedeu regalias aos países andinos (Colômbia, Bolívia, Peru e Equador). Como o México já tem um acordo de livre comércio com os EUA (e o Canadá), restam poucos países latino-americanos que possam acompanhar o Brasil na resistência à Alca, uma zona de livre comércio que, a partir de 2005, envolverá os 34 países americanos, excluída apenas Cuba.

Elogios, mas...
O chefe do USTr (United States T rade Representative, uma espécie de Ministério do Comércio Exterior) se disse "otimista a respeito da direção que o Brasil está tomando", no que contraria a mistura de temor e preconceito que cerca a perspectiva de vitória de Lula na administração George W. Bush e em parte da opinião pública norte-americana.

Sem mencioná-lo nominalmente, Zoellick prestou até homenagem a Lula, ao dizer: "Nas democracias da América Latina hoje, a impaciência e a frustração levam ao desassossego popular e criam aberturas para populistas que usam tais ressentimentos para mobilizar contra, e não a favor. Ainda assim, as democracias também criam oportunidades para um homem nascido pobre numa favela aspirar à Presidência do maior país da América Latina". (Lula de fato nasceu pobre, mas não exatamente em uma favela.)

Mas os elogios não se estenderam à disposição do governo brasileiro (o atual como, eventualmente, o governo Lula) para negociar livre comércio.

Ao contrário, Zoellick mencionou como exemplares, desse ponto de vista, apenas México, Chile e El Salvador.

Mais: listou os sete objetivos da administração norte-americana para a reunião da Alca marcada para 1º de novembro no Equador (trata-se da mais alta instância decisória no processo de negociação): um deles é "estabelecer calendários firmes, para os próximos meses, não anos, para negociações destinadas a abrir mercados para cada participante".

O governo brasileiro não quer nem pensar em antecipar qualquer abertura de mercado.

Pior: Zoellick defende que a tarifa a partir da qual serão feitas as reduções seja a efetivamente aplicada, e não a registrada na Organização Mundial do Comércio, sempre mais alta. O Brasil, por exemplo, tem registradas tarifas de até 35% na OMC, mas a média que efetivamente impõe, na vida real, é de 12%.

O chefe do USTr deixou claro que, nessa reunião, os EUA querem negociar com todos. Mas acrescentou: "Estamos também preparados para caminhar passo a passo rumo ao livre comércio, se os outros virarem as costas ou, simplesmente, não estiverem ainda preparados".

É de novo uma alusão velada ao Brasil, com o qual os Estados Unidos compartilharão a presidência da Alca a partir da reunião do Equador. Nela, os EUA defenderão que a reunião ministerial de 2003 seja em Miami (o governo brasileiro aceita, desde que a de 2004 seja no Brasil).


Para economista, Lula vai passar pela mesma "maldição" de FHC
A mesma "maldição" que vitimou o presidente Fernando Henrique Cardoso desde o ano 2000 "estará presente no começo da administração Lula".

A previsão é de Paulo Vieira da Cunha, ex-funcionário do Banco Mundial, hoje vice-presidente sênior da firma de investimentos Lehman Brothers, uma das raras figuras do mercado que verte elogios para o candidato do PT.

Vieira da Cunha falou da "maldição" em mesa-redonda sobre o Brasil, como parte da Conferência das Américas, organizada pelo jornal "The Miami Herald".

O que é a "maldição"? Explicou o economista: "Você pode fazer as coisas certas mas não consegue as justas recompensas".

Foi o que, na sua opinião, aconteceu com FHC e voltará a acontecer, em piores circunstâncias, com Lula, porque o petista trabalhará "em uma situação de desconfiança e quase completa falta de credibilidade". Completou: "Os mercados vão testá-lo e continuarão a testá-lo, porque querem saber qual são os instintos da nova administração".

Vieira da Cunha aconselhou paciência ao PT, ainda mais que, na sua previsão, "2003 será um ano de inflação mais alta, de pressão contínua na taxa de câmbio e de baixo crescimento", além de um ambiente externo "negativo".

Vieira da Cunha acha que Lula "não conseguirá cumprir sua promessa de mais empregos e melhores salários, nem em 2003 e, talvez, nem mesmo em 2004".

Parece o desenho de um cenário negro, mas há uma compensação: "Ele pode ter a sorte de começar numa queda, pelo que terá tempo para gozar da subida. Mas ele precisará ser paciente e perseverar".

Reversão
À margem da palestra, Vieira da Cunha disse à Folha que ouviu de José Dirceu, o presidente nacional do PT, que o partido, uma vez no governo, fará a reforma da Previdência. Com ela, afirma o economista da Lehman Brothers, a questão do déficit fiscal ficará encaminhada e a expectativa negativa do mercado começará a ser fortemente revertida.

Vieira da Cunha afirmou também que, vença quem vencer, o Brasil "terá um presidente honesto, competente, comprometido com a democracia e com a mudança social".

Como ele, os outros três expositores não satanizaram Lula. O ex-embaixador norte-americano no Brasil, Anthony Harrington, descartou a crítica usual à falta de preparo de Lula, ao dizer que "ninguém está de fato preparado para um cargo como esse".

Harrington chegou a dizer que "é tempo de investir no Brasil", contrariando a hesitação dos investidores internacionais.

De acordo com ele, de parte dos Estados Unidos, há a melhor predisposição para um bom relacionamento com o Brasil, seja Lula ou Serra o eleito.

"Se as relações não funcionarem, será culpa de Lula ou culpa de Serra", exagerou o ex-diplomata, hoje no setor privado.

O embaixador do Brasil em Washington, Rubens Barbosa, preferiu pôr o foco sobre as mudanças políticas ocorridas no Brasil e reafirmadas no processo eleitoral, para assegurar que, seja qual for o eleito, "a democracia estará lá, e estará fortalecida".

Participou também da mesa-redonda o enviado especial da Folha, convidado ao evento pelo "Miami Herald".


Serra liga alta dos juros ao cenário eleitoral
Tucano critica resistência de Lula em participar de debates e volta a acenar com o fantasma da crise na Venezuela

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, atribuiu ontem a elevação dos juros pelo Banco Central às incertezas do cenário eleitoral em entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura.

Questionado sobre as medidas do BC, respondeu: "Por que o dólar está subindo? A economia brasileira tem bases sólidas. A oscilação do dólar tem motivação internacional. Paralelamente, tem a incerteza sobre qual será a política econômica a partir de janeiro".

E completou: "Uma vez definido o próximo governo, garanto que se eu for eleito a taxa de juros cairá e o dólar cairá também". Ele preferiu, porém, não analisar a eficácia do aumento dos juros: "O BC adotou uma medida forte e deve ter tido suas razões".

Segundo Serra, "a ambiguidade do PT, de acender uma vela para Deus e outra para o Diabo, uma para o PSTU e outra o FMI, configura uma ambiguidade que tem consequências na economia". E voltou a usar a crise na Venezuela: "A Venezuela teve um processo eleitoral em que se prometia um sonho, uma proposta em alguns pontos parecida com a do PT".

Durante boa parte do programa, Serra reiterou a necessidade de debater as propostas dos dois candidatos e criticou a resistência de Luiz Inácio Lula da Silva em comparecer a mais de um debate. Na abertura do programa, o apresentador Paulo Markun disse que Lula também fora convidado para o programa, mas que o convite foi recusado por "motivos de agenda": "O mesmo motivo alegado para restringir a participação de Lula dos debates na TV".

De acordo com Serra, "está havendo um esforço por parte do PT e do Lula de não explicitar suas propostas, há um esforço no sentido de tirar nitidez para poder somar". Ele criticou a afirmação de que sua eleição representaria um terceiro mandato para Fernando Henrique Cardoso: "Estou fazendo uma proposta para o futuro. O Brasil não vai ser governado por balanços. A questão não é ficar debatendo o que já aconteceu".
Ele aproveitou para criticar a política econômica de FHC: "Todos sabem que eu fui crítico da política cambial. Acho que essa política cambial não foi boa para a econom ia brasileira". Em seguida, destacou suas diferenças: "Se eleito, comparado aos outros, eu sou o candidato que mais vai mudar". Mais adiante, reiterou: "Eu sou o candidato mais à esquerda".

Ele criticou as afirmações de que é o candidato do governo: "Eu tenho o apoio do Fernando Henrique. Tenho o apoio do chefe do governo. Mas o governo não disputa eleição". E acrescentou: "Não estamos fazendo um plebiscito sobre o governo FHC".


Lula e Serra disputam apoio dos sindicatos da Força para 2º turno
Mesmo admitindo que cerca de 70% de seus sindicatos irão aderir à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a Força Sindical decidiu ontem liberar o apoio de seus integrantes no segundo turno da eleição presidencial.

A resolução, tomada no mesmo dia em que foi oficializada a volta do sindicalista Paulo Pereira da Silva (PTB) ao comando da central, gerou uma troca de acusações entre membros da entidade.

Descontentes com a decisão, sindicalistas pró-Lula ligados à central atribuíram a liberação a um suposto acordo entre Paulinho e o governo federal na tentativa de favorecer José Serra (PSDB).

"Isso é loucura. Ninguém me pediu para liberar nada. Fiz isso porque era o melhor para a central", afirmou Paulinho, que declarou voto no petista.

Pessoas próximas ao presidente da Força afirmam que a liberação pretende evitar o fortalecimento, dentro da central, do deputado federal reeleito Luiz Antônio de Medeiros (PL).

Segundo Paulinho, a decisão foi motivada pela falta de consenso.

"Temos um histórico de pluralismo. Não dava para enquadrar a minoria", argumentou ele.

No primeiro turno, dos 212 integrantes da Direção Nacional, 207, conforme Paulinho, defenderam o apoio a Ciro, 3, a Lula, e 2 preferiram a neutralidade. Ciro acabou recebendo a adesão da entidade.

De tradição governista, a Força conta com 1.843 sindicatos que reúnem cerca de 14 milhões de trabalhadores. A decisão de ontem foi tomada após reunião da Direção Nacional. Dos 96 membros com direito a voto, apenas 62 estiveram presentes: 39 optaram pela liberação e 23, pelo apoio a uma das candidaturas.


Artigos

Pior que perder de Lula
Clóvis Rossi

MIAMI - Foi divulgada ontem pesquisa que fará o ego de Fernando Henrique Cardoso sofrer mais do que com a baita vantagem que Luiz Inácio Lula da Silva abriu sobre José Serra, candidato do presidente.
Trata-se de pesquisa em que a maioria dos entrevistados (31%) cravou o mexicano Vicente Fox como o melhor modelo de presidente para a América Latina, desbancando FHC, que ganhara há dois anos.
O diabo é que o público entrevistado é exatamente aquele que, na maioria, fica seduzido com FHC: homens de negócios, altos funcionários públicos, jornalistas e acadêmicos, além de líderes sindicais, da igreja e de ONGs.

A pesquisa foi feita com 420 pessoas de seis países pela Zogby Internacional e divulgada ontem durante a Conferência das Américas, que o jornal "The Miami Herald" organiza e para qual inadvertidamente convidou este repórter.

É claro que convém tomar com cautela o julgamento da pesquisa. Primeiro, porque foram entrevistados mais mexicanos (101) do que brasileiros (91). É natural que os nacionais de cada país conheçam mais o seu próprio presidente e prefiram votar nele (Ciro Gomes e Anthony Garotinho, por exemplo, ganharam nos seus respectivos Estados).

Além disso, só seis países (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela) entraram no levantamento. Se ele fosse generalizado para todo o subcontinente, talvez o resultado final mudasse.
Feita a ressalva, é importante informar que, em 2000, FHC fora o preferido, com 60% dos votos. Agora, caiu para 25%.

É melancólico, para o presidente, terminar seu período de oito anos com uma popularidade interna relativamente baixa (ainda que razoável para o baita abacaxi que é governar o Brasil) e com queda também na admiração externa, que sempre superava a interna.

Pior: perde para um Vicente Fox, que tem lá suas qualidades, mas dificilmente será escolhido, por qualquer júri, como o estadista das Américas.


Colunistas

PAINEL

Canal aberto
Vice na chapa de Lula, José Alencar (PL) tem procurado tucanos em nome da "governabilidade" em uma eventual gestão do PT. No sábado, reuniu-se sigilosamente num hotel em SP com Albano Franco (PSDB), governador de SE. Na semana anterior, esteve com dois outros dirigentes do partido de Serra.

Medida preventiva
Segundo dirigentes tucanos, Alencar tenta convencê-los a não tomar parte de campanha agressiva contra Lula no segundo turno, pois isso inviabilizaria a participação do PSDB num eventual governo do PT.

Clima de "já ganhou"
Brizola levará a faixa presidencial de João Goulart, guardada por ele até hoje, para Lula usar em sua posse, caso seja eleito.

Colegas de trabalho
No evento organizado pelo PT para o horário eleitoral de Lula, Duda Mendonça elogiou a disposição do auditório petista, formado por deputados, senadores, prefeitos e governadores do partido: "Nem o público do Faustão é tão disciplinado".

Ame-o ou deixe-o
Causou muito constrangimento na esquerda o resgate que o ex-guerrilheiro José Genoino fez no horário eleitoral da expressão "linha dura", usada para identificar a ala radical do regime militar, acusada, entre outros crimes, pela morte do jornalista Wladimir Herzog.

Longe daqui
Tentar descolar a imagem de Tarso Genro (PT) da gestão Olívio Dutra (o que não conseguiu fazer até agora) e mostrar como o deputado Rigotto (PMDB) ajudou o governo FHC a aprovar medidas impopulares. Essa é a estratégia do PT para o difícil quadro que enfrenta no Sul.

Vista para o poder
Começou no Senado a disputa pelos gabinetes dos parlamentares que deixarão a Casa. Os principais alvos são os de ACM Júnior -estrategicamente localizada ao lado da presidência- e o que um dia foi de Luís Estevão -um dos maiores do Senado.

Vale a experiência
Uma reunião amanhã entre assessores dos atuais senadores e dos eleitos definirá o critério de ocupação. Hoje, os mais antigos têm prioridade na escolha.

Estratégia nos grotões
Deputados e prefeitos aliados de Serra no NE foram orientados a divulgar que programas do governo, como Bolsa-Escola e Bolsa-Renda, correm "risco político" de continuidade caso Lula vença. Em PE, o "alerta" começou por Petrolina.

Freud explica
No final de semana, o comitê de Serra ainda procurava um jornalista para "entrevistar" o candidato do PSDB no horário eleitoral de ontem. Optou por Alexandre Machado, que por muito tempo comandou o programa "Vamos Sair da Crise".

Round único
O PSDB ficou preocupado com a decisão de Lula em participar de só um debate na TV. Os tucanos acham que a grande chance de uma virada está em um eventual desempenho ruim de Lula num evento desse tipo.

Estiagem na agenda
Serra se encontrará com Tasso Jereissati hoje em um balneário em Quixadá (CE). Em razão da seca, o açude que banha o balneário, está totalmente vazio.

Boas maneiras
Um quadro de avisos na Força Sindical estabelece a seguinte regra para as reuniões da diretoria da entidade, presidida por Paulo Pereira da Silva, o Paulinho (PTB): "evitar brincadeiras e não jogar bolinhas de papel".

Vantagem pré-datada
Como a duplicação da rodovia dos Imigrantes só ficará pronta após a eleição, Alckmin resolveu colocar mensagens no aviso eletrônico da estrada informando que a inauguração da nova pista será no dia 17 de dezembro.

TIROTEIO

Do senador Osmar Dias (PDT), reeleito no PR, sobre José Aníbal pedir seu apoio a Serra após exigir a sua expulsão, e a de Álvaro Dias, do PSDB:
- José Aníbal deveria pe dir desculpas ao Serra, não a mim. Se não tivéssemos saído do PSDB, a situação dele seria bem diferente no Paraná.

CONTRAPONTO

No papel errado
Dias atrás, o candidato Luiz Inácio Lula da Silva promoveu um comício na praça Campo de Bagatelle, na zona norte de São Paulo. Ao microfone, o petista anunciava os nomes das pessoas -políticos e autoridades- que estavam na platéia e passavam a subir no palanque.
Bem na entrada do palco ficava Luis Favre, assessor do Partido dos Trabalhadores e namorado da prefeita de SP, Marta Suplicy.
Para cada pessoa que Lula convocava ao palanque, Favre, empolgado, cuidava logo de gesticular, fazia sinais positivos com o dedo e permitia a passagem do convidado. Depois disso, ele virou-se para Marta e comentou, brincando:
- E aí, estou bem nesse papel de mestre de cerimônias?
A prefeita de São Paulo respondeu, com o rosto sério:
- Está mais para leão-de-chácara...


Editorial

DO REGIONAL AO NACIONAL

Anthony Garotinho foi um dos vencedores das eleições de 6 de outubro. Com a obtenção de 18% dos votos válidos na disputa pelo Planalto e com a conquista, no primeiro turno, do governo do Rio de Janeiro por sua mulher, Rosinha Matheus, o grupo político de Garotinho consolidou a hegemonia naquele Estado e agora negocia melhores condições no jogo nacional de forças.

A trajetória de Garotinho, desde que foi eleito governador do Rio, em 1998, pode ser descrita como a da progressiva afirmação de sua personalidade para além de partidos políticos. Garotinho ascendeu ao lado de duas forças da esquerda fluminense: o PDT de Leonel Brizola e o PT, então aliado, que indicou Benedita da Silva para vice-governadora.

Com menos de dois anos de governo, Garotinho havia rompido com o PT e com Brizola. Tendo aberto duas frentes de batalha na esquerda fluminense, as chances de Garotinho sair fortalecido do pleito deste ano dependiam diretamente de que o seu grupo impusesse uma derrota, no âmbito local, principalmente ao PT. E isso ocorreu: Garotinho foi mais votado que Lula no Rio, e Rosinha venceu a disputa com ampla vantagem sobre Benedita. De resto, o desempenho de Brizola na tentativa de obter uma vaga no Senado foi pífio.

Se Garotinho se impôs ao brizolismo, não deixa, ele mesmo, de ser um herdeiro do populismo de esquerda do Rio de Janeiro. As condições para um político dessa linhagem se afirmar em âmbito nacional, porém, não parecem favoráveis. Basta lembrar que, em meio à mais violenta crise financeira dos últimos anos ambiente em tese propício a "outsiders"-, quase 70% dos votos válidos nas eleições presidenciais se destinaram a dois políticos (Lula e Serra) lastreados em partidos fortes e com ampla representatividade.

Para que Anthony Garotinho possa galgar degraus mais altos na política, das duas uma: ou as condições do jogo nacional de forças se aproximam das do Rio de Janeiro ou o próprio Garotinho vai ter de reformar o seu estilo personalista de fazer política.


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10/15/2002


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