Roseana procura ligar Serra a SP e Lula à crise argentina







Roseana procura ligar Serra a SP e Lula à crise argentina
Uma semana depois de ser criticada pelo PSDB, Roseana Sarney, pré-candidata à Presidência da República pelo PFL, usou ontem suas inserções partidárias na TV para tentar desqualificar indiretamente o ministro tucano José Serra, cuja pré-candidatura deverá ser lançada amanhã, em Brasília.
Em uma das duas inserções gravadas, Roseana afirmou que o futuro presidente não pode ser unicamente o "presidente da república de São Paulo". Uma das críticas mais frequentes dos opositores de Serra é o fato de sua imagem ser excessivamente ligada aos interesses do Estado, sua principal base eleitoral.
Na fala que foi ao ar, ela disse ainda que o candidato eleito não pode ser "presidente da república da CUT (Central Única dos Trabalhadores)" ou "do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)", em uma referência indireta ao adversário petista, Luiz Inácio Lula da Silva, a cujo partido são filiadas algumas das principais lideranças da central sindical e do movimento.

Não é a primeira vez que Roseana usa o horário partidário para atacar o PT. No dia 3 de dezembro, o PFL tentou polarizar com Lula por meio de críticas à administração da prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, tida como uma das principais vitrines petistas para a sucessão presidencial.
A crise da Argentina, tema recorrente na tentativa de associar os pré-candidatos de oposição à instabilidade, também seria utilizada. Em uma inserção de 30 segundos, Roseana explora imagens de quebradeira e de enfrentamentos da população com a polícia argentina.

"O exemplo da Argentina está aí e quem quiser que aprenda a lição. Um país dividido, desintegrado pelas promessas impossíveis e por políticos duvidosos, mais cedo ou mais tarde, a instabilidade acaba batendo na porta de seu povo."
Já no caso do PSDB, os ataques de Roseana ocorrem depois de uma série de críticas feitas por serristas à sua candidatura. Na quarta-feira passada, o presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a recomendar aos tucanos que cessassem os ataques.

Revide
Preocupado com os efeitos das críticas em sua base eleitoral, no sábado, FHC ainda esteve reunido com o pai de Roseana, o ex-presidente José Sarney (PMDB). Na ocasião, o senador declarou que os ataques à filha não passariam "incólumes".
Líderes do PFL também passaram o dia ontem fazendo críticas ao PSDB e ironizando o fato de Serra estar estagnado nas pesquisas de intenção de voto.
Ontem deveriam ser exibidas dez inserções de 30 segundos no horário nobre de TV e rádio.


Governadora diz que evitará atacar
A governadora Roseana Sarney (MA), pré-candidata do PFL à Presidência, afirmou que pretende participar da disputa pela sucessão do presidente FHC sem fazer ataques aos adversários. "Sempre lutei pela construção de idéias e não para destruir os outros. Não farei ataques", disse.
A governadora, que havia divulgado a intenção de vir a São Paulo, mas acabou indo ontem ao Rio, se reuniu com o prefeito Cesar Maia (PFL), para discutir estratégias de campanha. Ela indicou que, caso seja eleita, dará mais prioridade ao social do que o governo FHC.
"A estabilidade é uma conquista. Agora, cada governo tem suas metas, tem seu estilo", afirmou, respondendo se manteria a atual política econômica. Questionada se daria prioridade às questões sociais, disse: "Com certeza, daria".

Para Roseana, o lançamento da candidatura do ministro da Saúde, José Serra (PSDB), que acontece amanhã, em Brasília, não deverá atrair para ele votos de eleitores simpáticos aos tucanos, que hoje a estão apoiando. "No Brasil, não vejo os partidos muito fortalecidos. As pessoas não votam nos partidos. As pessoas votam nas propostas", afirmou.
Ela ainda disse acreditar na possibilidade de uma aliança da base governista para a sucessão. "É possível, sim. Há muito tempo para os partidos conversarem", disse a governadora, que desconversou quando questionada se abriria mão de sua candidatura em nome da aliança. "Não sou candidata. Permaneço no governo até 4 de abril, depois disso é que vou me definir", afirmou.

Espera
Enquanto Roseana discutia sua campanha no Rio, a ala do PFL ligada ao presidente do partido, Jorge Bornhausen (SC), decidia esperar até maio para acertar algum tipo de coalizão para sustentar a candidatura da governadora. A idéia, que a cúpula fez questão de divulgar ontem, é deixar reservada a vaga de vice para o PSDB.
"Achamos que é grande a possibilidade de o quadro sucessório estar em maio mais ou menos como está hoje. Haverá então muita pressão no PSDB para reeditar a aliança. Vamos esperar para não sujar o meio de campo. Temos de esperar para ter o PSDB como parceiro de primeira hora na sucessão", disse o secretário-executivo do PFL, Saulo Queiroz.
Ele não diz, mas a expectativa entre os articuladores da candidatura de Roseana é que não prospere a campanha de Serra. Assim, seria tentada a formação de uma chapa com Roseana para presidente e um tucano para vice.

Embora seja remota essa possibilidade, e os pefelistas sabem disso, a estratégia realmente ficaria inviabilizada se o PFL fechasse já um acordo para entregar a vaga de vice para um outro partido.
Em Recife, o líder do PFL na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), afirmou que a candidatura de Serra à Presidência "já nasceu morta". "Ele entrou tarde na disputa. A estratégia do PSDB de postergar o lançamento dele foi mortal. É uma candidatura natimorta."
Para Inocêncio, Serra perdeu espaço no eleitorado e "não vai emplacar". Terá, segundo ele, que se contentar em dividir com o PMDB e outros partidos menores só um terço dos votos. Os dois terços restantes, disse, serão repartidos entre Roseana e a oposição.


PT volta a disputar apoio de Itamar
O PT está novamente empenhado em obter o apoio do governador de Minas Gerais, Itamar Franco (PMDB), à virtual candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Em visita a Belo Horizonte, o presidente da legenda, José Dirceu, disse que, sem Itamar, "não haverá uma vitória das oposições".
O petista disse ter certeza de que Itamar não vai apoiar Roseana Sarney (PFL-MA) ou ser vice numa chapa com José Serra (PSDB-SP), como se especulou nos últimos dias. Dirceu ressaltou estar falando em nome do PT e de Lula.

"Tenho certeza de que ele estará com a oposição. Não vejo como Itamar Franco possa apoiar José Serra, muito menos Roseana Sarney. Esses dois não são candidatos da mudança, mas sim do continuísmo", disse. Itamar, que vem sendo assediado por vários presidenciáveis, não se pronunciou.
As declarações de Dirceu contrastam com as dadas por ele próprio em julho, em Belo Horizonte, quando descartava aliança com Itamar no primeiro turno, dizendo que o governador preferia se aliar a ""setores da direita": "Não se sabe o que o Itamar vai fazer daqui a 15, 20 ou 30 dias. Vocês sabem?", perguntou a repórteres.

PT e Itamar ensaiaram em 1999 uma aliança eleitoral, mas a frente ruiu em junho de 2000, depois que o partido rompeu com o governador quando Itamar ameaçou demitir professores em greve.
Hoje, porém, o PT avalia que Itamar não deve conseguir viabilizar seu nome como candidato à Presidência. Com isso, estaria aberto o caminho para seu apoio a Lula. Em troca, o PT mineiro fecharia em Minas com Itamar, que se candidataria à reeleição: "Minas é o segundo maior colégio eleitoral do país, uma boa votação no Estado é certeza de vitória", disse a presidente estadual do partido, deputada federal Maria do Carmo Lara. O Estado tem 11,3% do eleitorado nacional.

Na eleição de 1998, Itamar foi eleito governador com 3.080.925 votos (44,3%) no primeiro turno e 4.808.652 (57,6%) no segundo. Não é pouca coisa: a votação de Itamar no primeiro turno representa 41,5% dos votos que Ciro Gomes (PPS) teve ao conco rrer à Presidência naquele mesmo ano.
Dois fatores ocorridos no final de 2001 contribuem para uma aliança entre Itamar e PT. O primeiro é o atrito entre o governador e seu vice, Newton Cardoso (PMDB), político que encontra forte resistência no PT. "O afastamento do Newton facilita as coisas", diz Maria do Carmo. Itamar está mudando o secretariado e já exonerou alguns newtistas. O segundo foi o derrame cerebral sofrido pelo prefeito de Belo Horizonte, Célio de Castro (PT), que deixou a legenda sem um nome forte para disputar o governo.


Olívio "dispensa" prévia gaúcha
Seguindo os passos do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva, o governador gaúcho, Olívio Dutra (PT), afirmou ontem que prefere que não haja prévia para escolher o candidato à sua sucessão -ele defende seu nome.
"Prévia é dispensável, mas, se for uma decisão ampla, serena, vamos fazê-la", disse em entrevista a rádios de Porto Alegre.
Há uma disputa pela indicação -o prefeito de Porto Alegre, Tarso Genro, quer concorrer à vaga de candidato. Procurado pela Agência Folha, Tarso disse que pretende disputar a prévia se pesquisa encomendada pelo diretório estadual apontar que ele tem condições de vencer a eleição.


Serra tenta encarnar o que FHC prometia ser em 1994
Pelo menos dois amigos do ministro José Serra, gente que ele costuma consultar antes de tomar decisões importantes, aconselharam o tucano a adotar um tom progressista e levemente esquerdizante no discurso que fará amanhã em Brasília, ao meio-dia, quando deve lançar sua candidatura à Presidência da República.
Mais concreto, um dos amigos chegou a sugerir a Serra que ele deve passar à audiência, com o devido tato, a idéia de que representa politicamente aquilo que Fernando Henrique Cardoso prometia ser em 94. Em resumo, que reabilite algumas promessas e ideais tucanos desgastados por sete anos de um governo que ficou identificado demais com os anseios liberais do PFL.

O ministro ficou sensibilizado pelas orientações. Sabe que o PIB, pelo menos por enquanto, não deixará de apoiá-lo mesmo que ouça meia dúzia de heterodoxias. Mas Serra deve seguir as dicas com cálculo e cuidado. Até ontem à noite, segundo a Folha apurou, ele ainda não havia se decidido sobre o grau exato de explicitação do teor progressista que deve dar ao discurso. Marcar sua diferença com Roseana Sarney, do PFL, é mais fácil, mesmo sem criticá-la.

Bem mais delicado é tratar de divergências, que existem, com o governo do presidente. Amigos há quatro décadas, Serra e FHC vivem um momento particularmente bom nas relações pessoais, muitas vezes conturbada. E Serra tem na primeira-dama Ruth Cardoso uma entusiasmada cabo eleitoral de sua candidatura.
Ontem à noite, em São Paulo, antes de embarcar para Brasília, o ministro calibrava a forma final que dará àquela que deve ser a idéia-guia de sua campanha -"continuidade sem continuísmo". Estava, segundo amigos, muito bem-humorado para quem tem o desafio de enfrentar uma adversária que hoje soma o triplo de suas intenções de voto.

O texto final do discurso será preservado em segredo para manter acesa a expectativa da mídia, mas uma coisa é certa: Serra não abordará pontos de seu programa de governo. Tem a campanha inteira e ao menos duas ocasiões próximas para fazê-lo: a pré-convenção tucana, em 24 de fevereiro, e seu discurso de posse no Senado, quando deixar a Saúde, em data a ser definida com FHC.

O ministro tende a fazer amanhã um discurso direto e objetivo, sem orações subordinadas. Dará destaque à sua biografia política, remontando provavelmente aos tempos em que fazia oposição ao regime militar. Os feitos à frente da Saúde, como é óbvio, serão devidamente faturados.
A ausência de FHC, em viagem à Rússia, é vista como um acaso bem-vindo: evita o ciúme do PFL e não tira o foco do candidato. A provável ausência de Tasso Jereissati, governador do Ceará, está sendo minimizada pelo ministro.


"Ciro é candidato terminal", diz Jungmann
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Raul Jungmann, pré-candidato à Presidência pelo PMDB, rebateu as críticas do presidenciável Ciro Gomes (PPS), chamando-o de "candidato terminal". "O Ciro está entrando num ciclo de desespero. É preciso ter um pouco de compreensão porque é um candidato terminal." Anteontem, Ciro disse que o ministro fazia papel de palhaço ao lançar sua candidatura. Jungmann classificou como "jornalismo marrom" a reportagem de capa da última edição latino-americana da revista "Newsweek", que chama o programa de reforma agrária brasileiro de "um desastre do começo ao fim". Ele disse que não leu o texto, mas foi informado de que os dados estatísticos divulgados são "fraudulentos". A Folha tentou falar com o correspondente da Newsweek no Brasil, Mac Margolis, mas não o encontrou.


Tasso deve disputar vaga no Senado
Com a oficialização amanhã da candidatura ao Planalto do ministro tucano José Serra (Saúde), o governador do Ceará, Tasso Jereissati (PSDB), deve tentar uma das vagas de seu Estado no Senado.
PSDB e PMDB locais articulam aliança em que o presidente regional do PMDB, Eunício Oliveira, sairia como o outro candidato a senador na mesma chapa de Tasso. Esse acordo é festejado por aliados de Tasso, como o líder do governo na Assembléia Legislativa do Ceará, Moésio Loiola (PSDB). "Está tudo acertado. Só falta anunciar", afirmou.
Com a aliança, fica ameaçada a candidatura ao governo do Ceará do tucano Martus Tavares (Planejamento), o favorito de Serra. O mais cotado é o senador Lúcio Alcântara (PSDB), aliado de Tasso e agora apoiado pelo senador Luiz Pontes, que era o outro pré-candidato tucano.


FHC diz que comércio ajudará com benefícios
Fernando Henrique Cardoso disse no programa "Palavra do Presidente" ontem no rádio que o "grande problema" dos programas sociais é a distribuição do benefício. Para ajudar, afirmou, até maio 2.000 cidades terão casas comerciais atuando como intermediárias.


Vodca dá "certa liberdade" a FHC
Depois de discursar por quase uma hora para empresários russos e brasileiros, em Moscou, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que havia falado "com certa liberdade" e que devia isso à vodca. Depois ofereceu um brinde com cachaça brasileira, que mandou servir aos empresários.
"Eu hoje, não sei se repararam, não li o texto [do discurso que havia preparado]. Falei com certa liberdade. A liberdade que eu devo à vodca", afirmou.

Antes de almoçar com o primeiro-ministro russo, Mikhail Cassianov, FHC havia tomado vodca com limão no Café Glória, na Galeria GUM, na praça Vermelha, por onde passeou.
"Que não nos esqueçamos da cachaça, que é um álcool que vem da cana. Talvez não seja tão puro quanto a vodca, mas tem uma aspiração de um dia ser vodca e uma bebida nacional", prosseguiu o presidente, no seminário empresarial.
"Eu quero saudar o povo russo fazendo um brinde com a cachaça brasileira. Viva a Rússia!", afirmou ele, aplaudido de pé.

Durante sua palestra, o presidente provocou risos na platéia ao afirmar que queria que seus ministros conhecessem as favelas, depois de comentar que o ministro russo Igor Chuválov conhecia favelas brasileiras.
"Quisera que meus ministros todos conhecessem as favelas. Eu conheço. Conheço porque sou sociólogo e fiz pesquisa sobre o negro no Brasil. Andei em muitas favelas no Brasil", disse.

Parentes russos
Depois de visitar a Duma e o Conselho da Federação da Rússia, equivalentes à Câmara e ao Senado, ontem de manhã, FHC conversou com três parentes russos que moram em Moscou e passeou na praça Vermelha.
Sobre o encontro com os parentes, realizado na casa do embaixador brasileiro em Moscou, José Viegas Filho, o presidente disse que "foi bom para conversar sobre a vida cotidiana, como é que eles estão encarando as dificuldades, a quest


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