Sarney explicita sua posição contra ataque ao Iraque



O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), subiu à tribuna para explicitar sua posição contrária ao ataque americano ao Iraque, ao mesmo tempo em que criticou as posturas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. O parlamentar informou ter assinado, como ex-presidente da República, um manifesto de ex-chefes de Estado e de governo contra a guerra. O manifesto, promovido pelo Interaction Council, foi firmado, entre outros, pelo alemão Helmut Schmidt, o britânico Lord Callaghan e o japonês Kiichi Miyazawa.

Sarney subiu à tribuna dizendo ter a sensação de praticar -um gesto de ingenuidade- ao se posicionar contra o conflito anunciado. Disse que os Estados Unidos não enviariam 400 mil soldados e toda a sua esquadra para o Golfo Pérsico -apenas para olhar as ruínas das cidades submersas de Alexandria- ou de Sidon. Para ele, a decisão está tomada e a guerra é inevitável.

- O nosso protesto é uma manifestação de consciência, sabendo que, por menor que seja o seu efeito, é um grão de areia, na crença dos valores maiores da criatura humana - disse.

Sarney lembrou que todo o Congresso Nacional está contra a guerra. Afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva -tem sido impecável- ao colocar a postura do Brasil em defesa da paz.

- Nosso protesto pode parecer inútil e anacrônico, mas o senhor Bush conseguiu mobilizar em bilhões de pessoas o sentimento da paz - afirmou.

Para o senador, é lamentável que esse sentimento de paz e convivência humana sem violência seja mobilizado -por causa de um execrável ditador, violador de todos os direitos humanos, inconcebível assassino de membros da própria família, invasor do Kuwait, massacrador dos curdos, silenciador de qualquer voz que contra ele se levante-, como caracterizou Saddam Houssein, o presidente do Iraque. Mas acrescentou que todas as leis, mecanismos e acordos internacionais que formam o arcabouço -erguido ao longo de 200 anos de convivência internacional- não podem ser destruídos para -esconder os verdadeiros motivos do senhor Bush nesta cruzada-.

Sarney citou diversos pensadores e estadistas de todo o mundo que lutaram pela construção da paz mundial, desde o prussiano Immanuel Kant até Franklin Delano Roosevelt, presidente que comandou os Estados Unidos nos primeiros anos da 2ª Grande Guerra. O senador lembrou que, com o fim da guerra, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), um sistema de organismos multilaterais -que tem funcionado, que foi capaz de evitar, nos anos de guerra fria, a catástrofe nuclear-.

- O que o senhor Bush está fazendo, mais do que a guerra, é desmontar este sistema que a humanidade levou tantos anos para construir e ameaçar os direitos individuais e tudo o que foi conquistado durante a paz - disse o presidente do Senado, lembrando que a guerra já fez duas vítimas: os primeiros-ministros da Grã-Bretanha, Tony Blair, e da Espanha, José Maria Aznar, que apoiaram o ataque americano apesar da opinião contrária da população de seus países.

Admiração

Sarney afirmou ter -uma grande admiração- pelos Estados Unidos, que considera um -país extraordinário-. Destacou a atuação daquela nação na defesa dos direitos humanos, da liberdade e da democracia. Segundo ele, o -equívoco que é o governo Bush destrói as instituições que eles próprios montaram no mundo-. Para ele, W. Bush -queimou a solidariedade mundial que houve em relação aos Estados Unidos- após os atentados de 11 de setembro.

O atual governo americano, acrescentou, destrói, dentro dos Estados Unidos, -o grande arcabouço de direitos individuais e humanos-. Segundo ele, seria inconcebível, há alguns anos, que membros do Conselho de Segurança da ONU fossem -acompanhados e escoltados por integrantes do Departamento de Estado- - o equivalente ao Ministério das Relações Exteriores - ou que autoridades americanas considerassem de público -justificável- que os Estados Unidos pressionem países a votarem de acordo com seus interesses.

O representante amapaense citou seu neto que mora no Canadá, que não compra mais produtos americanos para que o dinheiro não seja utilizado na fabricação de bombas. - Vê-se o mal que Bush fez a seu país no mundo inteiro - disse.

Sarney também acusou o presidente americano de estimular -o nascimento de um fundamentalismo religioso-, segundo ele -outro desserviço que W. Bush presta à humanidade-. Afirmou ser inacreditável que o presidente americano apareça todos os dias rezando na televisão americana, mas observou que isso deve continuar a ocorrer. Sarney citou pesquisa feita nos Estados Unidos segundo a qual 68% da população americana acreditam no diabo e apenas 28% acreditam na teoria da evolução de Charles Darwin, contra 48% adeptos do criacionismo, ou a criação do mundo segundo o Gênesis - teoria já revisada pelo próprio Vaticano. Sarney acrescentou que o próprio termo -eixo do mal- não é político, mas visa também estimular esse fundamentalismo.

Nos apartes, o senador Sibá Machado (PT-AC) lembrou que tanto Saddam Houssein quanto Osama Bin Laden já foram financiados pelo governo dos Estados Unidos. Já Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou que fazia seu primeiro aparte na casa em homenagem a um pronunciamento tão importante. Eduardo Suplicy (PT-SP), por sua vez, comunicou que pretende realizar na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), que preside, uma audiência reunindo a embaixadora dos Estados Unidos, Donna Hrinak - que o visitou na quarta-feira (12) - e o embaixador do Iraque.




13/03/2003

Agência Senado


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