Saturnino: objetivo do Nafta com guerra comercial é forçar o Brasil a entrar na Alca



O senador Roberto Saturnino (PSB-RJ) acredita que o verdadeiro objetivo dos países membros do Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta) - Canadá, México e Estados Unidos -, ao proibirem a importação de carne bovina brasileira por suspeita de contaminação com a doença da vaca louca, é forçar o Brasil a ingressar na Área de Livre Comércio das Américas (Alca) sem impor resistência e mais cedo do que o previsto, em 2003 e não em 2005. A Alca será uma área de livre comércio abrangendo os países da América Latina.

Saturnino lembrou que "nunca ninguém levantou suspeita de doença da vaca louca em rebanho brasileiro". Para ele, a acusação dos países do Nafta de que os rebanhos estariam contaminados é uma manobra econômica para impedir que a carne bovina brasileira ganhe mercado internacional, uma vez que o país tem grande potencial na produção de carne e pode tornar-se um dos principais exportadores do mundo.

O ex-ministro das Relações Exteriores, Luiz Felipe Lampreia deveria, na opinião de Roberto Saturnino, explicar porque entregou o cargo, pouco antes da crise comercial com o Canadá. O atual ministro das Relações Exteriores, Celso Lafer, quando comparecer ao Senado, deve ser questionado sobre o acontecimento. O opinião foi apoiada pelo senador Pedro Simon (PMDB-RS) "O ministro Lampreia deve informações à nação", disse Simon.

Na avaliação de Saturnino, a guerra econômica com o Nafta torna-se ainda mais grave diante da fragilidade da economia interna brasileira. Ele criticou a política econômica do governo, que deixou o Brasil numa "armadilha". A abertura econômica indiscriminada, afirmou, trouxe para o país empresas que apenas montam produtos, usando insumos importados. Tal situação resulta em déficit na balança comercial, como aconteceu no ano passado, quando a previsão era de um superávit de US$ 5 bilhões, mas houve um déficit de R$ 1 bilhão.

Mercosul

Em aparte, o senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmou que os Estados Unidos sempre foram contra o Mercosul e que o Brasil só deve ingressar na Alca se o Mercosul estiver completamente consolidado, o que permitirá que os países em bloco tenham mais força política e econômica. Para Simon, o maior risco é que os países da América Latina entrem enfraquecidos na Alca e assim se tornem colônias dos Estados Unidos, sem qualquer proteção ou poder de barganha. O senador Geraldo Melo (PSDB-RN) sugeriu que o Brasil investigue melhor interesses comerciais de empresas canadenses no Brasil, além da Bombardier - empresa que travou batalha comercial com a brasileira Embraer - que possam ser relevantes para explicar os motivos dos embargos econômicos impostos pelo Canadá ao Brasil.

Também em aparte, o senador Maguito Vilela (PMDB-GO) convocou o Senado e a Câmara a se engajarem na luta contra o embargo econômico. Ele considerou importante a convocação dos ministros das Relações Exteriores, Celso Lafer, e da Agricultura, Pratini de Moares, ao Senado, conforme requerimento aprovado nesta terça-feira (dia 6). O senador Casildo Maldaner (PMDB-SC) acredita que os Estados Unidos estão usando o Canadá como instrumento político para fazer o Brasil ceder e integrar a Alca conforme as regras por eles definidas.

06/02/2001

Agência Senado


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