Serra provoca, Lula usa emoção









Serra provoca, Lula usa emoção
Candidatos usam estratégias diferentes nos primeiros programas de TV deste 2º turno. Enquanto o PT faz festa, os tucanos assumem tom mais sério

SÃO PAULO – De um lado, um PT confiante, comemorando seu crescimento nas urnas e exibindo alianças de alto escalão. De outro, um adversário tucano com ar sério, sem festas nem vinhetas, rememorando projetos de campanha e cobrando do rival que entre no debate. Foi assim, em ritmos e tons muito diferentes, a volta dos dois candidatos à Presidência, ontem, ao horário eleitoral na televisão – um reflexo, na verdade, da posição que cada um ostenta nas pesquisas.

“Temos uma base de apoio que nos garante sustentabilidade para fazer as mudanças de que o País precisa”, disse Lula (PT). Festejar a vitória – não só a dele, mas a do partido que também elegeu dois governadores, foi para o segundo turno em oito Estados, formou a maior bancada da Câmara e elegeu dez senadores – foi o objetivo primordial do programa. O vice da chapa de Lula, José Alencar (PL-MG), lembrou que mais de três quartos dos eleitores brasileiros querem alternância de poder.

Os dois candidatos derrotados, que juntos somaram 25% dos votos para presidente, foram exibidos com grande alarde, dando apoio a Lula em frases claras, inequívocas.

Anthony Garotinho (PSB) dirigiu-se ao seu eleitorado: “Eu e o Lula queremos a mesma
coisa, mudanças. A vocês, que votaram em mim, eu peço: agora é Lula”. Ciro repetiu as críticas ao Governo, disse a Lula que “nosso projeto de mudança está renovado em você” e enfatizou ao espectador: “Você de casa, que votou em mim, receba a minha gratidão e nesse momento lhe peço, vote no Lula.”

SERRA – A atriz Regina Duarte foi a principal novidade do programa eleitoral do candidato José Serra (PSDB) apresentado ontem à noite. Ela se disse com medo da situação no Brasil – sem citar diretamente, porém, a possibilidade de um eventual Governo Lula.

Segundo a atriz, “não dá para jogar tudo na lata do lixo”, referindo-se aos avanços obtidos no Governo de Fernando Henrique Cardoso. Disse que escolheu Serra por conhecê-lo, “já que o outro eu não reconheço mais, (...) Tudo o que ele dizia mudou muito”. Regina disse ainda que tem medo da volta da inflação desenfreada.

Depois, o tucano apareceu agradecendo aos milhões de brasileiros que votaram nele, dizendo-se honrado por disputar a eleição presidencial. O programa citou os apoios reunidos por Serra, que incluem o PPB, o PFL e lideranças de muitos outros partidos.
Foram exibidas falas do deputado federal Michel Temer (PMDB), do governador eleito de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB) e do senador eleito pelo Ceará, Tasso Jereissati (PSDB).


Globo ‘engessa’ debate final entre Lula e Serra
Emissora confirma debate para o próximo dia 25, mas as regras não prevêem perguntas de candidato a candidato. Assessores de Lula e Serra se reuniram com a TV, ontem, e acertaram a participação dos dois

SÃO PAULO – A Rede Globo divulgou nota em que confirma a realização do último debate entre os presidenciáveis Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e José Serra (PSDB), no dia 25, às 21h40. Os representantes dos candidatos assinaram ontem, em São Paulo, um documento que confirma a presença dos dois no debate.

Serra foi representado no encontro por Andrea Gouvêa Vieira e o marqueteiro Nelson Biondi, enquanto o prefeito de Ribeirão Preto e coordenador do programa de Governo do PT, Antônio Palocci, esteve presente em nome de Lula, junto com o jornalista Ricardo Kotscho.

O debate acontecerá na Central Globo de Produção, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, e os dois candidatos à Presidência da República vão responder perguntas de uma platéia formada por 50 eleitores indecisos de todo o País.

Segundo a emissora, o estúdio em que Lula e Serra permanecerão terá o formato de uma arena, e ambos terão total liberdade para se movimentar. Pela primeira vez, será usada uma câmera com plano geral, que permite focalizar todo o ambiente, para que o público de casa possa acompanhar cada detalhe deste encontro e as reações de um e
de outro candidato, relata a nota da Globo.

O apresentador William Bonner mediará o debate e, pelas regras, só vai fazer perguntas complementares se achar que as respostas dos candidatos precisam de mais explicações.

As regras prevêem ainda que os 50 eleitores da platéia entregarão suas perguntas e, por meio de um sorteio, 16 delas serão selecionadas e igualmente divididas em quatro blocos. Não haverá pergunta de candidato para candidato.

No início de cada bloco, Bonner vai sortear a pergunta e o candidato que a responderá, seguido de réplica e tréplica. A segunda pergunta será feita para o outro candidato e assim sucessivamente. Cada pergunta será formulada pelo próprio eleitor, que se apresentará dizendo seu nome, profissão e local de origem, explica a nota.


Campanha de Serra nas ruas
Mobilização em favor do presidenciável tucano começa a aparecer nas ruas do Recife, sob o comando da tropa de choque da União por Pernambuco

A tropa de choque jarbista começou ontem o que ficou denominado como “catequese” do eleitor pernambucano em favor do candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra. De posse de novos materiais publicitários de campanha, os jarbistas espalharam militantes em pontos estratégicos do Recife e da Região Metropolitana, num investimento pesado para convencer o eleitor de que o tucano é o melhor candidato.

A orientação em favor de Serra também foi repassada aos líderes comunitários simpatizantes do governador reeleito Jarbas Vasconcelos (PMDB). A maratona começou às 11h30 da manhã, na sede do quartel general tucano, na avenida Rosa e Silva, nos Aflitos. Por lá passaram, até o final da tarde, cerca de duas mil pessoas, segundo o deputado federal reeleito Carlos Eduardo Cadoca (PMDB), que assumiu a coordenação dos trabalhos.

“Apesar de ser uma campanha centrada na mídia, nós precisamos criar esse clima na rua. Nós temos uma militância aguerrida e já demos o nosso grito de guerra: agora é Serra”, brincou Cadoca, parodiando o slogan de campanha do candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva. A disposição dos jarbistas, no entanto, vem sendo “freada” pela burocracia do comando nacional da campanha de Serra, em Brasília, que está retardando o envio de material de propaganda e a agenda do presidenciável.

A proposta de promover dois grandes eventos – um em Recife e outro no interior do Estado, provavelmente em Caruaru, com a presença de Serra – ainda não está definida em função desse atraso.

Tucanos e petistas chegaram a se encontrar, ontem, durante mobilizações no Pina, zona sul do Recife. Apesar do confronto de bandeiras, não houve incidentes.

O governador Jarbas Vasconcelos só deve entrar para valer na campanha do presidenciável tucano hoje. Após o primeiro guia eleitoral, ontem à noite, o governador se reuniu em sua residência com Cadoca e o secretário estadual de Saúde, Guilherme Robalinho (PMDB), outro integrante da coordenação de campanha.

Jarbas – que retornou anteontem de Portugal, onde foi descansar depois da campanha do primeiro turno – foi informado das providências tomadas até agora e recebeu uma avaliação do primeiro dia de mobilização.


Lula lidera caminhada pelas ruas do Recife
Presidenciável do PT desembarca hoje para sua última visita desta campanha a Pernambuco. Ao lado de líderes de vários partidos e da militância local, ele participa de uma passeata no centro

O presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, estará hoje no Recife. A visita relâmpago à capital pernambucana, prevista para durar cerca de quatro horas, faz parte da agenda de campanha de Lula para o segundo turno das eleições. Apesar de rápida, a passagem do petista não será nada discreta. A coordenação da campanha petista organizou uma caminhada pelo centro do Recife, a partir das 16h. A expectativa é de que cerca de 50 mil pessoas participem do ato, que será o único do candidato em Pernambuco antes das eleições do próximo dia 27 de outubro.

Lula chega ao Recife às 15h e às 19h já deverá estar embarcando com destino a Aracaju (SE), onde também cumpre uma extensa agenda eleitoral. A intenção da Executiva Estadual do PT é garantir a ampliação da boa votação alcançada pelo candidato no primeiro turno no Estado - Lula obteve 46,44% do total de votos válidos em Pernambuco contra 28,45% alcançados pelo tucano José Serra.

De acordo com a assessoria de imprensa da campanha petista, Lula desembarca no Recife às 15h, e segue direto para a Praça Osvaldo Cruz, no centro do Recife. Apesar da direção estadual do partido não ter organizado nenhuma recepção ao presidenciável, alguns grupos de militantes anunciaram que seguirão o candidato em
carreata do aeroporto até a concentração da caminhada.

Lula chega ao Recife em um momento considerado como “positivo” pelos petistas pernambucanos. De acordo com a pesquisa do Instituto Vox Populi, publicada na edição de anteontem do jornal Correio Braziliense, o candidato do PT aparece com 60% das intenções de voto contra os 30% alcançados por José Serra.

“Estamos no caminho certo. É evidente que a eleição não está ganha, mas os resultados das pesquisas continuam traduzindo o desejo de mudança do povo brasileiro”, avaliou o coordenador da campanha de Lula no Nordeste, Francisco Rocha, o Rochinha.

Diferentemente do que aconteceu durante o primeiro turno das eleições presidenciais, quando os partidos de oposição estavam divididos em vários palanques, hoje, Lula contará com a presença de lideranças tradicionais da esquerda local.

Entre os nomes confirmados estão o ex-governador Miguel Arraes (PSB), o prefeito do Cabo de Santo Agostinho e presidente estadual do PPS, Elias Gomes, os senadores Roberto Freire (PPS) e Carlos Wilson (PTB) – que tiveram como candidatos, no primeiro turno, respectivamente, Garotinho e Ciro Gomes.

Lula desfilará em carro aberto na companhia da chapa majoritária que disputou as eleições em Pernambuco: Humberto Costa (PT), Paulo Dantas (PCdoB) e Dilson Peixoto (PT), além do prefeito do Recife, João Paulo (PT). Ontem, o petista fez campanha em Natal, no Rio Grande do Norte.


“Serra caiu numa armadilha”
O problema do presidenciável José Serra (PSDB) não é ser governo ou oposição. É simplesmente querer silenciar diante dos oito anos da era FHC. A avaliação é do cientista político Carlos Novaes. Para ele, José Serra caiu no discurso dos adversários, que cobram do tucano uma atitude de negar ou assumir o governo Fernando Henrique.

“Ele não precisa fazer nem uma coisa, nem outra. Ele tem é que fazer um balanço do que foram esses oito anos”, defende, criticando a postura de Serra de “não querer olhar pelo retrovisor”. Em entrevista à repórter Ciara Carvalho, o coordenador da área de pesquisa e análise política da TV Cultura de São Paulo avalia quais serão os reflexos políticos de um eventual Governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e, por outro lado, que desafios que o seu opositor, José Serra, precisa vencer para evitar a vitória petista. Ao analisar o recente empenho do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) na campanha de José Serra, ele estabelece um contraponto entre a atitude de Jarbas e a do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, que preferiu “manter um certo discurso de mineiridade” na fase decisiva da campanha. Nesta entrevista, concedida quinta-feira (10) por telefone, Novaes faz um balanço dos resultados do primeiro turno e
avalia como políticos e partidos saíram atingidos pelo recado das urnas.

JORNAL DO COMMERCIO – O que pode se esperar do confronto PSDB X PT neste segundo turno?

CARLOS NOVAES – Primeiro, uma luta duríssima porque esses são os dois partidos que hoje organizam a política brasileira. Não só porque fizeram as maiores bancadas, mas porque são eles que representam a sociedade, sobretudo do ponto de vista institucional. Lula representa as instituições anti-establishment e o Serra as pró-establishment. O problema é que o Lula está dizendo nesta eleição o tempo todo que não é anti-establishment. Pode até ser verdade, mas isso é terrível do ponto de vista das instituições que ele representa. Uma das minhas idéias é a de que, se Lula vencer a eleição, vai abrir espaço no Brasil para uma proposta mais radical do ponto de vista político.

JC – De onde virá essa radicalidade?

NOVAES – O Brasil tem hoje uma população tratada a pontapés pelo establishment, carente de tudo, concentrada em grandes manchas urbanas, mais informada e crescentemente escolarizada. Isso só pode dar espaço para radicalização política na esfera pública. Porque o PT e o Lula só estão onde estão justamente por causa dessa combinação. De onde é que vem o fenômeno Lula e PT? Da necessidade inescapável de se refletir na esfera pública e política uma desigualdade econômica e social brutal. Esse é o principal arcabouço para essa força de esquerda que poderá surgir a partir de um Governo Lula. Isso vai começar pela esquerda do próprio PT, que cresceu nessas eleições e vai crescer mais em 2004. Se o Lula ganhar, abre-se um processo de radicalização da política brasileira. Não por causa do Lula. Mas porque a sociedade brasileira vai ter dado uma volta a mais no parafuso.

JC – O PT é o grande vitorioso dessas eleições?

NOVAES – Sem dúvida. Porque o PT fez o movimento em direção ao eleitor mais ao centro do espectro político e colheu os resultados compatíveis com esse movimento.

JC – Esses resultados confirmam que o eleitor brasileiro é, de fato, conservador?

NOVAES – Não é só o brasileiro. Em qualquer país do mundo, o eleitor é conservador. E o PT fez um movimento para fazer coincidir o êxito com as biografias. O PT não quis continuar numa linha pedagógica de radicalização do eleitor brasileiro e interpretou unilateralmente os crescimentos que vinha tendo. Não percebeu que não era apenas o PT que se aproximava do eleitor, mas que este também se aproximava do PT. Acabou decidindo livrar-se da mochila que carregava.

JC – A “mochila” do socialismo, do radicalismo?

NOVAES – A mochila até das reformas. Das reformas duras, das reformas que enfrentam os problemas que mantêm de pé a ordem do capital tal como ela é no Brasil.

JC – E do lado do Serra, quais os desafios a serem superados?

NOVAES – O problema é que o Serra tem uma lógica de campanha encrencada. Ele não consegue resolver a relação dele com o Governo Fernando Henrique Cardoso. Se o Serra insistir em dizer que não se deve olhar para o retrovisor e não fizer um balanço convincente e honesto dos oito anos de Fernando Henrique, um balanço frontal do que ele discordou e do que ele achou bom, ele vai se complicar ainda mais.

JC – Ele precisaria então negar ou assumir essa era FHC?

NOVAES – Não. De jeito nenhum. O que ele precisa é definir o que para ele foi esse governo. O problema de Serra não é se ele é governo ou é oposição. O problema do Serra está no fato de que ele simplesmente não trata do governo. Esse é o erro. Eles caíram numa armadilha. O Serra acreditou justamente nessa sua pergunta, de que ele tem que se definir como sendo ou oposição ou uma continuação desse governo. E ele não precisa fazer nem uma coisa, nem outra. Ele tem é que fazer um balanço do que foram esses oito anos.

JC – Essa estratégia de chamar Lula para o debate pode ser um caminho eficiente ou vai dar em lugar nenhum?

NOVAES – Se ficar um caminho isolado, vai certamente levar a lugar nenhum, porque vai parecer ao eleitor que o Serra só quer fazer debate para falar mal do Lula. Se insistir nessa estratégia de fazer debate só para olhar para frente, aí vai dar errado. Tem que combinar isso com um balanço, porque fica crível que ele quer botar o Lula diante da discussão do que tem sido o Brasil e o que será o Brasil. Mas, por enquanto, eu acho que eles (a campanha de Serra) ainda não acertaram a lógica.

JC – Como você avalia essas sinalizações de que, num possível Governo do PT, o PSDB teria participação, e vice-versa?

NOVAES – Não vejo essa possibilidade porque eles serão uma oposição clara. Esse pessoal vai ser inimigo para o resto da vida. É essa a lógica política. Esses partidos são duas forças, como água e óleo. São as duas forças estruturantes da política brasileira. O PSDB será o núcleo da oposição no Congresso e o PT será também se o Lula for derrotado.

JC – Em Pernambuco, o governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) já anunciou que vai entrar de “corpo e alma” na campanha de Serra. Isso pode ser o diferencial, a força do Governo sendo usada a favor de Serra?

NOVAES – Claro. O Serra, na verdade, depende disso. E o fato de o Aécio Neves
(PSDB), governador de Minas Gerais, aparentemente não estar disposto a fazer isso, mostra que ele está avaliando de uma maneira mais açodada as suas próprias pretensões no futuro. O Jarbas talvez não tenha pretensões de ser presidente da República, ou ele avalia diferente as possibilidades dele. Ele acha que é melhor fazer tudo pelo Serra, para se credenciar como o grande apoiador de uma alternativa de centro. Diferentemente do Aécio, que parece estar preferindo manter um certo discurso de mineiridade. Nesse sentido, eu diria que o Aécio é um político mais provinciano do que o Jarbas. O Jarbas me parece um político mais arrojado. O Aécio tá muito com o jaquetão mineiro sobre o corpo.

JC – Jarbas então está tendo um senso de oportunidade maior do que Aécio?

NOVAES – Jarbas vai disputar agora o eleitor que votou nele e votou no Lula. Ele vai
disputar a consciência desse eleitor. Ele está fazendo um movimento, do ponto de vista político, muito correto e racional. Ele está querendo fazer uma transferência de chancela. O eleitor gosta dele, muito bem, então agora deve ouvi-lo e votar em Serra.

JC – Até porque foi isso o que ele fez para eleger os dois senadores da aliança, Marco Maciel (PFL) e Sérgio Guerra (PSDB)...

NOVAES – Exatamente. O Jarbas sabe fazer uma política como um líder de massas. Vai fazer isso pelo Serra e vamos ver qual vai ser o resultado.

JC – Há empenhos regionais em outros Estados, a exemplo do de Pernambuco, que poderão ser usados a favor de Serra?

NOVAES – Ainda não dá para saber. No Rio Grande do Sul, mais ou menos. Em São Paulo também. Eu acho que o Jarbas é uma exceção pela radicalidade do que ele está se propondo a fazer. Jarbas e Aécio são os grandes contrapontos.

JC – Essa postura de Jarbas pode ajudá-lo a se projetar como a maior liderança do Nordeste?

NOVAES – Não tenha dúvida que esse apoio reticente do Tasso (Jereissati, governador do Ceará) pode ajudar na construção dessa imagem.

JC – Mesmo que Serra não seja vitorioso?

NOVAES – Eu diria até que principalmente. Porque aí nunca ninguém poderá dizer que foi porque o Jarbas claudicou. Pelo menos, não no segundo turno.

JC – Você identifica outros vitoriosos, além do PT, nesta eleição?

NOVAES – Não. A vitória do PT é o grande acontecimento desta campanha. É mais importante ainda, por exemplo, quando a gente olha a situação da Bahia, onde o Paulo Souto ganhou no primeiro turno para o Governo, mas o Jaques Wagner (PT) teve quase 40% dos votos. É notável a polarização que vai haver entre a oligarquia e essa força emergente de esquerda. Então esse quiprocó brasileiro tá muito evidente na Bahia. Urbanização acelerada, a grande Salvador de esquerda, o interior oligárquico. Daí porque o erro estratégico de ACM de apoiar Lula. Numa situação oligárquica onde o grande contraponto não é o centro, mas a própria esquerda, essa decisão de ACM de apoiar o PT significa nacionalizar a disputa na Bahia na hora errada. Como ele está com muita raiva de Serra e de FHC, ele não está raciocinando. Ele está cometendo erros sobre erros. E ele vai provocar o próprio fim dele. Pior será para ele se o Lula ganhar a eleição porque o PT em 2004 não vai recomendar o apoio a ACM. O PT vai disputar a prefeitura em centenas de municípios baianos.

JC – É uma situação muito parecida com a de Pernambuco. Tanto que Jarbas já
afirmou que o PT é o seu maior inimigo político no Estado.

NOVAES – É óbvio. Humberto Costa é o Jaques Wagner de Pernambuco. Então o ACM está dando demonstrações de uma certa esclerose política. Ele, que foi um oligarca lúcido durante longa parte de sua trajetória, lúcido do ponto de vista dos interesses de sua oligarquia, claro, agora está fazendo escolhas contraproducentes.

JC – O PFL sai derrotado dessas eleições?

NOVAES – O PFL sai ferido das eleições, desestruturado. Mas será uma força
importante nesse novo Governo porque eles são grandes articuladores políticos. Serão, sem dúvida, artífices de qualquer base sólida para oposição ou para Governo no Congresso. A possibilidade de fechamento das feridas do PFL está precisamente na capacidade que o partido deverá demonstrar de articulação política no pós-eleição.


Projeção do IPCA para 2002 sobe para 7,14%
O mercado financeiro também ampliou a previsão de inflação para 2003. Taxa passou de 5,53% para 5,85%

SÃO PAULO – O mercado financeiro elevou de 6,91% para 7,14% a projeção da inflação calculada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2002. Para 2003, a estimativa é que a taxa fique em 5,85% e não mais em 5,53%, como estipulado anteriormente.

As novas estimativas estão no boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, e fazem parte da pesquisa semanal realizada pelo BC com analistas de mercado. No boletim da última semana, o mercado já havia elevado a projeção para a inflação.

Em setembro, a inflação calculada pelo IPCA teve alta de 0,72%. O percentual foi
divulgado na última semana pelo IBGE e refletiu, segundo a instituição, a alta do dólar e a sua pressão sobre os preços no mês passado. Em agosto, a inflação calculada pelo IPCA havia sido de 0,65%.

No acumulado do ano, até setembro, o IPCA teve alta de 5,6% e, nos últimos 12 meses, a taxa acumula variação de 7,93%. Em setembro de 2001, o IPCA foi de 0,28%.

O mercado financeiro elevou a sua projeção para a média da taxa de câmbio em 2002 de R$ 3,08 para R$ 3,20. Em 2003, os analistas esperam que a média da taxa de câmbio seja de R$ 3,25. A estimativa anterior era de R$ 3,20.

No mês passado, o mercado ainda esperava que a taxa média do dólar terminasse o ano abaixo de R$ 3. A estimativa foi revisada na última pesquisa de setembro, divulgada no dia 30, quando os analistas subiram a estimativa anterior de R$ 2,98 para R$ 3,03.

Só em 2002, o dólar comercial já acumula alta de 65% – baseando-se em dados da cotação de fechamento da última sexta-feira, dia 11, quando a moeda terminou o dia negociada a R$ 3,82. No último dia de negócios de 2001, o dólar comercial foi cotado a R$ 2,31.


Juro alto não segura o dólar
Nem a rolagem de 53,5% da dívida de US$ 3,6 bi conseguiu conter a moeda norte-americana. O dólar fechou com alta de 0,78%, cotado a R$ 3,85

SÃO PAULO – A rolagem de mais da metade de uma dívida cambial que vence na quinta- feira, a decisão do Banco Central de elevar os juros para conter a inflação e o dólar e a intervenção do BC no mercado não foram capazes de evitar que a moeda norte-americana voltasse a fechar ontem em alta. O avanço, entretanto, foi menor do que o registrado na máxima do dia, quando a moeda foi vendida a R$ 3,93 na expectativa pelo anúncio do BC. Ontem o dólar fechou cotado a R$ 3,83 para compra e R$ 3,85 para venda, em alta de 0,78%.

“O Banco Central está fazendo todas as coisas que a economia clássica recomenda.

Mas nós só vamos ver o efeito prático das medidas a partir de quinta-feira”, disse
Mario Battistel, diretor de câmbio da Corretora Novação.

Segundo ele, o mercado está muito especulativo, e só após o vencimento da dívida de US$ 3,6 bilhões na quinta-feira e do fim do prazo, amanhã, para que as instituições financeiras se adaptem ao pacote da semana passada, será possível detectar qual a verdadeira tendência da moeda.

Na sexta-feira passada, o BC anunciou uma série de medidas com foco no enxugamento dos reais disponíveis no mercado para conter a compra de dólares. Mas o pacote serviu mais para evitar uma escalada maior da cotação do que para derrubá-la, e a queda não se manteve sequer por dois dias.

DÍVIDA – Além do aumento dos juros, o Banco Central completou ontem a rolagem de 53,5% de uma dívida cambial que vence na quinta-feira e que vem pressionando o mercado, que compra dólares para substituir os papéis vencidos e manter seu hedge (proteção cambial).

Também ontem, além de confirmar que vendeu dólares no mercado à vista, o BC vendeu US$ 30 milhões ao mercado em linhas de crédito à exportação, operação que tem realizado quase diariamente desde o fim de agosto.

BOVESPA – O Ibovespa fechou em queda de 4,56%, aos 8.450 pontos. A Bolsa paulista girou R$ 364,863 milhões. Nenhuma das 56 ações que compõem o índice conseguiu fechar em alta.

A queda foi atribuída ao pessimismo com o aumento dos juros básicos da economia de 18% para 21% ao ano. Além disso, o tombo das ações da Petrobras prejudicou o desempenho da Bolsa paulista. Os papéis preferenciais da estatal despencaram 5,12% e foram os mais negociados do dia.

Analistas estimaram que a Petrobras terá perda diária de quase US$ 1 milhão com a parada da produção na P-34, navio-plataforma da Petrobras, que sofreu um acidente ontem.


Colunistas

PINGA FOGO – Inaldo Sampaio

Só uma hecatombe
Pelo que se observou no “guia” de ontem, Lula só perderá esta eleição se acontecer uma hecatombe em sua campanha eleitoral. Viu-se um candidato alegre, seguro, confiante, vendendo esperanças ao país e mostrando aos brasileiros os novos reforços que conseguiu agregar no segundo turno: Ciro Gomes e Anthony Garotinho. É uma vantagem e tanto sobre José Serra, que está tendo que fazer malabarismo para impedir novas defecções na base aliada.

O refrão “agora é Lula” está tomando conta do país, o que aliás já era previsível em decorrência dos números do primeiro turno. O candidato do PT venceu em todos os Estados menos dois (Ceará e Rio de Janeiro) e em todas as 27 capitais. Teve 20 milhões de votos a mais do que candidato do governo e se favorece enormemente da situação econômica de dificuldade em que o país ora se encontra.

O discurso “terrorista” contra ele não cola mais, nem tampouco a exploração da “falta de experiência administrativa”. Sua vitória já é admitida, inclusive, pelo “brazilianista” Thomas Skidmore (Universidade Brown), que estuda a política brasileira há 40 anos.

Para ele, “a vitória do Lula seria o sinal de uma mudança na política brasileira, que sempre foi dominada pelos bacharéis e os generais”.

Na ordem do dia
Campeão de votos no Recife para a Câmara Federal, Roberto Magalhães, do PSDB, recebeu um telefonema ontem de Brasília que muito o gratificou: do ministro Nélson Jobim, presidente do TSE e seu ex-companheiro de parlamento. Foi para parabenizá-lo pela “brilhante” votação (204.726 votos). A conversa girou sobre a reforma política, que deverá ser feita, inevitavelmente, na próxima legislatura, seja Lula ou seja Serra o presidente da República.

Viagem prematura
Faleceu ontem em Palmares, aos 46 anos, o poeta e músico José Antonio Nascimento, popularmente conhecido como “Zeto”. O sepultamento será hoje à tarde no cemitério de Canhotinho, sua terra natal. Pra quem não sabe, foi dele o refrão da campanha de Arraes em 1986: “Volta Arraes ao Palácio das Princesas/vai entrar pela porta que saiu”.

Ato de adesão
A nova diretoria da Fetape reúne-se hoje, a partir das 9h, para aderir formalmente à campanha de Lula. Para o seu presidente, Aristides Santos, segundo turno não comporta meio-termo: “todos com Lula”. O sindicalista é vereador em Tabira pelo PT e rompeu com o prefeito Édson Carvalho (ex-PSB) por ele ter aderido à campanha de Jarbas.

Candidato do prefeito foi o 2º em São José
O prefeito Paulo Jucá (ex-PSB) envia um esclarecimento sobre o resultado das eleições em São José do Egito. O seu candidato Luiz Piauhylino (PSDB) ficou em 2º lugar para a Câmara Federal. O 1º foi Inocêncio e o 3º Miguel Arraes.

PFL resiste à ida do PPS para o time de Jarbas
De um deputado do PFL sobre as especulações nos meios políticos segundo as quais Clementino Coelho (PPS) deverá ser chamado para a equipe de Jarbas: “O governador tem que prestigiar os vitoriosos, não os derrotados”.

Dor da separação
“Fiquei sem os dois pés e as duas mãos”, declarou, ontem, aos prantos, o prefeito de Belo Jardim, João Mendonça (PFL), ao saber do assassinato, na véspera, do seu motorista particular Ricardo Pereira, de 34 anos. A vítima, pessoa de confiança do prefeito havia 14 anos, era tratada por ele como uma pessoa da família.

Sem compromisso
Paulo Hartung, governador eleito do Espírito Santo, é o “Aécio Neves” do PSB. Mesmo convidado por Garotinho, negou-se a participar da coordenação da campanha do PT. Já o governador eleito de Minas arranjou uma “férias” em Porto Seguro (BA) para não recepcionar Serra em Belo Horizonte.

Cássio Cunha Lima, ex-prefeito de Campina Grande e candidato ao governo da Paraíba pelo PSDB, teve todas as condições para liquidar a fatura do primeiro
turno. Como não conseguiu, vai ter dificuldades para vencer no segundo.

Enquanto Serra o “puxa” para baixo, seu opositor, Roberto Paulinho (PMDB), é “puxado” por Lula para cima.

O prefeito de Petrolina Fernando Bezerra Coelho (PPS) vai estar ausente do 2º turno: nem Serra nem Lula. A facção do partido a que se vincula, liderada por Roberto Freire, aderiu a Lula na 1ª hora mas ele achou melhor não participar. Ainda está muito
abalado com as derrotas de Clementino e Ranílson Ramos.

Com 39.569 votos para a Câmara Federal, o presidente regional do PSB, Jorge Gomes, foi o campeão de votos em Caruaru. Suplantou a soma de André de Paula (11.556), Miguel Arraes (7.530), Rivaldo Soares (5.626) e Inocêncio Oliveira (2.917). José Queiroz foi o 1º lugar para a Assembléia Legislativa (36.802), seguido por Roberto Liberato (14.744).

Apesar da baixa popularidade da prefeita Luciana Santos, Renildo Calheiros (PCdB), apoiado por ela, foi o campeão de votos em Olinda para a Câmara Federal: 20.262.

Bateu Cadoca (19.966) e Roberto Magalhães (17.995). Para a Assembléia Legislativa, o 1º lugar foi Jacilda Urquisa (25.033) e o 2º Alf (13.126).


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10/15/2002


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