Simon admite concorrer ao Piratini contra Britto
Simon admite concorrer ao Piratini contra Britto
O senador qualifica como inimigo o ex-governador, que anunciará esta semana a troca do PMDB pelo PPS
O senador Pedro Simon (PMDB) declarou ontem que poderá concorrer ao governo do Estado se perder a prévia que escolherá o candidato do partido à Presidência da República e se o ex-governador Antônio Britto disputar o Piratini pelo PPS.
Apesar da migração dos aliados de Britto para o PPS, Simon mantém o compromisso de disputar a indicação do partido à Presidência contra o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, no dia 20 de janeiro.
O senador também afirmou que num eventual segundo turno no Estado entre Britto e o candidato do PT, o partido poderá optar pelo segundo.
– O PMDB não tem mais condições de apoiar ele (Britto) em lugar nenhum – avaliou, considerando que o ex-governador traiu o PMDB.
Simon disse que será difícil para Britto explicar a saída do PMDB já que, na sua opinião, o eleitorado do Rio Grande do Sul tem tradição de fidelidade partidária e não aceita “trânsfugas”. No interior do seu gabinete em Brasília, o senador gaúcho concentrou suas críticas a Britto e ao deputado Nélson Proença:
– Eles (Britto e Proença) representavam a direita do PMDB, uma ala que defende as privatizações e promoveu a coligação com o PPB. Ele sai pela direita e ingressa no antigo Partido Comunista. Não dá para entender.
Para Simon, Britto lhe devia gratidão. O senador garante que deu apoio e ajuda em todos os atos da vida pública em que o ex-governador teve sucesso, inclusive quando foi nomeado porta-voz do ex-presidente Tancredo Neves. Simon também se considera responsável pela indicação de Britto para o Ministério da Previdência. Entende que agora, quando é candidato à Presidência, seria a hora de Britto retribuir-lhe o apoio.
– Meu coração levou um golpe de quem eu pensava ser um irmão, mas era um inimigo que, com suas críticas, na verdade, estava querendo anarquizar o partido e me humilhar – queixou-se, segurando com força um rosário da Ordem de São Francisco.
O senador também comparou Britto a Francisco Brochado da Rocha, ex-líder do PTB que se opôs à candidatura de Alberto Pasqualini e se desligou do partido, concorrendo ao governo do Estado pelo rival Partido Social Progressista (PSP), em 1954, amargando derrota vexatória. De acordo com Simon, é muito estranho que na hora em que o Rio Grande do Sul deveria se unir em torno da sua candidatura à Presidência, Britto decida engrossar as fileiras de Ciro Gomes, candidato do PPS à Presidência.
– Não sei por que e nem por quanto ele (Britto) troca a minha candidatura pela de Ciro – disse.
Bastante magoado, Simon ainda fez um apelo para que os deputados do grupo dissidente, ligados a Britto, não deixem o partido. Segundo avalia, eles cometerão “suicídio político”. O senador prevê que ninguém se elegerá, como ocorreu com aqueles que ingressaram no PSDB, nos anos 80.
No início da noite de ontem, o grupo de Britto se reuniu no apartamento do ex-governador, em Porto Alegre. O objetivo da reunião, segundo o deputado Paulo Odone, seria responder às críticas de Simon. Odone informou que amanhã, no Plenarinho da Assembléia, haverá o anúncio oficial de quem está deixando a sigla.
Durante a tarde de ontem, a executiva regional do PMDB permaneceu reunida por mais de duas horas analisando a situação. O presidente estadual, deputado federal Cezar Schirmer, disse que a direção da sigla aguardaria a decisão oficial dos dissidentes.
Fogaça critica tratamento dado a ex-governador
O senador José Fogaça (PMDB), que se reuniu na manhã de ontem com o colega de bancada Pedro Simon, ainda está indeciso sobre deixar ou não o partido.
Fogaça afirmou que nunca pensou em sair do PMDB, mas que está diante de uma situação na qual é obrigado a refletir. Além do PPS, ele tem convite para ingressar no PSDB.
Ontem à tarde, porém, Fogaça disse que não concorda com o tratamento que Simon passou a dar a Britto. Segundo ele, Britto tem o direito de tomar o rumo que lhe pareça melhor em sua carreira política.
Fogaça considerou ainda que Simon, nesse processo, também cometeu vários equívocos políticos como, por exemplo, ter negado apoio a Britto quando o ex-governador quis concorrer à presidência do partido.
Na avaliação de Fogaça, Simon também errou em não ter mantido neutralidade na disputa pelo diretório do PMDB gaúcho, apoiando o deputado Cezar Schirmer, candidato do ministro dos Transportes, Eliseu Padilha, contra o candidato de Britto, deputado Paulo Odone. Fogaça reafirmou que está numa situação desconfortável não só em Brasília, mas também no Sul.
– Tenho divergências invencíveis com a cúpula do PMDB nacional, e eles infelizmente têm elementos de influência no PMDB gaúcho – disse, sem citar nomes, mas numa referência clara a Padilha.
Bernardi pede a Olívio retribuição de informações
O candidato do PPB ao Piratini lembra que o partido abriu ao PT números das secretarias que dirigia em 1998
Ao ser oficializado ontem como candidato do PPB ao governo do Estado em 2002, o ex-deputado e ex-secretário de Estado Celso Bernardi anunciou que pedirá pessoalmente ao governador Olívio Dutra que lhe garanta acesso às secretarias estaduais.
A intenção de Bernardi é conhecer a situação das áreas para começar a montar seu plano de governo, cujos pilares serão a agricultura e a educação.
Para vencer uma possível dificuldade em acessar dados do governo, Bernardi dirá a Olívio que no processo de transição de 1998 os três secretários do PPB – Otomar Vivian (Administração), José Otávio Germano (Transportes) e Telmo Kirst (Obras) – foram os únicos a abrir suas pastas à equipe do PT. Uma das principais queixas dos petistas na transição do governo de Antônio Britto para o de Olívio foi justamente a dificuldade de obter informações sobre as secretarias de Estado.
Na audiência que espera ter com Olívio, Bernardi dará sua palavra que, ao pedir para ter conhecimento dos números das secretarias, não pretende usar os dados para atacar o governo. Anunciou também que o funcionalismo público será outro alvo de sua administração. O candidato do PPB pretende reduzir o número de secretarias – hoje são 22 pastas – e de cargos em comissão (CCs), mas afirma que não planeja demitir servidores.
– O funcionalismo será nosso aliado – prometeu Bernardi, afirmando que o problema de pessoal é uma questão que diz respeito ao Estado e não apenas aos partidos.
Bernardi é o primeiro candidato ao Palácio Piratini a ser oficializado e ontem deixou formalmente a presidência do PPB para dar início à campanha eleitoral. O coordenador das prévias do partido, Percival Puggina, anunciou diante dos principais líderes do PPB e da imprensa os números que garantiram a vitória de Bernardi na prévia.
Até ontem à tarde, haviam sido totalizados os votos de 433 municípios gaúchos, faltando apenas 62 para serem contabilizados. À noite, o PPB divulgou os números finais da apuração. Bernardi recebeu 37.232 votos, contra 9.564 dados ao adversário, deputado federal Fetter Júnior.
O concorrente derrotado enviou a Bernardi uma carta de seu gabinete, na Câmara dos Deputados, em Brasília, reconhecendo a vitória de Bernardi e disse que continuará lutando pela unidade e fortalecimento do partido.
Correntes à esquerda ficam com maioria no diretório do PT
O presidente do diretório estadual será escolhido pelos filiados no dia 7 de outubro
Oito dias depois da eleição direta para escolha de seus dirigentes, o PT gaúcho anunciou ontem o resultado oficial da disputa. As correntes situadas mais à esquerda no PT ficaram com a maioria das 59 vagas do diretório estadual do partido.
O presidente do diretório estadual terá de ser escolhido em segundo turno, no dia 7. David Stival, candidato da Articulação de Esquerda e apoiado pelo Palácio Piratini, ganhou 45,56% dos votos dos filiados e vai enfrentar o segundo colocado, Paulo Ferreira, que obteve 23,19% dos votos. A maioria dos votos dos outros sete candidatos deve ir para Stival. Ferreira espera maior adesão de filiados para reverter a desvantagem.
A Articulação de Esquerda e as correntes Democracia Socialista – do vice-governador Miguel Rossetto –, Unidade Popular Socialista (UPS) – composta por petistas ligados ao governador Olívio Dutra – e Esquerda Democrática – do chefe da Casa Civil, Flávio Koutzii – ganharam 28 cadeiras no diretório. A Ação Democrática, grupo que tem afinidade com as correntes mais à esquerda, ficou com nove vagas. A corrente moderada PT Amplo e Democrático, de Paulo Ferreira, ficou com 11 cadeiras.
A vitória das correntes mais à esquerda, em princípio, coloca em vantagem Olívio na disputa com o prefeito Tarso Genro pela vaga de candidato ao governo. O PT estabeleceu o dia 3 de dezembro como data-limite para a inscrição de candidaturas à prévia que escolherá o candidato a governador em 2002.
A direção nacional do PT divulga na sexta-feira o resultado oficial da eleição para presidente nacional do partido e para o diretório. O deputado José Dirceu (SP) venceu a disputa em primeiro turno.
Indicação de Jader para comissão irrita senadores
Pedido de defesa do ex-presidente deve ser apreciado amanhã
A decisão do líder do PMDB, senador Renan Calheiros (AL), de indicar o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) para integrar a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa não foi bem recebida entre os senadores.
– Não acho isso interessante. Não soa bem – afirmou o senador José Fogaça (PMDB), ao criticar a iniciativa de Calheiros.
Na avaliação de Fogaça, a indicação de Jader para a CCJ “parece coisa encomendada”, uma vez que, mesmo não sendo titular, Jader pode atuar na comissão.
A senadora Heloísa Helena (PT-AL) considerou “uma provocação” de Renan. Amanhã, a CCJ deverá examinar questão de ordem do próprio Jader pedindo ampla defesa no Conselho de Ética antes da leitura do relatório que prevê abertura de processo por quebra de decoro parlamentar. A senadora chama atenção para o fato de o regimento determinar que o assunto seja apreciado no Conselho mesmo que algum senador venha a pedir vistas na CCJ.
– Nós não aceitamos flexibilidade do regimento – disse.
O senador Pedro Simon também criticou a decisão, afirmando que Calheiros fica numa situação de constrangimento:
– Ele não está dando grandeza ao PMDB – afirmou Simon.
Dólar tem maior queda desde março de 99
Temor de medidas firmes do governo leva investidores a se desfazer da moeda norte-americana, baixando a cotação
O dólar levou um tombo ontem. A moeda norte-americana perdeu mais de R$ 0,11 de seu valor em relação ao real, com baixa de 4,02% – a maior em um dia desde março de 1999.
Os investidores não quiseram esperar novas medidas do governo para combater a desvalorização do real: venderam dólares e a moeda caiu para R$ 2,72. Mesmo assim, o dólar já teve neste ano valorização de 39,47%.
Na sexta, o governo decidiu enxugar dinheiro do mercado por meio do aumento do volume de recursos que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC. A medida deve tirar de circulação cerca de R$ 10 bilhões.
As instituições passaram a ter menos reais disponíveis, que poderiam estar sendo usados na compra de dólares e pressionando sua cotação. Isso fez o mercado abrir hoje em baixa. O BC aproveitou para intensificar a trajetória de queda e vendeu papéis cambiais, de manhã e no fim da tarde.
– O mercado sentiu que o BC vai entrar mais firme para conter a desvalorização do real – afirmou Fábio Akira, economista sênior do banco BBV.
A escalada do dólar ganhou fôlego após os ataques terroristas nos Estados Unidos, no dia 11. Desde então, o valor do dólar em relação ao real bateu sete recordes, alcançando a máxima de R$ 2,835 na sexta. Após os atentados, houve brusca queda nas perspectivas de entrada de investimento estrangeiro no país e passou-se a temer maior dificuldade para empresas e bancos captarem recursos no Exterior. Com isso, aumentou a busca por hedge (segurança) cambial, e a cotação do dólar explodiu.
– A deterioração das condições de financiamento externo motivou a disparada do dólar nas últimas semanas – disse Akira.
Apesar de o cenário externo não ter apresentado sinal de melhora, analistas apontam que ainda há espaço para recuos no curto prazo, pois a alta dos últimos dias foi exagerada. Mas como o câmbio é flutuante, as tensões externas se refletem diretamente na cotação da moeda norte-americana, com mais desvalorização do real.
Apesar de o governo ter conseguido derrubar o dólar ontem, o custo foi maior: no leilão de títulos cambiais, pagou juros máximos de 10,75%. Na sexta, os juros maiores pagos nos seis leilões que o BC realizou ficaram em 9%. O problema de o BC intervir no mercado como ontem e na sexta, por meio da venda papéis cambiais – que pagam variação cambial mais juros prefixados – é o aumento da parte da dívida pública atrelada à variação do dólar. Só na sexta, foram R$ 2,9 bilhões. Ontem, mais R$ 1 bilhão. Para tentar frear a desvalorização do real, o BC já colocou no mercado, desde os atentados ocorridos nos EUA, R$ 8,35 bilhões em títulos cambiais. No ano, foram vendidos R$ 22,3 bilhões.
A elevação das exportações de aviões da Embraer, de açúcar e de petróleo produziram superávit de US$ 474 milhões na balança comercial na terceira semana deste mês. Além do aumento das vendas externas, a queda das importações de insumos, equipamentos mecânicos e combustíveis contribuiu para esse resultado. No mês, o saldo positivo alcança US$ 594 milhões e, no ano, US$ 1,253 bilhão.
Apesar desses números, o crescimento das vendas externas continua menos expressivo do que a queda nas importações e está sustentado por embarques de produtos básicos, como soja, açúcar e carnes. Os dados divulgados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex) mostram na terceira semana desempenho excepcional. A média diária de exportações chegou a US$ 302,2 milhões, a maior em dois anos. Mas não está certo que isso seja uma tendência.
Artigos
O Orçamento Geral da União e o RS
OLÍVIO DUTRA
O governo federal encaminhou ao Congresso Nacional o Orçamento Geral da União 2002. O contraste entre o recente processo no Estado e aquele a que assistimos em nível federal é enorme. Aqui, acabamos de presenciar, a partir de 735 assembléias nos 497 municípios, a população vindo ao encontro do parlamento para reafirmar suas demandas e prioridades; em Brasília, presenciamos, mais uma vez, discussões encerradas entre quatro paredes dos gabinetes.
Este método é, no entanto, coerente com seus objetivos: continuar pagando, sem nenhuma discussão com a sociedade, uma dívida que submete a economia do país e paralisa seu desenvolvimento. É sintomático deste quadro o fato de que, ao mesmo tempo em que o orçamento sofre uma redução de 33% – R$ 949 bilhões em 2001, para R$ 637 bilhões em 2002 –, as despesas com a dívida representem quase 53%, chegando a mais de R$ 300 bilhões. Além disto, o corte geral em investimentos é de 39,63%, caindo de R$ 18 bilhões para R$ 11 bilhões.
O RS integra um grupo de nove Estados que arrecadam em impostos federais, mais do que recebem em retorno
A lógica de pagamento a qualquer custo da dívida e a conseqüente paralisação dos investimentos se revela mais ainda quando analisamos a situação do RS. Os recursos sofrem uma queda de 33,75%, se comparados a 2001, ocorrendo o mesmo com os principais Estados da federação. Já que se fala em investimentos, do total previsto pelo OGU para o RS este ano, até início de setembro haviam sido empenhados 24,45%, mas efetivamente pagos apenas 7,47%.
O RS integra um grupo de nove Estados que arrecadam, em impostos federais, mais do que recebem em retorno. Estes repassadores, constituídos também por SP, RJ, MG, PR, SC, ES, AM e DF, em 1999 e 2000, do total de tributos arrecadados receberam, na forma de aplicações da União, 22%, incluídas aí todas as formas de repasse. Pelo princípio do pacto federativo, os 78% restantes deveriam ter sido utilizados para enfrentar as desigualdades regionais. Entretanto, do saldo, apenas 16% serviram para este fim, ficando 84% com a União.
Este contexto implica uma verdadeira camisa-de-força para o povo gaúcho. É buscando superar esta situação que estamos atuando num movimento político-institucional que terá prosseguimento nesta quarta-feira em Brasília. Através da Secretaria Estadual de Coordenação e Planejamento, estamos articulados junto com a bancada gaúcha para apresentarmos ao relator do projeto de lei orçamentária, deputado Sampaio Dória (PSDB-SP), os pleitos do Estado para 2002. Isto deverá desdobrar-se, ainda, em ações coordenadas junto aos ministérios e Comissão do Orçamento, com vistas à defesa das nossas propostas e garantia das liberações de recursos para 2001.
É tempo ainda de impedir o desmantelamento do pacto federativo. Garantindo uma melhor e mais justa repartição entre os entes federados de recursos e atribuições, que lhes confiram protagonismo e não subserviência a uma política centralista para dentro e subordinada, para fora, às exigências dos credores externos. Incorporando também, experiências que apontem para a construção de um novo modelo de Estado, combinando ação parlamentar com a participação direta da sociedade.
O papel da mídia
FLÁVIO PORCELLO
Os terroristas usaram a linguagem do espetáculo e dominaram a mídia do mundo todo na trágica manhã de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Culpa da mídia? Claro que não. No passado, o objetivo em atos de terror era ocupar microfones e câmeras de TV para transmitir mensagens, como na Revolução dos Cravos, em Portugal. Agora, os terroristas usam o espetáculo como mensagem. As câmeras de TV estavam focadas no incêndio de uma das torres do World Trade Center quando o jato atingiu a outra. A mídia ficou refém dos terroristas por várias horas. Mas havia como ser diferente? O diretor do Centro de Estudos de Televisão Popular e professor da University of Syracuse, Robert J. Thompson, diz que não: “Tudo o que eles queriam que o mundo visse, o mundo viu”.
Esse terrível acontecimento mostrou que mudaram as relações entre guerra, terrorismo e mídia no século 21. Os jornalistas não tiveram escolha ao mostrar o que acontecia e nós não tivemos escolha senão acompanhar tudo em tempo real.
Todo o ataque seguiu a lógica do espetáculo. Os terroristas usaram a linguagem dominante na mídia: a das cenas espetaculares do cinema. O atentado foi um ato de comunicação. Infelizmente as cenas eram reais e provocaram milhares de vítimas.
Os terroristas usaram a linguagem dominante na mídia: a das
cenas espetaculares do cinema
Depois dos atentados, a cobertura da mídia continuou provocando polêmica. Mostrar ou não mostrar os corpos mutilados? O âncora da CNN em Nova York, Garrick Utley, pediu desculpas no ar e explicou: “Antes de mostrar o que os jornalistas estão vendo é preciso saber se as pessoas querem ver essas cenas”.
E o especialista em mídia do Instituto Brookings, de Washington, Stephen Hess justificou que os EUA estão em guerra. Mas é evidente que nessa guerra a mídia não está fazendo o que fez na Guerra do Vietnã, quando descumpriu as ordens do Pentágono e mostrou cenas reais de soldados mortos e feridos.
Embora possa parecer precipitado, essa é uma oportunidade para discutir o papel da mídia. E um bom caminho é o livro The Elements of Journalism (Ed. Crown: 2001; 205 páginas, US$ 20), recentemente lançado nos Estados Unidos e ainda não traduzido no Brasil. Os autores são os experientes jornalistas Bill Kovach e Tom Rosenstiel, que discutem o papel da imprensa e apontam nove elementos básicos para exercer um jornalismo de qualidade. Os autores afirmam que o jornalismo não é neutro, mas destacam que o importante, como se ensina nas faculdades de Comunicação Social, é procurar chegar o mais perto possível da neutralidade. Conforme os autores, a principal característica da imprensa hoje é ser cada vez menos independente.
A discussão em torno da responsabilidade social da mídia é sempre oportuna e saudável, mesmo em tempos de guerra contra o terror. Se as armas da guerra do século 21 mudaram, o desafio da imprensa é refletir sobre o seu papel, evitando que a verdade seja a primeira vítima, como ensinou Churchil.
Colunistas
ANA AMÉLIA LEMOS
Mágoas represadas
O desabafo do senador Pedro Simon, ontem, chamou atenção pela contundência. Não foi surpresa para ninguém ouvir tantas e tão duras críticas ao ex-governador Antônio Britto e seus liderados, que já oficializaram a desfiliação do PMDB e o ingresso no PPS, sigla sucessora do Partido Comunista Brasileiro (PCB). O franciscano Pedro Simon aplicou nas suas relações políticas, com essa dissidência, a lei do “olho por olho, dente por dente”. Perdeu a paciência ante os ataques e cobranças, cada vez mais freqüentes. Com muitas mágoas represadas, decidiu combater, usando seu precioso arquivo pessoal de uma convivência que, no caso de Britto, começou após a morte de Tancredo Neves. O senador abençoou a filiação do então jornalista Antônio Britto ao PMDB, num gesto que teve a participação do “timoneiro” do partido, Ulysses Guimarães.
O senador se considera pessoalmente traído e diz que o ex-governador também traiu o partido. Não deixou de cobrar a ingratidão do ex-governador. O senador Pedro Simon lembrou, na entrevista ontem à Rádio Gaúcha, que Antônio Britto foi ministro da Previdência Social do governo Itamar Franco graças a ele, que, na condição de líder do governo, fez a indicação ao então presidente da República. O senador lembrou ter, também, articulado a candidatura Britto à sucessão presidencial, em 1994, quando preferiu disputar o Palácio Piratini fazendo aliança com o PPB, que, como se viu ontem, não teve o respaldo das bases do PMDB gaúcho.
Pelo que disse o senador Pedro Simon, a guerra ao ex-governador foi declarada. Ao admitir que pode disputar a sucessão de Olívio Dutra para salvar o PMDB no Rio Grande do Sul, o senador reconheceu que, embora o partido, majoritariamente, queira disputar a sucessão presidencial com candidatura própria em 2002, está se fortalecendo a aliança PSDB/PMDB, numa chapa liderada por José Serra como candidato à presidência e o governador Jarbas Vasconcelos, do PMDB, como candidato a vice.
Dependendo da reação do ex-governador, o próximo peemedebista gaúcho a abrir as comportas da represa de mágoas será o ministro dos Transportes, Eliseu Padilha. A munição, aliás, está armazenada faz tempo. Nos dois lados, é claro.
JOSÉ BARRIONUEVO – PÁGINA 10
Quadro eleitoral começa a se definir no Estado
O lançamento da candidatura de Celso Bernardi pelo PPB, primeiro nome a ser oficializado por um partido, deflagra o processo sucessório para o Palácio Piratini. Nos próximos dias, o PDT deve apresentar formalmente o nome de José Fortunati, que ingressa no partido quinta-feira. O PTB tem a candidatura de Sérgio Zambiasi, em primeiro lugar em algumas pesquisas, para formar uma chapa majoritária numa possível aliança trabalhista. O PPS de Bernardo de Souza e Ciro Gomes ganha o reforço de Antônio Britto, candidato em potencial. O PT tem praticamente uma vaga assegurada no segundo turno para Olívio Dutra ou Tarso Genro. Falta apenas o PMDB de Pedro Simon e Eliseu Padilha definir quem será o seu representante no primeiro turno. O mais cotado é o deputado Germano Rigotto.
Padilha é o herdeiro político de Simon
Com a saída de Britto e do grupo de dissidentes, se consolida no PMDB a liderança do ministro dos Transportes. Aos 55 anos, Eliseu Padilha credencia-se para ser o herdeiro político de Pedro Simon, 71 anos.
Habilidoso articulador político, o ministro é o principal avalista da candidatura de Simon a presidente da República na cúpula nacional do PMDB.
Em nível regional, Simon e Padilha agem em sintonia. Na convenção estadual, foram decisivos na vitória de Cézar Schirmer, que também foi colocado pelo ministro na vice-presidência nacional do PMDB.
Afastamento de Britto – Na reunião na residência de Nelson Proença em que foi apresentada proposta da candidatura de Britto para a presidência regional do partido, a idéia de pronto foi rechaçada pelo senador e pelo ministro, abrindo caminho para a eleição de Cezar Schirmer.
A saída de Britto do partido retira um obstáculo interno no controle do PMDB.
Mesmo concorrendo apenas a deputado federal, Padilha deve consolidar sua liderança no Estado na próxima eleição, em que deve ser um dos mais votados – talvez o mais votado – com o apoio de Simon.
Fogaça não concorre mais
O senador José Fogaça vive uma crise existencial. Confessa “profundas e definitivas” divergências com a cúpula nacional do PMDB, mas não encontra uma opção que o deixe confortável. Por isso tomou uma decisão: se largar o PMDB, o fará depois do prazo para a troca de partido, dentro de seu projeto de encerrar a vida parlamentar ao final do mandato. Está decepcionado com as sucessivas traições, especialmente de Pedro Simon, seu colega no Senado.
– Felizmente não preciso fazer esta opção agora. Mas é certo que estou profundamente inconformado com o PMDB. Tenho uma divergência invencível com a cúpula nacional, que jogou no chão o que foi erguido por milhões de homens e mulheres em mais de 30 anos de história do partido.
Entende que o PMDB vai pagar esta conta na próxima eleição.
Schneider opta por ficar
O deputado Elmar Schneider optou por permanecer no PMDB, colocando como única razão o apelo feito por suas bases no Vale do Taquari, onde o partido ameaçou colocar vários candidatos à Assembléia.
Ex-chefe de gabinete do deputado Nelson Proença, que deixará o PMDB, Schneider fez carreira política embalado pelo ex-chefe da Casa Civil, braço direito de Britto.
Inferno virtual na apuração
Mais de uma semana depois das convenções para renovação de suas direções, o PT conseguiu terminar ontem a apuração de 28 mil votos e oficializar o segundo turno entre David Stival, da Articulação de Esquerda, e Paulo Ferreira, do PT Amplo, para presidente estadual do partido. Um dos dois vai comandar a prévia de março, que escolherá o candidato a governador entre Tarso e Olívio.
Com o ataque do vírus W32Nimda, o partido pagou o mico, segundo o próprio Lula, com pane geral no sistema de apuração.
Bico na Brigada
A alta oficialidade da Brigada Militar ouviu atenta o pronunciamento do secretário da Segurança Pública do Estado, José Paulo Bisol, na cerimônia de apresentação do novo Regulamento Disciplinar da BM, que, de certa forma, institucionaliza o bico dos soldados em outras atividades nas horas de folga.
O secretário disse que aquele era “um momento memorável”, em que estava sendo firmado “um pacto de igualdade entre quem manda e quem é mandado”.
Mirante
• Juiz Adão Sergio do Nascimento Cassiano tomou posse ontem como desembargador do TJE. Natural de Santo Ângelo, o magistrado também é graduado em Ciências Contábeis. É professor de Direito Tributário.
• Do senador Simon: “Não sei por quanto Britto trocou minha candidatura pela de Ciro Gomes”.
É guerra no sertão.
• O pipocar da metralhadora giratória de Simon é música para os ouvidos do PT.
• Por acordo com a prefeitura, vereadores de Porto Alegre passam a ter acesso ao sistema de informações sobre o andamento de mais de 4 milhões de processos. O diretor da Procempa, Rogério Santana, esteve na Câmara.
• João Dib espera que a Procempa coloque também a contabilidade da prefeitura à disposição da Câmara.
• O deputado Rolim, do PT, cansou de esperar pelo Piratini. Acompanhado de 30 mulheres de presidiários, levou ao deputado Bernardo de Souza, do PPS, seu projeto de reforma do sistema penitenciário entregue a Olívio Dutra há mais de dois anos.
• O vereador Jairo Santerra, de Gravataí, anuncia o apoio à reeleição de Olívio e Rossetto, na terra do prefeito Bordignon.
• Em Santa Cruz do Sul, o vereador Ari Thessing (PT) vai lançar Tarso para governador tendo frei Sérgio Görgen como vice.
Olívio visita hoje a GM. Resta saber se mandará representante na inauguração da Ford, dia 12.
ROSANE DE OLIVEIRA
Guerra santa
Mágoas represadas ao longo dos últimos anos vêm explodindo com estrondo nos últimos dias no PMDB. A entrevista do senador Pedro Simon, ontem, no programa Atualidade, da Rádio Gaúcha, foi plena de significados. Agora que o ex-governador Antônio Britto e seu grupo decidiram sair, ninguém mais está preocupado em manter as aparências. Para os dois lados acabou-se a fase das gentilezas recheadas de ironias dos últimos meses. Agora é que a guerra santa vai começar.
“Quem não está conosco está com os terroristas”, dirão (ou pensarão) uns e outros parafraseando o presidente George W. Bush. A ordem no PMDB é tratar os dissidentes como inimigos. Os que saem não economizarão esforços para desqualificar o senador Pedro Simon.
Na impossibilidade de acusar Simon de algum ilícito, os primeiros movimentos indicam que a tática será vincular a sua imagem à de personagens intragáveis para a opinião pública, como o senador Jader Barbalho.
Simon admitiu ontem em entrevista ao repórter Klécio Santos que se perder a prévia que escolherá o candidato a presidente, e se Britto for candidato ao Palácio Piratini, ele também poderá ser, para fortalecer o PMDB. Nessa hipótese, os votos que em 1998 foram de Britto seriam divididos por três, já que o PPB terá chapa própria, com Celso Bernardi na cabeça.
Esse cenário sugere um segundo turno curioso. Se Britto enfrentar o candidato do PT, terá o apoio de Bernardi, mas será tratado como um traidor por seu antigo partido. Se Simon for para o segundo turno, também terá o apoio de Bernardi, mas jamais o de Britto. E se o vencedor for Bernardi, ganhará o apoio da frente anti-PT e de uma parte do PMDB.
Britto ainda não assumiu a candidatura ao Piratini, nem fez qualquer exigência para entrar no PPS, mas seus movimentos são de quem tem, sim, projeto político. Com a disposição do senador José Fogaça de continuar no PMDB e de abandonar a vida pública, abre-se outra possibilidade: a de Britto vir a ser candidato ao Senado. Amigos do ex-governador confirmam que ele tem simpatia pela idéia de concorrer ao Senado, mas jamais se lançaria para não prejudicar Fogaça.
Editorial
Esperança na crise
O ministro do Desenvolvimento, Sérgio Amaral, anunciou ontem a criação de uma comissão executiva dedicada exclusivamente à expansão das exportações. Ao fim de um dia de intenso trabalho, o ministro participou de uma reunião de urgência convocada pelo presidente da República na última sexta-feira, quando o dólar atingiu a cotação mais alta desde que foi implantado o Plano Real. A decisão do governo de estimular as exportações foi anunciada num dia que já tivera duas boas notícias para a economia brasileira: uma queda expressiva e abrupta do dólar, da ordem de 4,02%, e a confirmação de um superávit de US$ 1,25 bilhão na balança comercial, o que permite prever-se um aumento de 8% nas exportações brasileiras neste ano. Contribuíram para a redução da cotação da moeda norte-americana medida do Banco Central reduzindo a disponibilidade financeira dos bancos para comprar dólares e o retorno de uma certa tranqüilidade ao mercado internacional, no qual registrou-se queda dos preços do petróleo e o retorno dos índices positivos nas bolsas norte-americanas.
Foi o primeiro sinal consistente de recuperação dos negócios após o 11 de setembro, dia em que ocorreram os maiores atentados terroristas da História. É preciso, no entanto, estabelecer uma nítida fronteira entre a situação mundial e a brasileira, tendo em vista que por aqui já ocorria, antes dos ataques aos EUA, uma galopante escalada na valorização do dólar. Tanto é assim que na véspera do dia 11 o dólar alcançava mais um recorde dentro do Plano Real, fechando em R$ 2,60, o que atestava uma valorização de 33,62% em 2001. Na última sexta-feira, dia 21, o dólar comercial chegou a R$ 2,84, fechando com 45,41% de valorização no ano.
Os sinais positivos ontem emitidos pelos mercados alimentam
uma certa dose de esperança
A demanda pela moeda dos EUA alcançou o pico embora na noite anterior o presidente George W. Bush tivesse apresentado uma declaração de guerra ao terrorismo, definindo-a como uma longa campanha, “como nunca antes foi vista”. Era difícil de entender por que, em face da guerra iminente e dos riscos crescentes que ameaçavam e seguem ameaçando a economia norte-americana, o brasileiro apostava no dólar como medida de proteção diante de um quadro incerto, ao contrário do que vinha ocorrendo na maioria dos demais países, onde a moeda dos Estados Unidos perdia valor.
O recorde do dólar da última sexta-feira, apesar da lógica duvidosa a que obedeceu, teve o mérito de sacudir o governo federal, tanto que de imediato o presidente da República convocou para ontem a reunião que tratou das exportações.
Os sinais positivos ontem emitidos pelos mercados, tanto no país quanto no Exterior, poderão ser de curta duração. Mas sem dúvida alimentam uma certa dose de esperança no sentido de que as seqüelas da loucura terrorista venham a ser menos desastrosas do que se esperava. Quanto ao Brasil, o crescimento acelerado dos negócios com Exterior anunciado pelo governo impunha-se, havia muito tempo, como um passo indispensável à construção de uma nova e mais consistente realidade econômica.
Fragilidade partidária
A proximidade do prazo final para a filiação partidária com vistas às eleições de 2002 vem animando uma gigantesca dança de cadeiras de homens públicos de todo o país. Embora uma das características do jogo político seja o seu dinamismo, é inquietante verificar que, até a última semana, 151 dos 513 deputados federais já haviam trocado pelo menos uma vez de legenda na atual legislatura. Como a data fatal é 5 de outubro, não é impossível que um terço daquela Casa acabe se transferindo de armas e bagagens para outras siglas. No Senado, a busca de novos ares é menos intensa, mas ainda assim 15% dos 81 integrantes da instituição somaram-se à grande migração. Os recordes contudo ficam com Rondônia, onde metade dos 24 parlamentares estaduais abandonaram o partido, e Alagoas, onde apenas oito não o fizeram. O fenômeno se observa igualmente no Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Paraná, Pernambuco e São Paulo. E nem o Rio Grande está alheio às alterações: cinco próceres do PMDB preparam-se para assinar ficha no PPS.
No que respeita aos detentores de mandato, estamos diante de um flagrante testemunho de descaso em relação à vontade dos eleitores: computadas todas as modificações, em termos nacionais, 24 milhões de votos dados a agremiações determinadas se transferiram para outras. Não será exagero afirmar que esse quadro, desconhecido fora do Brasil, atenta de algum modo contra a própria legitimidade do sistema eleitoral. Mais do que isso, desnuda a fragilidade de nossas estruturas partidárias. A opção por uma sigla deveria ser um ato de vontade determinado por uma comunhão de pensamento dos aspirantes à filiação com o programa, a ideologia, os métodos de ação, as plataformas de governo da legenda escolhida. Não é o que se vê entre nós, onde o troca-troca de camisa se dá muitas vezes ao sabor de interesses personalíssimos, quando não de ambições subalternas.
A opção por uma sigla deveria ser ato de vontade determinado
por uma comunhão de idéias
Só há um antídoto para essa distorção que vicia a convivência democrática neste país. É a reintrodução da fidelidade partidária, não como instrumento de coerção, sua característica à época da ditadura, mas como mecanismo de disciplina e de unidade. O aprimoramento da vida pública no Brasil requer contudo outros avanços. Está nesse caso a introdução da cláusula de barreira, pela qual uma agremiação que não obtiver determinado percentual de votos não terá acesso ao Legislativo, nem à propaganda gratuita.
Um outro passo relevante seria a adoção do voto distrital misto, de preferência segundo o modelo alemão, mas evidentemente adaptado às nossas características. Incumbiria também fazer valer o princípio da igualdade do voto, que hoje é consagrado em um dispositivo da Constituição e desautorizado por uma outra disposição. Pois somente com essas e outras medidas estaremos aperfeiçoando nossas instituições, ao invés de desmerecê-las pelo desrespeito à soberania popular.
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