Tarso e Britto forçam embate









Tarso e Britto forçam embate
A menos de cem dias da eleição para governador do Estado, os candidatos ao governo do Estado pelo PT, Tarso Genro, e pelo PPS, Antônio Britto, não escondem que pretendem polarizar a disputa com vistas ao segundo turno.

Enquanto Britto e seus colaboradores referem-se ao “custo PT”, Tarso aproveitou ontem o lançamento do slogan “Sim ao Rio Grande” para dizer que pretende evitar o “risco Britto”.
– Queremos evitar o risco Britto, com o retorno das privatizações, o sucateamento da base produtiva gaúcha e os planos de demissão de um governo arrogante e autoritário – afirmou o petista.

Tarso comparou dados da economia atual com números do governo Britto e salientou que o setor teria “crescido mais” durante a administração petista. Britto, que já havia afirmado que considera Tarso o seu principal adversário, não quis comentar as críticas feitas pelo ex-prefeito, preferindo que o coordenador da campanha, deputado federal Nelson Proença (PPS), rebatesse:
– O verdadeiro risco é acreditar nas mentiras do PT e do seu candidato. Quem diz sim ao Rio Grande não manda empresas embora e não desmonta a segurança – afirmou.

O candidato do PPS acusa Tarso de defender “um partido que coloca seus interesses acima dos interesses do Rio Grande”. Crítico voraz da administração do PT, o ex-governador já chegou a defender a união das oposições contra o petista, no segundo turno.

Os demais candidatos, que apostam no crescimento de suas campanhas com o início do horário eleitoral gratuito e a liberação das propagandas nas ruas, condenam as tentativas de polarização do pleito entre Tarso e Britto. O deputado Germano Rigotto, da Coligação União pelo Rio Grande (PMDB-PSDB-PHS), afirmou que a estratégia dos candidatos que lideram as pesquisas é prejudicial à recuperação do Estado. Disse que sua estratégia buscará a “capacidade de construção e não de ataque”, embora critique tanto a atual gestão como o governo Britto.

José Fortunati, candidato da Frente Trabalhista (PDT-PTB-PAN), afirmou que as tentativas de polarizar a disputa serão eliminadas no decorrer da campanha. A estratégia de Fortunati tem sido comparar o governo do PT ao de Britto. Já Celso Bernardi, candidato pelo PPB, criticou o governo petista desde o início da campanha. Ontem, ele também foi alvo dos ataques de Tarso, que o descreveu como “candidato de extrema direita, que semeia o ódio por onde passa”.

- Tarso diz que a oposição não tem programa de governo e ataca os adversários. Quero é ver ele debatendo sobre o seu programa de governo – provocou o candidato.


Britto promete retomada de obra
Ao visitar um trecho da RS dos Municípios, entre Campo Bom e Novo Hamburgo, na manhã de ontem, o candidato ao governo do Estado pela coligação Rio Grande em 1º Lugar, Antônio Britto, fez considerações sobre o que chamou de interrupção das obras da estrada, de acordo com ele iniciadas na sua administração.

– Deixamos um programa pronto, o Projeto de Novas Estradas, que o PT suspendeu ao assumir – disse o candidato.

Segundo Britto, o programa de seu governo para o sistema viário da Região Metropolitana – chamado Polão – visava desafogar o tráfego numa área de grande concentração populacional e de veículos.

– A RS dos Municípios seria uma alternativa para melhorar o fluxo da BR-116. Essa estrada é uma bomba-relógio, com hora marcada para explodir. Conseguimos licença ambiental e colocamos asfalto – disse Britto.

O candidato visitou ainda uma vila próximaa estrada, no bairro Getúlio Vargas, em Novo Hamburgo, quando foi cercado por moradores que pediram a retomada da construção da estrada, caso o ex-governador se eleja.

Um momento de descontração marcou a visita a Campo Bom ocorreu durante o encontro com o prefeito Giovani Feltes (PMDB). Britto, que será pai de gêmeos dentro de oito meses, e Feltes, que tem quadrigêmeos, trocaram idéias bem-humoradas sobre nascimentos múltiplos.


Rigotto acusa PPS de copiar símbolo
O candidato ao governo do Estado Germano Rigotto (PMDB) acusou ontem a coordenação da campanha do ex-governador Antônio Britto (PPS) de prejudicar sua candidatura ao utilizar um coração como símbolo da aliança Rio Grande em 1º Lugar.

Segundo Rigotto, todas as campanhas das quais participou tiveram marcas semelhantes. Rigotto afirmou que o símbolo teria sido escolhido propositalmente pelo concorrente.

O deputado ressaltou que Britto e os dissidentes do PMDB que o acompanham no PPS não deveriam ter aceito o projeto gráfico da campanha. Ele afirma que já está com todo o material de divulgação de sua campanha finalizado e ressalta que continuará utilizando o coração como “elemento forte”.

– O que fizeram foi vergonhoso. Sempre tive minhas campanhas representadas por um coração, e não pretendo mudar agora. Britto acompanhou minha trajetória e tinha conhecimento disso – desabafa o candidato do PMDB.


Senadora deflagra crise no PT
A senadora Heloísa Helena (PT-AL) usou o programa Cidadania, da rádio O Jornal, de Maceió, para comunicar à população alagoana a sua renúncia como candidata ao governo do Estado nas eleições de outubro.

Junto com ela renunciou também um dos candidatos ao Senado do partido, vereador Thomaz Beltrão, mais de 10 sindicalistas e lideranças da mesma tendência da senadora dentro do partido, a Democracia Socialista (DS) que disputariam vagas de deputados federais e estaduais:
– Sou vítima da imposição da direção nacional do meu partido. Mas não vou ferir meus princípios éticos e me juntar aos usineiros, aos grandes empresários que exploram o meu povo, aos políticos corruptos e os políticos criminosos indiciados pela CPI do Narcotráfico que querem fazer aliança conosco – disse a senadora, referindo-se ao presidente do diretório estadual do PL, deputado federal João Caldas, como político corrupto.

Os indiciados pela CPI do Narcotráfico são os deputados estaduais Celso Luiz Malta (PL e primo de Rosane Collor, mulher do ex-presidente Fernando Collor) e o também deputado estadual Junior Leão (PL). Ambos não rebateram a acusação da senadora e por enquanto figuram apenas como indiciados da CPI do Narcotráfico do Congresso, juntamente com mais cinco deputados estaduais, a maioria do PTB.

Em lágrimas e com a música Amigos para Sempre de fundo, a senadora citou a Bíblia em um discurso emocionado.

– Se tiver um dia de fazer aliança com os usineiros ou com integrantes do crime organizado de Alagoas deixo a vida pública – frisou a senadora alegando que estava renunciando a candidatura ao governo em respeito à decisão nacional do seu partido que ameaça fazer uma intervenção no PT alagoano e assim aumentar a crise política no PT.

Heloísa chorava o tempo inteiro e com a voz embargada recomendou:
– Que os meus eleitores se sintam livres para escolher candidato que lhes convier. Não tenho curral eleitoral como a maioria dos políticos do meu Estado.

O nome mais forte para ocupar o lugar da senadora Heloísa Helena é o do vereador Judson Cabral, de Maceió, que até agora é candidato a senador.


Ministério Público analisa denúncia contra Olívio
O Ministério Público Federal (MPF) analisará a notícia-crime apresentada pelo coronel João Alberto Monteiro da Silva, da Brigada Militar, contra o governador Olívio Dutra, o secretário da Justiça e da Segurança, José Paulo Bisol, e o deputado estadual Dionilso Marcon (PT), por injúrias.

Se o MPF entender que há motivos para oferecer a denúncia à Justiça, o processo irá para o Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O autor da queixa considera que a Brigada Militar e todos os integrantes da co rporação foram humilhados por ofensas que teriam sido dirigidas pelos acusados ao tenente-coronel Luiz Carlos Martins em março, quando o oficial foi afastado das funções, depois de comandar a operação que evitou a entrada de integrantes do Movimento dos Atingidos pelas Barragens (MAB) no canteiro de obras da usina da Barra Grande, em Pinhal da Serra, distante 320 quilômetros de Porto Alegre.
A notícia-crime foi encaminhada inicialmente ao Ministério Público Estadual (MPE), que repassou-a ao Federal por se tratar de matéria que envolve o governador do Estado. A competência para processar o governador na área criminal é do STJ.

– Estou encaminhando a representação ao procurador-geral da República, Geraldo Brindeiro. O exame da matéria é de competência do Ministério Público Federal – disse ontem o procurador-geral de Justiça do Estado, Cláudio Barros Silva.

Uso de boné do MAB é questionado por oficial
Outra parte da mesma queixa, contra o coronel Gerson Nunes Pereira, acusado de usar o boné do movimento dos trabalhadores, tido pelo acusador como crime de uso indevido do uniforme, foi remetido à Justiça Militar do Rio Grande do Sul.

Em abril deste ano, o Ministério Público Estadual havia instruído o governo do Estado a instaurar Inquérito Policial-Militar (IPM) para apurar denúncia de que o autor das denúncias estaria sendo pressionado a ir para a reserva.


FH fará campanha para Serra na TV
O presidente Fernando Henrique Cardoso avisou ontem que fará campanha para o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, apenas no rádio e na TV.

Ele disse achar impróprio para um presidente fazer campanha nas ruas.

– Não acho que corresponda a um presidente da República subir em palanques. Acho que, como cidadão, tenho um candidato, que é o José Serra, do PSDB. Vou participar da maneira correta, através da TV – disse.

Os atos que vão marcar o início da campanha de Serra, amanhã, no Piauí, não terão a presença da candidata a vice na chapa, a deputada Rita Camata (PMDB-ES).

O roteiro está sendo organizado pelo governador Hugo Napoleão (PFL), candidato à reeleição, e adversário do ex-governador Francisco de Moraes e Souza, o Mão Santa, candidato ao Senado pelo PMDB. Rita vai depois ao Piauí pedir votos para Serra, num roteiro com o candidato de seu partido ao governo, Jônatas Nunes.


Lula afirma que equipe econômica vive com os pés fora do Brasil
Petista criticou tentativa do governo de querer impor os fundamentos econômicos ao próximo presidente

O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou ontem a suposta tentativa do governo de querer impor ao próximo presidente do país os fundamentos econômicos adotados atualmente.

– Querem impor a quem ganhar a eleição a mesma lógica dos fundamentos deles. Mas nós não a queremos. Nós vamos estabelecer a nossa própria estratégia de desenvolvimento – afirmou Lula, durante visita à Cooperativa Uniforja, em Diadema, na Grande São Paulo.

Lula criticou ainda as afirmações da equipe econômica de que o próprio governo vai demorar 30 meses para recuperar o investment grade – uma economia com baixo risco para o investidor. Lula salientou que um membro da equipe econômica, cujo nome não foi citado, disse que o próximo governo vai demorar 30 meses para recuperar a economia.

– Se eles sabem o que têm de fazer, porque não fizeram há quatro, cinco anos? – indagou.

O candidato disse ainda que o governo e sua equipe econômica vivem com os pés fora do Brasil:
– A cabeça pensa de acordo com o chão que os nossos pés pisam. Se o governo e a equipe econômica estivessem com os pés na Uniforja, não estariam falando em fuga de capitais. A cabeça e os pés deles estão em Washington e no sistema financeiro, nunca estiveram aqui.

Para Lula, o governo não conhece e nem quer conhecer as experiências bem-sucedidas de trabalhadores que fazem o Brasil dar certo. Ele citou como exemplo o bem-sucedido sistema adotado pela Cooperativa Uniforja. O petista acusou o governo e a imprensa de serem os vendedores do pessimismo. Ele comentou que TVs e jornais estão sendo pautados pela crise econômica.

– São os vendedores do pessimismo no Brasil. E vocês, do otimismo, do Brasil que deu certo – afirmou aos cerca de 300 trabalhadores.


Jobim lamenta prática de compra de voto
Ministro destacou que há instrumentos legais para coibir abuso de poder econômico

Em almoço com empresários cristãos na igreja Nossa Senhora da Pompéia, em Porto Alegre, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Nelson Jobim, disse ontem que a prática da compra de votos ainda é uma questão não resolvida no processo eleitoral.

As possibilidades de fraudes na votação e na apuração dos votos constatadas em eleições anteriores teriam sido eliminadas a partir da adoção da urna eletrônica.

Para Jobim, a Lei 9.840, de 1999, que descreve a “captação de sufrágio,” transformou-se no principal instrumento para garantir que a vontade do eleitor não seja distorcida pelo abuso de poder político ou econômico. Antes dela, não era suficiente a prova material da compra de votos. Era necessário provar que a doação – de cestas básicas, por exemplo – havia distorcido a vontade do eleitor e também alterado o resultado da eleição.

– Cerca de 20 prefeitos e cem vereadores foram cassados em 2002. O TSE já cassou até governador de Estado. Podemos cassar outros. Faremos o que tem de ser feito – disse.

Entre os mecanismos de aperfeiçoamento do processo eleitoral, Jobim defendeu uma reforma partidária que fortaleça os partidos e seus programas. Como o número de vagas de cada partido está relacionado ao número de votos obtidos na eleição, os partidos investem nos “puxadores de votos”, candidatos carismáticos que nem sempre têm compromisso com a ideologia partidária. O ministro evocou a própria experiência como exemplo:

– Em 1986, me elegi graças ao Jorge Alberto Mendes Ribeiro e ao Antônio Britto, que fizeram, juntos, 675 mil votos. Mendes Ribeiro tinha um programa de rádio de muita audiência, e Britto teve muita exposição no episódio da morte do Tancredo (Neves, presidente eleito e morto em 1985). Acabei me elegendo com 27 mil votos.

Pelo mesmo motivo, os partidos teriam passado a cortejar pastores evangélicos, candidatos que fazem muitos votos entre os fiéis.

– Não foram os pastores que entraram na política. Os partidos é que foram buscá-los – disse Jobim.

Pela manhã, Jobim havia participado de um seminário da Associação Brasileira dos Distribuidores de Energia Elétrica, no Centro de Eventos do Plaza São Rafael. À saída, recusou-se a comentar a decisão de não receber denúncia contra o presidente nacional do PT, deputado José Dirceu, acusado de se beneficiar de dinheiro de propina cobrada pela prefeitura de Santo André. Durante o almoço, porém, foi questionado por um empresário e teve de falar sobre o assunto. Lembrou que o compromisso da Justiça é com a garantia das liberdades individuais e que não se pode submeter uma pessoa a um processo investigatório com base em boatos.

– Quem aqui já foi investigado sabe o ônus que isso representa – disse.


Conselho aprova intervenção no Espírito Santo
Dificilmente o Supremo determinará à União que intervenha em razão da onda de criminalidade no Estado

Por unanimidade, o Conselho dos Direitos da Pessoa Humana (CDDPH), do Ministério da Justiça, aprovou ontem a decretação da intervenção federal no Espírito Santo, como forma de combater a corrupção e o crime organizado no Estado.

Caberá ao Supremo Tribunal Federal (STF) decidir se apóia a medida.

Entretanto, dificilmente, o Supremo determinará à U nião que intervenha no Espírito Santo por conta da onda de criminalidade. Ministros do STF consideram que a medida é grave, tem repercussões sérias para a administração pública, como a impossibilidade de o Congresso aprovar emendas, e, portanto, deve ser evitada ao máximo.

De acordo com levantamento informal feito no tribunal, nos últimos anos, o STF aceitou apenas um pedido de intervenção federal, contra Goiás. O motivo foi o descumprimento de uma ordem judicial determinando à polícia que agisse para garantir a reintegração de uma fazenda invadida por sem-terra. Mesmo assim, a intervenção federal não foi decretada pelo Executivo.

De acordo com o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Orlando Fantazzini (PT-SP), que acompanhou as investigações, há “indícios fortíssimos” de que Gratz comandaria o crime organizado. Já Ferreira foi denunciado pelo Ministério Público (MP) por desvio de recursos.

O pedido de intervenção partiu do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Rubens Approbato Machado, em 21 de maio. Mas, desde 1995, o Conselho tem recebido denúncias.

A reunião foi presidida pela ministro da Justiça, Miguel Reale Júnior. Segundo ele, foram analisados dados sobre o aumento da criminalidade. Ele acredita que a decisão mostrará aos organismos internacionais a posição firme do Brasil de não transigir na proteção dos direitos humanos.


Testemunhas divergem de irmão de prefeito
Ex-secretário e ex-mulher apresentaram versões diferentes de encontros com médico

O ex-secretário de Governo de Santo André Gilberto Carvalho e a ex-mulher do prefeito assassinado da cidade, Celso Daniel, Miriam Belchior, afirmaram ontem que tiveram encontros com o irmão do prefeito, o oftalmologista João Francisco Daniel, depois de seu assassinato, em janeiro.

O teor dos encontros descritos pelos dois, porém, é diferente do que foi dito pelo médico aos promotores.

– Tive contatos com João Francisco, sempre demandados por ele, em vista de interesses pessoais dele – afirmou Gilberto.

Ele e Miriam afirmaram que um desses interesses seria fazer lobby para a empresa Expresso Guarará. Gilberto e Miriam disseram que tiveram testemunhas em algumas conversas. Acrescentaram que não revelariam os nomes – que seriam da família do médico – para não “expor ninguém”.

Os dois fizeram as afirmações durante depoimentos separados na CPI da Câmara Municipal de Santo André criada para investigar um suposto esquema de propina na cidade para financiar campanhas políticas do PT. À tarde, depuseram Teresinha Fernandes Soares Pinto e o deputado Duílio Pisaneschi (PTB-SP).

No depoimento de João Francisco ao Ministério Público, no dia 24 de maio, ele afirmou que Miriam teria lhe dito que havia um esquema de propina na cidade. Gilberto, segundo João Francisco, teria dito que a propina, certa vez no valor de R$ 1,2 milhão, teria sido entregue por um funcionário da prefeitura ao presidente do PT, deputado José Dirceu. À época, Dirceu negou, e Gilberto e Miriam divulgaram nota desmentindo as afirmações do irmão do prefeito assassinado.

Ao Ministério Público, o médico disse que teria testemunhas. Uma suposta testemunha conversou na terça-feira com o jornal Folha de S.Paulo, sem se identificar, por telefone, no consultório do médico. O médico afirmou que não iria revelar seu nome ou das outras testemunhas para garantir-lhes segurança.

Chefe de gabinete da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chorou durante o depoimento. Depois, disse:

– A única riqueza que tenho são meus filhos e minha honra. A exploração da imprensa é absurda.

De braços cruzados durante quase todo o depoimento de uma hora, Gilberto levou anotações com o número de encontros que teria tido com João Francisco – assim como Miriam, que também recorria a papéis. Negou todas as afirmações de João Francisco e disse não querer ser “leviano” para tecer opinião sobre o porquê das acusações do médico. No início do depoimento, disse que os cinco encontros com João Francisco teriam sido a pedido dele:

– Ele demandava benefícios.

Logo depois, disse que, dos cinco encontros, dois foram a pedido de outras pessoas. Um, a pedido de Celso Daniel, para tratar de uma remessa de dólares feita pelo médico para o Exterior que estaria sendo “usada politicamente para atingir o prefeito”, na casa do médico. Outro, a pedido do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), para explicar ao médico os trâmites das investigações sobre a morte do prefeito. Segundo Gilberto, ele e o médico se desentenderam e desde então não mais se falaram.

De acordo com Gilberto, no dia 7 de fevereiro, única data citada, ele teria dado uma carona a João Francisco para depor no Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). Os dois estariam sozinhos. Em outro encontro, na casa de João Francisco, segundo Gilberto, eles teriam conversado sobre a Expresso Guarará, empresa de Rosângela Gabrilli, que acusa a prefeitura de lhe cobrar propina.

Miriam afirmou que, assim como o ex-marido, teve poucos contatos com o cunhado. Depois da morte de Celso, ela foi a um encontro pedido por João Francisco. Segundo ela, uma testemunha, “alguém da família” assistiu à conversa:

– Me espantei. Ele começou a falar nas dúvidas que tem de que o assassinato do irmão seja crime comum. Mas logo depois começou a falar em pedir ajuda para a Expresso Guarará, que estava com problemas.


Artigos

Por que quero ser presidente do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva

Quero ser presidente para mudar o Brasil. Este é o meu maior sonho: contribuir com a minha vida e experiência política para melhorar o Brasil. Isso significa acabar com a miséria e com a fome que ainda castigam quase 50 milhões de pessoas em nosso país. Significa possibilitar que a grande maioria do povo brasileiro obtenha cidadania, que os jovens não tenham que enfrentar as incríveis dificuldades que eu e tantas pessoas passamos na vida. Melhorar o Brasil significa dar ao nosso país o valor que ele merece, transformando-o na grande nação sonhada por gerações. Significa mudar de rumo, afastando o nosso país da situação de vulnerabilidade a que foi levado pela atual política econômica. Significa retomar o desenvolvimento com distribuição de renda e justiça social.

Não é fácil fazer tudo isso. Mas para fazê-lo é preciso, antes de tudo, um presidente da República comprometido de corpo e alma com esses objetivos. E eu tenho esse compromisso e me preparei para cumpri-lo.

Deixei claro na Carta ao Povo Brasileiro, entregue à nação recentemente, que “será necessária uma lúcida e criteriosa transição entre o que temos hoje e aquilo que a sociedade reivindica. O que se desfez ou se deixou de fazer em oito anos não será compensado em oito dias. O novo modelo não poderá ser produto de decisões unilaterais do governo, tal como ocorre hoje, nem será implantado por decreto, de modo voluntarista. Será fruto de uma ampla negociação nacional, que deve conduzir a uma autêntica aliança pelo país, a um novo contrato social, capaz de assegurar o crescimento com estabilidade”.

O Brasil precisa de um presidente da República que tenha liderança política e capacidade de negociação para realizar esse novo contrato social. Todo mundo sabe que comecei a formar as minhas convicções políticas e a desenvolver a minha capacidade de negociação defendendo a democracia nas duras condições do regime militar. Ajudei a fundar o Partido dos Trabalhadores, com o objetivo de criar uma alternativa concreta de cidadania para todo o povo brasileiro. Fiz isso juntamente com outros sindicalistas, intelectuais, políticos, representantes de movimentos sociais, pequenos e médios empresários, lidera nças rurais e religiosas. Dois anos depois, fundamos a CUT, que mudou a história do sindicalismo brasileiro.

Desde então, milhões de trabalhadores e de outros setores sociais passaram a fazer política com autonomia no nosso país. Ganharam auto-estima e mudaram suas vidas pessoais e de suas famílias. Fico imaginando o que seria o exercício da democracia hoje no Brasil se não existisse um partido como o PT, que é o maior e mais importante partido democrático de esquerda de toda a América Latina, e já governa quase 50 milhões de pessoas, em cinco Estados, sete capitais e dezenas de cidades com mais de 200 mil habitantes.

Conheço o Brasil e o povo brasileiro como poucos políticos do nosso país. Visitei os recantos de todas as regiões, de todos os Estados. Dialoguei com todos os setores sociais, pobres e ricos, olho no olho. Fiz durante anos – e continuo fazendo – as Caravanas da Cidadania, estudando os problemas concretos de cada lugar e debatendo alternativas. Coordenei projetos que oferecem soluções viáveis para alguns problemas fundamentais, como moradia, fome, segurança pública, educação, ciência e tecnologia, e energia. O programa de governo que estamos apresentando é fruto de tudo isso.

Fui também deputado federal, o mais votado do Brasil, e ajudei a redigir a Constituição de 1988. Poderia já ter sido prefeito ou governador. Mas sempre tive claro que para mudar de fato o Brasil é preciso ser presidente da República. Esta será a minha quarta candidatura. Nas outras três eleições, o povo escolheu outros concorrentes. Os eleitores podem agora olhar para trás e verificar se o Brasil conseguiu resolver seus problemas fundamentais.

Amadureci muito neste período e estou convencido de que esta é a nossa vez. O PT também está maduro, unido e fez alianças políticas essenciais para vencer, governar e mudar o Brasil.

Minha origem, trajetória política e compromissos não me permitirão frustrar as expectativas que o povo brasileiro tem em relação a um governo democrático e popular. Tenho consciência de que se tratará de uma mudança histórica, com grande influência na América Latina e mesmo na geopolítica mundial. Luis Fernando Verissimo, em uma de suas crônicas sempre bem-humoradas, comentou isso no início deste ano nesta mesma Zero Hora.

Disse que a minha vitória vai significar uma mudança de era: da era dos Braganças para a dos Silvas. Representantes de elites conservadoras já nos governam há muito tempo – o Brasil precisa dar uma chance a um representante da grande maioria do povo.


Colunistas

ANA AMÉLIA LEMOS

Endividamento alto
Não é o risco de uma eventual vitória da oposição que está forçando a desvalorização do real frente ao dólar, mas a descrença dos investidores internacionais na capacidade do atual e do futuro governo em equacionar o grave problema do endividamento interno e externo. Pelas contas do economista Paulo Yokota, ex-diretor do Banco Central, a dívida já está equivalendo a 56% do Produto Interno Bruto. Mesmo que o Banco Central possa, até outubro, queimar US$ 15 bilhões das reservas cambiais para conter a explosão de alta do dólar, até lá o mercado viverá muitos sobressaltos, avalia o especialista, fazendo coro com boa parte dos que se dedicam a estudar o comportamento do mercado, à luz da realidade das contas públicas.

Como o esforço exportador só apareceu no apagar das luzes do segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, não foi ampliado suficientemente o volume de reservas cambiais e, agora, para enfrentar a crise financeira, o governo teve de recorrer ao empréstimo do Fundo Monetário Internacional. As dificuldades do governo, portanto, não permitem, neste momento, uma redução de taxas de juros e os monetaristas até recomendariam aumentar os atuais 18,5% da taxa Selic, o que seria desastroso para o setor produtivo e para a economia em geral. E a alta do dólar justifica reajuste de tarifas neste momento? Paulo Yokota explica que isso está ocorrendo por causa dos erros cometidos na privatização do setor energético e de telecomunicações. O consumidor é que vai pagar a imprudência governamental.

O economista lembra que em 1998, véspera da reeleição, o país também sofreu uma crise financeira e o Banco Central, à época, teria queimado US$ 40 bilhões das reservas para evitar o colapso do Plano Real. Somente neste mês, o Banco Central pretende jogar no mercado US$ 1,5 bilhão, com liberações diárias de US$ 50 milhões a US$ 100 milhões, para estancar a corrida em cima do dólar. A alta da moeda americana, no momento, provocou redução de 15% no movimento das férias de inverno para o Exterior. A Embratur trabalha para converter esses gastos em favor do turismo interno. Os vôos para o Nordeste, partindo de Brasília, em julho, estão lotados.


JOSÉ BARRIONUEVO

Nanicos prestam desserviço à democracia
Atenção, senhores! A campanha eleitoral pode sofrer uma reviravolta. O PTN, a sigla do ex-prefeito Celso Pitta, decidiu ontem à noite entrar para valer na eleição apresentando um candidato a governador. É o 13º no páreo, o oitavo nanico, com a convicção de que vai arrebentar, como zebra da eleição. Eles vão poluir os espaços de propaganda eleitoral, muitos deles com propostas mirabolantes, estapafúrdias. Nos debates jornalísticos na TV, somados, eles terão quase o dobro do espaço dado a Tarso, Britto, Bernardi, Rigotto e Fortunati.

É o Partido Trabalhista Nacional (PTN). Não tem filiados, não tem diretórios, nunca elegeu ninguém no Estado. Também estão aí para o que der e vier o PCO, o PL, o PV, o PSC e o Prona. Em busca de alguns segundos de fama no rádio e na TV.

Alvo preferido
Brizola veio ao Estado e elegeu Britto como adversário. Rigotto partiu para o confronto com o ex-companheiro, alegando que houve plágio na logomarca de Britto, que utiliza um coração como símbolo. Tarso lançou ontem a sua logomarca e concentrou fogo no principal adversário, alertando para o risco Britto.

Deve andar por aí alguma pesquisa que coloca o candidato do PPS em primeiro lugar. Do ponto de vista do marketing, a única justificativa para o fogo cerrado no mesmo alvo é a existência de alguma pesquisa que coloque Britto na dianteira. Caso contrário, estão promovendo o ex-governador.

Coração de luto
Rigotto deveria ter apresentado ontem sua logomarca para provar alguma coincidência com a logomarca criada pela equipe de Britto. Não atendeu ao pedido da imprensa, deixando a impressão de que arranjou um artifício, podendo trabalhar a idéia durante a madrugada para ser divulgada somente hoje. Afinal, coração virou símbolo da campanha de muita gente, de Rigotto a Nelson Proença, entre os 600 candidatos que se apresentaram em 1998. Até Rosinha Matheus não precisou de muita imaginação para explorar a mesma idéia este ano como candidata a governador do Rio.

Homem dos sete instrumentos
O vice-governador Miguel Rossetto está entrando na campanha eleitoral a partir do registro da candidatura hoje no TRE. Com a experiência de quem foi o secretário-geral do governo Olívio, uma espécie de primeiro-ministro, Rossetto dá mais densidade à candidatura de Tarso, que tem investido mais na sua condição de intelectual.

Se vencer a situação, Rossetto será, mais uma vez, muito mais do que um vice, que substitui o governador apenas como interino.

No lançamento da logomarca da campanha, Tarso fez questão de colocar o adesivo no vice, superadas todas as divergências da prévia graças à interferência de Olívio Dutra, principal responsável pela pacificação do partido.

HPS para Canoas
O prefeito Marcos Ronchetti (PSDB) está determinado a deixar sua marca em Canoas com a construção de um Hospital de Pronto Socorro moderno, que servirá para combater a ambulancioterapia, palavra mais usada, junto com “o helic


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