Tasso encontra Roseana e Jarbas para "barrar" Serra







Tasso encontra Roseana e Jarbas para "barrar" Serra
Articulados pelo governador Tasso Jereissati (PSDB-CE), os três principais nomes do Nordeste à sucessão presidencial se encontram hoje em Brasília a pretexto de discutir a manutenção da aliança que elegeu e reelegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998.
O sujeito oculto da reunião é outro: José Serra, ministro da Saúde, que tem maioria nas pesquisas internas de intenção de voto entre os nomes tucanos, apoio interno no PSDB, simpatia de FHC e maioria na máquina governamental. O encontro, um almoço na casa de Brasília da governadora Roseana Sarney (PFL-MA), foi incentivado pelo cearense, hoje o único adversário tucano de Serra na disputa pela indicação.
Serra passou a ter também a oposição de Roseana, incomodada com as tentativas do PSDB para vitaminar os tucanos do Maranhão, seus adversários, manobra que ela atribuiu ao ministro.

Para Tasso, em pequena desvantagem na disputa com Serra, é mais uma oportunidade para tentar se viabilizar e expor sua divergência básica com o Planalto: o nome do candidato tucano não pode sair do bolso do colete de FHC. Dos três governadores, o mais próximo de Serra é o de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB). É dele a proposta de prévia entre os pré-candidatos da aliança, na qual os militantes votariam em dois nomes, não necessariamente do mesmo partido.

No Planalto, há quem considere a proposta "delírio", o que levaria a reunião a acabar em "beiju" (espécie de pizza nordestina). Mas, entre setores do PSDB e do PFL, a crítica seria à tentativa do Planalto -e de Serra- de escolher o candidato isolando os aliados.
Tanto o PFL como o PSDB de Tasso avaliam que o governo ou sai com um candidato forte ou inevitavelmente perde para Lula (PT). E, para ter candidato forte, dizem, é necessária a reedição da aliança. Ou o PSDB acaba isolado.

Outra proposta para o almoço: o candidato da aliança deve ter compromissos com a "causa nordestina". Em reunião de governadores do Nordeste, o resultado é previsível. Mas, nas entrelinhas, a proposta embute uma antiga acusação feita a Serra no Congresso: a de que ele, paulista e contrário a subsídios, é "inimigo da região".
Amanhã, Tasso deve encontrar-se com o presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), que tem conversa agendada com Serra. O ministro também move-se nos bastidores, com discrição. Recentemente, teve uma longa conversa com José Sarney (PMDB-AP), que tem influência no partido e em alas do PFL.
O almoço é o segundo movimento dos adversários de Serra. O primeiro foi o encontro marcado para a próxima segunda por familiares de Mário Covas, morto em março, para reavivar a memória tucana: seu candidato era Tasso.


Tucano deve encabeçar chapa, diz Alckmin
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), defendeu ontem que um tucano encabece a chapa nas eleições presidenciais em 2002. "A hipótese de o PSDB não ter candidato à Presidência é uma hipótese que eu não enxergo", afirmou Alckmin, no Palácio dos Bandeirantes.
A declaração, feita na véspera do encontro do governador do Ceará, o tucano Tasso Jereissati, com os governadores Roseana Sarney (PFL-MA) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), foi entendida em setores do tucanato como um gesto de apoio à candidatura José Serra (Saúde).

Herdeiro político de Mário Covas, que, antes de morrer, em março, declarou apoio à candidatura Tasso, Alckmin tem manifestado entre amigos sua predileção pela candidatura do ministro da Saúde. Esse seria, segundo alguns tucanos, um dos motivos que levaram a família Covas a promover um encontro de Tasso com lideranças paulistas, a ser realizado na próxima segunda-feira.
Segundo Alckmin, o fato de o presidente Fernando Henrique Cardoso ser tucano é o principal argumento para se defender que o candidato da aliança seja do mesmo partido. O governador disse que, "em princípio", todos os partidos que integram a aliança poderiam participar da escolha do candidato à sucessão presidencial. Mas, ressalvou, a situação é diferente "na prática".

"Na prática, vamos ser bem objetivos, por que o PSDB deve ter um candidato à Presidência? Porque é um partido que tem o presidente da República. A sucessão que se faz é a sucessão do presidente Fernando Henrique. Portanto é natural que o PSDB queira ter um candidato", disse.
Na mesma linha de Alckmin, o ministro da Educação, Paulo Renato Souza -outro dos pré-candidatos do PSDB à Presidência-, afirmou ontem que seu partido não abre mão da cabeça de chapa para a governadora do Maranhão, Roseana Sarney (PFL), nem para outro candidato que não seja tucano.
"O PSDB não admite [um candidato não-tucano", porque nós estamos num processo de transformação do país que está sendo conduzido pelo PSDB. O PSDB é que tem a proposta de mudança do país", afirmou o ministro.

Alckmin afirmou que apóia uma consulta entre os partidos que integram a base governista para a escolha do candidato da aliança. "Não sei se prévias, mas um consulta mais ampla entre os partidos que compõem a aliança tanto é possível como desejável".
Para ele, isso só deve ficar para 2002 porque quem está no governo não deve ter pressa. "A oposição tem cronograma e tempo diferente porque ela não tem responsabilidade de governo".
Paulo Renato disse que os processos de consulta são legítimos. "Não temos hoje um candidato natural na base do governo".


Lula lança 3ª versão do "Fome Zero"
O pré-candidato a presidente da República pelo PT Luiz Inácio Lula da Silva lança hoje, em Brasília, a terceira versão do "Projeto Fome Zero", a principal peça de campanha petista para as eleições do ano que vem.
Do texto, foram cortadas as propostas de criação de um ministério extraordinário e de instituição de uma taxa de 5% sobre as contas pagas em restaurantes não populares.
A idéia central do projeto é a distribuição de cupons de alimentação para 44 milhões de brasileiros ao custo anual de R$ 19,961 bilhões.

Com 118 páginas, o livro que explica o "Fome Zero" será apresentado por Lula numa cerimônia no Senado, a partir das 9h30.
A íntegra do projeto contra a fome estará disponível na internet, no endereço do Instituto Cidadania, a ONG ligada ao partido (www.icidadania.org.br).

Custo
O custo total estimado do programa é de R$ 21,145 bilhões anuais, sendo que a maior parte (94,4%) será consumida na distribuição de cupons de alimentação.
O documento cita que os gastos sociais atuais do governo federal (descontadas as despesas com Previdência Social) "são da ordem de R$ 45 bilhões ao ano". E conclui: "É mais do que o dobro dos recursos necessários à implantação do programa de cupons de alimentação".
Haveria necessidade de corte de verbas de algum programa já existente para que pudesse ser abastecido, eventualmente, o "Fome Zero". Mas o documento petista não especifica quais seriam essas mudanças.
Sobre a eficácia do sistema de cupons de alimentação, o PT foi buscar um exemplo que considerou satisfatório nos Estados Unidos. O "Food Stamp Program" (programa do selo alimentar) ganha destaque no documento que Lula apresentará hoje.
"As avaliações do programa são positivas: para cada dólar recebido na forma de selo, as famílias aumentam seus gastos com alimentos de 17% a 47%", diz o documento petista.


PT ainda diverge sobre relação com socialismo
O PT voltou a expor ontem, em debate realizado na sede nacional do partido, divergências internas sobre sua relação com o socialismo e sobre o que entende por sociedade socialista.
Pelo lado da maioria moderada, o secretário de Cultura de São Paulo, Marco Aurélio Garcia, afirmou que a crise do socialismo pode ter atingido uma "inflexão". "O que se verifica hoje é que o capitalismo tem seus limites, existe u ma incerteza [no sistema"", disse.

Para os moderados do PT, socialismo não é sinônimo de coletivização da propriedade ou eliminação do capitalismo, como na definição tradicional marxista.
Trata-se de modificar alguns aspectos do capitalismo, proporcionando distribuição de renda e de conhecimento. O secretário defendeu as reformas dentro do "Estado de Direito", evitando qualquer ruptura institucional.

Um exemplo de como a maioria do partido encara o socialismo foi dado pelo economista Paul Singer, professor da USP e um dos organizadores do evento.
"Sociedade socialista não é anticapitalista ou antipropriedade privada dos meios de produção. É uma sociedade de convivência fraterna, em que as pessoas não estão competindo o tempo todo."
Valter Pomar, representante das alas mais radicais do PT, criticou Garcia, dizendo que a concepção dos moderados não passa "da boa e velha social-democracia". Ele afirmou que a uma "atitude envergonhada" em relação ao socialismo por parte da esquerda limitaria até o poder de fazer as reformas defendidas pela ala majoritária do partido.

"Existe no partido quem tenha abandonado a luta pelo socialismo. Há um amplo setor que defende liberdade, mercado e justiça social, mas sem questionar o capitalismo", atacou Pomar.
O ciclo de seminários sobre socialismo é organizado pelo PT, pelo Instituto Cidadania e pela Fundação Perseu Abramo (órgão de estudos políticos do partido).


Ciro acompanha Patrícia em leilão
"Nada de política." Assim Ciro Gomes e sua namorada, Patrícia Pillar, reagiram às perguntas da imprensa num leilão beneficente de moda ontem à noite, nos Jardins, área nobre de São Paulo. Estavam presentes cerca de cem pessoas.
A atriz, que estava trabalhando, chegou antes. O carro em que estava trazia um adesivo: "Ciro 2002". Logo que entrou, os convidados exclamaram: "Como é linda!". A atriz distribuía sorrisos e evitou qualquer menção à política.

Depois de meia hora, por volta das 21h30, Ciro chegou. Tímido, hesitou antes de se aproximar da namorada. "Essa foto vocês não vão ter", disse à imprensa.
Apesar do tumulto que causou, o pré-candidato do PPS à Presidência disse que só estava no local para buscar sua namorada. "Depois de um dia longo, nada mais normal do que eu pegar minha mulher no trabalho."
Ciro não quis falar nem de moda. "Sou suspeito para falar das fotos de Patrícia", disse, em frente a um painel com poses da atriz. Depois de se manterem por alguns segundos cada um em um canto do ambiente, Ciro caminhou na direção de Patrícia e os flashes dispararam. O pré-candidato do PPS continuava sem jeito.

Patrícia, 37, com o microfone na mão, assumiu a cena para anunciar o vencedor do leilão. "Acho que esse projeto é muito interessante e vai ajudar pessoas maravilhosas, como Maria das Dores", disse, referindo-se a uma das integrantes do Núcleo Voluntário de Moda, que receberá o dinheiro arrecadado com com a venda do vestido da atriz -um vestido longo de musselina preto, que rendeu R$ 4.500 para uma entidade beneficente ligada à moda.


A criação do pânico
Alheios às causas do ataque aos Estados Unidos e à represália dos Estados Unidos ao não comprovado atacante, os brasileiros estamos sendo empurrados para entrar na cena psicológica da irracionalidade. Embora não por má-fé, nem sejam todos, TVs, rádios, jornais e revistas estão fazendo o desserviço de forçar a instalação do medo desvairado também no Brasil.
A tão falada "função social da imprensa", que pretende envolver também TV e rádio, mais uma vez se cumpre às avessas. Sob o fácil argumento da informação e mesmo da advertência de interesse geral, em relação à remota hipótese de extensão do terrorismo ao Brasil, se está criando um alarmismo cujas consequências já oferecem amostras.

O motivo que sustou a decolagem de avião da TAM, domingo de manhã, no Santos Dumont, é de um grotesco absurdo: alguém telefonou ao balcão da empresa e perguntou se os vôos estavam no horário. Sabe-se lá quem daí deduziu uma ameaça terrorista e a necessidade de desembarcar os passageiros, vistoriar suas bagagens e o avião. Casos sérios exigem providências sérias, mas o que já prolifera nada tem de sério.
Encontrado um punhadinho de pó branco sob um assento de avião, é o caso, sim, de providências sérias. Mas por que reter o avião durante quase dois dias? Necessário era vistoriá-lo, o que não demandaria mais do que umas poucas horas. À falta de objetividade dos serviços supostamente de segurança (na certa a tal Abin, o SNI com apelido), que preferiram um certo escândalo de alcance até internacional, o noticiário de TV e rádio tratou o achado com a dimensão que só um atentado verdadeiro mereceria. Por todo o domingo, entrando pela segunda até a tarde, uma rádio "tocou a notícia" do presumido pó venenoso de meia em meia hora.

Viu-se que o Brasil não conta com serviço algum capaz de responder, em feriado ou domingo, se um pó suspeito é veneno ou farinha de trigo. Aterrorizante é um país em tal estado de primitivismo. A segunda-feira, porém, encontrou o pó e os especialistas a postos na Fiocruz. Mas a desqualificação moral e física do pó, reduzido da condição de terrorista à de inocência alienada, precisou esperar várias horas antes de interromper o noticiário escandaloso. Esperou até o fim da tarde pelo ministro José Serra, que se reservara a tarefa de abalar-se ao Rio para comunicar à mídia que o veneno não era veneno.

Não faltarão outras oportunidades aos pozinhos e aos ministros. O clima está em rápida evolução. Uma das manchetes de um jornal carioca de domingo, no seu caderno sobre a guerra, deixou um exemplo do alarmismo disfarçado de jornalismo: "Guerra ao terror - Nem o Brasil escapa da ameaça das armas químicas e biológicas". E maior ainda: "Agricultura brasileira é vulnerável ao antraz".
Não há notícia nenhuma nessas manchetes assustadoras. Nenhum fato, até agora, sugere que o Brasil não esteja isento do terrorismo a que a se refere o título. E, se a agricultura aqui "é vulnerável ao antraz", também o seria em toda parte, pois a terra, daqui e de alhures, é habitat do esporo de antraz.
A autoria da estúpida deposição do pó no avião, cujo esforço de identificação seria a providência imediata de serviços de segurança responsáveis, ficou relegada a nível secundário. A identificação é, no entanto, da maior importância, porque só punições rigorosas podem impedir que a cretinice crie o falso terror. Com a colaboração de certo jornalismo.


MST invade quatro fazendas no RS


Cerca de 1.900 famílias ligadas ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiram quatro fazendas ontem pela manhã no Rio Grande do Sul. A série de invasões integra a Marcha Rumo ao Latifúndio, organizada pelo MST gaúcho para protestar contra 838 latifúndios improdutivos contabilizados pelos sem-terra no Estado.

Foram atingidas as regiões do planalto médio, centro, fronteira oeste e campanha. Ao todo, as ações envolveram cerca de 15.500 hectares. Poderá haver mais invasões durante o dia de hoje.
Em Lagoa Vermelha, 200 famílias invadiram a granja Três Pinheiros, de 1.640 hectares. Em Arroio dos Ratos, 600 famílias entraram na fazenda da empresa Polar, de 5.249 hectares. Em Pontão, a invasão foi promovida por 500 famílias e ocorreu em uma área de 2.800 hectares.
Em Tupanciretã, 600 famílias invadiram fazenda de 5.880 hectares. A proprietária, Ambrosina Abreu, havia conseguido na Justiça liminar contra invasões. Até o início da noite, ela não havia tentado a reintegração de posse.

O superintendente regional do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Jânio Guedes Silveira, pediu aos sem-terra que desocupem as áreas, pois esse procedimento ""não contribui para o processo de reforma [agrária"". ""A invasão de terras no Rio Grande do Sul tem o sentido de pressionar e levantar reivindicações. Mas nós não trabalhamos sob pressão", disse Silveira.
Na semana passada, 250 sem-terra já haviam bloqueado a ponte que liga o Brasil (Uruguaiana) à Argentina (Paso de los Libres). Em frente à aduana argentina, os manifestantes pediram asilo ao país vizinho.

O grupo estava acampado em estrada de Uruguaiana, mas o Departamento Nacional de Estradas e Rodagem teve acatado pedido de reintegração de posse para retirá-los da estrada. Os sem-terra, então, dirigiram-se até a ponte. Na aduana argentina, foram retidos pela ""gendarmería" (polícia militarizada de fronteira argentina) e fizeram uma manifestação, pedindo asilo político.
""Nosso pedido de asilo foi sério. No Brasil, não podemos ficar nem na estrada, não temos lugar", disse o líder do MST Aílton Croda.


Nada a declarar, dizem familiares de Maluf
Os familiares do ex-prefeito Paulo Maluf que depuseram ontem no Ministério Público de São Paulo recusaram-se a responder as perguntas formuladas pelo promotor Sílvio Marques. Os filhos de Maluf Lina e Otávio e a nora Jacqueline, mulher de Flávio Maluf, limitaram-se a dizer que nada tinham a declarar depois de cada uma das perguntas que lhes foram dirigidas pelo promotor.
O direito de calar lhes é assegurado pela Constituição federal, que desobriga os cidadãos de produzir provas contra si. A estratégia deve ser seguida pela mulher de Maluf, Sylvia, e por sua filha Lígia, que prestarão depoimento amanhã. "Tudo o que se falar aqui pode ser usado contra meus clientes", disse Ricardo Tosto, um dos advogados da família.

A defesa de Maluf e de seu filho Flávio, cujos depoimentos estão marcados para o próximo dia 22, pode ser diferente. "Ainda estamos discutindo o que deve ser feito", afirmou Tosto. Presidente da Eucatex, Flávio é procurador dos pais, dos irmãos e da mulher.
O ex-prefeito de São Paulo e seus familiares são investigados por crime de enriquecimento ilícito, cometido durante a gestão Maluf (1993-1996). A família tornou-se suspeita quando as autoridades financeiras da Suíça confirmaram a abertura de contas no país, posteriormente transferidas para a ilha de Jersey. A promotoria apura a relação entre essas contas e o dinheiro supostamente desviado de grandes obras viárias realizadas na gestão Maluf.

Cada um dos depoimentos de ontem durou, em média, 50 minutos. A cada um dos filhos e nora de Maluf foram feitas cerca de 30 perguntas sobre sobre a existência das contas no exterior, de ligações telefônicas para bancos, casas de leilões e corretoras de valores européias e americanas, feitas a partir de telefones dos depoentes, e de relações com o empresário Roberto Amaral, ex-diretor da empreiteira Andrade Gutierrez.
Há duas semanas, Amaral citou Maluf num falso anúncio fúnebre em que convidava para missa de 50º dia da morte do executivo José Rubens Goulart, atual diretor-presidente da Andrade Gutierrez. O texto do anúncio é cifrado. A promotoria suspeita de chantagem. Maluf disse não saber por que foi citado.

Em outras ocasiões, a família Maluf negou a posse ou a condição de beneficiária de contas em paraísos fiscais. Antes dos depoimentos, a assessoria do ex-prefeito divulgou nota em que Maluf se disse "indignado com o constrangimento imposto" a sua mulher, filhos e nora pelo Ministério Público. No texto, o ex-prefeito compara a "perseguição" a sua família a "um ato terrorista".
Jacqueline Maluf foi a única dos depoentes a entrar e sair pela recepção do prédio, na região da avenida Paulista. Com autorização da administração do Ministério Público, Lina e Otávio estacionaram seus carros na garagem, com acesso vedado à imprensa.

Na semana passada, o STJ (Superior Tribunal de Justiça) determinou a competência da Justiça Federal para julgar o envolvimento de Maluf em suposto crime de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Com a decisão, cabe ao Ministério Público Federal investigar as contas da família do ex-prefeito no exterior.
O crime de improbidade administrativa, entretanto, permanece sendo investigado na esfera estadual por que teria sido cometido por um prefeito, que perde a direito a foro privilegiado ao deixar o cargo.


STJ confirma condenação no caso Paulipetro
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) confirmou pela quarta vez a condenação do ex-governador paulista Paulo Maluf (PPB) a ressarcir aos cofres do Estado o prejuízo causado pela Paulipetro.
Criada em 1979, por meio de um consórcio entre a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) e o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), a Paulipetro gastou cerca de US$ 200 milhões na prospecção de petróleo e gás natural na bacia do rio Paraná e não encontrou nenhum dos dois produtos.

Em 1980, o advogado Walter do Amaral, que hoje é juiz federal, propôs uma ação popular contra Maluf por causa dos prejuízos causados pela Paulipetro. Maluf ganhou na Justiça estadual mas, em dezembro de 1987, o STJ declarou nulos os contratos referentes à Paulipetro firmados pela gestão Maluf. O ex-prefeito, a Cesp, o IPT e a Petrobras foram condenados a ressarcir os prejuízos do Estado de São Paulo.

Desde então, Maluf entrou com quatro recursos e perdeu os quatro. Mas ainda pode recorrer ao STJ e ao STF (Supremo Tribunal Federal).
A assessoria de Maluf informou que serão tomadas todas as providências jurídicas cabíveis e que o ex-prefeito deverá recorrer da decisão.


15% dos municípios descumprem lei
Aproximadamente 15% dos municípios brasileiros estão impedidos de receber transferências voluntárias da União (recursos de convênios, acordos e ajustes para obras e serviços) e de contratar operações de crédito por descumprirem a LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal).
Segundo levantamento do Tesouro Nacional, há 862 prefeituras em situação irregular, concentradas principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Já no Sul e no Sudeste aparece o menor número de prefeituras.

Os municípios estão sendo punidos porque não enviaram suas contas de 2000 ao Tesouro.
A suspensão das transferências não pode atingir ações nas áreas de educação, saúde e assistência social. Os acordos com outros órgãos do governo federal (Transportes, Integração Nacional, Justiça, Desenvolvimento Urbano, entre outros), no entanto, são prejudicados.
O Tesouro não tem o valor dos repasses que deixaram de ser feitos. Além disso, os prefeitos ficam impedidos de tomar empréstimos para realizar investimentos, como obras de saneamento e infra-estrutura.

A LRF estabelece que todos os prefeitos são obrigados a encaminhar as contas até 30 de abril do ano seguinte.
Até julho, sanções não haviam sido aplicadas aos municípios porque o governo havia decidido dar mais tempo aos prefeitos recém-eleitos.
"Agora os municípios estão impedidos de receber as transferências. Sabemos que em muitos casos o problema ocorreu porque os antecessores sumiram com as contas", disse o secretário-adjunto do Tesouro Renato Villela.
Nesses casos, explica ele, os prefeitos atuais precisam entrar na Justiça contra a administração anterior e justificar ao Tesouro o não-encaminhamento das contas. Isso poderá sustar as punições. Para as prefeituras que já estão impedidas de receber os recursos voluntários, esclarece Villela, basta enviar as informações ao Ministério da Fazenda para sair da lista negra.
Villela estima que muitas prefeituras que ainda não mandaram as contas não tenham convênios com o governo federal.

Em todos os Estados do país, há casos de municípios que não enviaram as contas. Apenas 55 municípios estão desobrigados da tarefa neste ano porque foram criados em 2000. Para os Estados, a obrigação é anterior à Lei de Responsabilidade Fiscal.


Artigos

O rugido das urnas
CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - A eleição de domingo na Argentina é um tremendo alerta para todos os partidos políticos brasileiros. Demonstra que enganar o eleitorado às vezes custa muito caro (pena que nem sempre o custo seja de fato elevado).
Para recapitular: em 1999, a oposição ganhou a eleição presidencial argentina. Se o público votou majoritariamente na oposição, era porque queria mudança de políticas, como parece cristalinamente óbvio.
O que fez o presidente eleito, Fernando de la Rúa? Não só não mudou as políticas como, após um certo tempo, chamou para o Ministério da Economia quem era o símbolo das dificuldades econômicas da Argentina, um certo Domingo Cavallo.

O troco veio domingo, na eleição parlamentar. A coalizão governante foi triturada. Mas, atenção, o mais importante não é isso. Mais importante ainda é que todos os partidos foram derrotados, a ponto de o jornal "Ámbito Financiero" ter dito que "o ceticismo se transformou na segunda força nacional".
É verdade que o peronismo, principal força opositora, ficou em primeiro lugar, mas o fato mais saliente do pleito é um "questionamento inédito aos dirigentes políticos em geral, pelo recorde de votos brancos e nulos", como diz Rosendo Fraga, um dos mais lúcidos analistas argentinos, diretor do Centro de Estudos Nova Maioria.

Nem mesmo a esquerda mais ruidosa (o Polo Social, dirigido por um sacerdote, Luís Farinello) capturou o voto dos descontentes.
A Argentina, como o Brasil, fez direitinho a lição de casa ortodoxa, neoliberal ou como se queira chamá-la. O rugido das urnas de domingo mostra que uma mera troca de nomes não resolve os problemas de fundo. Fingir que tudo muda para que tudo continue igual não engana mais ninguém. É uma aula ainda em tempo de ser aproveitada pelos candidatos a 2002 no Brasil.


Colunistas

PAINEL

Tela fria
O programa de TV do PSDB, a ser exibido em novembro, não deverá apresentar nenhum pré-candidato a presidente, caso prevaleça a tese de José Serra. O ministro alega que a multiplicidade de nomes só confundiria o eleitor. "Quem tem muitos não tem nenhum", diz um tucano.

Motivo inconfesso
Serra defende o esvaziamento do programa porque não quer dar exposição a Tasso. Sabe que a imagem do governador é menos conhecida do que a sua nacionalmente. Com o programa, o cearense poderia crescer nas pesquisas e ganhar pontos na disputa interna do PSDB.

Tarde demais
A proposta de Jarbas Vasconcelos (PE) de abrir as prévias do PMDB (20 de janeiro) para o PSDB e o PFL está fadada a morrer na praia. A própria cúpula governista do partido diz que a idéia esbarra em um entrave jurídico, pois não foi prevista pela convenção da sigla.

Mau gosto
Heloísa Helena (PT) recebeu em seu gabinete em Brasília um bonequinho de vodu espetado com alfinetes. O pacote chegou pelo correio. O endereço do remetente, anônimo, é a Bahia de ACM. Por via das dúvidas, a senadora queimou o boneco.

Onde está?
Corregedor da Câmara, Barbosa Neto (PMDB) ainda não enviou ofício convidando Wagner Cinchetto para depor sobre as denúncias contra Luiz Antônio de Medeiros (PL). Motivo: ninguém sabe o endereço do denunciante. E ele nunca atende o seu telefone celular.

Palpite infeliz
O marqueteiro Nizan Guanaes foi o mentor da idéia de colocar FHC para divulgar na TV o nome das vítimas brasileiras nos atentados nos EUA. Tucanos eram contrários em razão do grande risco de ocorrer algum engano. Não deu outra. O presidente passou vexame.

Tipo exportação
Mangabeira Unger e o PPS começaram a preparar o programa de governo de Ciro. Na semana passada, no Rio, houve a primeira reunião. O guru do presidenciável deve mudar para o Brasil em janeiro, quando terminarão suas aulas em Harvard.

Otimismo socialista
Documento interno do PPS sobre a eleição prevê que a sigla elegerá entre 40 e 44 deputados na esteira de Ciro. Hoje a bancada federal tem apenas 13 (elegeu três em 98, quando o ex-ministro também foi candidato).

É Ford
O governo da Bahia espalhou painéis por Salvador saudando o início das atividades da fábrica da Ford no Estado. "Acarajé, capoeira e Ford. Coisas da Bahia", diz um deles. Outro é mais político-eleitoreiro: "ACM é Ford".

Dobradinha inusitada
ACM Júnior (PFL) apresentará um projeto em conjunto com Paulo Hartung (PSB) ampliando os direitos dos acionistas minoritários no mercado de ações.

Mão à palmatória
Após as primeiras denúncias de fraudes no Bolsa-Escola em Minas, no Ceará, em Alagoas e no Paraná, o Ministério da Educação está fechando parceria com a Pastoral da Criança para reforçar a fiscalização.

Dor de cabeça
Problema para Brizola: o PDT do Ceará está prestes a fechar um acordo com Wellington Landim, candidato ao governo do Estado pelo PSB. Trata-se do partido de Anthony Garotinho, desafeto do líder pedetista.

Telefone ocupado
A maior parte da verba de publicidade do Ministério das Comunicações (R$ 43 mi), pasta com o maior volume de recursos para propaganda no Orçamento de 2002, será usada pela Anatel, que disporá de R$ 40 mi.

TIROTEIO

Do Eduardo Paes, candidato do PFL ao governo do Rio, sobre a disputa entre Tasso e Serra para ver quem será o candidato a presidente pelo PSDB:
- Admiro muito os dois. Mas as pesquisas mostram que estão faltando votos a eles. Não podemos embarcar em uma candidatura suicida. Acho que o PSDB poderia indicar o vice para a chapa de Roseana.

CONTRAPONTO

Canoa furada
Há 15 dias, o governador do Rio, Anthony Garotinho (PSB), presidia um ato de novas filiações em Governador Valadares (MG) quando soube que um vereador da cidade, Divino Lucas (PMDB), estava em dúvida se ia para o PSB ou não. Divino, presente no ato, é evangélico.
Garotinho viu uma chance de convencê-lo. Contou uma longa história sobre um homem que preferiu morrer afogado numa inundação, esperando a ajuda de Deus, a ser salvo por uma equipe dos bombeiros, que por três vezes tentara resgatá-lo. Morto, o crente foi ter com Ele. Quis saber a razão de ter sido abandonado. Deus explicou que não o esquecera. Pelo contrário, enviara três vezes uma equipe de bombeiros para salvá-lo.
O governador então virou-se para o vereador e comparou:
- É isso, Divino. O PSB é o bombeiro que lhe dá a mão!
O vereador trocou de partido.


Editorial

A BACTÉRIA DO MEDO

É pouco provável que as cepas de antraz que vêm sendo utilizadas em ações terroristas nos EUA se revelem armas eficazes de destruição em massa. Mesmo assim, é inegável que elas exercem muito bem a função de disseminar o pânico, que vai ganhando maiores proporções à medida que aparecem novos casos. Ontem foi a vez de um congressista americano receber correspondência contaminada com a bactéria mortal.
O próprio presidente norte-americano, George W. Bush, veio a público para anunciar que o escritório do senador Tom Daschle, líder da maioria, havia recebido uma carta que, em dois testes preliminares, apresentou traços da bactéria Bacillus anthracis. Bush não foi incisivo, mas deixou bastante claro que Osama bin Laden, o líder de Al Qaeda, é suspeito.

Funcionários do escritório de Daschle já começaram a receber o tratamento com antibióticos. Até agora, pouco mais de dez pessoas foram contaminadas pela bactéria. Apenas uma morreu.
As dificuldades técnicas para promover uma campanha de bioterrorismo não são desprezíveis. Cepas de bacilos virulentas o suficiente para matar maciçamente seres humanos são difíceis de obter. Formas eficientes de dispersão dos esporos também constituem um problema.

O terrorismo, contudo, não necessita de tanta eficiência. A simples possibilidade de uma doença fatal poder ser espalhada pe lo correio já serve para desestabilizar a sociedade norte-americana, a meta dos terroristas. Moléstias letais que podem chegar por meios insuspeitos a qualquer lugar do país e mesmo do mundo têm um impacto psicológico bastante considerável. Em princípio, ninguém está a salvo.
É justamente aí que reside um dos aspectos mais perversos do terrorismo: não existem defesas 100% eficazes contra ele. Por mais que os EUA invistam em segurança sempre haverá a chance de um ataque ser bem-sucedido. Essa é a essência do chamado conflito assimétrico. Basta que os terroristas tenham sucesso numa única ação.


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10/16/2001


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