TIÃO VIANA CRITICA PRESSÃO CONTRA USO DE MEDICAMENTOS GENÉRICOS



A correspondência em que a Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Abifarma) responsabiliza os médicos por eventuais problemas decorrentes da troca de um medicamento de marca pelo seu genérico foi considerada "flagrante agressão" ao exercício profissional pelo senador Tião Viana (PT-AC). Ele cobrou nesta sexta-feira (dia 10) providências do governo e dos conselhos de medicina para fazer cumprir a Lei nº 9.787, de 1999, que autoriza a substituição de remédios. Os genéricos, vendidos a preços mais baixos, devem estar no mercado dentro de cinco meses.
Tião Viana observou que matéria publicada pelo Jornal do Brasil na quinta-feira (dia 9) destaca a reação do presidente da Comissão de Saúde da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, deputado e médico Paulo Pinheiro (PT), que deverá pedir à CPI dos Medicamentos que ouça os autores das cartas: além da Abifarma, o laboratório Novartis. O deputado pôs à disposição do público o telefone 0800-23-9191, que se destina a esclarecer dúvidas sobre a lei e informar o nome de genéricos que já estão no mercado.
O senador ressaltou ainda o editorial Mercado e remédio caro, publicado pela Folha de S. Paulo na última quarta-feira (dia 8) relembrando constatação do próprio jornal de que chega a até 600% a diferença de preços entre os 80 fármacos mais vendidos no país e produtos similares de vários laboratórios. O jornal informa que os remédios listados atendem a mais de 80% da demanda do mercado.
Lembrando sua condição de médico, Tião Viana lamentou que a indústria farmacêutica - que, segundo o senador, obteve no Brasil lucro de mais de R$ 12 bilhões em um ano e é dominada pelas multinacionais - esteja pressionando os médicos a não oferecer a opção dos medicamentos genéricos, quando grande parte da população enfrenta dificuldades financeiras para adquirir remédios.
O Código de Ética dos Médicos determina, conforme Tião Viana, que os profissionais devem trabalhar com ampla autonomia - não podendo, em qualquer circunstância, renunciar à liberdade profissional - e que a Medicina não pode ser exercida como comércio.
O senador também comentou as informações sobre indícios de fraude fiscal em remessas no valor de R$ 18 bilhões, mediante contas CC-5, prestadas pelo secretário da Receita Federal, Everardo Maciel, em depoimento à CPI do Sistema Financeiro no Senado, na última quarta-feira (dia 8). Segundo Tião Viana, esses recursos deveriam ser utilizados para melhorar as condições de vida da população.
Em aparte, o senador Nabor Júnior (PMDB-AC) afirmou que ele próprio já utilizou várias vezes os medicamentos genéricos, que têm preços muito mais baixos, e expressou a esperança de que a lei seja cumprida e os médicos passem a prescrever esses remédios. Nabor criticou as pressões dos laboratórios multinacionais.

10/09/1999

Agência Senado


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