TSE não evita ataques









TSE não evita ataques
Apesar da proibição, Ciro continua sendo o alvo em programas eleitorais de Serra

BRASÍLIA - A campanha do tucano José Serra evitou novos ataques a Ciro Gomes, candidato da Frente Trabalhista, nos programas de ontem, segundo dia do horário eleitoral. Mas manteve os ataques de terça-feira nas inserções de 30 segundos, distribuídas ao longo da programação normal das televisões, na parte da tarde. Assim, aparentemente a decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que proibiu o PSDB de exibir no programa de Serra as imagens e a voz de Ciro, não surtiu ainda efeito.

No rádio e nos comerciais, o PSDB não poupou Ciro. Os tucanos transmitiram a polêmica entrevista do adversário à Rádio Metrópole, de Salvador, em que ele classifica um ouvinte de ''burro''.

Tony Show da Paraíba, o locutor do programa tucano, colocou ainda mais lenha na fogueira, em tom de provocação: ''É inacreditável que alguém que pretende governar o Brasil fale desta forma com um ouvinte. Quem pretende ser presidente do Brasil tem que ter equilíbrio''. Para não terminar o programa em ''clima ruim'', Tony anunciou o jingle de Serra, interpretado pela dupla Chitãozinho e Xoxoró, Elba Ramalho e o trio KLB, sobre o ''Projeto Segunda-Feira'', que prevê a criação de empregos.

A desobediência não vai render ao PSDB problemas com a Justiça Eleitoral. Por enquanto. O TSE entendeu que a notificação da decisão não chegou a tempo de mudar os comerciais já programados. O curioso é que nesses comerciais de 30 segundos, os tucanos não fizeram alusão de que se tratava de propaganda de Serra. Não havia o nome do tucano, a legenda ou o número do PSDB.

Mas se o telespectador esperava ouvir uma resposta de Ciro às agressões, saiu decepcionado. Em seu programa de TV exibido à tarde, tratou do problema da habitação. À noite, falou sobre educação.

Quem aproveitou foi Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que, indiretamente, bateu em Serra ao criticar os ''preços altos'' dos remédios e a situação da saúde no país. À noite, o programa mostrou Lula contando como perdeu a primeira mulher, Lurdes, e o filho, em 1971. Ambos morreram no hospital, em São Bernardo, na mesa de cirurgia. Lula chora ao relembrar como tudo ocorreu.

O candidato Anthony Garotinho (PSB) prometeu salário-mínimo de R$ 280 já no próximo ano, caso seja eleito. ''Quando Getúlio (Vargas) criou o salário-mínimo, as pessoas diziam que o país quebraria'', comenta o locutor. ''Vejam como a história se repete'', disse Garotinho. ''Eu já fiz, eu vou fazer, pode confiar''.

José Maria, do PSTU, mostrou novas críticas ao acordo do governo com o FMI e críticas ao PT. ''É lamentável que Lula tenha se comprometido com isso'', criticou. O candidato Rui Pimenta (PCO) repetiu o programa de terça-feira.


Ciro bate boca com cinegrafista do PT
BRASÍLIA e SÃO PAULO - Mesmo com todo o esforço que tem feito para não passar a imagem de destemperado, o candidato da Frente Trabalhista, Ciro Gomes, foi mais uma vez traído pelos nervos ontem. Ciro estava fazendo campanha em Fortaleza - acompanhado da ex-mulher Patrícia Gomes e do tucano Tasso Jereissati, candidatos ao Senado - e reagiu de forma agressiva ao saber que havia por perto um cinegrafista não-identificado, com quem acabou batendo boca. O coordenador da campanha de Lula no Ceará, o deputado José Guimarães, que confirmou que o cinegrafista estava a serviço do PT, denunciou o uso eleitoral da máquina administrativa do governo do Ceará para favorecer a candidatura de Ciro.

''Está havendo uso da máquina pública aqui no Ceará e isso é crime eleitoral'', disse Guimarães. ''Recebemos a denúncia de que Tasso e Ciro estavam fazendo campanha da Escola de Saúde Pública e mandamos o nosso câmera. Quando acabou o evento, Ciro perguntou de quem era a filmadora. O cinegrafista disse que era sua e um assessor de Ciro tentou tomar a câmera, havendo um início de tumulto''.

Na disputa com o tucano José Serra, Ciro resolveu usar uma arma do rival: o bordão ''Não é brinquedo, não'', de dona Jura, personagem de novela O Clone interpretada pela atriz Solange Couto. A atriz foi contratada por Serra e aparece nos programas eleitorais elogiando o candidato tucano e dizendo o bordão que a popularizou.
O site de Ciro na internet cita reportagem publicada no exterior sobre a epidemia de dengue no Brasil, que teria sido agravada pela demissão de 5.700 mata-mosquitos, por iniciativa do Ministério da Saúde. E usa o bordão popularizado por dona Jura contra o tucano.


Comparação inesperada
Lula fala de bancos e lembra namoro com Marisa

BRASÍLIA e SÃO PAULO - O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, falou ontem de sua relação com os banqueiros, num discurso para seis mil pessoas presentes ao comício que fez no bairro da Gameleira, em Rio Branco, Acre. Lula lembrou que tinha sido vaiado na campanha de 1994, quando fez uma palestra na Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Na terça-feira, Lula se reuniu com 70 banqueiros na mesma Febraban e, segundo os anfitriões, deixou ''ótima impressão''.

O petista comparou seu relacionamento com o mercado financeiro ao início de seu namoro com a mulher, Marisa. Lula disse que tentou namorá-la, mas ouviu um ''não''. Por causa da insistência, diz ele, está casado com Marisa há 28 anos. ''Da mesma forma, os banqueiros tinham medo da agressividade do PT, mas o tempo passou.''

O candidato fez também uma caminhada na capital do Acre com o governador Jorge Vianna e os senadores Marina Silva e Tião Vianna, todos do PT. No caminho, recebeu apoio do candidato a senador Geraldo Mesquita Júnior (PSB).

Hoje, os empresários amazonenses devem ouvir de Lula uma promessa sedutora: caso seja eleito, ele vai tornar a Zona Franca de Manaus permanente e criar novos pólos de desenvolvimento no interior da Amazônia. Segundo o coordenador da campanha na Amazônia, Luiz Alberto Mongeló, Lula vai apresentar uma proposta de desenvolvimento regional que torna definitivo o modelo da Zona Franca, previsto para acabar em 2003.

''Esse modelo, que será estruturado pelo Conselho Nacional de Políticas Regionais previsto no programa, vai requerer modernização e reestruturação da indústria eletroeletrônica local'', diz Mongeló, prevendo o retorno das extintas Sudam e Sudene, caso Lula seja eleito.

Além do encontro de hoje com cerca de 100 empresários, em Manaus, Lula vai estar com líderes indígenas.


Garotinho e as obras
SÃO PAULO - O candidato do PSB à Presidência, Anthony Garotinho, afirmou ontem que vai aproveitar o horário eleitoral gratuito no rádio e na TV para mostrar ao eleitorado brasileiro suas propostas e algumas das suas principais realizações como governador do Rio. Garotinho participou de caminhada em São José do Rio Preto e visitou uma fábrica de cítricos em Bebedouro.

Para Garotinho, o início do horário eleitoral será decisivo para o povo fazer sua escolha definitiva. ''Agora é a hora de o eleitor comparar. Ele tem de votar em alguém que esteja preparado para enfrentar o grande desafio que o próximo presidente terá pela frente'', afirmou o candidato. Por isso, disse ele, vai aproveitar o horário eleitoral para ''aumentar a visibilidade'' de suas obras no governo. ''Vou mostrar o que fizemos no Rio de Janeiro na educação, na segurança, na agricultura, na indústria naval'', destacou.

Garotinho voltou a criticar a taxa de juros no Brasil, que, segundo ele, é ''uma das maiores do mundo''. O candidato disse que a manutenção dos juros em patamares elevados traz sérios prejuízos aos agricultores. ''Os juros altos fazem com que o agricultor pare de investir e tenha que devolver os seus tratores'', afirmou.

O ex-governador do Rio rechaço u a acusação feita pelo PT de que teria distribuído discriminadamente, nos três últimos meses de seu governo, recursos do Plano de Apoio de Desenvolvimento dos Municípios (Padem) às prefeituras afinadas com o PSB.

''O PT diz que das 42 prefeituras beneficiadas, 28 eram do PSB. Na verdade, o Estado tem 92 prefeituras, sendo que mais de 50 delas são do PSB. Portanto, atendi bem menos do que 50%'', disse Anthony Garotinho. Segundo ele, os recursos foram repassados aos municípios que apresentaram os ''melhores projetos''.


Tucanos reagem contra Tasso
Coordenador pede Conselho de Ética do PSDB

BRASÍLIA - A possível punição do ex-governador do Ceará Tasso Jereissati se transformou em um problema para o PSDB. Ontem, Luís Paulo Vellozo Lucas, coordenador da campanha de José Serra, propôs a convocação do Conselho de Ética do partido. Ele estranhou o fato de Tasso ter divulgado, anteontem, carta anunciando que não participaria da campanha presidencial, e depois aparecer ao lado de Ciro Gomes, candidato do PPS, em Fortaleza. ''Foi uma atitude frustrante e absurda'', disse Vellozo Lucas.

O presidente da Comissão de Ética, ministro do Desenvolvimento Agrário, José Abrão, admite consultar a direção do partido. Abrão acha, porém, que não é hora de convocação. Pelo artigo 165 do estatuto do PSDB, qualquer filiado pode fazer a representação. Mas a Executiva Nacional terá de examinar a admissibilidade da proposta. E cabe ainda à Executiva aplicar ou não a punição que vier a ser recomendada.

Dos sete titulares do conselho, três manifestaram-se contra: o presidente, José Abrão, o deputado Luís Carlos Hauly (PR), e Vicente Caropreso, presidente do PSDB-SC. Caropreso enfrentou pressões dos tucanos catarinenses para apoiar Esperidião Amin, do PPB. Considerou ''imprudente'' tomar atitude sem nova tentativa de conversa com Tasso.

O presidente do PSDB, José Anibal (SP), e o coordenador da campanha de Serra, deputado Pimenta da Veiga (MG) - ex-aliados de Tasso - se dizem contra a convocação para não atrapalhar a campanha. Para Aníbal, o assunto está esgotado. O secretário-geral do PSDB, deputado Márcio Fortes (RJ), considerou um ''absurdo'' falar em Conselho de Ética agora. ''Isso não dá voto e pode paralisar a campanha'', avaliou.

Para ele, a posição de Tasso não pode ser avaliada na ''vala comum do resto dos mortais''. ''O apoio dele a Ciro é uma questão regional e ponto final''. Fortes garante que conversou com Serra. '' Ele não quer a convocação'', afirma.

O líder do PSDB na Câmara dos Deputados, Jutahy Magalhães (BA), nega a possibilidade de convocação do Conselho. ''Essa proposta é uma posição pessoal de Vellozo Lucas'', diz.

Jutahy admite existir uma ''indignação generalizada'' no partido com o comportamento de Tasso. ''Ele ficou muito mal, mas o melhor é tocar a campanha em frente'', completou.


PFL abre caça aos dissidentes
Previsão é apoio total do partido a Ciro Gomes no segundo turno

BRASÍLIA - O movimento feito por Tasso Jereissati rumo à candidatura de Ciro Gomes continuou gerando reflexos ontem. O PFL, que já estava alinhado, empenha-se agora em seduzir eventuais descontentes, dentro e fora da campanha do PSDB. O senador Geraldo Althoff (PFL-SC), responsável pela relação do partido com Ciro, passou os últimos dias entre Piauí e Maranhão para tirar apoios de Serra.

No Piauí, o governador Hugo Napoleão (PFL) sustenta o palanque do tucano mas pode mudar caso Serra não reaja. Se optar em manter a aliança, o governador pode ter problemas em casa. Leda Napoleão, sua mulher, já avisou que apoiará Ciro ainda no primeiro turno, independentemente da posição do marido.

No Maranhão, a situação é mais fácil. A ex-governadora Roseana Sarney já estaria com o trabalhista, mas o ex-ministro do Meio Ambiente Sarney Filho apóia Serra. E o ex-presidente José Sarney fechou com Lula. Mas tanto o candidato Jackson Lago, da Frente, quanto José Reinaldo, do PFL, apóiam o presidenciável do PPS. E os tucanos maranhenses ainda estão ressentidos com o PSDB nacional. Althoff diz que o segredo para seduzir os colegas do PFL é a tranqüilidade. ''Defendo a unidade do partido e mostro que Ciro é a melhor opção'', diz.

O rompimento de Tasso também deve facilitar o trânsito de Ciro no empresariado. O deputado Emerson Kapaz (PPS-SP), um dos responsáveis pelo diálogo de Ciro com o setor, está confiante. ''Quando os investidores e industriais perceberem que Tasso ocupará um lugar central no governo de Ciro, a campanha ganhará novos aliados.''

Ontem, em Fortaleza, Ciro disse que, eleito presidente, apontará ''quem é ladrão, quem roubou. Não tenho rabo de palha, nessa munheca aqui ninguém pega''.

Numa referência a Serra, que foi ministro da Saúde, fez uma advertência: ''Isso é um aviso para o ministro da dengue, para aquele que está mandando grampear telefone, espionando a vida alheia''. O deputado Jutahy Magalhães, um dos coordenadores da campanha de Serra, respondeu chamando Ciro de ''desequilibrado'' e ''arrogante''. Disse que Ciro conseguiu agredir ''o Judiciário, a imprensa, Serra, as instituições e o bom-senso''.


FH cria parque gigante
Área da reserva do Tumucumaque equivale à Suíça

BRASÍLIA - Após pouco mais de um ano de negociações entre ministério do Meio Ambiente, Conselho Nacional de Defesa, governo do Amapá e comunidades locais, foi criado o maior parque florestal do mundo. Ontem, em solenidade no Palácio do Planalto, o presidente Fernando Henrique Cardoso assinou decreto que regulariza o Parque Nacional do Tumucumaque. Com 3,8 milhões de hectares de terras, um dos maiores do mundo, o novo parque garantirá a preservação de uma área que representa 1% da Floresta Amazônica. Seu tamanho equivale ao do território da Suíça.

Durante seu discurso, Fernando Henrique comemorou os avanços do país na área ambiental e lembrou que os principais responsáveis pela poluição global são os países mais ricos. O presidente se prepara para participar do encontro da Cúpula Mundial para o Desenvolvimento Sustentável no final de agosto Johanesburgo, África do Sul, ''Vamos aproveitar para passar o pires e pedir que nos ajudem em manter algo que não é fundamental apenas para os brasileiros, mas para humanidade. Que os ricos nos ajudem a pagar uma parte do ônus''.

Situado em região de fronteira com a Guiana Francesa, o Parque do Tucumaque é o 49° a ser criado no país. Isso já garante que 7,5% da Amazônia estejam dentro de áreas de proteção ambiental. A meta, segundo o ministro do Meio Ambiente José Carlos Carvalho, é de que até o final do ano 10% da floresta esteja sob proteção.

Por ser uma área fronteiriça, a fiscalização do parque terá o auxílio das Forças Armadas. O Banco Mundial, o Fundo Mundial para o Meio Ambiente e a ONG WWF-Brasil, que sozinha disponibilizará US$ 1 milhão, patrocinarão a implementação de toda infra-estrutura do parque.


O passado esquecido
Estrela do governo Brizola, Cesar Maia agora critica associação ao pedetista

O falecido presidente eleito Tancredo Neves disse, em 1986, que ''política é feito nuvem: muda conforme o vento''. Certamente não imaginava, porém, a velocidade do tornado que varreria o horário eleitoral gratuito no rádio e TV, em 2002.

Em seu programa de estréia, anteontem, a candidata da Frente Todos Pelo Rio, Solange Amaral, e o prefeito do Rio, Cesar Maia, dedicou generosa parte dos seus oito minutos e 27 segundos a dizer para os eleitores que os candidatos da Frente Trabalhista, Jorge Roberto Silveira; do PSB, Rosinha Garotinho, e do PT, Benedita da Silva, ''são a mesma coisa''. Todos participaram de governos dos quais o engenheiro Leonel Brizola, candidato a senador pelo PDT, pertenceu ou apoiou. Omitiram, porém, um passado r ecente, no qual ambos dedicaram rasgados elogios ao líder pedetista. O fato gerou revolta e desprezo em ex-aliados.

''Se eu passar pelo Cesar, cuspo nele'', jurou o presidente do PDT, Carlos Lupi, que também concorre a uma vaga no Senado. O pedetista lembra que, de 1983 a 86, no primeiro governo Brizola no Estado do Rio, Maia ocupou a secretaria estadual de Fazenda. ''Na época, ele era um ninguém. Com o apoio de Brizola, ocupou a secretaria de Relações Exteriores do PDT, foi eleito deputado federal e trabalhou no governo como um dos secretários mais prestigiados'', lembra.

A relação de amor e ódio entre ambos, no entanto, resiste ao tempo. ''Só mesmo a ambição de poder e o caráter torpe de certos indivíduos pode ajudar-nos a entender o espetáculo deprimente apresentado ao povo do Rio de Janeiro no horário eleitoral do transtornado César Maia'', afirmou Brizola, em artigo publicado no Jornal do Brasil, em 1998.

Mas em entrevista a uma revista semanal, no entanto, em janeiro deste ano, Cesar elogia o mesmo Brizola a quem ataca oito meses depois: ''Há muito homens coerentes e sérios neste nosso mundo. Porém, mais que Brizola, eu não conheço''.


Ministério Público denuncia quadrilha
Promotores de Santo André acusam pessoas ligadas ao PT

SÃO PAULO - O Ministério Público Estadual denunciou ontem Klinger Luiz de Oliveira Souza, vereador petista de Santo André, por fraude em 25 concorrências públicas, formação de quadrilha, falsidade ideológica e peculato (desvio de dinheiro). Além de Klinger, ex-secretário de Serviços Municipais, foram acusadas formalmente à Justiça 12 pessoas, ligadas de alguma forma à prefeitura de Santo André.

A lista inclui Sérgio Gomes da Silva, que estava com o prefeito Celso Daniel, quando este foi seqüestrado, em janeiro. Apesar de não ocupar cargo público, Sérgio é descrito como ''eminência parda da quadrilha''. Segundo a ação, Klinger, Sérgio e o empresário Ronan Maria Pinto são ''mentores intelectuais dos crimes''.

A principal acusação é de fraude em 25 licitações para favorecer a empresa de construção civil Projeção, que, segundo a Promotoria, pertence a Ronan. Ele fundou a empresa, que está em nome de seu ex-funcionário Humberto Tarcísio de Castro, também denunciado. Os 25 contratos, firmados com a Projeção desde novembro de 1997, custaram ao município R$ 17.110.239,31. Em três deles, a empresa não apresentou o menor valor. Mas, segundo a Promotoria, Rosana de Senna, presidente da Comissão de Licitações, agiu para desclassificar a vencedora.

Um procedimento apontado como ''típico'' da quadrilha foi o uso de aditamentos - inclusão de serviços e preços não acertados no início da contratação, o que é vedado pela Lei 8.666, que dispõe sobre licitações.

Os aditamentos que, segundo os promotores, foram feitos sem justificativa, representaram cerca de 32% do que a Projeção recebeu da prefeitura. Foi pedida a quebra do sigilo bancário da empresa.

Por fraude em licitações foram denunciados ainda os servidores Enio Nunes, Solange Boligian, Cleide Madeira, Marcelo Nunes, Gilberto de Lima, Nicolau Cilurzo Júnior e Marcos Bicalho. Eles são acusados de, no trâmite burocrático, terem emitido pareceres favoráveis sem base legal, facilitando as fraudes.

Por formação de quadrilha, foram denunciados Klinger, Sérgio Gomes, Ronan, Humberto e Rosana. Os quatro primeiros já tinham sido denunciados, em junho, por extorsão de empresários do setor de transporte público da cidade. Este caso já está na Justiça.

Por peculato, os alvos foram Klinger, Ronan e Humberto. Por falsidade ideológica, além de Klinger e Humberto, foram denunciados Enio Nunes e Antonio de Castro.


Maluf diz que ''não rouba e faz''
SÃO PAULO - O candidato do PPB ao governo de São Paulo, Paulo Maluf (PPB), rechaçou o estigma de ''rouba mas faz'' durante sabatina promovida pela Folha de S.Paulo, ontem. ''Pode neste mundo haver políticos decentes e honestos, eu conheço muitos, mas não tem político mais honesto do que Paulo Maluf. Eu faço e não roubo'', disse ele.

Maluf atribuiu a divulgação da frase ''rouba mas faz'' a seus adversários políticos. ''Tem gente que não tem propostas, e prefere ficar atacando os outros'', disse o pepebista. Maluf também defendeu a prisão perpétua para crimes hediondos e a redução da maioridade penal de 18 para 14 anos, mas disse ser contra a adoção da pena de morte no país. Ele declarou que defende a prisão perpétua para diminuir a sensação de impunidade no país. ''Sou contra a pena de morte porque tem muito erro na Justiça, mas sou a favor da prisão perpétua para crimes hediondos'', afirmou.

Segundo Maluf, há um projeto que defende a redução da maioridade penal em tramitação no Congresso Nacional, de autoria de Cunha Bueno (PPB-SP), candidato ao Senado. O pepebista disse que se for eleito governador vai lutar para que a Câmara e o Senado aprovem a proposta. Ele justificou sua posição alegando que muitos menores de idade são usados por criminosos para cometer crimes, porque têm a certeza da impunidade.

Maluf atacou o atual governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB), chamando-o de ''frágil'' e ''frouxo''. Segundo ele, seu governo será duro nos primeiros seis meses, o que significaria, em sua opinião, ''não ser mole como o governador que está aí''. Usou a estratégia de não vincular sua imagem à de nenhum presidenciável. ''Aqui estão todos comigo. Quem vota em Lula, vota em Maluf; quem vota em Ciro, vota em Maluf; quem vota em Garotinho, vota em Maluf;quem vota em Serra,vota em Maluf'', afirmou.


Artigos

Nada além da página 8
Nilo Dante

Em artigo recente, um colega que admiro pelo equilíbrio das idéias e o estilo dos textos, o jornalista... - bem, é melhor não citar o nome para evitar injustiça - avaliou a safra atual de candidatos à Presidência da República ''das melhores dos últimos tempos''.

Desde então, tento rever minha impressão, não tão otimista, do quarteto Serra-Ciro-Garotinho-Lula (a ordem obedece ao aparente nível de escolaridade e experiência administratriva; o critério de despreparo intelectual provavelmente a inverteria). Em vão.

Tome-se o exemplo do líder das pesquisas, o simpático Lula, que vem de trocar a honrada legenda de metalúrgico pela fatiota neoliberal que lhe vestiram os publicitários de São Paulo, com o objetivo de viabilizar a vitória do insistente perdedor.

Escrevi, há dias, sobre o discreto aparato intelectual do ''petista'' (a mídia, que o adora, gosta de chamá-lo assim). Resultado: severas críticas de um lado; entusiasmado apoio, de outro. Desde logo, minhas homenagem às duas facções de leitores.

Um deles pergunta, generosamente, se ''é preciso diploma universitário para ser presidente da República''. Suponho que não. Mas, justiça se faça a Lula: ele não cabe no figurino de Getúlio Vargas, Juscelino Kubistchek, Jânio Quadros, Fernando Collor e Fernando Henrique (os cinco eleitos pelo voto direto e popular nos últimos 50 anos). Lula não é só isso. Trata-se de um revolucionário audaz. Ou, pelo menos, se fez passar por isto nos últimos 30 anos.

E aqui se chega à imprescindível distinção entre o homem do PT e os revolucionários audazes com que o século XX lidou.

Vladímir Ilitch, o Lênin, era um intelecto poderoso, refletido em livros, e, se nada houvesse relizado - realizou! -, bastaria a admiração que mereceu de um dos 10 mais poderosos intelectos do mesmo século, Nikos Kazantzakis.

Mao Tse Tung, sabe-se, ia às lágrimas ante o Concerto para Violino, de Tchaikovsky, a mais arrebatadora e dilacerante obra romântica que jamais se escreveu para cordas. O grande Mao, a par do legado revolucionário ciclópico, sabia o que ouvir...

Fidel Castro Ru z, descendente de família abastada, teve formação universitária (é advogado) e proveitosa experiência de vida nos Estados Unidos antes de escrever sua epopéia na Sierra Maestra. ''El Comandante'' era, é, homem de múltiplos interesses em artes.

Formação universitária também possuía o médico Ernesto Guevara Lynch, ''El Che'', cultor dos impressionistas e de Mozart. Um refinado e sensível gentilhomem, não obstante a gélida, mortífera vocação dos grandes revolucionários.

Mas, eis que me alongo em outras distâncias, quando desejava falar do bom e velho Lula, lembrando outro audaz revolucionário (este, sim!), Luiz Carlos Prestes, por legenda ''O Cavaleiro da Esperança''. Prestes (primeiro aluno de toda a carreira militar) disse certa vez de Lula: ''É um bom rapaz. Pena que nunca passou da página 8 de nenhum livro.''

Eis aí. Para meu máximo espanto, ampliam-se, a cada dia, as chances do ex-metalúrgico levar essa eleição. Ainda assim, não me parece ser o homem para o momento do país. Nem ele nem qualquer de seus concorrentes.


Colunistas

COISAS DA POLÍTICA – Dora Kramer

Trair ao votar, melhor se calar
''Farto de certas malandragens antipartidárias, o governador do Ceará avisa, a quem interessar possa, que seguirá, em qualquer hipótese, o jogo que a maioria de seu partido resolver jogar.''

O texto acima é o trecho inicial de um relato, publicado em novembro do ano passado, sobre uma conversa com Tasso Jereissati, cujo conteúdo mostra como nessa vida nem tudo o que se diz é o que se faz.

Na ocasião, Tasso ainda nutria esperança de ser o candidato do PSDB à Presidência, mas, caso a legenda fosse entregue a José Serra, assegurava: ''Ele terá todo o meu apoio.'' Tasso desembarcava naquele momento em Brasília para encontro com os governadores de Pernambuco e do Maranhão, Jarbas Vasconcelos e Roseana Sarney, manifestando contrariedade com as suspeitas que se levantavam à época a respeito de sua posição na campanha eleitoral que começaria dali a alguns meses.

Não admitia dubiedades, fazia ar de ''me respeitem'' quando aventava-se a hipótese de ele abandonar a candidatura de seu partido e apoiar Ciro Gomes. Por isso, a referência às tais ''malandragens partidárias'' em tom de rejeição.

Pois bem, como por seu próprio critério acaba de cometer uma delas, lícito supor que o ex-governador do Ceará esteja preparando sua transferência de partido e que não se sinta minimamente ofendido se ganhar corpo a proposta de aplicar-lhe uma punição.

Luiz Paulo Velloso Lucas defende a tese de que o caso deve ser examinado pela comissão de ética do partido. Com certeza absoluta externa a posição de José Serra, que decidiu não alimentar publicamente o assunto, mas reservadamente considera que Tasso fica numa posição extremamente difícil no PSDB.

Cita como evidência disso o fato de a cúpula partidária ter reagido com hostilidade a Tasso. A título de parêntese, porém, registre-se: o candidato se esquece de que qualquer dificuldade nesse sentido será bastante atenuada caso o próximo presidente da República seja o escolhido por Tasso Jereissati. A vitória, como se sabe, é eficiente elixir para todas as feridas.

Talvez por isso mesmo é que não haja unanimidade entre o alto tucanato quanto ao que fazer: absorver o golpe ou reagir a ele?

Os partidários da primeira opção acham que, se o PSDB administrou até agora a questão Tasso/Ciro, melhor não fazer nada até depois das eleições. As energias agora têm, por esta análise, de estar voltadas para conquistar votos para José Serra.

É a tese do secretário-geral do partido, deputado Márcio Fortes: ''O mal já está feito. Pelo menos Deus fez o bem e o Paraguai ganhou'', ironiza, referindo-se ao palanque armado em Fortaleza, para tentar capitalizar a vitória da Seleção na Copa do Mundo.

E entre os que consideram não apenas prudente, mas urgente a tomada de alguma providência, há tucanos com assento no Palácio do Planalto. Apontam que a leniência frente a uma postura que Tasso vem adotando de há muito levou a campanha de Serra a sofrer os malefícios da ausência de um eixo de comando político.
É nesse ponto que se recorda que, quando Sérgio Motta comandava o comitê eleitoral de Fernando Henrique, certas - para usar a expressão de Tasso - ''malandragens partidárias'' não eram toleradas.

E aí surge a lembrança também do ranking do candidato à reeleição, em 1998, no Ceará. O presidente ficou em quarto lugar, atrás dos votos nulos e em branco.

''Se Tasso não mexeu uma palha por Fernando Henrique naquela época, não seria para Serra que faria alguma coisa agora'', aponta um fundador do partido, eterno crítico das dubiedades de posições no PSDB.

Pelo raciocínio dele, se o gesto de Tasso Jereissati não gerar nenhuma conseqüência, o comando partidário perderá o direito e a autoridade para reclamar, caso outros correligionários resolvam anunciar que pretendem trair ao votar.

E aí o PMDB poderá se perguntar: se os tucanos que são finos não se entendem, o que fazem eles mesmo nesse ninho de mafagafos que só se engalfinham?

Sem culpa
O candidato José Serra cansou de ser pressionado, principalmente pelos aliados pemedebistas, para romper com Tasso oficialmente antes que ele o fizesse.

Menos de 24 horas depois de o ex-governador do Ceará ter tomado a iniciativa, um amigo perguntou a Serra se estava arrependido.

- De jeito nenhum, pois era exatamente o que ele queria para não apenas ficar mais livre para trabalhar pelo Ciro, mas ainda sair da história como vítima da minha intransigência.


Editorial

ABISMO PROFUNDO

O Brasil acaba de conquistar o campeonato mundial de taxas de juros. Com juros reais de 10,3% ao ano, deixou para trás a Polônia. E, se depender do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom), não largará mão do troféu tão cedo. Na reunião de quarta-feira, o Copom decidiu manter a taxa básica nominal em 18% ao ano, com viés de baixa. Voltou a afirmar que a perspectiva de médio prazo é boa, chegando a prever inflação abaixo da meta em 2003. Mas dobrou-se ao quadro instável de curto prazo: ''As incertezas na economia aumentaram desde a última reunião''.

É fácil entender a cautela do Banco Central. Mas há que compreender, também, a forte reação dos empresários ao fato de conviverem com taxas de juros recordes. Assim que tomou conhecimento da decisão do Copom, a Fiesp apressou-se em manifestar seu inconformismo. Na opinião de Clarice Messer, diretora do Departamento de Economia da federação paulista, mesmo que os juros caiam até o fim do ano, não haverá tempo hábil para efeitos positivos na produção e no emprego. ''Não há o que fazer em 2002. A realidade é que, para nós, o ano já terminou'', lamenta a economista.

Não é exagero. Taxas de juros recordes ferem de morte o setor produtivo. Oneram os custos de produção e a formação de estoques. E eliminam sonhos de expansão e a margem para novos investimentos. Só um louco assumiria os altos encargos financeiros. E quem já está endividado não tem saída. Aprofunda-se, portanto, o fosso entre a racionalidade do Copom e a realidade das empresas. Um abismo intransponível.


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08/23/2002


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