Tucanos e Sarneys não se bicam
Tucanos e Sarneys não se bicam
Fracassam as tentativas do PSDB de reaproximar o candidato José Serra da família do ex-presidente
BRASÍLIA - As tentativas do PSDB de reaproximar o candidato José Serra da família Sarney fracassaram. O governador do Maranhão, José Reinaldo (PFL), anunciou publicamente anteontem que irá apoiar Ciro Gomes (PPS) para presidente da República. O anúncio está sendo entendido no Maranhão como a senha para um encontro entre a ex-governadora Roseana Sarney (PFL) e Ciro, que pode acontecer neste fim de semana, quando o candidato da Frente Trabalhista estará em campanha no Estado. A decisão de apoiar Ciro Gomes ainda não foi aprovada pelo chefe da família, o ex-presidente José Sarney.
José Reinaldo, que é candidato à reeleição, e o deputado Sarney Filho (PFL) queriam abrir o palanque a Serra, mas não conseguiram convencer Roseana. Ela não superou o caso da invasão da empresa de seu marido, Jorge Murad, que resultou na renúncia de sua candidatura à Presidência.
Roseana ainda está ressentida porque desconfia da participação de aliados de Serra na operação da PF, que apreendeu R 1,3 milhão em dinheiro no cofre do escritório da Lunus.
Depois de cortejar - sem sucesso - a família Sarney, o candidato tucano à Presidência pode ficar sem palanque no Maranhão. A direção nacional do PT está assediando o deputado Roberto Rocha, candidato do PSDB ao governo do Estado. Os petistas querem o apoio dele a Luiz Inácio Lula da Silva. Em troca, o partido sairia da disputa pelo governo local e colocaria a militância a serviço da candidatura tucana.
O acordo só não foi fechado ontem por intervenção dos principais líderes do PSDB no Estado, os deputados João Castelo e Sebastião Madeira. ''Não podemos servir de instrumento para o PT desmoralizar a candidatura Serra'', ponderou Madeira em uma reunião que atravessou a noite de anteontem.
Rocha se entusiasmou com a proposta petista porque se sente desprezado por Serra. Há duas semanas, o senador declarou, durante viagem ao Piauí, que a candidatura do partido no Maranhão era um ''equívoco''.
O comando do PSDB ameaçou intervir no diretório local para que os tucanos se coligassem com PMDB e PFL, apoiando a candidatura do governador José Reinaldo. A intervenção só não ocorreu porque FH concordou que os tucanos do Maranhão estavam moralmente impedidos de se aliar a Sarney, adversário histórico. Os tucanos maranhenses aguardam agora um gesto de Serra propondo reconciliação. ''É preciso que o candidato dê um aceno ou não vai ter nada no Maranhão'', cobrou Madeira.
Lula vê motivação eleitoral em verbas
ARACAJU - O candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse ontem que ''cheira a questão eleitoral'' a liberação pelo presidente Fernando Henrique Cardoso de R$ 1,2 bilhão em verbas do Orçamento que estavam bloqueadas. ''A situação do governo está delicada na eleição. Lamento que o presidente FHC utilize, com toda a sua formação intelectual, os mesmos padrões de comportamento que a oligarquia brasileira usou durante cem anos'', ironizou Lula. Em seguida, completou: ''Espero que (o dinheiro) seja gasto para os fins a que estão destinados e que não termine em caixa de candidatos''.
Em visita à capital sergipana, o candidato petista evitou associar, diretamente, a decisão do Conselho de Política Monetária (Copom) - que reduziu de 18,5% para 18% a taxa de juros básica da economia - com a candidatura governista de José Serra (PSDB).
''Espero que não seja uma decisão político-eleitoral. Queremos que os juros se reduzam muito. Para manter os atuais níveis de emprego, seria necessário que os juros fossem para 16%'', declarou.
Lula evitou comentar as pesquisas de intenções de voto recentemente divulgadas. ''Não sou comentarista de pesquisas, temos gente especializada para fazer isso''. Apesar das críticas ao governo federal, ele garantiu que, se eleito, vai manter os acordos financeiros feitos pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
Paulinho faz campanha para a classe operária
Vice de Ciro diz que Fraga e Malan ''trabalham para o diabo''
Uma semana depois de o presidenciável Ciro Gomes classificar como pessoas ''bem intencionadas'' o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente do Banco Central, Armínio Fraga, o vice na chapa da Frente Trabalhista (PPS-PDT-PTB), Paulo Pereira da Silva, disse ontem que os dois governistas ''trabalham para o diabo''. Paulinho discursou durante 50 minutos na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Centro do Rio, para operários filiados à Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Metalúrgicas do Estado do Rio.
''Eles estão trabalhando para o diabo, contra os trabalhadores, a serviço dos banqueiros'', criticou o ex-presidente da Força Sindical, que a partir deste mês terá como prioridade em sua agenda encontros com operários de todo o país. Paulinho seguiu o discurso de Ciro, e atacou o governo federal. Destacou o aumento da dívida interna, propôs o alongamento da dívida externa e defendeu uma reforma tributária. ''Encontramos hoje até 54 impostos em um produto. Com a reforma, vamos ter somente cinco'', prometeu. Paulinho aproveitou a corte de verbas para o Exército e sugeriu o fim do serviço militar obrigatório.
Em entrevista coletiva, o vice minimizou as críticas a Fraga e Malan, mas não se rendeu. ''Falo isso porque eles são muito inteligentes. Mas eu não me sento à mesa para conversar com os dois''. Filiado ao PTB, o sindicalista criticou o apoio do partido ao ex-presidente Fernando Collor, candidato ao governo em Alagoas. O apoio regional não racha a Frente em âmbito nacional, mas gerou constrangimentos. O líder do PTB na Câmara e amigo de Collor, deputado Roberto Jefferson - presente no evento - disse aos jornalistas que Ciro foi ''voto vencido'' na questão. Também participou do encontro o candidato ao governo do Rio pela Frente, Jorge Roberto Silveira (PDT).
Serra distribui ''vale-rango'' para comício
Candidato diz que mudanças na campanha são ''fofoca''
BELO HORIZONTE - O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, disse ontem, em Belo Horizonte, que ''não há nenhuma mudança na coordenação'' da sua campanha, à exceção da entrada do secretário de Governo, José Roberto Vieira da Costa. Segundo o candidato, o ex-ministro Pimenta da Veiga (PSDB-MG) continua sendo a pessoa ''mais importante'' da campanha e ''o resto é fofoca''.
''O coordenador político, a pessoa mais importante na campanha, é o deputado Pimenta da Veiga. Apenas virá uma pessoa a mais para ajudar na área de comunicação, que é o Bob, nada mais. Todo o resto é fofoca, é despistamento. Não houve nada, não aconteceu nada, a campanha continua no seu rumo e agora é que ela está se intensificando'', declarou Serra.
O candidato também negou que o secretário-geral da Presidência, Euclides Scalco, trabalhará em sua campanha. ''Jamais se pensou na hipótese, nem remotamente. Fiquei sabendo que se especulava sobre isso pelos jornais. Posso garantir que é absoluta fofoca, não tem nenhuma base na realidade'', garantiu.
O presidenciável disse que está plenamente satisfeito com os rumos de sua campanha, apesar de ter perdido o segundo lugar nas pesquisas para Ciro Gomes (PPS). ''Nós temos que, agora, ir acelerando. A campanha está apenas começando''.
Ao lado de Aécio Neves, candidato do PSDB ao governo de Minas, e antes que alguém o questionasse sobre o palanque múltiplo do tucano mineiro (que tem muitos apoiadores de Ciro Gomes), o candidato tucano se antecipou e falou às lideranças tucanas sobre isso. ''Muita gente até fala que o Aécio tem o apoio de forças políticas que não apóiam a minha candidatura. É verdade. Eu respondo sempre o seguinte: isso é muito bom. Quanto mais apoio o Aécio tiver, melhor para se eleger governador, e para a minha candidatura'', disse Serra.
Convites com direito à alimentação são o principal atrativo para que os eleitores de Cascavel participem, amanhã, do primeiro comício de Serra no Paraná. Inicialmente programado para um prédio municipal, o comício foi transferido depois de proibição do juiz eleitoral do município.
Segundo Wilson Riedhinger, da coordenação do evento, foram distribuídos 5.000 convites com direito à alimentação, que estão sendo chamados de ''vale-rango'''. A expectativa é que pelos menos 2.500 pessoas compareçam ao parque de exposições de Cascavel. Ele não informou quem iria pagar as 5.000 refeições.
O paradeiro dos colloridos
Ciro e Serra apontam ex-colaboradores de Collor nas campanhas do oponente
A candidatura ao governo de Alagoas do ex-presidente Fernando Collor de Mello - que renunciou ao mandato, em 1992, em meio a um processo de impeachment - transformou-se em moeda podre nas campanhas de Ciro Gomes e José Serra. Marca de uma administração fracassada, o nome Collor de Mello transformou-se no selo indesejável que cada candidato faz questão de colar no adversário. Ambos disputam qual grupo político reúne um número maior de colloridos.
Nas páginas de Ciro e Serra na internet, tanto um quanto o outro publicam matérias sobre o assunto. Ciro aponta, como ex-colaboradores de Collor, atuais lideranças do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso.
José Serra também fez um levantamento de quem apoiava Fernando Collor e hoje integra as fileiras da Frente Trabalhista. Encontrou seis deles.
Os ex-colloridos na companhia de Serra, segundo o site de Ciro Gomes, ocupam, todos eles, altos cargos no atual governo. Renan Calheiros foi líder do antigo governo no Congresso. ''No atual governo ocupou o Ministério da Justiça e é um dos principais membros da aliança PMDB / PSDB'', aponta.
''Antônio Kandir foi Secretário de Política Econômica do Governo Collor. No atual governo ocupou o Ministério de Planejamento. É deputado federal pelo PSDB'', continua. O ministro Pratini de Morais ''foi ministro de do Trabalho e da Administração do Governo Collor. No atual governo ocupa o Ministério da Agricultura'', acrescenta.
Quanto ao chanceler Celso Lafer, ''além de Ministro das Relações Exteriores do Governo Collor, no atual governo ocupa o mesmo ministério''. Diretor da Área Externa durante a gestão do ex-presidente Armínio Fraga Neto foi promovido no governo atual à presidência do mesmo BC.
Quanto ao ministro da Casa Civil, Pedro Parente, ''no governo Collor foi secretário de Economia do Ministério do Planejamento''. Hoje é Ministro da Casa Civil. E conclui a lista com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, ''negociador oficial da dívida externa do Brasil com o FMI'' na era Collor.
Os editores da matéria no site de Ciro Gomes esclarecem que não têm como objetivo fazer ''nenhum juízo de valor sobre as pessoas''.
O candidato do governo, por sua vez, aponta colloridos na ''tropa de choque de Ciro''. São eles o senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, um dos principais articuladores da campanha de Collor, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), que se orgulha até hoje de ter sido o ''amigo fiel'' do ex-presidente, o presidente do PTB, José Carlos Martinez, o senador Bernardo Cabral (PFL-AM), então ministro da Justiça, e o ex-ministro da Agricultura na gestão Collor de Mello, Antônio Cabrera.
Garotinho se diz feliz com 10%
PORTO ALEGRE - O candidato do PSB, Anthony Garotinho, disse ontem que se sente vitorioso por ter 10% nas pesquisas eleitorais. Segundo ele, sua campanha, “com pouco dinheiro e um partido pequeno”, está conseguindo resultados significativos perto dos obtidos pelo tucano José Serra “que conta com a máquina do governo”. Perguntado se isso significava que estava satisfeito com o patamar atingido, ele questionou a metodologia das pesquisas: “Se 17% da população é evangélica, você tem que ouvir 17% de evangélicos”, disse.
Amanhã, Garotinho vai lançar seu bônus de campanha ao preço de R$ 1. A respeito da crise financeira por que passa sua candidatura, deu “graças a Deus” e afirmou: “Preferimos uma campanha limpa e com pouco dinheiro do que uma com muito dinheiro que nos deixe comprometidos”.
Artigos
Incentivos e renúncias cartoriais
Arnaldo Carrilho
Um patrocinador brasileiro solicitou a um diretor cortes nas passagens ''mais tristes'' de uma peça intitulada Édipo rei. Questão de cultura ou arte? Essa ambigüidade leva a sonegações tributárias disfarçadas, sob o amparo da forma legal. Em artigo recente, o teatrólogo Domingos de Oliveira propôs a criação de um Ministério da Arte, em detrimento do Ministério da Cultura. A idéia, em aparência bela, é estapafúrdia, conquanto revele um legítimo protesto contra a gestão pública e privada dos negócios culturais. Fez 17 anos a pasta que deles se encarrega, ou seja, a mesma idade da nossa adolescente democracia neo-republicana. Alimentada com anemizantes broas de milho ao vir à luz, seus sucessivos titulares, impossibilitados orçamentariamente de atender às carências protéicas dos produtores independentes, recorreram a fórmulas nutricionais de inspiração americanizante. Desviaram-se recursos a meio caminho das burras coletoras do Tesouro e espocaram em festa os incentivos e as renúncias fiscais.
Em seguida, em doses homeopáticas para a maioria, passaram a inocular all'impazzata fartas benesses nas veias da sequiosa minoria dos captadores de gabinete, mestres prestidigitadores por excelência. Formou-se um quadro doentio de escolhidos e excluídos, fugindo ao entendimento dos auditores da República, pouco afeitos à cultura das artes, mas muito aos procedimentos do toma-lá-dá-cá ou do qui mieux, mieux das cotoveladas. Por que não mais deu certo o fomento direto? Por que passaram a escassear, e não só entre nós aliás, trabalhos de mérito mundialmente reconhecido? Bancos e empresas, todavia, criaram associações, fundações e quejandices, manipiulando as renúncias e os incentivos como se fossem seus, para comprar palacetes e sobrados de notáveis valores artísticos e históricos, neles instalando escritórios promocionais. Forjando atividades com ousadias publicitárias, apropriam-se de dinheiros públicos e se debruçam na mediocridade corrente dos designs. Além disso, confundem evento com processo cultural.
A formulação de uma política da cultura implica muita coisa, inclusive a existência prévia de uma idéia de Brasil. Não se costuma indagar sobre com que sonham os brasileiros, além da secularmente adiada justiça social, A cultura não pode ademais ser subsidiária nem departamentalizável, muito menos elitista. Ao contrário, ela transcende, envolve, precede e sucede metodologias administrativas e educacionais. Lambuzem-se os que a tomam como tempero. Por isso, adianta nada digitalizar energúmenos desprovidos de informação, conhecimento e sensibilidade, ampliando-se os analfabetismos funcionais. Só a cultura tem como reverter a dinâmica da ignorância e adaptar as inovações tecnológicas aos tempos. Ela é causa primária do surgimento das vanguardas, que a indústria cultural espreita no nascedouro para sufocá-las no berçário.
Contrariamente ao Estado Novo (1937-45) e aos anos JK-Jango (1956-64), o vintênio ditatorial (1964-85) não soube identificar o novo. A fase posterior, esta em que ainda vivemos, tem a seu turno se revelado inepta para fazê-lo. Incômodo e tédio - eis o que provocam os temas culturais. Dizem levianos oportunistas que eles não rendem votos, cuidando porém de atrair apoio de astros e estrelas do espetáculo aos seus propósitos. Aduzem que, de qualquer modo, a cult ura não impressiona como feito estatístico. Essa parvoíce pontificante está geometricamente custando muito à nossa educação e ao bolso dos empobrecidos contribuintes. Um novo ministério só aumentaria o caos em que nos meteram, hoje tornado sistêmico pelos clientelismos de praxe. O melhor seria - quem sabe? - reunir Cultura e Educação num só, assim mesmo, um MCE, não mais um MEC.
Editorial
SEDE DE PROTESTO
A depredação de 40 ônibus em Brasília e arredores, em protesto pela cobrança do novo preço da passagem aumentado em 11,9%, não saciou o descontentamento da população que se desloca entre as cidades satélites e a Capital. No dia seguinte se repetiu a manifestação, e mais 11 veículos ficaram sem condições de circular.
Transportes coletivos são um dos problemas nas relações da população das grandes cidades com as concessionárias. O protesto de Brasília chegou a atear fogo aos ônibus, sem vantagem de ordem prática para ninguém. Não consta que as tarifas voltem atrás, nem que as empresas tenham veículos para reposição imediata.
A natureza intermunicipal das linhas que servem a um amplo contingente que mora ao redor e trabalha todos os dias em Brasília inclui cidades no Estado de Goiás. O reajustamento das tarifas, sem levar em conta os salários da mão-de-obra prestadora de serviços, está alargando uma brecha por onde o ressentimento coletivo se manifesta de forma descontrolada. Os poderes públicos não evitam a limitação dos protestos.
A depredação se alastrou nas áreas metropolitanas em todo o país. Não é, no entanto, como prova de respeito que se finge não ver a violência. É por tibieza do princípio da autoridade e baixo senso de responsabilidade pública. Não é apenas com protestos que o ataque predatório de serviços se manifesta.
Paralelamente, também o direito de greve fica ao sabor dos ventos, regido pela exasperação de categorias profissionais num país de insuficiente tradição sindical. Voltam-se contra a sociedade e, em especial, os usuários de serviços mal resolvidos.
A Constituição ampliou o direito de greve a serviços públicos e à polícia, mas já era tempo de que o Congresso fizesse sua regulamentação e introduzisse responsabilidade no exercício do direito de greve.
Antes que fique incontrolável.
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07/19/2002
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